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20150119

review de escovas de dente (Curaprox X SanFil)

esses tempos, pensei em escrever aqui uma crítica sobre escovas de dente. 
ao invés disso, fiquem com estes manatis simpáticos:



20140630

Círculo de Fogo (crítica)

Um ano(?) tendo se passado desde o lançamento, consolidou-se o consenso de que Círculo de Fogo é o melhor filme de todos os tempos. A constatação é intuitiva e dispensa maiores explicações, ocorrendo naturalmente a todos que tenham a felicidade de assistir à obra máxima de Del Toro e do Cinema-com-C-maiúsculo, mas nem por isso a crítica, especializada ou não, deixou de escrever prolificamente sobre a obra.
Muito se falou, por exemplo, em como o filme é multicultural, muito embora o protagonista seja americano, haja apenas um personagem negro e a personagem japonesa grite "PELA MINHA FAMÍLIA" enquanto ataca com uma espada. Falou-se em como é um filme importante em termos de representação da mulher (e, particularmente, da mulher asiática), embora haja apenas 3 mulheres em todo o elenco. Elogiou-se a inteligência visual de Círculo Fogo e a forma como o filme evita clichês e, em suma, o fato de ele ser a coisa mais linda que já passou por uma tela de cinema, mesmo sendo um filme de robôs lutando contra alienígenas que repete fórmulas batidas e não tenta ser mais do que é. Falou-se sobre como Mako é uma protagonista de verdade, e não uma desculpa para fan service; sobre como cada um dos personagens secundários, mesmo aqueles que nem têm falas no filme, tem mais carisma que todo o elenco da maioria dos filmes de ação; sobre como os dois protagonistas não se beijam no final. Eu já vi gente, inclusive, analisando a força que uma cena (aqui e aqui) de um segundo, quase imperceptível, que se passa ao fundo, teria como contestação aos paradigmas de gênero em um típico relacionamento hollywoodiano. Textos e mais textos, portanto, que embasariam o argumento de alguém que sustentasse o brilhantismo do filme, caso isso fosse realmente necessário (não é). 
O que importa, porém, é saber por que escreveu-se tanto sobre Círculo de Fogo. Por que fez-se tantas manobras, tanto contorcionismo, para classificar o filme como inclusivo, inteligente, único. E o motivo para isso é que, bem, o filme é bom. Ele é legal. Ele faz você querer gostar dele. 
Eu odeio cenas de ação, mas as cenas de ação de Círculo de Fogo são realmente legais. Pra começar, a câmera não fica balançando, de forma que é possível efetivamente entender o que está se passando, ao contrário do que costuma acontecer nesse tipo de cena, mas, além disso, elas passam muito bem a ideia de colossalidade que o filme propõe --- e isso é incrível. Os Jaegers e Kaijus parecem ter peso. Eles se mexem e você sente que algo gigantesco está se movendo. 
E, obviamente, eles são legais. Os Jaegers servem a um propósito na narrativa, é claro, o que também é elogiável, mas o que importa, de novo, é que eles são legais. Eles inspiram as pessoas a criarem histórias, a imaginarem seus próprios robôs. Círculo de Fogo é um prato cheio para o fandon, não apenas por tudo o que ele traz, mas principalmente por tudo o que ele sugere (como foram os 6 anos de invencibilidade do casal Kaidonovski?; como eram os outros Jaeger Mark 3?; ...). Círculo de Fogo é, por isso mesmo, a maior promessa de surgimento de um "clássico" dos últimos anos. É o filme que, na minha cabeça, tem a maior chance de sobreviver como ícone cult para as gerações futuras. 
Eu posso não saber, então, se o filme é ou não mais do que uma história de robôs gigantes. Talvez eu nem seja qualificado para dizer se é uma boa história de robôs gigantes. Se é uma homenagem à altura do gênero. Mas eu acho que é. Círculo de Fogo me faz querer achar isso.

20130208

"prendam-me, por favor! já não posso mais!!"

dirigia pra casa numa madrugada qualquer quando me botei a pensar (eu tinha assistido recentemente a um filme que falava de freud e coisas do tipo, e estava um pouco confuso) me botei a pensar que a gente, ou pelo menos eu, raramente sinto que eu posso algo; o sentimento só existe quando eu não posso fazer alguma coisa - por incapacidade física, ou força das circunstâncias.

tenho a mais absoluta certeza que isso é um fato já conhecido e exaustivamente estudado por uma miríade de senhores e senhoras muito mais competentes do que eu, de forma que não quero aqui me colocar como um grande sábio nem nada do tipo...

mas passei a pensar, por exemplo, a respeito do modo como eu dirijo: completamente repreensível, ainda mais de madrugada, ainda mais quando sob força de pressões das mais variadas formas (o tempo, um compromisso, o sono, etc. etc.) e em como eu quase nunca sou parado nas ruas. eu, rapaz de figura quase decente, acima de tudo branco e guiando aquele carro japonês. me ocorreu então o óbvio, que eu posso mais do que outras pessoas, em outras circunstâncias (e, evidentemente, não posso tanto quanto outras, em circunstâncias ainda diferentes das duas primeiras).

isso me pareceu errado, absurdamente errado.
a minha formação de caráter (caractere, character, charque) se dá, acima de tudo, por um constante tatear de limites, do espaço estreito entre poder e não poder.

essa desigualdade [social, que se reflete] no campo das escolhas e das possibilidades gera inúmeras aberrações de personalidade (caráter) na sociedade; tanto o excesso de poderes quanto o excesso de não poderes deforma o cidadão.

e isso é (também) violência.
violência pra caralho, quando você para pra pensar.

.
.
.

então eu decidi abandonar minha vida, queimar meus pertences e rumar sem nome.
a partir de hoje, vou me dedicar a caçar todas as Aberrações que eu encontrar pela frente.

porque nenhum homiciodiozinho pode ser comparável a tamanha violência...
né?

20111209

Análise crítica e reflexão sobre o vídeo "Escolinha do Pedagogo Alquiminto"

http://www.youtube.com/watch?v=VtyBlvhOX3A vídeo analisado


A arte política não é apenas panfleto - essa é uma acusação feita pelos seus detratores, e é uma acusação de tanta carga político-ideológica quanto a arte atacada. Fazer arte política não é musicar uma propaganda partidária nem dançar enquanto se recitam as teses de Marx - ao menos não só; a arte política é aquela que reflete e pensa criticamente o seu próprio tempo e produz conteúdo de valor estético-formal que remeta à "realidade" e tome posições diante dela.

Isso posto, deixo claro logo de início que considero louvável a produção de vídeos que se proponham a refletir sobre tudo que tem ocorrido na USP: é necessário que criemos contrapontos à Versão Oficial dos fatos, que expressemos nossos olhares sobre o que aconteceu e nossas exigências. Levando em conta a minha visão (acima expressada) acerca de arte política, considero necessidade básica que os vídeos produzidos não se valham apenas pelo "conteúdo" (se é que isso existe): se vamos criar "objetos artísticos de protesto", é óbvio que a estética segundo a qual eles existem seja tão pensada quanto "o que eles dizem" - ainda mais se tratando de uma peça ficcional, e não uma reportagem ou um ensaio.

Nesse sentido, considero o vídeo problemático em diversos aspectos.

A suposta "paródia" dos programas de tv do tipo "Escolinha do Professor Raimundo" e similares não é, em si só, um problema - a paródia é reconhecida como arma efetiva de crítica e ridicularização de idéias há tempos. A questão aqui é: o que estamos parodiando? Programas como "Escolinha" se baseiam em uma situação supostamente ordeira (aula) que se revela proto-anárquica, com a presença de diversos "tipos" engraçados e a falta de controle do professor sobre os alunos - é, basicamente, humor de personagem e de situação. A paródia realizada não parece compreender isso muito bem, apenas absorvendo o cenário - escola - e o título, sem emular verdadeiramente o "espírito" do programa. Constrói-se uma situação onde o único personagem verdadeiro é o professor (paródia de Geraldo Alckmin? é impossível saber: afora o nome ("Alquiminto"), não há nenhum tipo de estabelecimento de paralelos com o governador, nem com suas idéias, nem mesmo com o seu físico. tudo que vemos é um professor gritalhão e desagradável.), onde os alunos são rostos apagados, máscaras* ou corporificação de idéias básicas. Paradoxalmente, dessa maneira, dá-se muito mais "poder" ao professor do que nos programas parodiados - como só ele fala e tem personalidade definida, é apenas a sua presença que domina o vídeo.

(* abro aqui um parêntese para comentar as máscaras: o que elas significam? colocar os "rostos" de "inimigos" dentro de uma classe apática e aparentemente não alinhada ao professor totalitário não faz muito sentido - teoricamente, datena, rodas e quetais estariam totalmente aliados ao governador e não necessitariam de "aulas de democracia" para se colocarem ao seu lado. além disso, acredito que o rosto de reinaldo azevedo seja bem pouco conhecido e a sua presença lá acaba se tornando uma espécie de "piada interna" pouco interessante - ainda que eu o despreze etc.)

O problema principal que vejo no vídeo é, no entanto, um só: indecisão. Sendo grosseiro, existem duas modalidades possíveis de arte política: radical-revolucionária e reformista-controlada. As duas são válidas e cada uma tem prioridades diferentes: o primeiro modelo pressupõe-se mais objeto artístico do que necessariamente objeto de conscientização - há uma certa "integridade" por trás da obra proposta que não será violada nem "diluída" na tentativa de torná-la mais acessível/palatável a mais gente. Não há absolutamente nada de errado quanto a isso: existem exemplos históricos de arte radical bastante louvável, desde diversas bandas punks que não pretendem buscar consenso até os filmes do casal Straub-Huillet, de teor marxista-materialista inveterado que não se rende a concessões "clássicas" sobre narrativa ou espetáculo. É importante notar, no entanto, que essas obras pautam-se pelo encontro de um conteúdo radical aliado a uma estética tão extrema quanto - uma noção que vem fortalecida desde a arte revolucionária soviética. Cria-se um objeto que não só "diz" revolução mas também "é" revolução.

O segundo modelo, de "conciliação", teria uma preocupação maior com um suposto contato com o público-alvo e a transmissão de idéias de maneira talvez "homeopática" - evita-se a violência das verdades gritadas e procura-se o caminho do convencimento gradual. Nesse caso, adotam-se modelos formais já convencionais e reconhecíveis, numa tentativa de acesso ao público por uma via que ele já conheça - é o caso, por exemplo, de reportagens que emulem os formatos da grande mídia, de documentários como "Uma Verdade Inconveniente", etc. Procuramos mostrar "o nosso lado" de uma maneira que evoque as fabulações já propostas pelo "outro lado".

O que o vídeo analisado parece fazer, para mim, é bambear entre essas duas propostas sem ter certeza do que pretende. No sentido de "conciliação", adota um formato pretensamente reconhecível - a paródia de um programa televisivo familiar a grande parte da sociedade brasileira. No sentido "radical", a retórica adotada é extremamente violenta e cheia de gritos. No sentido de "conciliação", há um momento extremamente didático de explanação de porque certas atitudes seriam anti-democráticas. No sentido "radical", há a reprodução de imagens bastante violentas e perturbadoras (tortura, insinuação sexual forçada, etc). O resultado final acaba sendo esquizofrênico - um vídeo que, do nosso lado, só traz os gritos e o ódio, mas cujo formato é uma emulação precária do pior que o formalismo-conservador tem a oferecer.

Eu não seria contrário a um vídeo que fosse puro ódio - ainda que não saiba exatamente a que "propósito" se prestaria, que não seja o da arte extremamente individualista e pessoal -, caso ele se inspirasse em formas verdadeiramente diferentes e radicais e novas. Eu não seria contrário, também, a um vídeo "proselitista" que emulasse formatos "batidos" na tentativa de comunicar uma idéia que precisa urgentemente ser comunicada. O que me incomoda nesse caso é que o vídeo realizado parece não ter "função" alguma.

Como objeto-artístico-em-si-só, é de realização precária e confusa - a decupagem alterna entre o utilitarismo do plano geral-plano detalhe sem se propôr nem à paródia bem realizada da estética dos programas televisivos (que têm suas especificades), nem a uma tentativa de outra estética nova ou pensada, que fuja um pouco do básico-lavado imposto ao mundo pelas câmeras digitais de alta-definição. Há momentos de pura confusão estética: o interlúdio "bossa-nova", o trecho regado a música erudita (e o aparente regojizo frente às imagens de violência), o final "quebrando a quarta parede" que parece desconexo do resto do filme, etc. As piadas parecem evocar apenas o mais pueril e vulgar e simplista da programação de comédia da tv aberta, numa operação que acaba associando essa vulgaridade às "idéias" que tentamos propagar - quando, no fim, faz-se a piada com "dedo no cu", não estamos sendo quebradores de paradigma nem revolucionários: estamos apenas perpetuando um discurso vulgar, simplista e reacionário quanto a sexo e corpo, agora associado aos "nossos ideais".

Como objeto-político-de-conscientização, é um produto extremamente confuso: assisti o vídeo algumas vezes e ainda tenho dificuldade em compreender o que ele "quer dizer", afora talvez "Não gostamos de Geraldo Alckmin.". Não há nenhum momento real de discussão ou refutação de idéias, de reflexão sobre os acontecimentos ou mesmo de esclarecimento real sobre "qual é a questão": o instante mais "sério", a pergunta do personagem "Pedrinho", perde a maior parte da sua força por ser direcionada a um interlocutor tão obviamente estúpido (a ponto de não representar absolutamente nada) e por ser executada de maneira ultra-didática-professoral que destoa agressivamente do resto do vídeo. A impressão passada pelo conteúdo do vídeo é que nós, alunos da USP, odiamos alguma visão distorcida de Geraldo Alckmin (embora nem saibamos direito o que ele acha ou pensa) e não temos nada a propor ou falar sobre isso. Esse procedimento, aliás, de ridicularizar o interlocutor e atribuir a ele idéias estúpidas para mais fácil refutá-las tem um nome, "Falácia do Espantalho", e é uma das estratégias mais comuns da chamada "mídia golpista" que tentamos criticar (é só pensar na palavra de ordem "Ah, mas que vergonha/achar que a greve é por causa da maconha", que só existe para refutar esse tipo de simplificação sobre o nosso movimento).

Não escrevo isso com o intuito de ridicularizar nem de destruir: proponho apenas uma reflexão sobre o vídeo, suas características e seus objetivos: no meu contato com a obra, a impressão que ficou foi de algo de teor extremamente vulgar, pouco pensado, sem objetivo claro e cujo "efeito" final, caso tenha algum contato com o "público", seria apenas o de associar a nós uma imagem raivosa, pouco construtiva, nada aberta ao diálogo e incapaz de criar um discurso coerente e atrativo.

Gostaria que pensássemos: o que queremos obter com a nossa "produção de greve"? Gostaria que refletíssemos no intuito de criarmos obras que sejam reflexo do que pensamos: que explorem novos formatos, que explorem novas idéias e que procurem, verdadeiramente, um diálogo e uma maneira de expormos O Que Vemos E Pensamos Aqui Na Usp. Não quero uma arte "coxinha" nem "pelega": não acho que devemos apenas emular formatos jornalisticos e nos portarmos como "bons meninos" - isso não seria justo nem interessante. Acredito que seja possível, no entanto, praticarmos uma arte que seja "nossa", genuinamente, e que seja baseada nas nossas preocupações estéticas e políticas sem se render ao ódio fácil e "espontâneo" e pouco pensado.


Guilherme Assis, 09/12/2011

Aluno do Curso Superior do Audiovisual - ECA - USP.

20110205

Análise audiovisual de Cisne Negro

O filme começa muito bem, e é mais ou menos assim:





Aliás, é muito assim. Aí quando era pra ele ficar bom mesmo, ele fica assim:



E até meio que nem umas partes em Harry Potter (não achei nenhum vídeo bom, mas acreditem em mim) em que há uns sussurros sem sentido nenhum e a câmera passa de uns jeitos esquisitos pra o espectador ficar com medo em momentos em que não está acontecendo nada de mais (ou pior ainda: em momentos em que estão acontecendo coisas de mais), e aí tem as partes assim:


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E, ao mesmo tempo, assim:



Enfim,como se vê, ele tenta um pouco demais e às vezes força a barra (até porque, como disse um amigo, é muito fácil ser impressionante (ou expressionante?) com música erudita), mas o sexo é ótimo e o filme nem tanto, mas é bom, também.

20100621

Crítica Literária

Na "arte" produzida atualmente, parece ser uma constante o choque pelo choque e a falta de um propósito maior - a sensação de que "tudo vale", de que todas as piadas devem ser feitas, o cultivo da falta de sentido aparente e até mesmo da falta de sentido total. Palavras são jogadas ou arranjadas apenas para o escárnio - violência é reproduzida de maneira infantil - sexo é banalizado como o estupro dos vencidos. O novo método da arte é o zapear da tv - palavras jogadas no papel como imagens brilhantes, corvos. Diatribes. A única moda é o ridículo - tanto o seu quanto o outro. Tudo que poderia ser chamado de emoção é descartado e desprezado, depravado como piegas. Não há mais o estender da mão. Não há mais causa. Não há mais. E eu aqui sozinho, e vocês me deixando cair num abismo... sem encontrar uma palavra de sintonia, de catarse, em livro algum... não há mais, e só eu me importo...

20100525

Não exatamente o Josimar Melo, mas...

Admito que gosto do corre-corre de Cannes, que é regozijante, de certa maneira. É que durante o festival é impossível ir à praia...pelo menos pra mim. Praia só o Rio, e quando dá. Sou exigente com essas coisas, isso eu admito também. Quando eu volto pra lá...

Com os meus amigos! Purumpum!
Eu vou lá com meus amigos!
Margem direita, ta tá tá!
Pu pu, pu pu bli cá!
Bãm-bão, mestre-macarrão!
Critica meu prato, senhor sabichão!
Veio um, veio dois, movimentão!
Margem esquerda, preste atenção!
Mas só isso não bastará!
Cansei de só degustá! (e odiá!)
Para fazer a massa
fazer a massa é facil fazer a massa
vamos todos fazer a massa
e melhorar pra massa
a mensagem que a gente passa
é a da união!
a gente come nosso próprio macarrão!
criticar o freezer com nossas
ferramentas de televisão!
e achar que com isso a gente é
bom de garfo, bom de cozinha,
bom de garfo, bom de cozinha
bom de garfo, bom de cozinha
Ah, a Croisette.

20100523

Fiofó como paradigma

O cinema americano há tempos nos ensina que piadas de peido foram, digamos assim, uma febre da era Murphy. Murphy, Myers, quiçá até Chaplin teria dado seus peidinhos e dado um sorrisinho meigo depois, deixando todos apaixonados. Mas ele entrou tarde nessa onda de cinema sonoro e bem na época, digamos assim, belicosa, e aí tem essas coisas do Grande Ditador.


(E espontaneamente recordo-me do delicioso Terrance and Philip. Sagazes, os meninos do Southpark. Bons tempos do clitóris gigante, que vi do lado da minha mãe no cinema.)


De todo modo, se me permitem o trocadilho: "flato consumado", eles até reaparecem nessas aberrações como Norbitt (quem não pensou se tratar de uma paródia do universo tolkeniano?) e nigga-jokers reminescentes.

Quando me deparo com um filme como Quincas Berro D'Água, antes que que eu me faça açoitadora do cinema nacional, penso eu: como pode-se ser tão peru e ao mesmo tempo tão transgressor?

Adivinhem quem peida na foto:







Não é o gordo, não é o vagabond 1, não é o vagabond 2, não é o vagabond 3 (todos em adoráveis sorrisos semi-fantásticos co pezinho no quase-lá, que não chega).





Outro ângulo:






Pois é, é a velha que fica ali com o maior sound effects que eu já vi. E fica, e fica, e fica...até ter que correr para casa - soltando puns pelas ruas históricas - e ser arrematada (não com um calicezinho de vodca, meus amigos) com a frase do defunto, mais ou menos rimada do que minha memória me permite reproduzir:

"Por esse apito tão barítono, isso aí é que eu já sei: essa madama já liberou o fiofó."

O que fazer?

E apesar disso tudo, ao final do filme, diz o re-defunto boiando no mar: "E tudo isso aí dos seus problemas, enfia no cu do comodoro". Enfia no cu do comodoro. E é tão belo.

Um abismo tão contraditório! A esbórnia peidorreante americanizada que mais nos constrange do que qualquer outra coisa, logo ali no começo...e no final...esse cu que nos redime debaixo d'água com Quincas. Mas será que redime o filme? Redime o arrastar-se? Redime o rebaixar-se? Redime o meio-do-caminho? O que pensariam dona Zélia e Jorge, o vermelho? Tenho lá minhas sérias dúvidas.

Mas vou enfiá-las é no cu do comodoro.

Débora Ulbeiro é ex-crítica da revista eletrônica Cinética e atual editora do portal de cultura "muzanga".

20100329

Resenha: Orgulho & Preconceito & Zumbis

(Eu queria fazer essa resenha só quando acabasse de ler o livro, mas o fato de que eu possivelmente nunca acabarei, aliado à atualidade do assunto, agora que a versão brasileira foi lançada, me levaram a antecipar tão aguardada avaliação.)

Quando eu vi Orgulho e Preconceito e Zumbis à venda, confesso que demorei um pouco pra perceber que a moça da capa estava apodrecendo. Mas, uma vez notado, esse é o tipo de detalhe que me leva a comprar um livro (sim, foda-se o ditado) e foi assim que, antes de saber qualquer coisa sobre ele, eu estava lendo Pride & Prejudice & Zombies, trabalho em co-autoria entre Austen e um tal de Seth Grahame-Smith. Acabou que a ideia como um todo me pareceu bastante interessante, porque o livro não reescreve nem altera o texto clássico, mas apenas "acrescenta" elementos novos, a saber, mortos-vivos. Já que eu nunca tinha lido o original, mataria dois coelhos com uma caixa d'água só, como se diz.
Por isso, as impressões que imprimo (tarum-pá!) aqui são tanto da obra clássica quando da cobra flácida, isto é, tanto do que Jane Austen escreveu quanto do que o tal do Seth (bom nome) acrescentou.
E eu vou ser bem franco. Existem mais de 500 mil resultados no Google para uma busca por "Jane Austen feminist" (sem aspas), e isso pode não fazer sentido algum para alguém que se baseie em Orgulho e Preconceito para avaliar o ativismo da escritora. OP (vamos escrever assim, certo?) é um típico livro de menininha, cheio de mimimi de dondocas e futilidades mil, em que todo mundo não pensa em outra coisa que não se casar (inclusive, não se engane, a Elizabeth, que deveria ser mais badass).
Qualquer um que leia aquilo e que não seja uma menina de 12 anos do século XIX entende porque a ideia de OPZ é ótima: porque batalhas com mortos-vivos são extremamente bem vindas ao livro, mesmo.
O problema, então, passou a ser que o Sé Mané fez um servicinho muito ruim nas cenas de zumbis. Não há emoção nenhuma, adrenalina nenhuma -- e olha que estamos falando de defuntos se erguendo da morte para comer cérebros!
Parecia uma ideia que não tinha como dar errado, mas meu compromisso com a verdade me força a alertar os queridos leitores: esse livro é uma merda foda. Recomendo que vocês aluguem a versão cinematográfica e a assistam logo depois de uma partida de Resident Evil. A lentidão do filme certamente fará com que vocês durmam, e o frescor da lembrança do jogo cuidará para que vocês sonhem com uma versão zumbificada do bucolismo da obra.

E se vocês quiserem ler escritoras britânicas bacanas, sugiro que vão de Brönte ou de Shelley. Ou de Rowling, mesmo.

20090812

Review for "Budapeste" (Chico Buarque)

Tirado de http://hellhorror.com/books/review/36929/Budapest-.html

"This was our book club book last month (...) Our readers found the book confusing, sliding from dreams to reality and interchanging characters in the process. The plot doesn't go anywhere and neither do the characters - a frustrating combination. (...) Reading this was like watching a fringe foreign film with subtitles that jumps from place to place, character to character without any rhyme or reason. When it ends you are left scratching your head wondering if you simply 'missed something.' In this case, you didn't."

20090625

Atividade_8: Árido Movie

índia flor-de-lis
cai outono, pede bis
opulento colo.

20090525

DELÍRIOS DA CLASSE PODRE - feminismos de butick e piadas de descarga

O cinema nacional tem uma característica muito clara: ele é como que baseado no social, seja pelo lado bom ou pelo lado ruim. O lado bom da base social do nosso, digamos, "cinema nacional" (não acredito nessa 'unidade', que acho necessária para um país se constituir como uma nação que pode, talvez, definir um cinema próprio dela mesma e acho que o brasil não tem) é que ele espõe mazelas - os podres, por assim dizer - que os anos e anos de escravidão - voltando muito no tempo, mas o que me parece preciso nesses instantes - e exploração do povo trouxe, e geralmente, a tela do cinema vem como que um CARIMBO pra autenticar que essa mazela existe e deve ser sarada.

O lado ruim acho que está explícito: vende pelo mundo afora que somos um país subdesenvolvido, de terceiro mundo sub-saariano, uma republiqueta de bananas corrupta em que só os negrinhos do morro tem poder. Um erro grave, ao meu modo do ver. Nósso país não é isso, está longe de ser só isso, São Paulo é uma metrópole de fazer inveja às européias (em Paris, quando estive lá, vi que todos os restaurantes fecham às onze horas - situação impossível na capital paulista, coração econômico). Esse é o lado que não é mostrado no geral.

Com muita satisfação o público recebe então um filme como "Divã", ad priori. Como que uma forma de de-sufocar o 'cinema nacional' (que com raras excesções, como essa e talvez a linha Renato Aragão, Xuxa, etc. e o fenômeno Se Eu Fosse Você) tirando do universo da favela-morro, a trama que concatena as cenas; é uma forma de trazer para as telas a classe média, média-alta.

Lília Cabral é uma mulher de meia idade, classe média, meio feliz, meio triste, cujo casamento vai bem nas aparências e no consciente dela mesma, mas que esconde, no subconsciente, uma grande insatisfação.

Temas-tabus, chocantes, são abordados de um modo muito saudável que parece querer deixar tudo em pratos limpos também no mundo do público-alvo (justamente as mulheres de meia idade). Masturbação é discutida, ela fala sem grandes constrangimentos, e transforma em piada o desconforto que isso causa em certas mulheres e em outras. Lília Cabral se masturba pensando em Mel Gibson (índice de nossa dependência imperialista: por que não colocar que a personagem se masturba pensando em Herson Capri, em Marcos Palmeira?) , e sua amiga que estranha um pouco as liberdades da amiga, ao final, morre. Mas não é uma morte punitiva, é uma morte bonita, mais uma forma de aceitar as coisas da vida. Tudo isso acompanhado da figura-chave: o analista.

O analista-espectador (e é aqui que está o pulo do gato: somos nós os analistas, que assistimos á vida da protagonista, pelo olhar filtrado, é claro, mas nós que analisamos e pensamos sobre ela), que sabiamente não aparece em quadro (apenas em uma brincadeirinha final) faz com que Lília Cabral se modifique aos poucos, libertando-se das amarras de sua condição de boa-esposa-classe média. Ela fuma maconha, em ato não-condenado, ela tem um caso -enquanto é casada - com um rapaz mais jovem (o sempre galã Reynaldo Gianechinni), não tem medo de ser vaidoza.

Tudo seria uma amostra de avanços na mentalidade cinematográfica do cineasta brasileiro: sem pretensões de crítica social, mostra uma mulher realmente moderna, e sem que seja criticada por isos, e sim feliz, uma "diva (~)". Mas e qual o sentido verdadeiro do filme?

O público das salas não ri das piadas que são realmente engraçadas. O que chama a atenção e o que faz o público-alvo gargalhar é Lília Cabral fingindo estar corcunda na balada, ela pulando gritando "Tô na vibe!" ou parecendo estar se masturbando (novamente) na cabine do banheiro.

Será que o público então não percebe os verdadeiros avanços e ri das piadas de descarga? Será que todo o progressivismo do filme passará por um simples desfile de roupas classe-média de boutick barata? Temo ser esse o destino deste filme de nossa cinematografia. Se assim for...qual o sentido?

20090516

As fotografias-still como criadoras de narrativa (3 quebras da 4a parede).




Nesta primeira foto, me interessam especialmente 3 pontos.

1- O enquadramento, que transforma o ato grupal em uma experiência subjetiva; não há dúvidas que a protagonista é a moça do meio (que vou chamar de Mila daqui a diante), que recebe o falo e o carinho no peito. O enquadramento arranca as cabeças dos outros participantes, o homem tende gentilmente em direção a ela, o corpo sinuoso de Mila revela, num espelho ao fundo, seu próprio reflexo;

2- ainda assim, nosso olhar é rapidamente conduzido pelo jogo de corpos ao rosto dela, que olha diretamente para fora do quadro, à esquerda. Ménage à trois? Não exatamente;

3- o mistério do olhar para fora-do-quadro revela-se dentro do próprio quadro: Mila olha para a câmera (a outra, a irmã mais nova, a filmadora) e, portanto, atua.

 


1- Aqui, temos os rostos dos dois outros participantes. Ainda assim, a posição central e o fato de ambos tentarem dar prazer para Mila a mantém como importantíssima protagonista do ato;

2- o olhar se dá direto para a câmera. O jogo se simplifica: não há mais filmadora, não há mais olhares-para-fora, só há uma cumplicidade tremenda com o público; Mila sente prazer (sente?) para nós, e não por ela.



1- A luz no difusor, que antes clipava no espelho, deslocou-se para a direita um bocado e... Ora, lá está a câmera filmadora! Mas...

2- agora os atores riem olhando para o fora de quadro. Está aí o ponto-final: a atuação não é apenas para as câmeras, mas é, ora só, dirigida pelas câmeras. Esse sorriso no rosto de Mila, esse olhar do jovem, a moça debaixo quase que ainda dentro do jogo... isso pode ser encontrado em qualquer coleção de fotos de set, este é o curto momento em que os atores saem do personagem e riem de algo que a equipe disse... ou quando se diz 'Corta!'. De repente, tudo é humano demais.

******

Escolhi essas fotos para mostrar como a câmera fotográfica pode se apropriar dos momentos de uma filmagem para criar algo inevitavelmente novo e diferente do processo cinematográfico por si só - muito além do simples making of.

Deixo, de presente, uma irmã da foto um:



Obs.: Cliquem nas fotos para versões maiores.

20090511

revisão crítica de Imagem.01

É bonito ver o trabalho com as cores feito nessa obra, a saturação trazendo uma textura próxima do tipo de surrealismo praticado em imagens publicitárias. Tudo é cor, uma cor tão carregada que vaza das formas - é o que percebemos a partir do leve borrar dos contornos. Tudo é difuso, plástico, apetitoso. De certa maneira, é um trabalho bastante auto-consciente, a artificialidade sendo assumida de vez pelo autor ao invés de ser trabalhada em níveis mais aceitáveis, que trazem esse tipo de fantasia próximo demais da realidade (como em várias outras obras do gênero). Aqui, existe um trabalho de desconstrução da verossimilhança, tanto pela textura publicitária quanto, até certo ponto, pelo enquadramento insólito. Os limites do quadro dão à nossa visão uma área muito grande de eventos aceitáveis de beleza tolerável, e temos a impressão de que poderíamos ver a foto com facilidade com uma logomarca de uma grife no canto entre os outdoors de alguma cidade (que não São Paulo, claro). Só com um olhar um pouco mais demorado percebemos, então, os dois detalhes que entregam a proposta da foto, forte e ao mesmo tempo sutil. Um deles sobreposto pelo fim do quadro, e o outro magicamente disfarçado em um certo jogo de embaralhamento dos membros. Os cortes também trabalham para tirar a individualidade das mulheres por um momento, pois não são indíviduos inteiros que a imagem retrada, mas apenas uma parte, a parte que mais interessa e que é separada despudoradamente, ou ainda mais que isso: o quadro fica em um certo ponto em que não apenas constrói a imagem imperceptivelmente, mas se delata de maneira escandalosa. 
É uma peça de grande beleza, uma beleza plástica e muito bem construída - assumindo, quem sabe, que todas as outras obras são igualmente construídas, sendo a fantasia que se assume como tal para servir ao público consumidor - e também bastante provocativa, talvez em mais níveis do que a própria temática da obra pode transparecer.