20111031

homenagem ao dia


uma criança imbecil enfiou a cabeça na privada
achando que ia encontrar um leão e uma porta mágica;
morreu sufocada na própria merda


médicos de todo o planeta vieram em seu socorro:
trocaram o coração do falecido por um bife
e ficou tudo bem.


fora de quadro

20111028

O dedo furado salvou o cônjuge by LuisLabaki


No meio da noite, Nuno nunca passeara descalço:
uma vez um prego soltou espetou no dedão, que desinflou; no meio da noite, Nuno - descalço - recusou usar pantufas, pelo barulho que faziam e pela falsa proteção que o ofereciam; se o silêncio era essencial, Nuno podia ter parado ali mesmo na porta, visto que o batente e a maçaneta fizeram barulho durante a passagem, mas os pés e respirações e tudo mais demandavam muita atenção, e Nuno não percebeu nada;
o umbigo de Vera dormia (com sete dedos repousados sobre ele); mas logo tudo nela levantaria - não de barulho, mas de banheiro, que necessitava;
Nuno arregalou desta vez as bochechas em susto e consciência de que não tardaria para que despertassem as narinas de Vera; preparou-se em defesa, pois que Verase aproximava e de todas as maneiras sentia, bem, e Nuno seria visto chegando sorrateiro e que burrada! até que, fosse por sorte ou Intervenção, com precisão de deslize Vera cravou o dedo - não o dedão, o do meio, menor - num prego solto e se viu caída, ao que Nuno já de costas epreparando alguma réplica rapidamenteapertou o interruptor e reconhecendo o local do trauma iluminou tudo com ares salvadores e curativo reserva em mãos num átimo; merthiolate por sorte tinha forte odor que encobriu todos os outros, e quiça o dedo furado tenha salvado o cônjuge.

20111027

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sobre seu balé de vitamina
eu derramo

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REUNIÃO ABERTA: nossa primeira edição

Anita, que riu quarenta e oito horas sem parar

Anita riu por quarenta e oito horas sem parar, sua barriga valvulou-se com uma irmandade de ar que lhe ofegava, e as vezes engasgava, mal lembra já o porque do formigante eflúvio, Anita rechonchuda e vermelhosa, por horas é um grunhido de hiena, um halito de gagueira, e ela não sabe como parar, quem há de ouvir no seu riso um espectro de choro desesperado? Alguém há de.
Anita riu por quarenta e oito horas sem parar, disse o relatório, disse o repórter microfonado, micro-hipnótico, falacioso. No boletim constavam 48 horas e 2 minutos, mas resolveram abreviar, em prol da pouca paciência do promotor.
Ela pensou, que havia um grande órgão por debaixo da calça dele, conseguiu visualizar as veias, e o pulso. Anita ficou vermelha e gargalhou. Gar-ga-lhou, como um gar-ga-re-jo pra fora, através da gar-gan-ta. Anita pensou em coelhinhos cagados. O prédio era austero e cinza, esverdeado, e a TV pequena e chiada, o sofá era verde, musgo, chuvoso, o prédio tinha só cinco andares, o sindico era um velho cliché, do qual já se formava um ciborgue de cadeira estofada e botão de abrir o portão. Já faziam parte do seu corpo algo como “bom dia” e “seu cachorro fez barulho”, seguido de “boa noite”, Anita achava que coelhos eram criaturas bizarras, tinha um, mas quando estava longe dele imaginava que era rosa, e quanto voltava: decepção: branco.
Anita riu por quarenta e oito horas, foi encontrada pálida, com os músculos faciais tesos, e as mãos entre as pernas, acharam melhor não escrever “entre as pernas” na primeira pagina do jornal, e ocultaram deliberadamente tal conjectura amostral do ocorrido, disseram que o elemento: riu por quarenta e oito horas sem parar (e dois minutos).
“É um desrespeito contra a propriedade corporal, se viciar em gargalhar e se mostrar assim, incapaz de se controlar, eis pois um caso de súbito desvario, causado por alguma glândula, penso eu, localizada na parte do cérebro que interpreta o que é engraçado e o que não é”
Dr. Roberto ousou afirmar que as causas era meramente sociais.
O Falo, grande, mas como ele é jovem! Pensou Anita, eu já sou obesa e com certa idade, rosto de nenê, mas sou velha, nada mais desproporcional do que eu com um jovem de falo avantajado. Risos. “boa noite, aqui é o síndico, reclamaram de barulhos no seu apartamento, algo como risadas, isso procede ? HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAhuhuhuhuhuhuhuHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA.
“eu liguei e tentei avisar, tentei dizer, pra ela parar” disse o síndico ao relatório.
Imagine só, tamanho órgão me atiçando os poros, não sei imaginar, árco-iris, praça cheia, florezinhas, lençóis, cama-mesa-e-banho, de banho tomado, colônia masculina, pombas, o Falo, risos, os pelos no peito sobre um pulmão ofegante de tanto trabalhar, os gregos esculpiam homens nus, a estátua de Davi é o exemplo dos genes em profunda harmonia. O homem é a espécie racional por excelência, é também uma das únicas espécies que fazem sexo por prazer, sexo, coisa sem nexo, como um texto sem fluxo, eu mais nem sei se degenero ou se me decaio, flácida. Minha barriga dói, não há como parar, já diziam os espirituosos que rir é o melhor remédio pra alma. Mas dói. Eu sou só o riso, sou a silaba, o som, assim me torno outra coisa, onda sonora, depois de tanto me ouvir sou só movimento, só contração, corpo desencontrado, corpo desencontrado, ele tem a cabeça vermelha e o corpo rijo e comprido. A enguia engravidou a aurora, que nasceu borrada como um gozo via-láctico de esperma, e surgiu o mundo.
Anita foi encontrada com os músculos paralisados, depois de rir 48 horas sem parar, as causas do riso são desconhecidas, a polícia investiga o caso.

20111026

Júlio Marins, atualmente com trinta e quatro anos, não tem um labrador nem um grande aquário marinho em seu apartamento duplex. Sequer tem um apartamento duplex. Em qualquer projeção que já fizera em toda a sua vida, mesmo naquelas feitas na véspera de seu último aniversário, Júlio sempre se vira aos trinta e quatro anos em um duplex, com um labrador e um grande aquário marinho com as mais escabrosas espécies de crustáceos e moluscos que pudesse encontrar.
Durante sua infância, Júlio notou um fenômeno metereológico até o momento inexplicado pela ciência mas que o perseguiu desde então: todos os seus bons desempenhos em avaliações eram precedidos por pequenas catástrofes climáticas, que envolveram ventanias mais ou menos controláveis e tempestades de verão, chegando ao Furacão Catarina, na data de divulgação de sua última nota antes da formatura em uma faculdade particular de Santa Catarina e culminando nas enchentes de 2008, ano em que concluiu seu mestrado em Comunicações. No campo profissional, sua sorte não era muito melhor e Júlio, já treinado para observar essas coincidências, rapidamente reparou que todas as bonificações, promoções e aumentos recebidos em seus dias como redator de uma revista de entretenimento corresponderam à morte de um grande ídolo ou de algum familiar o que, em parte, explica sua atual atuação como free-lancer, bem como a ausência de um duplex, um labrador e um aquário em sua vida.
Sua maior sina, no entanto, são os assuntos do coração. Cada uma das mulheres que Júlio amou conseguiram, de alguma forma, machucar-lhe de uma forma que o fazia sentir-se destruído, torturado, assassinado.
Nada disso, porém, o desanima. "Vá lá que para cada passo à frente, dou também um para trás", diz. "Mas nunca parei de dançar".

pequenamorte.

20111023

saltos terríveis + suas terríveis consequencias

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–– Há coisa pior do que redescobrir a roda?
–– Mas claro: você ainda pode ser premiado.

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20111012

urgência - uma série de merda em nove capítulos

cap.1

sete mil dardos muito pequenos e cheios de veneno chegaram de uma só vez ao corpo do bravo Piripi Moana. cercado, sem ter mais o que fazer, ele soltou um grito e virou mosca no último segundo.

agora ele tem exatamente vinte e quatro horas para desvendar o Segredo do Universo e retomar sua forma humana.

cap.2

não demorou muito para Piripi Moana atravessar o mar até as terras prósperas de Yerevan. encontrou Roberto, a vespa, e logo lhe perguntou do Segredo do Universo.

"como vou saber? sou só uma vespa!"
mas se era homem, como virou vespa e como iria voltar a ser homem?
"ora, isso pouco me interessa. virei vespa porque quis e agora não preciso trabalhar nem usar roupas, vivo muito feliz como um inseto. mas se quiser mesmo saber, vá para o norte e pergunte ao Velho Hermetão - só que é bom se apressar! que logo logo ele sai pro almoço e só o diabo sabe quando volta."

nosso bravo guerreiro lambeu as duas patas da frente e as esfregou nos seus olhos imensos, pensativo por um instante. mas não havia tempo para pensamentos em sua cabeça de mosca.
aproveitando uma lufada de vento, alçou vôo e seguiu viagem.

cap.3

nadando no vento fortuito, o corajoso Piripi Moana pôde enfim relaxar e deixar sua mente flutuar pelos prazeres de ser mosca.

como era vasto e lindo o mundo que o cercava! cada detalhe passou a brilhar com nova luz a seus olhos pluricompostos. deixava suas asas baterem 234 vezes por segundo e sentia cada golpe no ar como se fossem beijos das doces virgens de sua tribo natal. e que aromas misteriosos lhe invadiam as antenas, que prazer incomum o vibralançar de centenas de pêlos lhe propiciava, como era bom lamber as patas sem ter que pensar em lanças e dardos e desertos sem fim...

começava mesmo a pensar se não estava com a razão Roberto, a vespa; que Segredo do Universo o quê, tudo que há para ser vivido está bem aqui!

foi só quando chegou à praia que percebeu os perigos de tal filosofia.

cap.4

era um cocô imenso, perfumadíssimo, e muitas outras moscas estavam compartilhando seu calor com Piripi Moana. ele nem mesmo lembrava de como tinha chegado àquela montanha cor-de-chocolate; quando percebeu, já estava lá.

devagar, nosso herói foi percebendo como era estranho ficar entre suas colegas mosquiformes. sempre repetindo os mesmos mantras - algo como "wisusuzizi" ou "tch'clac tch'clac", ou ainda uma mistura incompreensível dos dois. não havia ninguém com quem conversar.

não sabia se por sua origem humana ou se por ser da natureza das moscas, mas Piripi Moana se sentiu ignorado pelas suas colegas de espécie. e ficou triste com isso.

depois ficou puto. muito puto.

"VÃO SE FODER SEUS PUTOS"foi o que ele gritou antes de levantar vôo e abandonar o bando. ninguém deu bola, mas tudo bem.

cap.5

desesperado, Piripi Moana deitou na areia e ali ficou. deixou o sol queimar, apagando todas as direções. estava pronto pra morrer; até fecharia os olhos, se tivesse pálpebras.

logo não seria diferente de uma uva passa, talvez fosse pisado por alguma criança e então seu corpo se desmancharia e viraria sabe-se lá o que as moscas viram quando morrem - poeira cósmica?

tais eram os últimos pensamentos do bravo Piripi Moana.

cap.6

a luz começou a tomar forma nos olhos do valente Piripi Moana. devagar sua consciência despertava e lhe dizia que seu corpo de mosca balançava gentilmente, carregado por algo maior que sua percepção de mundo. tremelicou as patas por um momento e perguntou quem era que lhe carregava, no que ouviu uma voz imensa:

"eu sou a tartaruga de mil anos...
e vou te levar ao teu Destino."

mas que era Destino? e era ele morto? o quão grande seria uma tartaruga de mil anos?
mas não conseguiu fazer soar nem uma palavra; tanto balançou e balançou que dormiu novamente.

cap.7

do lado de lá da tenda, Piripi Moana se afogou em Escuridão.
o sol já deve ter se posto, ele pensava. sentia a morte tragando seu exoesqueleto.

a vida tinha chegado ao fim, ele ia embora de vez - e não tinha se despedido de ninguém.
mas não tinha do que se arrepender.
claro, talvez tenha sido burrice virar mosca assim, sem pensar... mas que se pode fazer?

foi só então que escutou o ronco de uma Criatura Imensa.

cap.8

a Criatura Imensa, óbvio, não era outra senão o Velho Hermetão. ele roncava alto com as pernas pra cima e a camisa vermelha dobrada embaixo da cabeça.
Piripi Moana, num gesto de extrema bravura, fez vibrarem suas asas e chegou ao nariz do Velho.

ouça lá, que aqui cheguei! quero saber do Segredo do Universo e voltar à minha forma.
êh, acorde logo, seu velho fedorento!

mas de nada adiantavam os gritinhos de mosca de Piripi Moana. ele caminhou por toda a cara do Velho Hermetão, zunindo as asas e estapeando cada porção de carne: da ponta do nariz aos olhos, às orelhas cabeludas, de volta às narinas, aos lábios e entrelábios.

velho maldito, por que não acorda nunca?? se tivesse ainda minha lança e meu anzol, veria só o estrago que lhe faria nas tripas! - era o que gritava nosso herói, quase chorando as mais misteriosas lágrimas de mosca que o mundo já vira.

foi quando, com um solavanco de sono perturbado, o Velho Hermetão virou-se de lado e puxou um longo ronco, engolindo Piripi Moana num só golpe de vento.

cap.9

dentro do Bucho Infinito do Velho Hermetão, nosso incansável herói encontrou a Chave Misteriosa. em posse dela, Piripi Moana pôde abrir o Útero do Mundo e lá sentou-se por três Dias Eternos, em busca da Escuridão Total. foi então que ele escutou, num Suspiro Ímpar, o tão buscado Segredo do Universo.

e era tão óbvio!

ele abriu os olhos e vibrou de alegria. era homem novamente!
com pernas e pénis e pele coberta pelas Tatuagens da Guerra, tudo no devido lugar, oh bênção magnífica!

no mesmo instante, sentiu sua pele ser perfurada por sete mil dardos envenenados.
seu sangue ferveu e sua carne virou geléia.
- Piripi Moana não deu um só grito.

FIM

20111010

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–– Ágata.
Ele não entendeu bem, talvez "Hiata" (como assim?)?
–– Oi... tudo bem.
Disse, pensando se era solteira.
–– Você viu o Ricardinho?
Não, é ditonga, pensou.
–– Não. Dê uma olhada praqueles lados.

FIM

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20111007

Acordo e não quero ver a beleza lá fora. Ensaio um café, mas não. Dá-se um jeito.




Mas de toda maneira o ensaio acaba por se chamar "Adele in Realidad".

20111006

C.M.K.


Eu juro que me lembro de ter anotado a data do desenho com a data do dia em que eu fiz ele em vez de 30 de novembro de dois mil e onze. O da esquerda tá um pouco menos errado que o da direita. Os dois representam o quão hipecinética essa criatura é.

20111005






















Há coisa mais bela nos filmes do que janelas falsas?
Sim, é evidente que há. Mas nem por isso deixa de causar um comichão em quem vê, duplamente.
Talvez exista algum bom filme que se passe todo num quarto cheio de quadros e lareiras rodopiantes que levam as pernocas lá longe. Talvez seja um filme muito cruel, sobre alguém que se vê preso pelo tesão de olhar por entre molduras. Talvez seja um filme ainda mais cruel se não tomar isso como metáfora, mas ter sua parte no real. Pois se não temos lareiras, certamente que temos quadros, ou ao menos desktops.

Queria saber explicar sem perdas aquele leve tapa por detrás da testa quando vi a cena do dono do teatro-bar, exibindo seu escritório minúsculo, mas revestido de tapetes e papéis e madeira de forma a dar valor à produção (tudo é pintado, mesmo que seja pra pintar com exatidão a não-pintura), e lá o dono abre uma janela aqui (pra ver o palco, bussiness going on) e uma outra janelinha acolá (pra ver a clientela no bar, bussiness going off), tudo aos olhos da loura selvagem. Não sei, não sei; acho que há uma tensão nessa coisa louraselvagem-janelasfalsas que chega de modo devastador (porque não avisa que vem, nem que vai). Talvez também seja o fato de que o que se vê como janela dentro, fora já é outra coisa, um quadro, talvez um alce, talvez até mesmo a cabeça de alguém. Como um portal maluco. O filme se chama Heller in pink tights, de 1960, George Cukor, fim de western.

Bem, a sensação se perdeu. O texto é impossível sem o subtexto. Seria o contrário também verdadeiro? Pois certamente que existem mais subtextos do que textos nesse mundo, e talvez aí que a literatura e as ciências percam do mundo (ou ganham do mundo).

Tanta coisa é preciso ser dita para uma questão que é muito simples, ainda que impossível de resolver:
–– o que há nessas janelas falsas? O que há nessas janelas falsas? O QUE HÁ NESSAS JANELAS FALSAS?

20111004

Fim: Justiça em dois atos

Samuel Matias conseguiu, graças ao oportuno alerta de Najibah, esquivar-se de Park, quando este o atacou. Um tiro na têmpora fez o serviço, mas Samuel achou por bem disparar trinta e nove outras vezes para assegurar a morte do homem.Do fim do corredor, onde a luz fraca tremulava, ouviu-se a movimentação de centenas de milhares de homens.
Vamos!, gritou Samuel.
Najibah ainda não havia se adequado inteiramente à recente adição de um toco de madeira a seu corpo, mas  correu como se tivesse três pernas,ao invés de apenas uma (o que significa que não corria tão bem quanto alguém que tivesse apenas duas). Deslizando ao fazer curvas pelo corredor outrora retilínio, ela manteve-se o tempo todo ao lado de Samuel, mesmo quando as balas zuniam a centímetros de seus corpos. Só muito depois é que notariam que estavam de mãos dadas.

Muito depois, depois de terem notado que estavam de mãos dadas, e depois inclusive de terem desdado as mãos, Samuel e Najibah se encontraram enfim em segurança, diante de uma fogueira nas montanhas áridas norte-coreanas.
O que faremos agora?, perguntou Samuel, que comia marshmallows. Como espeto, ele usava uma lasca da perna de pau de Najibah.
Najibah girava em suas mãos a pequena estatueta, a Spirit of Ecstasy, que de alguma forma ela continuara a chutar mesmo enquanto corria desesperadamente dos tiros.
Vamos para casa.
A sua casa? Ou a minha? E neste caso, você quer dizer o avião ou o Brasil? Porque eu bem que gostaria de um clima tropical...
A minha casa.
Você se refere àquela que eu carbonizei com chumbo quente?
Sim. Não, não, me refiro a Brunei!
Na medida em que era possível não guardar rancores de alguém que havia incendiado sua cidade, assassinado seus conhecidos e parentes e causado a amputação de sua perna, Najibah não guardava rancores de Samuel. Não agora, após tanto tempo e quando sua presença quente era a única que a afastava do frio do inverno coreano...
Você vem comigo?, ela perguntou, escondendo a ansiedade de sua voz na mensagem de que ele agora possuía uma escolha.
Samuel comeu um marshmallow demoradamente, com o olhar perdido.
É claro, ele disse. É claro que eu vou.

Em 1998, era comum a visitantes encontrar o sultão Hassanal Bolkiah debruçado sobre um automóvel em sua luxuosa garagem. Agora, porém, ele não se debruçava para esfregar alguma imperfeição da lavagem ou para admirar seu próprio reflexo, mas para manter-se o mais longe possível da faca que Najibah lhe pressionava contra a garganta.
Kim Jong-Il gosta de cinema, ela disse.
Samuel concordou com a cabeça, de forma encorajadora, mas o sultão não parecia entender a importância de tal fato ou sua relação com a proximidade daquela lâmina.
Ele nunca mandaria Samuel voar da Índia para Peshawar, ela explicou, porque ele saberia que isso seria uma repetição da trama de Horizonte Perdido. Ele saberia que o avião haveria de cair.
Mesmo o avião não tendo caído, disse Samuel, prestativo.
B-bom para ele, balbuciou o sultão.
Você, por outro lado, não gosta de cinema, Najibah continuou. Por outro lado (nessa hora, ela sacou a estatueta de metal), gosta da Rolls Royce, não?
Chutando Hassanal para o lado, ela encaixou a estatueta no buraco em cima do capô do automóvel. De repente, Samuel entendeu tudo.
Isso tudo foi um plano do sultão!, ele bradou. Ele me contratou, passando-se por Kim Jong-Il e aproveitando-se da minha incapacidade crônica de diferenciar qualquer um que não seja caucasiano, para atacar vilarejos da região. A intenção era atrair a atenção da mídia para tais atrocidades, o que levaria milionários do mundo todo, inclusive o Bill Gates, a realizar generosas doações às vítimas. Hassanal Bolkiah, assim, consolidar-se-ia mais uma vez como o homem mais rico do mundo. Era o plano perfeito.
Dizendo isso, Samuel rapidamente tomou a faca de Najibah. Em um único golpe, arrancou a cabeça do sultão, abriu sua barriga, introduziu a cabeça lá e costurou tudo de novo.
Ele estendeu a mão para Najibah.
Vamos para casa, disse, puxando-a.

Como todo casal que se encontra em meio a uma perseguição repleta de assassinatos, Samuel e Najibah tiveram suas dúvidas e suas brigas, mas resolveram-nas com uma viagem à praia.
Em Ubatuba, ambos recostavam-se à sombra de um chapéu de sol, enquanto as costas ardiam na areia quente. Najibah inclinou-se para o lado, fitando por baixo do chapéu de abas largas o rosto de Samuel.
Era isso o que você queria?, perguntou.
Isso e nada mais.
Então, está pronto?
Samuel virou-se para ela, sério, e pegou-lhe as mãos.
Najibah, ele disse, eu estou pronto para dar-lhe meu amor irrestrito. Você é dona do meu coração.

Poucos jornais noticiaram o caso. O paradeiro de Najibah é desconhecido.

Transformação

20111003

acabei de perceber...
que eu odeio esse hábito de se escrever reticências, e que elas... na verdade... não te isentam nem me isentam de nada

20111001










Judite, 13

1. Anoiteceu. Os oficiais apressaram-se em voltar aos seus aposentos. Vagao fechou as portas do quarto e foi-se.

2. Estavam todos embriagados pelo vinho.

3. Judite ficou só no seu quarto,

4. enquanto Holofernes repousava em seu leito, bêbedo a cair.

5. Judite havia dito à sua serva que ficasse fora, diante do quarto, vigiando.

6. De pé ao lado do leito, movendo em silêncio os lábios, ela orou com lágrimas a Deus, dizendo:

7. Senhor, Deus de Israel, dai-me força. Olhai agora o que vão fazer minhas mãos, a fim de que, segundo a vossa promessa, levanteis a vossa cidade de Jerusalém, e eu realize o que acreditei ser possível graças a vós.

8. Dizendo isto, aproximou-se da coluna que estava à cabeceira do leito e tomou a espada que ali estava pendurada;

9. desembainhou-a e, tomando os cabelos de Holofernes, disse: Senhor, dai-me força neste momento!

10. Feriu-o duas vezes na nuca e decepou-lhe a cabeça. Desprendeu em seguida o cortinado das colunas, e rolou por terra o corpo mutilado.

11. Feito isto, saiu e deu à sua serva a cabeça de Holofernes para que a metesse no saco.

12. Depois saíram ambas, como de costume, como se fossem para a oração. [...]

(: 3 tigres tristes :)

odiando muito todos os tipos