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20100923

ela

o problema é que ele não estava morto nem nunca estaria, não enquanto ela estivesse viva também, ele só morre quando não existir mais e ainda existe no remorso e prazer dela e nos dedos dela que ele já beijou e nas paredes pelas quais ele já percorreu os dedos tanto tempo atrás e tão pouco tempo atrás, um fantasma em corredores e em televisões e em carros, só quando tudo que ele já tocou e pensou e comeu e amou virar pó e esse pó virar estrela e essa estrela se apagar em escuro ele vai deixar de existir e então vai ter sido ridículo e ineficaz tê-lo matado e é por isso que ela está andando por um corredor e percorrendo sua parede com os seus dedos como quem pensa em porque somos assim e talvez seja nisso que ela está pensando, talvez seja no quanto se arrepende ou talvez não esteja pensando nisso, talvez esteja pensando em não pensar nisso, com toda a força que ela tem, que não é pouca, andando um pouco bêbada e um pouco fora de si mas por isso totalmente si-mesma, mais do que antes, digitando em computadores confissões disfarçadas de imagens, sem nenhuma realidade que não a dela mesma, vendo a si mesma refletida em telas apagadas e acesas, com sons que ela não sabe mais ouvir a não ser a própria voz, ela luta com sua alma, mesmo sem acreditar ter uma, com palavras que não são mais do que eu sou, que são mais do que são, som e sim, ela uma moça bonita de futuro sem futuro, andando por paredes manchadas de velho que não mais, diz-se que não dizendo só uma palavra mas somente todas, coisas que ela já não sabe mais a não ser esquecer, verdade é aquilo que eu já descobri mas não me recordo, ela é pequenas manchas em sólidos não-euclidianos que vagam na velocidade dos sólidos não-euclidianos, mais e menos, ela ama a si mesma tudo o que podemos, ela só um abismo, sem tempo para nada que não nada, sentindo um, ela esquece.