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20141006

Mais uma

Entre Salvador e Ilhéus, o ônibus parou em um monte de cidadezinhas fora da rota turística da Bahia. Uma mais bonitinha que a outra, mas a mais bonitinha, com certeza, foi aquela cidade cujo nome não descobri, em que todos os postes tiveram as lâmpadas cobertas com balões de seda (festa de São Pedro, disse alguém no ônibus). Tentei tirar uma foto melhor, mas o celular não me deixou.
 A gente parou na frente da agência da empresa de viagens, não lembro o nome, do lado de uma casa azul-e-branca com cara de delegacia (mais tarde, alguém diria que era isso, mesmo, uma delegacia). Um monte de gente embarcou ali, mas teve uma mulher que não embarcou.
 Eu vi ela primeiro dentro da agência, vi ela com duas crianças, meio assustada, e então um homem chegou, segurou o braço dela e foi falar com funcionários da agência. Eu achei que tinha visto errado, achei que ele só tinha passado por ela, achei que tava tudo bem.
 Não tava.
 Enquanto o tal homem falava com os funcionários, a mulher saiu de dentro do prédio com as crianças, fez um círculo artificialmente grande, contornando o sujeito. Ia entrando no ônibus quando ele percebeu (talvez estivesse bêbado), correu pra cima dela, puxou. Honestamente, não sei dizer se ele bateu nela, mas foi uma agressão, sem dúvida nenhuma. A mulher querendo fugir com as crianças, imagina só o que não deve ter levado ela a isso, todo mundo no ônibus criticando o cara, defendendo ela, mas ele lá, impedindo ela de entrar e ninguém fazendo nada. Eu não fazendo nada. Algumas pessoas riam, todo mundo assistia como se fosse uma novela.
 As crianças choravam e o cara tinha um facão. Ele não ~usou~ o facão, mas um cara anda por aí, impedindo sua mulher de fugir com duas crianças no primeiro ônibus que aparece (imagino que sem nem ter pra onde ir), com uma peixeira na cintura, e você faz o quê? Fiquei no ônibus, olhando e não fiz nada. Lembrei das minhas outras inércias, achei que devia ir lá, mas não fui. Fiquei assistindo, como se fosse uma novela.
 No fim, o sujeito dominou a mulher, forçou-lhe um beijo, manteve as crianças. O motorista deu a partida e o ônibus foi embora. A mulher ficou lá pra aguentar as consequências da fuga mal sucedida; só mais uma mulher em mais uma cidadezinha linda fora das rotas turísticas.
Como se fosse uma novela.

20130628

Vai que ajuda?


(...)
Carlos Eduardo abriu um editor de texto, colou ali o conteúdo de um e-book d’A Divina Comédia e salvou o arquivo como midi.
Não era tão simples assim, mas dava pra fazer. Cada caractere tem um valor (0-255) que na verdade são oito zeros ou uns. A música tem especificações diferentes, mas, no fim, também é feita de grupos de oito zeros ou uns. Alguns ajustes, um conversor que ele mesmo programou e no minuto seguinte ele já poderia ouvir Dante.
Antes, ele aumentou a luminosidade do quarto até não enxergar mais nada além do mar branco de suas pálpebras, e então, tateando, apertou a barra de espaço do computador para reproduzir o som. Conforme ele se reclinava na cadeira, um chiado começou.
Carlos Eduardo era só mais uma evidência de que as pessoas se adaptam. Quando você tenta reproduzir um som repetitivo e se cegar ao mesmo tempo, o sistema operacional percebe. Ele não deixa.
Se você programa um sistema operacional próprio, você não vai conseguir ligá-lo na rede sem que alguém fique sabendo e faça alguma coisa, e não importa o que você faça, você sempre está conectado à rede.
O bloqueio do sistema e do tocador não demora mais do que alguns segundos, mas em um mundo sem outros tipos de entorpecentes, alguns segundos são o suficiente.
Funciona assim: 20% se devem à luz forte e ao chiado privando-lhe de dois sentidos. O resto é basicamente placebo.
Quando a música parou, ele abriu os olhos. A luz também havia sido baixada e o computador já reiniciava no SO padrão, mas ele ainda estava deitado e via coisas piscando no teto. De repente, as coisas piscando se transformaram no rosto gordo de um cliente pedindo que ele configurasse um programa de envio de SPAM para rodar integrado aos equipamentos dos funcionários, o que era um trabalho que lhe tomaria no máximo cinco minutos e que renderia algum dinheiro, mas ele demorou para responder, enquanto brincava com a imagem da videoconferência, arrastando-a do teto para as paredes, das paredes para o chão, do chão de volta para o teto. Pode deixar, ele disse, e o rosto se apagou.
O quarto de repente ficou preto, todas as paredes virando terminais negros cobertos com letras brancas, e foi só então que Carlos Eduardo se levantou. Só assim é que ele se sentia em casa.
Existem vantagens em trabalhar diretamente na máquina dos clientes. Existem permissões. Normalmente, algumas linhas de código são inutilizadas já no compilador, mas quando se mexe com sistemas internos de determinadas empresas, a coisa é relativizada. Ele passou as mãos pela parede à sua frente, embaralhando com seu toque as letras ali projetadas. Mexendo rapidamente os dedos, diretamente na tela, ele começou a digitar comandos, brincar com números, anotar variáveis. Ele queria que a Comédia ainda estivesse tocando.
O sistema é assim: o usuário sempre está rodando um software. O software dita os limites do que ele pode fazer. O software foi programado por alguém. O programador rodou um compilador. O compilador dita os limites do programador. E então, existe o cara que programou o compilador, em linguagem de máquina. Por alguns instantes, Carlos Eduardo é esse cara. E é tão bom quando isso ocorre depois de uma sessão da Divina.
Há dez anos, ele trabalha com coisas assim, e ele é bom no que faz. As maiores empresas pagam para que ele programe seus computadores, e ele consegue configurar um sistema complexo em não mais que meia hora. Trabalhos de meia hora, feitos por nove horas diárias, ao longo de dez anos, é bastante serviço. É o suficiente.
Quando o sistema é posto novamente no ar, um programa externo faz a leitura de tudo o que foi alterado. Se houver qualquer falha de código ou de segurança, esse programa deverá corrigi-la imediatamente. O programa-revisor é coordenado e atualizado por uma das maiores empresas de segurança, a Velotech. A Velotech trabalha sempre com funcionários qualificados na atualização de seus programas. Nos últimos três anos, Carlos Eduardo fez 60% desses serviços.
(...)

20120824

Punk Brutal


O Pânque Brutal cortou sete bagos, mesmo.

O Pânque Brutal acordou duas vezes às nove horas, hoje.

O Pânque Brutal explicou em diferentes termos porque não almoça nunca em casa.

O Pânque Brutal porrou o carro: desgovernado, na primeira vez; emputecido, na segunda.

O Pânque Brutal abre a boca bastante e mostra o calo nas cordas, mas ele não tem banda, não.

Pânque Brutal na farmácia cumprimenta só as mina, com o Olhar Brutal.


20110608

(...)

The first song they played was a composition of their own and lasted two minutes and forty seven seconds. In these two minutes, Laika wouldn’t be able to write an e-mail, pay a bill or drink a pint of beer, but they were enough for a music to make her cry.

20110607

Eu me afogo na minha idiotice (31/03/2008).

Eu me agoro na minha idiotice, (eu reli a frase e percebi o erro, mas afoga) e é tão importante ter consciência disso, embora só seja idiotice porque eu tenho consciência disso, embora só seja idiotice enquanto eu tiver consciência disso e eu pensar em cada minuto que eu perco de toda forma absurda e eu me agoro na minhaidiotice (sim, eu troquei novamente afogo por agoro, dessa vez novamente de forma completamente inconsciente) e eu assisto finalmente ao tal Bicho de 7 cabeças e a única coisa que ficava retumbando naminha cabeça é que eu me agodfo na minha idiotice.

Você não tem idéia de quanto eu me assusto por tentar escrever "agoro" e.

Você não vai acreditar em mim, mas eu pretendia escrever ago

Você não vai acreditar em mim, novamente, mas eu realmente estava tentando escrever afogo e não parou de sair errado assim e.
Caralho, eu me afogo em minha idiotice e é a minha droga e o sono é a minha droga e a criatividade é a minhadroga e o vouyerismo é a minha droga e a projeção é a minha droga e a Falosofia é a minha droga e eyu me agogo em minha idiotice e eu odeio que esse erro constoante esteja saindo involuntariamente, sendo que eu resolvi parar o filme e me sentar e deixar tudo racionalmente esx´posto e agora eu sei que pareço artificial mas é verdade que me afogo em minha idioteice.

Andei pensando seriamente nesses dias em fazer um heterônimo coletivo e um verdadeiro heterônimo e um verdadeiro coletivo e eu queria conseguir criar dessa forna,. talvez se isso tudo fosse pelos correios eu ganharia na ortografia porque eu corrigiria tudo bonitinho mas eu perdeira a velocidade

telefone toca

20110316

"blablabla" [exercício de estilo?]

Verme inaudito, circunda-me como abutre. Criatura pestilenta e vil, eis o que és!

No calor desta falseta andaluz, traz as doenças mais temidas num único beijo. Um beijo perdido, que vaga no espaço lúgubre entre o dia, a vida, e a morte - a noite.

Ou então!

Seria, pois, um singelo mensageiro dos infernos, que nos traz, a tiracolo, nossas vidas - a noite... E a morte, o dia??


[original de 01/12/08]

20110209

No meu baú

Achei issos, que acho que nunca publiquei:
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Repente
Duas estrofes depois, se agarravam.


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Benefit of the doubt

Dear, how much does my head aches, and how much do I miss you. You are probably unable to understand the feelings that wander through my head while I finally have the guts to pick up my pen to write down these miserable words, which I pronounce right now, in vain, for I know there is — and there will be — no one who will ever listen to whatever I say. You, dear, was the only one ever to get my thoughts, perhaps even before they occurred to me, and although I regret this fact for it forced me into doing what I did, I couldn’t love you more by the time.
When you left, I remained in silence for three days and three nights, until I could realize that you was never going to come back, and that life had to move on, for death would move on regardless of the will of the living. I did not kill you for succumbing for a vain emotion, and also did I not kill you in the regular and terrible meaning of the word, but I killed you, indeed, when I let you leave, and when I was unfaithful, and when I told you that I was so. I killed you perhaps on the vilest of ways, and you forgave me by the last time you looked on my face and touched me and called for me and I was never able to answer your callings, and I was never able to say whatever I had to say, and perhaps I really had nothing.
But now I found a way to deliver you this message, and that is why I took all of the courage I have and picked the pen and now I’m writing without thinking, for if I do think, I’ll perhaps lose the strength I need to do what is required to send you this late letter. I’ll have to stop writing by the end of the text and, without a last reading, eat this paper and perhaps it will fill my throat and obstruct it and I will then die, and it will be a good thing, for my message will have been delivered. Or, else, I’ll have to do it by myself, and I hope I’m strong enough for doing so, because I wouldn’t want you to think of me as a weak man for the whole eternity.
But, then again, if I am not strong enough, you will never know it.
 

20101124

Sobre Benjamin sobre o ator




aktior spassiot liudi liubliut smatret liudi liubliut aktior on liobov liudiei.

aKtior prevoshodIt. Nam On spassiot.

20101116

ANARQUISTA [14.03.2010]

Anarquista

Fogo

Porrada

Punhos em chamas

Cocota

Viagem

Qu’est-ce que je faire? Unfaire!

Ou seje...


Depressão. Tesão. Fuga da prisão, quebra de lacres, rompimento de pedágios em altíssima velocidade, mas derrepente!: bossa nova, sacocheio. Tacar fogo na praia, correr com a roupa do corpo, correr sem roupa no corpo; queda do abismo. Grito, peito rasgado, paixão sem limites imaginários. Fronteiras, perseguição, bombas – “Matei um, matei um”... Três meses depois sozinho numa cabana solta no mato, bebendo urina. É o fim.

Bebi com eles, joguei e contei as piadas que eu sabia. Foi pouco, muito pouco.

Euzébio nasceu em 3 dias diferentes: 21 de março pelo RG, 22 de abril pela certidão de nascimento e 4 de janeiro pela sua mãe. Confiemos, pois, na mão direita de seu pai.

20101006

Desfeitura

(Retomada de um antigo trabalho, ainda inédito)

Documento de ficção.

A dor da criação, o parto e o aborto das idéias e das matérias. Sonho urbano, captado como se pôde.