20081231

lembrete:

uma palavra mais feia para "cu", por favor.

20081230

O juiz sou eu

Seth estava aborrecido, claro, morrer sempre deixa as pessoas assim, mas pelo menos conseguira arrancar um olho do desgraçado e tinha boas expectativas quanto à sua ida para o paraíso até que Oi, disse Osíris.

No Topo do Mundo

"Crying out loud in the rain...", ele cantava, e o mundo à sua volta era um turbilhão de emoções e sentimentos todos puros, como uma chuva no campo e

não era bem isso

são três dias, três noites, tantas vontades e tantas verdades, verdades demais; bêbado de auto-piedade. Tanto desejo, tanta saudade; e essa dor, essa dor era o quê? Era egoísmo; quem deseja que um suicida tivesse vivido só pode ser egoísta.

é mais ou menos assim

com sono, com fome, com frio; mas é tudo ficção, é outra dança, outro planeta - não é desse mundo esse sono que não abate, essa fome que não dói, esse frio que não pinica; é de um mundo mais cruel em sua insensibilidade, sem espaço pra alguém assim, que sonha, que vive pra si mesmo e pros outros, e "oh my how beautiful is the moon tonight, let's us dance together under her bright"--

Que lindo mundo daqui de cima.

A queda a queda a queda de impérios de pessoas de capital financeiro na bolsa de valores dos estados unidos da América, tão longe daqui e de mim e de você, diz ele pra qualquer um que esteja ouvindo agora, quanto Marte ou Vênus, a queda é só o prelúdio da subida, e ele alça vôo

É, é isso mesmo, é exatamente por aí

E o mundo fica lindo, num turbilhão de cores vivas e celestes, na vigorosa emoção do topo do mundo.

20081229

AURÉOLA
AURORA
AROROZA DELA (AURORA DA AURÉOLA) FUGINSDOU-SE 
TODA
NA MINHA DARA
Mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm

;

ergo sum.

Briething walls

Briething walls briething walls briething walls briething walls briething walls briething walls briething. 3Mg de psilocybes cubensis compensando a inaptidão artística e poupando esforços intelectuais tão tão tão limitados. Sentiu falta de fadas.

É engraçado, pois... demora. Você indo atrás, a pesquisa não deveria ser assim tão acadêmica quando o objetivo é deacademizar. A internet ajuda e há livros, estudos, trabalhos científicos sobre isso, então você pesquisa. A preocupação nesses lugares também, paradoxo, paradoxo. Você declara possuir mais de 18 anos (…); não utilizar as informações para fins comerciais (…); o conteúdo está sujeito às leis de propriedade intelectual (…); não use essas informações para a prática de atividades ilícitas (…). Hoje em dia até a desburocratização é tão burocrática...
É engraçado, pois demora. Deve ter levado uma meia hora, ele não contou, e então o teto caía que nem Tetris. Ele esticava a mão e via uma sombra em volta do braço e mexia os dedos devagar em torno dos blocos que desciam das paredes e se esparramavam como espumas.
Um erro: o espelho na porta do armário. Viu o rosto lá, estranho, o queixo num V profundo, os olhos numa sombra que não acaba. As mãos agora pareciam afiadas, uma risada quis-lhe vir e veio má. As palavras “bad trip” vieram à mente, mas era tarde porque recuava recuava e não conseguia tirar os olhos do rosto diabólico que se formava. No espelho, uma mão no seu ombro. Virou, tropeçou, caiu e o teto junto. O chão abria, sentia mesmo a escuridão subindo e tentava se concentrar hyperspace hyperspace hyperspace, mas não, era queda, mesmo, era o rosto pontiagudo e cruel o tempo todo.
Levantou, agarrando-se no que podia, correu para a mesa e lá estava o caderno pronto, o lápis pronto, a borracha (achava, antes, que poderia apagar). Tomou o lápis, tomou o lugar e escrevia, mas se repetia. Briething walls briething walls briething walls briething walls briething walls briething walls briething.
Não adiantava, ria-se o rosto, o perverso. Achava mesmo?, perguntava desdenhoso. 3Mg de psilocybes cubensis compensando a inaptidão artística e poupando esforços intelectuais tão tão tão limitados?
Sentiu falta de fadas.

20081228

BOOM

Revisou tudo que aprendera sobre elegância e estilo; levou o cigarro à boca e prendeu com os lábios, sem pressa, riscou o fósforo e acendeu o fumo, protegendo com a mão desocupada o vento sorrateiro. Em seguida, tragou a fumaça para dentro de seu pulmão enegrecido e sacudiu o palito de fósforo, com jeito de galã. Não funcionou. A chama do palito não se extinguiu, a moça olhou para ele de boca torcida, o peito disparou, o nervosismo domou a alma, o estômago sambou, a gotinha safada de suor desceu do canto de sua testa, o calor aumentou, engasgou-se com a fumaça!, a brasa caiu caprichosa e lhe queimou o canto da mão, ai!, a moça riu, a dor subiu, o fósforo ainda aceso, a gasolina no chão daquele beco, o cigarro caído, o palito na sua mão, e o fim daquela gozação toda.

20081227

Casal

             (A coberta pela metade em cima deles; ela pela metade em cima dele): Eles.
              Aquela intimidade máxima, que estranhamente parece despertar justo quando eles saem um do outro. Ela lhe sorrindo, e ele a ela. Ele repousa sobre a cama, seus braços lhe acariciando as costas; e ela sobre ele, com a mão femininamente descansando em seu peitoral.
              Não há nada que não seja eles, que lhes seja implícito ou que lhes implicite – que fora o carinho um pelo outro nada há. Que qualquer selvageria que pudesse ter ocorrido antes cessasse – vira o desfecho clímax.
              Quando eles se levantaram pra vida, estavam nus. Os raios de sol ofuscaram seus olhinhos recém-abertos; o cheiro de sexo estava estampado em seus corpos. Ela lhe sorriu, e ele a ela; e enquanto ia para o banheiro urinar, ela vestia-se para um novo dia. Quando voltou, abraçaram-se com toda a verdade do mundo. Ela carinhosamente lhe estendeu a cueca, e vestiu-lhe perna a perna. Quando terminou ele reclinou o pinto pro lado esquerdo; ela lhe riu.

              Pra mim nada disso implica amor. O que viria amanhã, isso sim, lhes mudaria a forma de relacionar pra sempre.


              Amanhã eles acordaram nus; seus corpos grudados e as roupas da casa pelo chão. Ela lhe sorriu, e ele a ela. Quando voltou do banheiro, ainda eram nus. Eles se abraçaram e ela apoiou a cabeça femininamente em seu peitoral, segurando-lhe as costas; e ele a ela pela cintura, lhe beijando a cabeça. Assim permaneceram, até que ele foi ao chão e recuperou sua camisola; ela estendeu os braços e ele a vestiu com toda a facilidade da seda. Ela foi ao chão e recuperou sua cueca; lhe estendeu. Depois que lhe colocou perna a perna, ela reclinou seu pinto para o lado esquerdo. Ele lhe sorriu, e ela a ele.

              Pra mim, isso sim é gostar verdadeiramente de alguém.

20081226

visitação, UMA.

A bailarina russa vinha se arrastando por todos aqueles anos, em busca sabe deus do quê.

Encontrei-a no meu guarda-roupa um dia. Ela tremia. Só podia ser fome, porque na Rússia se passa muito frio e fora dela se passa muita fome, disso eu sabia desde menino pequeno. Com isso na cabeça eu fui buscar leite e pão, que era só o que eu tenho nessa vida. Quando cheguei ela já estava esparrimada no colchão cheio de panos, num sono pesado feito o pão preto da sua terra gloriosa. De bonita que era, eu deixei o que eu tinha no criado-mudo e fui pra varanda pitar o meu pito e ver a cidade morrer.

De noitinha eu ia voltar e não ia mais ter leite nem pão nem russa no quarto. A bailarina foi-se embora, sem deixar nem o cheiro das russidades que enroscou no meu lençol com a maior cara-de-pau. Foi aí que eu larguei meu pito e comprei uma garrafita de vodka pra ficar debaixo da cama, esperando visita.

Tutte le strade portano a Roma

Três viandantes embocam-se na calçada que, ladrilhada em orla pelo deserto campestre Crono, finda na outra face de sua largura, infinitamente, por um corrimão vermelho e uma vista do mar. Não há relatos geográficos sobre tal transição, tampouco históricos (pois estes sempre chegam por último), mas ali estão os transeuntes, marchando em uma desproporcionalidade que insulta o caminho.

A paisagem em questão é de uma beleza crepuscular. Dois ambientes distintos, separados em bastarda calçada, como se o Sol e a Lua fossem apartados por algum planeta ousado, de menor importância; como o veneno de Romeu e Julieta ou ainda como o chumbo certeiro de John Lennon. E são dispersos.

Um garoto, uma mulher e um homem. Apresentam no olhar e andar um tom de quem está perdido – é possível perder-se numa estrada de mão única?, e não parecem conhecidos. O garoto, maravilhado com a visagem, põe-se a caçar lagartas no deserto campestre, aquela imensidão verde, e se arrasta pelo mato, sem dar importância às outras duas pessoas. A mulher, como é de se esperar, apóia as duas mãos sobre o corrimão e olha o mar azul como se não houvesse nada mais interessante para fazer. O homem segue em frente.

A mulher pergunta ao homem onde estamos?, e o homem volta-se para ela, olha de cima a baixo, e responde não sei, mas eu acho que deve ser coisa do destino. Ela sorri e encurva a cabeça brilhante, roçando o solo com um dos pés. O menino continua se arrastando pelo campo.

O homem olha para o campo e pergunta ao garoto o que faz aí?, e o garoto grita sem olhar para quem caçando lagartixas!, e não interrompe seus fazeres. O homem sorri, mas não sabe bem como proceder – continua em frente pela calçada ou não? A mulher volta a olhar o mar.

O menino levanta-se com algo na mão, olha para os dois lados e, no momento em que o homem decide seguir em frente, atira, vivo, um pequeno réptil nos cabelos da mulher, que se rebate em berros a procura de seu invasor. Socorro, socorro e o homem pula em cima dela e começa a ajudar, e é ele que consegue divorciar a mulher da lagartixa sapeca, e arremessa-la ao mar. O menino ri, a mulher se conserta e o homem volta-se para ela.

Você está bem?, estou, vem que eu te levanto, pronto, aqui, obrigada. O menino pára de rir e começa a caçar algo maior. A mulher tem novamente as duas mãos apoiadas sobre o corrimão, o homem diz sim oh, sim, e ela concorda. Os dois se apaixonam, amor à primeira vista, ela diz eu te amo, ele só ri, e os eles decidem criar e educar o garoto, porque isso tudo é coisa do destino ou de alguém maior que eles, com dez dedos e unhas sujas. Eles são supostos a fazer isso. Viver. Está decidido, eles vão se amar, os três, e estão todos felizes com isso.

Mas uma pergunta ainda existe.

20081225

O Espelho

Voltou então a ler o romance. Deixara-o de lado havia vários dias, por causa de uns devaneios, que não permitiam que ele se concentrasse no livro. Sentou-se em sua poltrona, dando as costas para a janela; não queria nada que pudesse desconcentrá-lo, fazê-lo parar de ler. Abriu o livro. O quase silêncio e a suave brisa que entrava pela janela logo fizeram a narrativa envolvê-lo. Entregava-se às aspas e reticências; não fosse um ou outro barulho, ou uma ajeitada que ora dava na almofada, logo esqueceria que estava, na verdade, lendo. Acompanhava os pensamentos de um jovem perturbado, suas caminhadas pelas ruas de –burgo, seus tropeços. O jovem tinha uma idéia fixa na cabeça, uma obsessão; não sabia, porém, como realizá-la. Fechava-se por horas a fio em seu quarto, folheando algum jornal ou panfleto; olhava para o espelho, buscando uma inspiração, uma oportunidade que fosse; havia um livro sobre uma cômoda, um romance, esquecido, que dera a ele a obsessão. Abria a janela; um leve vento no rosto o ajudava de quando em quando; dessa vez precisava, porém, de uma rajada. Saía de sua casa, sem ao menos trancá-la; apenas encostava a porta. Punha-se a perambular pelas ruas de –burgo, concentrado na sua obsessão; de algum jeito ele conseguiria sua inspiração. Cruzava os cruzamentos, caminhava pelos caminhos, atravessava as travessas, até que chegou a um mirante sobre o golfo, nesses dias, agitado. Era isso! A inspiração, afinal! Correu para sua casa, extático. Trancou a porta ao entrar, correu para a cômoda sobre a qual estava o livro, abriu a gaveta, tirou o revólver, conferiu o número de balas; havia duas, mas apenas uma bastava.


Precipitou-se para a rua, mas foi detido pelo espelho; olhou para aquela imagem, sua imagem, obsessiva, segurando o revólver. Assustou-se; algo estava errado, algo tinha que estar errado. Desviou os olhos do espelho e começou a refletir; talvez ele não tivesse compreendido sua própria idéia, sua própria obsessão. Abriu a gaveta da cômoda e guardou o revólver. Olhou para o livro, o livro que lhe dera a idéia, mas que lhe tirara o chão; sim, ele não compreendera a idéia; quem sabe ela se completaria nos capítulos que restavam. Voltou então a ler o romance.

Você conhece a história

Você conhece a história, eu conheço a história e certamente Juliana conhece a história, a menina (a menina é claro é Juliana) sempre tão certinha e comportada e nunca fora daqueles caminhos ou coisas, até o dia em que aparece com o cabelo roxo, ou uma namorada, ou um namorado punk, ou uma Harley Davidson ou tudo isso, ou mesmo nem aparece mais e faculdade trabalho casamento tudo pro ar.

É claro que Juliana pensava nisso, mas só depois da prova de química e à noite, antes de dormir, imaginava como seria fazer sexo com dois ou duas, ou assaltar uma loja de madrugada. E pensava que definitivamente uma calça de couro não seria confortável e então dormia e sonhava com algo entre um conto de fadas e um filme de terror.


A questão é: a maioria das pessoas não seria representada no cinema pelo Vin Diesel e os dias são iguais demais para você perceber a diferença.

Romance #29 (ou: Os Primos)

29 minutos de depressão antes que a moça pudesse fazer qualquer coisa que quisesse fazer, antes que qualquer um de nós pudesse tocá-la, antes que meus dedos caíssem ou qualquer coisa do tipo. Não sei direito como contar isso a meus netos, a sensação é estranha, como a de um músico que improvisa sem nunca ter tocado - um saxofonista ao piano, algo do tipo, não sei. Sei que o bar não era grande o suficiente e ela brilhava de um jeito antinatural e ridículo.

29
dedos
A M U S É
com a moça inscrita.
Se essa moça
se essa moça
fosse minha
eu fazia
eu fazia
ela amar
para sempre
para sempre
os meus olhos
e botava ela na cama
pra olhar.

Nunca mais nos vimos, mas os frutos estão por aí: é só olharem para cima, acredito, e ficará evidente. Beijem sempre, sem parar, e fim.



[permute sempre aquilo criado pelo criador: o resultado será inútil. nenhum desses é real, nenhum desastre deles - ela foi dilacerada por vampiros, creio - é tocante, são binários, reprodução assistida, apenas, etc. no fim, aquilo de valor é o acaso - a pressa impulsionada pelos 29 minutos de bateria restantes que leva a criar algo diferente do pensado - a magia da espontaneidade!, - ou então os dedos que tremem e monalisam. os nomeados - julia e rafael, diz-se -, no entanto, são só labirinto (prosópopo) de pontuações; são só - e só - construtos, ainda esperando, como sempre, alguma destruição posterior que os liberte: o olhar de quem acompanha e não se emociona.]

20081224

Uma náu neologista

Na domingueira que antecede a semana santa, e me perdoem as minúsculas, a gravidez das palavras descrevia um círculo miúdo tornado oblíquo em minhas pernas cafuzas. A catinga que emanava da sala quadrada, dessas cubículas, bem branquinhas, bem branquinhas, cantava em fedores mornos e se fundia ao calor numa perfeita imitação da valsa um-dois-três.


Minhas pernas abertas, ainda em valsa, permitiam à lubrificosa melhor visão do mundo, pois assim ele me disse para ficar. Arreganhada, então, deitada, sentia as pulsadas da coisa que se avolumava dentro de mim; dentro para fora, dentro para fora. A dor mudou o nome da lubrificosa, e ela sangrava como o vinho das taças ricas de minha sinhá.


O movimento contínuo, os olhos daquele que segurava minha mão apertativa, e os gritos e gemidos de uma pobre mulher que não soube amar como devia, tudo isso naquela noite quente de domingueira, que mudaria minha vida para sempre.

- Mais forte, respirava.
- Mais força, respirei.
- quase lá, quase lá.

E mais forte a pulsada me carregava a dores senhoras, e mais forte e alto gemia minha alma. E minha ossada se avermelhou e cantava em coro, e um grande boi me apareceu nas vistas. O chifrudo fumava um charuto bem grosso, e grossa era a coisa que relutava em me deixar pazigüada, arrebatando jorradas de meu sangue.


Com desavenças, tapas aqui e tapas lá, motorei o tato, espremi a barriga e contorci o cangote, em busca de algo que me levasse embora dali. Lambuzadas de sangue, minhas pernas pintavam abstratas os lençóis desalinhados daquele colchonete. A dor não cessava. Pensei na minha mãe, e em tudo que ela havia me ensinado sobre os homens. A velha mulher me dava as lições mais valorosas já ignoradas por alguém, e ainda lavava a louça como ninguém. E ninguém e alguém, neste contexto, são a mesma pessoa. Ou a mesma não-pessoa. Pensei em toda a minha vida, mas nada me arrebatava aquela sensação que tomava forma dentro de mim, e me machucava as entradas.

O choro me subiu aos ouvidos, e eu deitei de lado, exausta. Quase sorrindo.

- é menino.

Elefantíase

Tive elefantíase durante seis meses, aos nove anos. Só foi o suficiente para o meu beiço superior adquirir proporções gigantescas. Passei a ser chamado de "CAVALINHO".

Papai até gostava, mas minha mãe chorava cada vez que eu tentava falar alguma palavra com éfe.
Eu sempre cantava 'Oh yeah/that's just fine/come on boys/just one more time' e balançava no ritmo, e o lábio atrapalhava fazendo blululublublublu no contratempo.


Para mim, elefantíase nunca foi isso não, mas me disseram que era assim e isso facilitou as coisas. Só que passaram a me açoitar. Aí meu beiço vai, meu beiço vem, matei o Fred empapado.

c'

dedos, escavação e readymade

this town! is a miserable town! is a break you town! this town!
, perdão pela estática, murmura o cavalheiro vestido de terno furtacor.

E furtacor é a única cor que vale a pena ter, a única mulher que eu já beijei era mãe de três filhos e dois deles eram delinqüentes juvenis de tatuagens nos olhos e punhos de aço, ela era leve e doce como anjos carregando tesouros desconhecidos e por isso nunca mais quis me ver, amém.

OR espaço vazio que significa epicalismo sindical É?
GO GO GO GO GO GO GO GO GO GO
M L F (a musa)
F M L (a crise)
L F M (a estética pòsmoderna)

Enfim: não se trata de edema, glote ou mezzosoprano. O problema são os hojes incapacitantes que repousam nos ombros de todos, a perpétua movimentação incontrolável que aflige os dedos de quem digite eou respira, a morte de oz e dos arcoíris, sem mais potes de mágicos, não há ponto final! E então não há motivo plausível para haver Joãozinhos e (C)Laras, se não há para onde mandá-los, a quallimbo será que eles pertencem? Será apenas crueldade, o que se pode fazer é cuspir estética prèpòsparnaso-romana, algumas letras ordenadas, quem sabe, enfim, símbolos e signos, barthes ou não, compreensíveis ou não, algum pensamento lambido e escaldado, algum suspirar babaca, não sei; é como aquele amigo de Fernando que todos os dias chegava em casa de chapéu e sua esposa reclamava de que era falta de educação usar chapéus em casa, sua esposa, tão linda e pálida, e eles se beijavam e ela andava nua pela casa só de cinta-liga, os dois comiam spaghetti com cogumelos, me lembro de seu rosto chorado caído em algum canto aqui, sinto falta de nossa viagem a buenos aires, o chorizo e o jazz de algum vizinho de apartamento de Carlos que só sabia chorar em Coltrane, até o dia em que foram à igreja e ele ficou com o chapéu e sem Ela, nunca mais a vi, dizem que virou a constelação nova que o tal telescópio novo achou por aí, e dele ninguém quer saber, essas histórias que deprimem, prefiro o vinho pela metade e Melville.

ré maior/queda/gato/sapato/topless casabranquista/márcio braga/anorexia/topless junkie/jack &/outros -------- ; sinto saudades dos meus olhos

()gosto tanto de pandora, finalmente ela se encontrou()

Glicemia (baixo).

20081223

Tu-tum

Tssh-tsssh

“Como ela é bonita.”

Tu-tum

“Onde será que vai descer?”

Tã-nam

Os assentos de cor cinza são de uso preferencial.

Tssssh-tssh

“Ela se veste bem.”

Tu-tum

“Mas por que os óculos de sol?”

Tssh-tsssh

“Ops! Será que está olhando pra mim?”

Tsshssshh

“Droga de óculos! Não dá pra saber!”

Tu-tum, tu-tum

“Melhor parar de olhar pra ela. Não vou lhe dar esse prazer.”

Tã-nam

Próxima estação: Consolação

Tu-tum

“Aposto que todo mundo fica olhando pra ela.”

Tu-tum

“Deve ser esnobe.”

Tsssh-tsshs

Tsssh ssh.



A garota desdobra a bengala, levanta-se e atravessa a porta.

Lúcia, dos cabelos ruivos

A menina, Lúcia, tão cheirosa, 12 anos, aprendeu com sua mamãe a usar creme hidratante, daqueles que não necessitam de enxágue. "É pra ficar mais bonita", ela disse com os olhinhos brilhantes e com as duas mãos segurando firme o frasco. Seu troféu. Sorrindo destampou, virou de cabeça para baixo e esperou que o creme escorregasse até suas delicadas e lindinhas mãos. O que não aconteceu, deixando a danadinha perplexa.

Com um salto e uma coceira no céu da boca, a menina pôs-se a lutar freneticamente contra o pequeno frasco escuro, no sentido de rolar pelo chão, esmurrar com toda sua forcinha infante e dizer ofensas terríveis como "seu creme bobo" e "nem te quero mais". E a luta continuava: ela batia, torcia, contornava todo o frasco com suas mãos, esfregava, sacudia, dançava, enfim, era um vai-e-vem de mãos apressado, de ritmo colorido.

No final da tarde, lá estavam, Lúcia e seu Everest. Ela, de ruivos cabelos suados; ele, negro e inflexível. E veio no coração da Palavra a dúvida de que talvez Lúcia estivesse usando da abordagem errada. Talvez, é. E foi isso que a lindinha pensou, juntanto suas capacidades numa última tentativa. "Desculpa, eu sei que você só precisava de um pouco de carinho". E então acariciou suavemente o frasco negro, apertando aqui e ali, em quatro idas e voltas pelo objeto.

E não é que deu certo?

Sem que ela esperasse, o cremoso branco espirrou do frasco negro e lhe atingiu o rostinho assustado, porém curioso.

A vida inteira que podia não ter sido e que foi

Dispnéia, suores, sei lá que bem podia ser tuberculose, e a tosse tosse tosse não era fumaça, era o pulmão esquerdo que infiltrado.

Fosse possível usar o pneumotórax -- não tinha nunca dançado um tango argentino.

20081222

ROSA
ARROZ ROSA
ARROZ ROZA
AROROZA DELA PINICA O MINTO

20081221

Simphonnya

Acordo e a primeira coisa que sinto é dor.
Vem quando primeiro me estico o braço, range de fibra em fibra e finge que se arrebenta quanto mais força eu faço. Na mentira ela se agarra na carne e eu nem dou bola.
Jogo-me as pernas pro lado e lá no abdôme ela me morde. Sento, sinto que queimam as coxas e panturrilhas quando quero me levantar e levanto.
Aí sim já é um acorde, baixo abdôme, dedilhadinho no braço e fisgada de jeito, que ressoa bonito da cintura pra baixo e a nota vem.


Ai.

E que seja feita a nossa república antes que os cristãos nos amaldiçoem!

Este é o primeiro e talvez um fútil mas não bestardo esforço de evolução a um tempo que não pode mais parar: explico: a missão de tis é, a partir do momento de agora, efetivamente, começar um novo domínio de liberdade de expressão e de arte corporal, aliado de tal forma a cada um de seus pequenos corações internos que, num só grito de libertação: OXALÁ!

CONTOS, POESIAS ETC!!!! DEEMNUS TUDO!