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20110316

Ram-Tsa-Ka pega a estrada

- Me contaram um causo uma vez, de uns velhos que eram bem chatos e não pareciam querer ser jovens de novo...especialmente porque o efeito de um velho falando que “O p’blema tod’ são é quando hãm-mmnnhf-p’t’t- no cu” é bem diferente de um jovem dizendo isso aí. Todo mundo fica meio enternecido com o cu do velho, aplaudem, dão risada, acham engraçado, e não ficariam assim se ele fosse jovem, sei lá. E isso valia pra tudo. Aí não queriam voltar a ser meninos. Será?

- Não queriam mesmo, ainda bem. Eu acho. Talvez a graça seja justamente o velho falar do cu pra todo mundo rir.

- Veja.... mas, oras, lá vem Ram-Tsa-Ka!

Ram-Tsa-Ka já estava com 73 anos, ainda muito cabreiro e impressionantemente magro, porque havia, afinal, feito sexo com a filha do faraó, com o próprio e os ministros e ministras por cinqüenta anos.

- Ram-Tsa-Ka, diga lá: tu queria voltar a ser jovem?

- ....

- Ei, Ram-Tsa-Ka, volte aqui! Não nos deixe falando sozinhos!

Só que ele tinha finalmente sido expulso do palácio do faraó e não queria muito saber de papo naquela hora do dia. Mas os três acabaram andando juntos até uns quilômetros à frente.

- Ram-Tsa-Ka, você viveu bem aí? Acha que ainda é tão gracioso quanto quando era jovem? É mais gracioso agora?

- Como é crescer, Ram-Tsa-Ka? Como foi ficar cada vez mais adulto, até que você deixa de ser adulto e vira tipo um velho?

- Espera, espera, com calma... Sendo honesto consigo mesmo, Ram-Tsa-Ka, você sabe que só agora está realmente crescendo, porque, oras!, você viveu num limbo maracatútico de uns cinqüenta anos, festejando, pulando e fornicando até ser finalmente expulso do palácio por um delito que cometeu no que teria sido chamado de “auge da sua juventude”, não é?

- Compreende que é como se o que seria um apêndice da sua vida agora deveria conter todo um resto de, não sei, o que seria normalmente meio século? Enfim, e o que você vai fazer? Vai dar para ser assistente do faraó?, eu acredito que não, vai ter que encontrar outra coisa pra fazer, não é? Responde a perguntinha, é rapidinho, Ram-Tsa-Ka!

- Vão se foder, babacas.

Mano, todo mundo rachou o bico, menos eu =(

20110315

"Não é que não haja nada no Direito que me agrade. É a atividade profissional o que me aborrece."
"A prática do Direito, você diz?"
"Oh, não, não, qualquer atividade profissional."



Crescer: que palavra!

Eu falei assim mesmo (na verdade, usei uma vírgula ao invés dos dois pontos) depois do conselho dela: que crescesse. Crescer é, me pareceu, não ir ao Arqui rever professores, não falar com alguma saudade do prédio em que cresci (ora!) etc. Fazer essas coisas é, supostamente, coisa de bebezão (foi o termo que ela usou, numa escolha fantástica), muito embora, por óbvio, eu não pudesse revisitar professores ou ter saudades de qualquer coisa se não os tivesse abandonado há muito.
Mas crescer, que porra é isso? Eu achei que já tinha respondido isso, pelo menos pra mim mesmo, mas é claro que crescer não é só uma coisa interna (ou pelo menos ficou claro quando eu fui chamado de bebezão, assim, na lata). É provável que crescer não seja apenas não rever professores ou não falar no prédio, mas também ganhar dinheiro ou tentar ganhar dinheiro ou perder dinheiro ou simplesmente passar na prova do Rio Branco e é engraçado, porque nenhuma dessas coisas significa um crescimento de verdade (de nenhuma natureza), mas são coisas satisfatórias, no sentido de que satisfazem a exigência de crescimento, ou pelo menos parte dela.
A explicação mais provável é que essas sejam boas respostas porque elas simbolizam coisas que nós, no fundo, não queremos fazer. Todo mundo quer ter dinheiro, mas quem, de fato, quer ganhá-lo? Todo mundo (é mentira, claro) quer um cargo de diplomata, mas quem quer de fato perder anos estudando quando se poderia estar jogando Braid ou assistindo a Suzumiya Haruhi ou escrevendo uma Obra (e o mais legal disso tudo é que, dada a oportunidade, nós (outra mentira) não jogamos Braid, não escrevemos uma Obra) e mesmo passada a prova, ninguém quer ser um diplomata, porque isso é chato, isso dá trabalho, isso tira a mítica.
Eu tenho um interesse quase infinito por todos os campos do conhecimento e esse interesse só não é infinito de fato porque ele termina no ponto em que eu começo a me dedicar a adquiri-los. Porque este é o ponto em que os outros campos do conhecimento se tornam muito mais fantásticos e maravilhosos, porque, afinal, o legal na vida, o emocionante, é o potencial, são as coisas que nós poderíamos fazer e não aquelas que fazemos e que se nos revelam em todas as suas falhas, rotinas, em todos os seus aborrecimentos.
Então, crescer é isso: lutar contra o desejo do possível e se ater ao factível (nunca havia pensado em contrastar as duas palavras assim, olhem só que lindo). É filtrar o mundo de tudo o que é lindo e colorido e deixar passar somente o horrível e o bege e o cinza e é, também, saber admirar essas coisas, saber se satisfazer com os pequenos nadas de luz que escapam das redes que formamos, que driblam isso tudo de que venho falando (seja lá o que for) e se lançam para o horizonte desafiadoras, nos rodeiam por um segundo e de repente formam um arco-íris.