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20151210

Meus amigos são todos ricos.

Ou então são pobres por opção, quiseram fazer o que lhes desse na telha, foram lá, fizeram. Têm hoje, eles todos, a profissão que terão pelo resto da vida: não lhes preocupa a perspectiva de uma promoção, um aumento, não lhes interessa fazer um mestrado (mas fazem!), porque já são ricos ou escolheram ser pobres, não dividem seu tempo em um milhão de atividades desconexas, incompatíveis, impossíveis, não sentam-se à noite cansados e se perguntam se vão dedicar as horas livres (que têm) a isso ou àquilo, porque são coerentes, não se perguntam às vezes o que diabo estão fazendo com suas vidas, não fazem planos de começar qualquer coisa em um ou dois anos, porque já começaram tudo, é claro, estão agora em vias de realizar, cumprir, às vezes até terminar, e não sentem que metade das suas atividades é um atraso injustificável à outra metade, sem no entanto saber em qual metade deveriam estar avançando e qual metade os está segurando para trás, não desperdiçam ainda mais tempo escrevendo devaneios, muito menos se culpam quando não os escrevem. Meus amigos todos venceram na vida.
Um dia, eu já fui destinado também à vitória. Um dia eu estive fadado a ter tudo aquilo que o Universo tinha em reserva, e não era pouco, porque eu unia as oportunidades à competência, digamos assim, como quem une o útil ao agradável, a fome à vontade de comer, as asas com o saber voar, inclusive era da comunidade do Orkut, Já Tive um Futuro Promissor, ou algo assim, e também da Provo Teses Com Comunidades, que aliás vem a calhar, mas divago, acontece que um dia aconteceu alguma coisa, já nem sei, deve ter acontecido, porque de repente (não mais que de repente) eu já não tinha mais coisa nenhuma, não era nada daquilo que meus amigos são, era uma criatura dividida em mil outras, nenhuma se dando com as demais, nenhuma sabendo o que fazer com as demais, sem nenhum plano de metas, nenhum compromisso com futuro nenhum nem apetite, ou talvez fosse o contrário, um apetite grande demais, que não cabia na minha fome, nas minhas asas, no meu Orkut. Eu também um dia fui destinado a vencer na vida.
Hoje estou destinado a muito mais.

20110712

estratégias para a vida (parte 4 de 13?)


VI - Há algum tempo trabalho no C. e tenho que responder muitos e-mails, várias vezes para mais de um destinatário de sexos diferentes. Sempre me embananei para decidir se mando "beijos", "abraços", "Um abraço!" ou o quê para as pessoas. Muitos fatores pesariam para a decisão: proximidade, sexo, tipo e conteúdo do e-mail etc. Há um pouco mais de um ano, decidi, sempre que ficasse em dúvida, mandar o seguinte ao fim dos e-mails:

bs.

VII - Minha mãe fazia (e ainda faz, se eu pedir) gemada para mim sempre que eu ficava doente. Sou apaixonado pelo gosto dos ovos, especialmente pelo da gema. Assim, a gemada sempre foi uma espécie de "power-up" para mim. Desenvolvi uma nova receita (gema, duas colheres de leite condensado, completar meia caneca com leite, esquentar) que parece exata para me satisfazer. Sinto-me um homem de verdade após tomar o primeiro gole. Dura só até o fim do quentinho.

20110506

Sobre Ser um Ser Cultural

PIOTR:

Meus amigos, trabalhar com a criatividade não é fácil, não, não. Não é como trabalhar com os músculos, coisa estafante, sem dúvida, mas que acaba criando calos, digo, não nos músculos, mas nas mãos, de forma que o trabalho acaba... Azeitando? Não, quem me dera ser um trabalhador braçal, pois que o próprio trabalho fortaleceria meus músculos e minha mente ficaria tranquila enquanto meu corpo pegava no pesado. Poderia até, quem sabe, compor alguns poeminhas enquanto carregava as pedras. Nesse sentido, talvez a Sibéria não caísse tão mal, mesmo: um bom tempo para curar a mente e ganhar massa muscular, é. A verdade é que, se a mente funciona enquanto o corpo trabalha, o revés não se aplica. Quando me sento para produzir conteúdo (em suma, é tudo que faço), não posso carregar blocos de concreto, porque, bem, estou sentado. Está aí uma das desvantagens do trabalho intelectual, veja bem, murchamos ou inchamos feito bexigas, e mesmo nossas bexigas enchem-se e esvaziam-se como se não fosse nada, enquanto nossa cabeça quase explode de tanta dor. É, rapazes, não existem calos na cabeça... Dentro dela, quero dizer.

Em suma, é uma responsabilidade tremenda, é exatamente como construir um prédio: caso você use a palavra errada... inexata... A estrutura toda cai, entende? Nesse sentido nosso trabalho é próximo ao do operário, sim, mas só nesse sentido. Invejo quem não tem que tirar leite de sua cabeça para ganhar a vida, entendem? Vocês sentadinhos aí... E eu aqui de pé, e essa obrigação terrível de fazer sentido! Vocês já sentiram esse peso? Garanto que pesa mais do que mil blocos de concreto! Ah, e vocês reclamam de rejuntar as paredes... Queria vê-los aqui, enchendo de rejunte as palavras! Suavidade no discurso, camaradas, levam-se anos para adquiri-la e, numa só partida de uíste pode se jogar tudo por água abaixo. Tudo, até si próprio, porque pensar tanto... Vocês nunca sentiram vontade de se matar só porque o mundo não fazia sentido, não é mesmo? Seus corpos calejados e musculosos... deslizando pelas águas dos rios... suas roupas rasgadas pelos galhos... Já imaginaram? Imagino isso o tempo todo, meus caros! O tempo todo... a morte! Ah, produzir conteúdo (é assim que eles chamam!) é a morte, a gastrite, o tabaco, o álcool, que dureza! Sinto agora mesmo algumas palpitações no baixo ventre. Enfim, pensem bem sobre o assunto antes de escolherem mal seu caminho.

Piotr faz uma pequena reverência e desce do palco. Termina assim o Quinto Painel de Profissões do Colégio Pantomima.

20101208

INSTRUÇÕES DE MÁXIMA IMPORTÂNCIA



O Homem aprende que a desobediência é o que cria pêlos na cara.

20100516

Mas que melodia bela é essa, meu Pacheco?

Pacheco terminou o solo no trompete remexendo os lábios, porque fazia uns dias que estava só no contrabaixo. Como é uma região sensível, só isso já deu tempo de ficar com uma estranheza.

“Acho que essa eu nunca tinha escutado você tocar.”
“Ah, já tem uns anos que caiu do repertório. Mas é boa, eu gosto.”
“Como você gosta de tocar?”
“Como assim?”
“É mais com a mão ou com a boca?”
“O que for jazz, bossa, tá valendo.”

Importante dizer que Pacheco verdadeiramente sorriu-se com isso. Ele foi guardar o trompete na maleta num canto. O baixo continuava ainda do lado de fora e com as cordas já perdendo o brilho.
Lia ficou um tempinho em silêncio porque também era legal ver o Pacheco guardando os instrumentos, recolhendo alguns cabos ainda soltos, tirando os amplificadores da tomada.

“E é só isso?”
“O que? Tocar?”
“Não, que você toca.”
“O que mais que existe pra se tocar?”

A Lia lembrou que precisava ligar pra mãe e avisar uma coisa das compras, pegou o celular e saiu. Isso deu tempo pro Pacheco terminar de fechar sozinho o estúdio. Faltavam: ar-condicionado, que foi desligado mas mais umidificava que qualquer coisa; computador; o som tirou-se da tomada. Por instinto Pacheco pegou um pacote de CDs virgens pra levar pra casa enfiado na pasta. Recolheu trompete, deixou o baixo lá mesmo, bateu a porta e trancou. Abriu de novo porque esqueceu do afinador pro José, que tinha pedido.

E de trás da porta saíram Goran Tortavic, Jan Kormeca, Ilja Paracov e Grande Elenco a tocar Kalasnjikov! O trompetista era Paracov e jogou Pacheco no chão enquanto terminava a ponte que levava ao refrão e foram-se em opa, e foram-se em opa, e foram-se em opa e OPA!

A Lia voltou assustada. Pacheco levantou-se do chão, com o mindinho possivelmente quebrado. Lia até choramingava um pouquinho, meio emocionada, mas aí ele tirou o trompete da maleta, arremessou-o com força pro alto e ele bateu na lâmpada,
catouô baixossem capa trancou tudde novo
e foram-se em opa, e foram-se em opa, e OPA!

Mas afinal, o que havia-se de fazer?

20100315

O Níquel da Eternidade - Esboço de um Road Movie

As graúnas me comovem. Comovem-me os girassóis. Comovem-me os lírios. Comovem-me as pedras no fluxo do rio. A água do rio. A água é cristalina diante de meus olhos. A água é cristalina diante do cristalino de meus olhos. E assim faz-se a complementaridade homem-natureza.

Direciono meu olhar para uma pedra, uma pedra brilhante à minha esquerda. Abaixo-me para tocá-la, para sentir a incomparável sensação de plenitude. Um susto. Quem é aquele que vejo? Seu rosto está turvo – a água é rápida – mas reconheço seus traços. São familiares. Tantos anos se passaram desde a última vez que vi esta expressão, uma expressão que transmite segurança. Segurança. E, em uma fração de segundo, torno-me inseguro novamente. Pois percebo, assim, que o rosto que vejo, na turva água do rio, é o meu.

Não reconheço as rugas que o cobrem agora. Abaixo-me mais um tanto. Consigo encostar na brilhante pedra, e um arrepio percorre meu corpo – o suave frescor da natureza. E raciocino. As rugas denunciam. Denunciam que, inesperadamente, rolou de meu bolso, perdendo-se para sempre, o Níquel da Eternidade.

O que me trouxe até aqui? Estes pés? Serão os pés, que nos fazem caminhar, os responsáveis pela viagem? E, se assim não forem, serão eles apenas servos de alguma outra faceta física do Eu? Não posso crer nisso. Sim. Os pés me trouxeram até aqui. Assim como me trouxe até aqui meu baço. Assim como me trouxe até aqui a tireóide. Assim como me trouxeram até aqui meus fígados, todos os três que possuo. Não há hierarquização entre os órgãos. Assim quis minha Mãe. Minha Mãe que é por tantos renegada – a Mãe Vida.

Mãe Vida escolheu-me outra Mãe. Uma Mãe de carne e osso. Uma Mãe Humana. E esta, por sua vez, forneceu-me uma Mãe, uma Mãe menor, unicelular. Seu óvulo. Poderia ter sido qualquer outro, mas foi aquele. Foi aquele, aquele se tornaria minha Mãe. Minha Mãe, dentro de minha Mãe, escolhida por minha Mãe Vida.

Pai, não tenho. O que é o pai? Fornecedor do material genético, do Sopro Existencial? Pois meu pai era aquele espermatozóide. E, no momento em que perfurou – (consigo sentir essa dor sofrida até hoje) – a parede de minha Mãe Unicelular, ele se desfez. Seu material genético – Meu material genético – foi espalhado por dentro da Mãe Unicelular. E desfez-se o espermatozóide. O homem que gerou o espermatozóide, diriam os mais biológicos, esse sim é meu pai. Não o espermatozóide. Nego. Ele era apenas um vetor...um vetor que fez minha existência ser possível.


O Vetor chamava-se Pierre Lovieuax. Contam-me que era chinês. Nunca o conheci.
(E será por isso que o vejo apenas como um Vetor?
Assim quis me fazer acreditar
o Psicanalista Primeiro de minha pessoa –
Eu Mesmo.
Não creio que assim seja.
Era um vetor.
Somente um vetor.)
Mamãe unicelular, essa sou eu.
Eu sou a Mãe.
Minha Mãe Maior está em Mim.
Pois do interior de minha Mãe Unicelular, o óvulo, fiz-me.
O ovo duplicou-se.
Dois ovos.
Os dois ovos se duplicaram.
Quatro ovos.
Células.
Núcleo celular?
Seria essa a essência de todos nós? Um Núcleo Celular?
Pois assim fui concebido.

Meu coração dispara. Apalpo meu bolso. Nada. Perdido. O Níquel foi perdido. Durante anos cunhado, durante anos estudado...e agora, perdido.
Resignação?
Derrotado?
Não. Olho novamente a água. É como um filme passando em minha cabeça e, traindo as leis da Natureza – Natureza suprema, pois então como tão facilmente traída? – a água inverte seu curso. Procuro-me no reflexo. As rugas...Permanecem. Percebo que estava de olhos fechados.
(Quais olhos?)
Abro-os. A água segue seu curso regular. As rugas...Permanecem. O Níquel, este se foi. Sinto que minha Metade Menor impulsiona-me para baixo. Olho a grama tão verde, tão verde -- e o Verde, a cor-mor da Mãe Natureza. Ela me seduz.
“Venha, Filho”, ecoa.

20090520

Aula de Cultura - 02

"O hiperrealismo de “Cidade de Deus”, construído de forma clássica e dotado de grande presença (pois é parte principal do espetáculo construído) difere, assim, do neorrealismo de Fellini, que não busca tanto uma representação ou reprodução do real, mas muito mais um esboço que sustente sua fantasia, por mais que trágica, leve."


Na verdade, 2008 foi assim:

20090427

AULA DE CULTURA - 02

Sério, qual é a desse povo que fica indo no teatro? Quer dizer, se é pra gastar dinheiro então vamos fazer um filme, né? Que tal???
Pior que isso só ficar lendo livro que já virou filme, mas pelo menos perder tempo é prejuízo mesmo só pra pessoa. Mas teatro? Por que é que ainda não fecharam todos??

Mas é que essa gente adora ficar presa no passado, né? Uma juventude que prefere ficar pra sempre ouvindo musiquinha dos anos sessenta ao invés de olhar pro próprio tempo e começar a fazer alguma coisa que converse de verdade com a própria geração. Acho que essa é a realidade no Brasil, sempre foi, né?
 
Eu só fico agoniado, doido de vontade de apertar um F5 na cabeça desse povo pra ver se eles se atualizam!! Saca?

20090416

AULA DE CULTURA 01

[naturalized version]

Mais do que que coletivo, a pobreza. Sua respresentação, seus símbolos, seu imaginário. A respresentação dela porque o espetáculo é assunto e paródia de alguns workmanships desde os anos 60 e 70. A família trabalhando de ósseo, indicada como a obra de arte em um museu, ou a construção de um barraco a tempo recordaram - assim como a inclusão de uma família trabalhando clássica para dentro dela - garantido para o cronómetro introduzido na imagem. Ao mesmo tempo, nós temos a película dos estrangeiros no quarto do precário, a base de dados no Internet dos personages “reais” da comunidade, os catálogos dos clichés da respresentação dos povos no cinema. Estas são as perguntas do político latino-americano do cinema.

20090414

AULA DE CULTURA - 1

[tipo exportação]

More than what the collective one, the poverty. Its representation, its symbols, its imaginary one. The representation of it as spectacle is subject and parody of some workmanships since years 60 and 70. The laboring family of Bony, displayed as work of art in a museum, or the construction of a barraco in time has remembered - as well as the inclusion of a classic laboring family inside of it - guaranteed for the inserted chronometer in the image. At the same time, we have the film of foreigners in the slum quarter, the data base in the Internet of “real” personages of the community, the catalogues of cliches of the representation of the people in the cinema. 
These are the questions of the cinema Latin American politician.



20090407

Transferência

- Nunca antes eu senti algo e tentei transcrever com tanta dificuldade... A falta de palavras não costuma ser comum para mim... Talvez eu nunca tenha encontrado algo tão importante antes, não sei...
- eu vou embora.
- Ainda não terminei!
não consigo não dá é só uma coceira no peito que parece... putaquepariu, eu queria que vocês aqui conseguissem porque.
- Não tenho coragem pra paixão.
(nem com a data próxima)
e eu fico assim isolado sem conseguir dizer.