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20130226

lágrimas de jacaré


 acordei hoje de um sonho muito contente: eu assistia no youtube um vídeo de coreanos sorriam muito em uma praia, vestindo um de seus amigos de jacaré. eu também teria sorrido um monte, se estivesse lá.

era uma fantasia muito-muito incrível: uma lona plástica verde por cima do torso, a cabeça do jacaré em espuma e o escolhido para interpretá-lo dando urros de jacaré que pareciam arrotos. em determinado momento, os amigos decidiam que o jacaré ainda estava muito mirrado e começavam a bombear ar para a roupa de lona, que crescia-crescia até ficar gigantesca. eles então passavam uma resina verde em spray para fixar bem as escamas de papelão. não lembro como o amigo-jacaré fazia para se locomover, porque a roupa parecia pesada, mas ele se punha a dar uns passos pela beirada do mar, arrotando e rindo, até ser puxado por uma onda imensa que levou a roupa embora. eles deviam ter muitas delas ou eram muito desapegados, porque continuaram genuinamente felizes!

e, depois disso tudo, terei eu mesmo um dia muito feliz.
tenham um bom dia, meus amigos!



PS: o jacaré só chora no bote por causa dos canais lacrimais curtos.

20111123

um dia na praia com jesus

Jesus Cristo reencarnou na forma de um triângulo desenhado na areia de uma praia no Guarujá. Era um dia comum de outono. A praia não estava nem cheia nem vazia - havia banhistas o suficiente para que os vendedores habituais julgassem valer a pena trabalhar.

Ainda que Jesus concentre em si uma parte considerável da onipotência característica de seu Molde Primordial, o formato "desenho semi-bidimensional traçado na areia" traz consigo algumas dúzias de limitações, sendo possível logo de cara citar a invisibilidade para quem não olha para o chão, a fragilidade frente as intempéries do mundo e, sejamos francos, uma certa banalidade estética.

(Mesmo Jesus está sujeito à loteria cínica da reencarnação, pode um leitor mais sacana inferir. Não sei, não coloquem palavras na minha boca.)

Jesus é, porém, Jesus, e está carmicamente predisposto a lidar com desafios e situações desavantajosas, portanto, ao notar-se emplastrado na areia, pensou (com seus neurônios de silício): "Poderia ser pior" e pôs-se a fazer funcionar os seus poderes místicos.

De início, a autopreservação - irradiou uma aura que impedia (ou, sendo mais preciso, insistia fortemente) que passantes distraídos o pisoteassem e inadvertidamente obliterassem o salvador instantaneamente. Foi bem sucedido: um garoto correndo de uma ponta a outra da praia (sabe-se lá por quê) desviou seu caminho de maneira bastante antinatural, e Jesus sorriu (imaginariamente) aliviado e contente consigo mesmo. Percebeu, algum tempo depois, porém, que essa magia agia a favor e contra Seus desígnios: se, por um lado, salvava sua vida; por outro impedia que qualquer possível seguidor se aproximasse o suficiente para que pudesse ser influenciado. Jesus percebeu, não sem uma certa amargura, que, mais uma vez, sua eficiência como Homem Sábio estava diretamente ligada à sua capacidade de abnegação e sacrifício.

Levantou, então, seu campo de força, e esperou um pouco. Logo um vendedor de sorvete meio lânguido se aproximou e Jesus imediatamente violou a sua mente: "Irmão. Oi."

O vendedor, como era de se esperar, se assustou. Toda a gama de pensamentos que se associa com esse tipo de situação - tumor, loucura, aliens, FBI, sereias -passou por sua mente. Jesus tentou de novo:

"Irmão. Sou eu, Jesus. Olha pra baixo."
".........!!!!!!1111aaaaaaa"
"Tá vendo esse triângulo? Na areia? Sou eu, Jesus. Pois é, voltei. Daora, né?"
"!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!q"
"Eu. Jesus. Reenacarnei em forma de triângulo. Quero te contar algumas coisas sobre a vida."
"Q kralho q"

(Façamos uma pausa para notar que é extremamente difícil organizar pensamentos de maneira estética e gramaticalmente satisfatória, e que Jesus passara 300 anos estudando e meditando no céu para aprender a fazer isso, enquanto o sorveteiro jamais precisara de tal habilidade.)

"Bom. Vamolá. A regra de amar o próximo continua valendo. Acho que essa a gente nem precisa revisar. Continua bacana."
"+ e c o proxim for assassin/"
"Ele continua merecendo a nossa compreensão e amor pois somos todos filhos de Deus/Eu/Pai"
"mesmo c matah minha filia/?"
"Sim. Enfim. A próxima regra de ouro é:

(e nesse momento, assim como a natureza humana contaminara a divindade de Jesus 2011 anos antes, a natureza triangular começou a exercer sua influência)

o papel padrão pra impressoras tem que começar a ser triangular, e não retangular."
"q/"
"É. O papel triangular é esteticamente muito mais interessante e menos tedioso, e ainda dá pra juntar dois triângulos lado a lado e guardar mais eficientemente as folhas."
"ok"
"Além disso, todo sábado deve ser o dia em que as mulheres--

E então começou a chover e Jesus morreu e o sorveteiro fingiu que aquilo tinha sido só um derrame sem maiores consequências (e talvez tenha sido.)

20091023

Do quiosque do Jurandir, I.

POTE DE CHÁ


Era tudo meio campestre e me irritava o tempo que demorava para ficar pronto. Mas que era bom à beça, era. O chá no calor escaldante, pingando na palma da minha mão direita, ficava quase translúcido mesmo depois de uns sete minutos de infusão, quer dizer, o saquinho ali mergulhado. Aí quando sentia que a minha palma esquerda também já estava suficientemente lavada, ia em direção à fulana qualquer e massageava suas pálpebras.



RÓTULA DO JOELHO


Claro que entrava bastante areia, mas era natural na situação em que me encontrava. Em geral, dava pra fazer com uns oito clientes; quatro, se fossem casais. Dos oito, sempre um desistia, pensando duas vezes, vendo que estava quente mesmo e que esperar sete minutos no calor desgraçado pra uma bebida ainda mais quente, enfim, “deixa pra próxima” e iam em direção aos sorvetes, os desgraçados. Se não tinha mais ninguém por perto, chute neles!



VISITA DO AUXILIAR


Uma vez um sujeito falou que era auxiliar taxonômico num prédio grandão lá, e que era preciso agir rápido e servir todo mundo antes que o homem com voz de aço inoxidável congelasse todo mundo enquanto recitava “Europa” do Ginsberg ou qualquer outro pernosticismo auto-adulante. Saquei a metáfora e mandei-o pastar, porque a graça mesmo só existiria se ele cantarolasse a música do "Homem Muito, Muito Solitário".



FÚ-FÚ-RÍ-FUE-HUMM


“Aux Champs-Elysée, pé-ré-pó-ré-ró-rum, aaaaux Champs-Elysée, fú-fú-rí-fué-humm”, ficou uns dois meses na minha cabeça até sair. Era horrível, porque eu não conseguia simplesmente não cantarolar o trompetezinho (acho que era trompete, mas sinto que na verdade deve ser saxofone) do refrão, e eu sei que eu devia parecia ridículo e provavelmente espantava alguns clientes.



RETORNO DA TAXONOMIA


O fulano do prédio grandão voltou, o tal auxiliar, uns três dias depois. Quer dizer, preparei lá uns dez copinhos pra ele. Se era suficiente ou não, sei lá, mas reclamar ele não reclamou, então ficou tudo bem. Só que essa vez ele foi amável e me convidou para conhecer as instalações. O movimento tava fraco, então eu fui, sim. Acho que era tudo cenográfico, devia ser só de fachada, mas em cada mesa do andar em que ele trabalhava tinha pelo menos um liquidificador, quando não dois. Eu esperava algum tipo de apresentação, “Aqui nós fazemos tal, ali, oh, sim, ali é meu lugar favorito”, mas ele ficou meio quieto, mas sem estar irritado, só sorrindo e meio que contemplando tudo. Ele deve ter esquecido que eu não trabalhava lá. Enfim, demos a volta no andar, eu falei que precisava voltar, ele pareceu voltar à realidade, disse um “Oh, sim, sim, vai lá!”, tapinha nas costas e eu voltei pro meu posto.



ESTE É UM LUGAR NOVO


Taí uma frase que tinha na dublagem de uma animação que eu via quando era pequeno, e volta e meia volta à minha cabeça, talvez ainda com mais freqüência que a música desgraçada. E até a entonação eu lembro, “Estié um lugar NOvo!” Enfim, não era um lugar novo, eram os mesmos bancos de madeira, mesmo guarda-sol, tudo exatamente igual. Mas por algum motivo a frase apareceu na minha cabeça.



UMA DAS COISAS QUE ME IRRITAM


É nhoque: