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20100523

Fiofó como paradigma

O cinema americano há tempos nos ensina que piadas de peido foram, digamos assim, uma febre da era Murphy. Murphy, Myers, quiçá até Chaplin teria dado seus peidinhos e dado um sorrisinho meigo depois, deixando todos apaixonados. Mas ele entrou tarde nessa onda de cinema sonoro e bem na época, digamos assim, belicosa, e aí tem essas coisas do Grande Ditador.


(E espontaneamente recordo-me do delicioso Terrance and Philip. Sagazes, os meninos do Southpark. Bons tempos do clitóris gigante, que vi do lado da minha mãe no cinema.)


De todo modo, se me permitem o trocadilho: "flato consumado", eles até reaparecem nessas aberrações como Norbitt (quem não pensou se tratar de uma paródia do universo tolkeniano?) e nigga-jokers reminescentes.

Quando me deparo com um filme como Quincas Berro D'Água, antes que que eu me faça açoitadora do cinema nacional, penso eu: como pode-se ser tão peru e ao mesmo tempo tão transgressor?

Adivinhem quem peida na foto:







Não é o gordo, não é o vagabond 1, não é o vagabond 2, não é o vagabond 3 (todos em adoráveis sorrisos semi-fantásticos co pezinho no quase-lá, que não chega).





Outro ângulo:






Pois é, é a velha que fica ali com o maior sound effects que eu já vi. E fica, e fica, e fica...até ter que correr para casa - soltando puns pelas ruas históricas - e ser arrematada (não com um calicezinho de vodca, meus amigos) com a frase do defunto, mais ou menos rimada do que minha memória me permite reproduzir:

"Por esse apito tão barítono, isso aí é que eu já sei: essa madama já liberou o fiofó."

O que fazer?

E apesar disso tudo, ao final do filme, diz o re-defunto boiando no mar: "E tudo isso aí dos seus problemas, enfia no cu do comodoro". Enfia no cu do comodoro. E é tão belo.

Um abismo tão contraditório! A esbórnia peidorreante americanizada que mais nos constrange do que qualquer outra coisa, logo ali no começo...e no final...esse cu que nos redime debaixo d'água com Quincas. Mas será que redime o filme? Redime o arrastar-se? Redime o rebaixar-se? Redime o meio-do-caminho? O que pensariam dona Zélia e Jorge, o vermelho? Tenho lá minhas sérias dúvidas.

Mas vou enfiá-las é no cu do comodoro.

Débora Ulbeiro é ex-crítica da revista eletrônica Cinética e atual editora do portal de cultura "muzanga".

20100505

"Phud" ausente

"Beterrabas novamente?"
"Só plantadas, mas são poucas."
"B'oh." [com os lábios]
"Deveriam ser mais, mas..."
"...não trabalhamos."
"Até que sim, mas..."
"...não trabalhamos."
"Ara que eu estava..."
"...não trabalhando."
"...arando..."
"...não o trabalho."
"...tabaco..."
"...só a diversão."

20100502

Agee - "O que poderia ter dado na telha"

Dois meeiros: vestem macacões surrados e camisas de algodão branco. Ambos têm menos de quarenta anos:

Old McKernel: 32, chapéu largo.
Buddy Horace: 36, bigode juvenil.

Eles dividem um quarto de uma casa.

A casa fica em uma cidade.

Na verdade, deixaram de ser meeiros, mas mantém o costume.

Tradicionalmente se vestem assim.

Não plantam nada: recebem dinheiro para compras em supermercados quase diariamente.

Dinheiro é entregue pelo correio.

Com eles vive um homem de cinqüenta anos.

Ele trabalha em uma tabacaria.

Especialista em charutos.

Old McKernel sabe plantar folhas de tabaco como ninguém, mas o solo do quintal mostra-se progressivamente mais infrutífero.

Buddy Horace pratica pandeiro.

Quem cozinha para os dois é “Phud”, o tabaqueiro.

Ele é o dono da casa. Suas roupas são mais modernas do que se esperaria de um homem de cinqüenta anos.

Que trabalha em uma tabacaria.

Sua filha, Georgette, mudou-se para Buenos Aires há pouco tempo: não conheceu ainda os meeiros.

Na verdade, quem mais interage com os dois é o irmão de “Phud”, Don, de 65 anos. Ele é professor de artes.

Uma questão atormenta Buddy Horace profundamente: ele não gosta de Old McKernel, que teria desvirginado sua esposa uma semana antes do casamento.

O casamento foi anulado, e Buddy Horace ficou muito triste.

Buddy Horace empurra Old McKernel para o meio da rua num dia desses.

McKernel, obviamente, não morre nem nada: um carro vinha mas desviou.

Quem mais se emputece é o motorista.