20110630

Uma cancioneta

Roberto em Yerevan by LuisLabaki


POIS QUE ESCREVAM EM MINHA LÁPIDE,
COM LETRAS GRANDES E BOAS:

"ROBATO"

E SÓ.

Tipo

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meio que de poesia
meio que de movimento
meio que de sacanagem
meio que de monumento
meio que barriga fora
meio que de língua dentro
meio que de nem metade
meio que tá tudo dentro.

.

20110629

.

Vinte e sete dias depois do desaparecimento de Maria, encontraram escritos miúdos em papel de pão, com caneta azul que acabou no meio do texto, secando pouco a pouco o que ela provavelmente continuou em sua cabeça. O seguinte:

Um cavaleiro pula diante da raquítica donzela devoradora de livros. Um impulso interior sequestra o coração de ambos. Mas ao invés de agora serem um, pelo desencontro do sequestro, cada um deles se vê vagando cada vez mais distante de si ao lado daquele outro corpo que se rasga a sua frente. Não dois, não um –– nenhum.

A donzela sou eu. E toda sua vida que deixara para trás ao inventar aquela viagem que só não era fuga porque toda planejada. Em suas ideias ainda resiste a simples ideia fundante de que as ideias têm esse valor da operação limpa e controlada, como a vida das donzelas.

O cavaleiro sou eu. E toda a sua vida matando em nome da honra que nem mesmo sabia o que significava realmente, apenas sentindo comichões no estômago. A ação lhe corrompia o própio corpo que conhecia mais e mais até que um dia este própio corpo lhe escaparia das própias mãos e todo seu aprendizado honrado se mostraria tão tolo quanto a pedra que lhe quebraria o crânio.

Eram suas formações que os mantinham sempre sequestrados. Porque o cavaleiro não era donzela e nem ela cavaleiro. Sempre lhes faltaria o pote de ouro simbolizando o resgate. Sempre e sempre buscariam algo fora de si ou encontrariam em si a própria fuga no outro.

Pois agora vejo –– aqui diante deste estalactite cama de pregos –– que um coraç

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Ego,

Não compreendo algumas de suas atitudes. Sinceramente, por qual motivo você me censura quando estou tão contente? Patético, patético. Se você tem questões ou problemas em relação às coisas guarde com você, ou ao menos não venha me encher com suas babaquices.

Me parece muito simples pegar e sair e conversar com todos e tal. Não vejo problemas nisso, apenas soluções. A censura sobre seu próprio coração é algo que me deixa muito triste por você, pois deveria ser o único lugar em que algo de verdadeiro e patético deveria fluir com realidade. O restante pode ser uma grande mentira. É uma questão não de sobrevivência, mas de vivência. Por isso pare de ser um estúpido. Comece limpando a casa.

Prezo muito nossa ligação, não me considere um inimigo seu, 
(mas também não conclua que não estamos em guerra).

Cordialmente, do coração,
A.E.

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mundo em doistempos: JAPÃO vs. VERSACCE

20110628

versículo 1000

aí o bispo disse estupro não existe e segurou uma tampa de caneta e disse pra moça "tenta colocar a caneta aqui dentro" e ficou mexendo a tampa e dizendo "BLUUUUU" fazendo biquinho e disse "viu eu disse" e a moça deu um murro na cara dele e agarrou ele e jogou ele no chão e pisou na cara dele e mijou no cabelo dele e cagou na boca dele e amarrou ele com uma corda e enforcou ele e chutou a cara dele e quebrou ele todo e aí ela enfiou a caneta na tampa e disse "é mesmo"

20110627

detalhe (ou pedaço(ou velhice é somente

Mesmo dentro de um apartamento (veneno antinatural) as pernas dele sabiam trabalhar, sabiam correr jornadas simbolicamente válidas. Os rituais persistem.

É por isso que o chão de madeira nua é mais cavado em curvas estranhas e sinuosas e sensuais. E então pronto:

(pois os pés ardem mas tudo bem e a mente derrama mas tudo bem e os olhos emudecem mas tudo bem e o cabelo viceja mas tudo bem e a língua gruda mas tudo bem e o ventre fome mas tudo bem e o ouvido riacho e a alma não)

(...)de uma mulher que se não maravilhosa, ao menos o queria. Não ardia - não-meteoro. Mas o amava. E seus pés molhados se secaram. E, infeliz, se acolheu. Às 19h quando o sol já era uma lembrança de teocratas emudecidos ele abraçou uma moça no meio da av. Ipiranga e cumpriu seu destino, tão pequenino.


[leu aquilo feito hieróglifo na parede do banheiro, em letrinhas de aranha que pareciam se esfregar nas suas bochechas. o cheiro do lado de dentro se tornara intangível. desejava o saara.]

Frejk de Groot, o homem mais desinteressante do mundo


Frejk de Groot, o sujeito mais desinteressante do mundo, nasceu em Flandres durante a guerra dos cem anos, fato perigosamente interessante a ser incluído nesta biografia não autorizada. Até os dez anos de idade, sua principal atividade era ensinar os cachorros do vilarejo a urinar nas frutas expostas nos mercados ou nos tonéis de cerveja mantidos destampados pelos vizinhos menos cuidadosos, dando o sabor amargo que por muito tempo seria confundido com alguma especificidade do armazenamento de Ale de alta fermentação em barris de madeira.
A partir de então, o relato de sua juventude se complica, visto que alguma incerteza entre os historiadores da época resultou em mais de cento e setenta e cinco relatos de suas mortes nos mais variados locais e nas mais distintas datas. Ele teria sido atingido por uma flecha inglesa (EINEBALD, William, Vinte dias para a vitória, 1358) quinze dias depois de morrer torturado por franceses (HINESTEIN, Friedich, Lista de flamengos mortos entre 1350 e 1450, 1454) e sete meses antes de agonizar em chamas durante o incêndio de Limburgo (GARTIER, Pierre, Como ganhamos Vlaanderen, 1818).
O fato chamou a atenção de Henrique de la Nataña, historiador catalão que desenvolvia um estudo sobre a linhagem francesa dos Tissou, especialmente quando ele notou que a totalidade destas mortes ocorreu antes do ano de 1417, data em que Frejk teria matado Guillaume Tissou às margens do rio Demer.
Aprofundando suas pesquisas, o historiador observou que as versões acerca da morte e da vida de de Groot se baseavam em relatórios semi-oficiais registrados pelo condado em que vivia nos anos entre 1400 e 1437. Tomado por uma feliz epifania, Henrique imediatamente apagou de seus estudos todas as menções ao polimorrente holandês, recitando a desventura aos amigos mais íntimos e concluindo aos risos: Frejk de Groot não passara de um escriba ambicioso e bem humorado, ansioso por ter seu nome escrito (e reescrito) nos anais da História.
Henrique de la Nataña, hoje sabemos, foi o maior difusor de versões incorretas sobre fatos históricos, o que nos enche de otimismo ao lançar-mos-nos à vida e à obra do jovem flamengo.

artista enquanto lixo

20110625

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Querido Alter Ego,

Às vezes penso que não deveria ser preciso tornar público tudo que ocorre entre as paredes e mesmo fora delas. Ou ao menos se poderia evitar esta pulsão jornalística em tornar tudo manchete. Também ocorre isso nos próprios jornais que circundam o furo de muitas bobagens, como que para enaltecê-lo. Me pergunto se não seria melhor comprar um jornal em branco de tantas páginas e lá pelo meio encontrarmos uma bela notícia, polpuda.

E mesmo que nunca haja manchetes saborosas, que continuassem os jornais, mesmo brancos, que continuassem as publicações do que ocorre dentro das paredes e fora delas, mesmo que seja sempre o branco ou um rosa homogêneos que dizem exatamente isso, que nada demais ocorreu.

Desculpe por ficar pensando em mensagens. Você melhorou?

um beijo carinhoso,
E.

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auto-imagem: um abismo.

A culpa e a impotência (notas sobre ser um homem, reação ao masculinismo)

Existe a parte fácil de ser um homem (em minúscula, sempre), que é estar no lado de dentro, em cima da mesa, armado com um rifle e uma espada e talvez até uma granada, e as pessoas não têm dúvida que o mundo tenha sido feito à sua imagem e semelhança, por nós, homens – nós, eles. Sem dúvida, não posso dizer que já fui discriminado, ao menos não seriamente, por ser um homem. Não preciso – eles não precisam, nós não precisamos – provar nada. A História é masculina.

* * *

Esta posição não foi conquistada por mim, nem por qualquer homem vivo hoje, e não me orgulho nada dela. Provavelmente estou enganado no meu paralelismo, mas me sinto como um filho de nazista que tem nojo do passado do pai e não sabe como lidar com sua dívida – culpa – histórica. Ser um homem, isto é, ter um pinto, significa o massacre constante e sem fim das mulheres, um peso demasiadamente enorme para alguém como eu, confuso como um ganso.

* * *

Um filho de nazistas que faz piada sobre o nazismo e se sente intensamente envergonhado por fazer parte dessa História.

* * *

Declaro-me culpado de partida. Herdo todos os erros e os torno meus.

* * *

Não acho que seja questão só de se garantir todos os direitos às mulheres, chega a ser patético termos que falar nesses termos. Às vezes tenho vontade de entregar tudo a elas – vocês –, tudo, e fugir, correr, correr, morrer. Todos os homens. Suicídio programado.

* * *

Desafio: como, sendo um homem, escrever as mulheres (e não sobre as mulheres)? Tê-las como sujeitos – verbais, sociais, líricos – mesmo que vistas pelos meus olhos treinados como os de um homem?

* * *

Acredito que há uma fenda entre os sexos, intransponível. A distância que me faz amar – como a fotografia.

20110624

auto-imagem: processo de construção de uma cyber-face que abarque todos os sentimentos humanos contidos num omelete



cotidianas 6.


Untitled

When rains come down to flood the town

And earnest citizens really ought’er
try to make and keep things sort’er
dry…

I make water.

When water’s rare and cattle’s dying
and I’m as thirsty as can be
and long for some water in me –
God – damn it!

I still pee.

–– Maya Deren
Massachusetts, 1938

cotidianas, entre o 5 e o 6.

Ram-Tsa-Kah IV

Ram-Tsa-Kah IV from Luis Felipe Labaki on Vimeo.

20110621

Escrever romances

Uma das piores coisas que pode acontecer a uma pessoa é que ela resolva, seja lá por que for, escrever um romance. Eu me considero razoavelmente no direito de dizer isso, porque desde que ganhei o meu primeiro computador e, na verdade, mesmo antes, eu escrevo romances, a maioria dos quais, é claro, não passa das primeiras páginas frustrantes, mas alguns alcançando lá algum volume ou até, no caso de pelo menos um deles, chegando a se dar por pronto: é um horror.
Um horror, porque é terrível você usar mais páginas do que o necessário para contar qualquer coisa e acredito que um romance seja exatamente isto: algo com mais páginas do que o absolutamente necessário. Não é possível ou não me parece possível que uma ideia, não importa quão elaborada ou complexa, demande cem, duzentas ou mil páginas para ser transmitida. Se demanda, com todo o respeito, é porque ela não está sendo bem transmitida, mas não creio que seja isso o que ocorre na maioria dos casos; creio que seja uma ambição desmesurada ou a arrogância de achar que as pessoas estarão minimamente interessadas em ler páginas sem fim de recheio (e é isso o que compõe a maior parte dos romances). E, é claro, volta e meia me surgem ideias que demandam suas cinquenta mil palavras, por vezes menos, por vezes mais, e eu me convenço de que a história não será contada ou não será devidamente contada se não tiver páginas e páginas desse maldito miolo, isso é, de algo que dê ligação aos breves momentos que realmente são essenciais no que estou contando (se é que algo é realmente essencial em qualquer coisa que eu conte ou que se conte, inclusive).
Também é verdade que eu me preocupo excessivamente, talvez a ponto de me prejudicar ou boicotar, com o eventual interesse de alguém em cada coisa que eu escrevo, mas não se deixem enganar, que isso não me impede nem motiva nem norteia, é só algo que me ocorre ocasionalmente, algo como O que diabos eu estou acrescentando ao dizer isso? e eu nem sei dizer a que exatamente me refiro ou se o intento é acrescentar ao texto, a mim, a alguém específico, ao mundo etc, mas parece importante haver algum questionamento, ainda mais quando se está embrenhado até o pescoço em uma batalha perdida contra as páginas e páginas de não-progresso, de irrelevância, de recheio etc. (A conclusão, em geral, é a de que sim, acrescento.)
Mas é terrível, de qualquer forma. É terrível controlar o quanto se fala a cada momento, decidir quando se deve acabar uma frase, um parágrafo, um capítulo, quando se deve pular o tempo e adiantar os fatos e, decidido isso, é terrível determinar até que ponto os fatos devem ser adiantados. Conduzir a história não é exatamente difícil, porque a dificuldade pressupõe, me parece, a possibilidade de falha, mas é enfadonho, é desgastante, é até um pouco atormentador. É preciso, de fato, ter fôlego, e eu sou asmático demais e desatento demais e Deus me livre.

20110619

almoço de domingo

Pra quem não sabe, estou morando sozinho por uma breve temporada.

O grande desafio nessa realidade doméstica, ao menos pra mim, é passar do estado de "servo" ao de "servidor" de cotidiano - ou seja, me tornar o responsável por ditar minha própria rotina.
E onde é que existe mais rotina numa casa do que nas refeições, não é mesmo?

Com a minha presença errática nos eventos domésticos, o tradicional esquema "batalhão de comida => refeição para 3 dias" se torna menos atraente. Cozinhar pratos individuais todos os dias pode ser uma atividade um bocado delicada, mas o frescor de cada refeição é um charme incontestável do estilo casa-de-um-homem-só.

Depois de um sábado baseado quase que todo na proteína animal [tortilla com linguiça no almoço, torta de batata com bacon pela tarde, realizada na companhia do estimadíssimo colega Tiago de Mello] decidi forrar meu prato do dia com os legumes e verduras que ainda me restam na geladeira.

Fiz então um belo refogado, pra acompanhar a supracitada torta de ontem: cebola e alho-poró na manteiga, abobrinha e cenoura em lascas e um punhado de couve bem picada, tudo temperado com shoyu e óleo de gergelim. E deu certo!

Ah, eu também almocei no quintal. =3

continuando minha série "problemas com link" (aprés mourão)

"[FOLDER] 'Self Injury Videos': Videos showing you failed suicide attempts, self harm, and similar. Please note that some of these videos might be quite disturbing."

20110616

-- My greatest fear is that some creep like that will fall in love with me.

-- I know! I'd rather have someone hate me!



(Rebecca e Enid, em Ghost World, de Daniel Clowes)
 

20110614

vencedores

MAS AFINAL, QUEM VENCEU O CARNAVAL DE 1937?


- jorge mourão, que inventou o terceiro lugar em pódios
- o povo romanche, finalmente livre do imperialismo subcutâneo
- todos aqueles que já imaginaram como seriam mais felizes caso suas mãos fossem grandes o suficiente para agarrar adequadamente os órgãos erógenos de seus parceiros
- o herói anônimo que descobriu a facilidade humana para abstrair mentalmente as doenças sexualmente transmissíveis
- marina messalina, a heroína de nome improvável que previniu a guerra do golfo 53 anos antes que ela se tornasse necessária, usando apenas a sua prodigiosa habilidade para a dança do frevo e seus olhos enigmáticos de protagonista de romance romântico cujos lábios derretem generais e cujas pernas enfeitiçam bruxas até que elas se tornem porcos que só sabem gemer feito poças
- o desejo (abstrato) de venerar os céus frios absurdos para essa época do ano, um desejo sem raízes ou razões, baseado apenas em um certo (e ultrapassado) éter inexplicável que inebriava certas cabeças e certos olhos ao ponto do torpor zumbi daqueles que passam os dias admirando as nuvens sem expressão e encontram nisso prazer inigualável
- os unidos dos samurais sem pé, esquecidos para sempre após 1939, mas por alguns instantes tão importantes quanto o papa, imponentes estátuas sem chão
- você, marcela, que me escapou como um pedaço de mentira escapa a um louco, enganando a quem se engana por hábito, e me deixou num labirinto sem nome dentro do qual eu grito que estou bem.

HH792 - Parte 2

Daí a Sarinha se controlava, ou melhor, não se controlava mas ficava na dela talvez porque não tinha os instintos assassinos ou porque no fundo no fundo nem ligava mas com certeza um dia vai acabar lembrando da situação como uma daquelas em que o ser humano pensa que poderia ter travado um debate acalorado regado a argumentos sólidos e rAcIoNaIs. A Cinthya, no entanto, a julgar pelos tremores sutis e pela vermelhidez facial, tinha cara de quem ia, a qualquer momento, se dirigir até a professora e cometer um hOmIcÍdIo triplamente qualificado contra a mesma como quem serve de exemplo em alguma analogia idiota que não tem por que estar no texto além de iNfLaCiOnAr a contagem de palavras.

Aí o leitor com certeza deve pensar que isso foi cuidadosamente planejado, ou que essa oração é uma tentativa de inciante de despistar o raciocínio do telespectador, ou tentativa de escrever em uma meta-linguagem elaborada né? Aí ele já sabe exatamente o que é esse parágrafo.

Eu acho interessante desenhar imitando alguma estilização histórica. Desenhar "estilo mangá" , "estilo Marvel" etc. O desenhador se esforça pra fazer uma coisa que ele já sabe que é bonita. Eu não tenho saco pra me esforçar tanto assim. Aliás eu não tenho saco pra me esforçar por motivo nenhum, no geral. A preguiça me faz ignorar um monte de proporções e desenhar umas coisas estranhas. Aí eu vejo o desenho e lembro do rosto dela e a imagem vem como se fosse uma foto (olha a metáfora! e olha a observação ignorável entre parênteses). Aí eu penso "Não, ele é mais redondo, os lábios e os olhos são menores". Normal, aí se eu for racionalizar de um jeito que exalte a minha tosquisse artística eu posso dizer que "Ah é legal porque aí eu me lembro dela direitinho". No fim é a imagem da Sara que passou pela minha cabeça e foi parar no papel. É uma espécie de documentação.

Falando em coisas óbvias, quem entra nesse blogue além dos próprios autores? Acho que ninguém.

20110612

de inverno.

tá frio pra cacete
eu sinto falta na cama
daquela sua cor

* * *

vento na goela
esqueceu o cachecol
gelando sem volta

* * *

tem água no chão
ou o piso está gelado
coloco o chinelo

Hum

20110611

CEBOLINHA: violinista estupendo!




Tanto faz.
Estranhos.
Hoje.
Não somos dois, somos um.

.


Um canto bem baixinho:

O que você está guardando?
Dinamite.
O que você está guardando?
Dinamite.

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20110610

retrato de uma sombra

a eterna fragilidade do homem conversou comigo e me disse que caso eu crescesse poderia viver. não sabia como reagir isso, eu, eu um homem de meias rasgadas por pura vaziez. talvez num gole mais profundo eu pudesse ter reagido melhor mas a minha reação foi patética por não ser patética o suficiente, não gargalhei nem gaguejei, não fiquei congelado no tempo como um homem sem país, apenas disse que não sabia o que fazer e não recebi resposta. só fiquei sozinho. mas é difícil ficar sozinho por tanto tempo, e logo pensei na morte de meu pai e em todas as pessoas que já magoei e nos mendigos para quem já menti, sempre sem remorso, nos amigos que já roubei e nas mulheres que eu deixei de tocar por arrogância, nunca por pena ou respeito, sentindo o tempo todo na palma de minha mão uma espécie de fogo frio que era invisível só a mim. não obtive resposta alguma e logo precisaria voltar ao trabalho e continuar vivendo, e então percebi que aquilo devia ser uma exceção, a exceção. pensei em muitos jogos cujas regras não consegui entender e entendi que não era mais uma questão de querer mas sim de precisar. eu nunca passei fome e ainda assim gemi, e os meus problemas engoliram o mundo. eu não vivi mais.

20110609

haikubes

regras:
jogar um dado por vez. as palavras serão colocadas no primeiro verso até que as silabas ultrapassem o seu limite (5). caso uma palavra extrapole o limite, ela será colocada no segundo verso e por aí vai. quem completar o haikai primeiro (5-7-5) ganha a partida. ao fim, pode-se organizar a ordem das palavras (apenas dentro dos versos!). Eis os resultados (não marcamos quem ganhou qual partida):

primeira partida:

r:
hero sang with grace
that gentle between licks waste
finger across heart

h:
what blows noodle hand
sneaky me our promises
science hot sister

segunda partida:

h:
if me brother boy
wet prick shot the heavy peace
a body before

r:
it's my home, her stay
for thunder to lofty ass
slowly her ritual

terceira partida:

r:
they consume noodle
grand body oozing around
to mouthful yelled shot

h:
who finally charm
pregnant ritual spiral eyes
lofty never blows

quarta partida:

h:
spiral war with me
biting trouble to her limbs
the lame fertile boy

r:
for radical point
sour brother on science
its my promises

quinta partida:

r:
science mouthing muck
our gleeful girl – that one piece
precious wet giant

h:
greased hero between
alternate violet as
they dancing ritual

sexta partida:

h + r:

JAPÃO em dois tempos 2: realidade EST ficção

20110608

eu, um osso

devagar
mais que devagar: silenciosamente
eu preencho
os espaços.

certa vez tentei perguntar a um amigo se ele achava que eu era uma boa pessoa mas antes que eu conseguisse começar qualquer frase ele morreu sem nem piscar os olhos e desde então não tenho resposta portanto nem me pergunte

somos refrães
(isso é, plurais difíceis)
de momentos difíceis.
nem chegam a me pedir fé
conhecem minhas alergias
mas não conhecem meu marca-passo
nem bengala
nem as lentes
nem os remédios
nem o tigre.

meu peito de sangue
não
meu peito de carne
não
meu peito de nada.
não meu. não. um trem
de vago.

o céu diz
intraduzível
meu legado intransponível de cobra sem asas
transparece sob a lividez de quem disse
disse disse disse
disse
disse
diz se disse disso
os jogos não são o suficiente.

os jogos não são o suficiente
então marcho
mar sem ondas
destino bordado
infelizmente tangível
the dernière blague
beijo em cobre
desconversão.

luta-pela-luta
é.
veneno de chumbo.

os jogos não são o
jogos são
jogos não
eu.

Bem, te vi

Mesmo que, de longe, pareça tão sem cor,
(essa menina, ela, ela)
alguém me disse que a cidade, por tão bela,
(de longe, dionde for)
devia ser pintada toda amarela.
(de medo ou de doença ou de horror)
E que bonito, que bonito se assim for:
(que bonito... bonito se assim era!)

É sempre bom sabê-la aí, à janela,
(que te vejo, que te mato de pavor)
ainda que seja assim, ao lado de outro amor:
(outra cama, outros jantares, outra vela)
fica tudo muito bem, enquanto me for
(me for, me fora, me fera)
possível amarela, amarela, amarela.
(amar ela, essa megera sem valor)
(...)

The first song they played was a composition of their own and lasted two minutes and forty seven seconds. In these two minutes, Laika wouldn’t be able to write an e-mail, pay a bill or drink a pint of beer, but they were enough for a music to make her cry.

JAPÃO em dois tempos: realidade ET ficção

20110607

revendo macanudo


* * *


* * *


Eu me afogo na minha idiotice (31/03/2008).

Eu me agoro na minha idiotice, (eu reli a frase e percebi o erro, mas afoga) e é tão importante ter consciência disso, embora só seja idiotice porque eu tenho consciência disso, embora só seja idiotice enquanto eu tiver consciência disso e eu pensar em cada minuto que eu perco de toda forma absurda e eu me agoro na minhaidiotice (sim, eu troquei novamente afogo por agoro, dessa vez novamente de forma completamente inconsciente) e eu assisto finalmente ao tal Bicho de 7 cabeças e a única coisa que ficava retumbando naminha cabeça é que eu me agodfo na minha idiotice.

Você não tem idéia de quanto eu me assusto por tentar escrever "agoro" e.

Você não vai acreditar em mim, mas eu pretendia escrever ago

Você não vai acreditar em mim, novamente, mas eu realmente estava tentando escrever afogo e não parou de sair errado assim e.
Caralho, eu me afogo em minha idiotice e é a minha droga e o sono é a minha droga e a criatividade é a minhadroga e o vouyerismo é a minha droga e a projeção é a minha droga e a Falosofia é a minha droga e eyu me agogo em minha idiotice e eu odeio que esse erro constoante esteja saindo involuntariamente, sendo que eu resolvi parar o filme e me sentar e deixar tudo racionalmente esx´posto e agora eu sei que pareço artificial mas é verdade que me afogo em minha idioteice.

Andei pensando seriamente nesses dias em fazer um heterônimo coletivo e um verdadeiro heterônimo e um verdadeiro coletivo e eu queria conseguir criar dessa forna,. talvez se isso tudo fosse pelos correios eu ganharia na ortografia porque eu corrigiria tudo bonitinho mas eu perdeira a velocidade

telefone toca

20110604

4.14

fechar o livro

20110603

3 insetos (poemas ilustrados)

1.
Gritei,
mas tranquilizou-me
a Barata.
Simpática, singela,
disse que adorava banho
e só comia comida de cachorro de raça.
Ficamos amigos,
mas foi muito breve;
morreu.

2.
Siriri, Siriri...
Faz-me tremer quando treme,
aleijado,
no chão da minha cozinha.

3.
Inseto,
sim, de certo.
mas qual?
Corpo cinza, de ar jurássico,
tem antenas? Será que voa?
E se for venenoso, que fazer?!
Apago a luz,
deixo a sala.