20110315

"Não é que não haja nada no Direito que me agrade. É a atividade profissional o que me aborrece."
"A prática do Direito, você diz?"
"Oh, não, não, qualquer atividade profissional."



Crescer: que palavra!

Eu falei assim mesmo (na verdade, usei uma vírgula ao invés dos dois pontos) depois do conselho dela: que crescesse. Crescer é, me pareceu, não ir ao Arqui rever professores, não falar com alguma saudade do prédio em que cresci (ora!) etc. Fazer essas coisas é, supostamente, coisa de bebezão (foi o termo que ela usou, numa escolha fantástica), muito embora, por óbvio, eu não pudesse revisitar professores ou ter saudades de qualquer coisa se não os tivesse abandonado há muito.
Mas crescer, que porra é isso? Eu achei que já tinha respondido isso, pelo menos pra mim mesmo, mas é claro que crescer não é só uma coisa interna (ou pelo menos ficou claro quando eu fui chamado de bebezão, assim, na lata). É provável que crescer não seja apenas não rever professores ou não falar no prédio, mas também ganhar dinheiro ou tentar ganhar dinheiro ou perder dinheiro ou simplesmente passar na prova do Rio Branco e é engraçado, porque nenhuma dessas coisas significa um crescimento de verdade (de nenhuma natureza), mas são coisas satisfatórias, no sentido de que satisfazem a exigência de crescimento, ou pelo menos parte dela.
A explicação mais provável é que essas sejam boas respostas porque elas simbolizam coisas que nós, no fundo, não queremos fazer. Todo mundo quer ter dinheiro, mas quem, de fato, quer ganhá-lo? Todo mundo (é mentira, claro) quer um cargo de diplomata, mas quem quer de fato perder anos estudando quando se poderia estar jogando Braid ou assistindo a Suzumiya Haruhi ou escrevendo uma Obra (e o mais legal disso tudo é que, dada a oportunidade, nós (outra mentira) não jogamos Braid, não escrevemos uma Obra) e mesmo passada a prova, ninguém quer ser um diplomata, porque isso é chato, isso dá trabalho, isso tira a mítica.
Eu tenho um interesse quase infinito por todos os campos do conhecimento e esse interesse só não é infinito de fato porque ele termina no ponto em que eu começo a me dedicar a adquiri-los. Porque este é o ponto em que os outros campos do conhecimento se tornam muito mais fantásticos e maravilhosos, porque, afinal, o legal na vida, o emocionante, é o potencial, são as coisas que nós poderíamos fazer e não aquelas que fazemos e que se nos revelam em todas as suas falhas, rotinas, em todos os seus aborrecimentos.
Então, crescer é isso: lutar contra o desejo do possível e se ater ao factível (nunca havia pensado em contrastar as duas palavras assim, olhem só que lindo). É filtrar o mundo de tudo o que é lindo e colorido e deixar passar somente o horrível e o bege e o cinza e é, também, saber admirar essas coisas, saber se satisfazer com os pequenos nadas de luz que escapam das redes que formamos, que driblam isso tudo de que venho falando (seja lá o que for) e se lançam para o horizonte desafiadoras, nos rodeiam por um segundo e de repente formam um arco-íris.

8 comentários:

  1. Crescer é parar de fazer cara feia pro amargo da cerveja; é beber uísque e comer giló, é achar o pimentão assado uma delícia. É tomar café sem açúcar.

    Crescer é amargo.
    É ficar de cara feia o tempo inteiro, pra não ficar de cara feia nunca.

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  2. (Em tempo: também é espirrar com o cigarro dos outros mas falar que é "só rinite")

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  3. Xi, esse texto quer dizer que em breve você vai parar de escrever? :(

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  4. Acho que não, afinal, eu sou um bebezão.

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