20141220

poema político contra a poesia de jogo de palavra (manifesto contra a juventude ou: a nova rima é entre e intra palavras ou: aliteração radical é Bela ou: mais um manifesto contra a beleza ou: o poeta enquanto manifestante enquanto Homem de bem ou: a revolta como situação adormece ou: facebook é ainda mais uma morte da poesia ou: argumentontardio contra vídeo que vi faz tempo no youtube)

habita as palavras o hábito
o mau hálito
halitose ácida, acidose básica
a cidade ácida germina o germe
poético político estético

transeunte em transe no trânsito nervoso
das manifestações vorazes da vontade de falar
denunciar o falo, o falso, o fascista
a família falha
o coxinha coxo de razão
assume o gosto da denúncia na boca
mas percebe: o amargor é menor que a doçura

as palavras são jogo, a luta é linda, tudo explode no floreamento da linguagem
flores, não dores
a sede cede ao poema
posiciona-se e sinaliza-se solidário
busca-se o calor do corpo social
e o quentinho dentro do peito

não importa se boa; se Boa e Bonita (rubrica: sons soberbos sob suave indignação vocal), já está bem
muito bem
de bem
para bens

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20141214

nota encontrada no ipod

começa com um haicai:

estrada alonga
all along the express way
rio a noite toda

e segue:

imagens noturnas de dentro do ônibus, aquelas que conhecemos todos muito bem, as luzes passam através de uma cortina.

e daí? daí seguem-se imagens de pombas ou outros animais numa praia

a praia é toda
tola torra terra mar
earth can be sandy

ato 2:

uma pessoa bebe algo em algum lugar, sozinha ou acompanhada. Cai um raio. não, não cai um raio. nada cai, permanece como antes tudo que estava antes.

então, como solução: viragens, vermelho, azul, laranja, amarelo, púrpura.... como um anúncio de kebab em um país estrangeiro

e por estrangeiro se entende não-turco

O CONTRA-império turco, seu avesso completo (as coisas sem dúvida precisam de seus avessos, ou correm risco de se sentirem sozinhas)

ou seja: o protagonista passa a ser o (fantasma) do contraimpério

o avesso serve de adversário ou de complemento, mas é mais relevante o seguinte: o avesso pode (e é sempre o caso) servir de MOLDE.

ou seja: tudo que não é você (excluir-te totalmente do mundo) pode ser entendido como seu molde. preencha o vazio do antivocê com matéria humana e você terá novamente você.

isto é: se nos retirarmos do mundo (quando nos retirarmos), o que incomoda mais não é tanto nossa falta, mas o vazio que deixamos no molde. se ele não é preenchido, ele desaba em si mesmo e, do molde, não resta nem o espaço que costumávamos ocupar. o que resta do molde é o molde e algumas impurezas.

só se mantém o vazio do molde com esforço intenso, que consiste justamente em ocupá-lo com algo que pareça o corpo que ali habitava

memória, imagem, representação

no entanto... trata-se mais de reproduzir o molde (recriar artificialmente o que sustentava nossa presença) do que preservar o sujeito. o sujeito é mutável e morre, o molde se reconfigura ou cede.

A impressão de teus atos, a impressão de teu corpo, ou então o oposto, a pressão de tudo que te é alheio (teu antiteu) que te conforma, que te permite imprimir e impressionar algo ou alguém.

teu antiteu.

como materializar (representar) essa ideia? um sujeito e seu antissujeito e a forma como um e outro se colocam em situações contraditórias. necessariamente, um determina a existência do outro

como quando um corpo desloca determinado volume de água com seu corpo, a relação inevitável e instantânea entre dois corpos. moldar a água, ser moldado por ela. água-objeto, água-molde

água-molde em pedra dura
envolve tanto
que
torna a pedra areia.