20090228

E no epitáfio vai dizer:

"Jazz aqui
alma imortal
e
benevolente"

20090223

Enganação

Ela era sozinha, não fumava, não gostava nada de R&B. Ele nunca tomava cerveja, não trabalhava, não queria trabalhar, nunca tinha ido em festa de nenhuma aninha e não tinha a mais puta idéia do que era R&B, mas ela pareceu gostar tanto e aquele decote... [e tão bebinha!]

Ele não tinha um carro no conserto e nem morava tão perto assim, nunca teve dinheiro para táxi, não tinha uma coleção de discos de vinil superlegais pra mostrar. Ela não queria mais uma rodada, não estava tarde demais para pegar o ônibus pra casa, não estava interessada em ouvir música.

Ela chamou o táxi;

ele não foi para o banco da frente;

ela não se lembra de ter pago 47 reais para o motorista, ele não acertaria isso lá dentro.

A cama não rangia, o vizinho não reclamava, a luz estava queimada mesmo, ela não estava tomando pílula, ele não estava sem camisinha na casa; ela gozou e ele, não.

Não amanheceu.

Ela não tinha que ir embora, ele não estava sem água quente no chuveiro, ela não deixou o telefone, ele não tava nem aí e descongelou uma pizza de calabreza – ele não era vegetariano nem a pau.

Acorde

Acorde! – são três dedos que lhe tocam, lhe pressionam: Acorde, acorde, ele chora Não me quero acordar; e sai rouco, abafado, só lhe ouvem ressonar. Acorde, acorde, aos diabos!, já reclama: Gosto da minha pestana, quem me quer ver acordar?

20090221

Vida e obra de Andréia "Patsy" Vilermierskaia

Jogando os chocolates com força nas coxas e rasgando as roupas de Mateus, Andréia viveu até vinte e dois anos. Dos vinte e cinco aos trinta e um (entre 22 e 25 houve uma pausa forçada), recitou e.e. cummings para os faxineiros e foi chamada de elitista pela síndica Dora. Quando, durante quatro meses em 1993 (portanto, aos trinta e cinco), depois de visitas semanais complementadas por peças de Maiakovski, Dora se tornou Dorinha, Andréia virou genial pra burro. Resolveu ela mesma escrever um poema aos cinqüenta anos e fez de tudo para morrer como conseqüência da condição maldita do escritor; Mateus lhe deu um tapa, foi-se embora e ela se viu ainda mais saudável.

Entre sessenta e setenta, retomou o hábito dos chocolates, suspirando a cada Chokito pelo poema tuberculoso que lhe faltara. Com 74, confiando em sua sina amaldiçoada, preencheu páginas e páginas com


O PASSAGEIRO

INSTANTE
DO PASSA GEIRO


PASSA, GENTE, PASSA
FOSTE Belo
sequóia és. ramo brotinho salada de chuchu e pavê holandês

ai, que me dói o coração
sentir esse calor
quando com esse fulgor
faço anotação
caramanchão, meu pão!

Descobriu que era péssima depois do veredicto de Dorinha. Quis morrer e não se foi, “oh, crueldade do Destino” foi o que pronunciou no ano novo de 2039. Aprendeu a assobiar e estudou plantas diversas. Morreu em visita à Dinamarca, de causas desconhecidas, sem completar a nova coleção Grandes Clássicos Folha de S. Paulo, aos oitenta e seis anos.

20090220

hommmage

He was a bright young fella
whose friends were all named George
and more I shall not say.
For all those bright young fellas
who died there back in 'Nam:
they deserve a homage
but this man here does not.

I once met Dylan McDermott
his breath was all too sweet.
We hit it right away:
with vodka and champagne
and love and tender swans
we came back to my house;
now I am all alone
his cum still on my walls
I cry for him, O lord.

I feel a lack of words
to shape my will right now
my laughs and oh the rhytm
trying to escape
slowly
as the happiness I paint
erased from the pencils
wet paint
licked by a monkey
at last. [
now only left
a funny laugh
not even that
i dip my finger
dream of a woman:
(aperdade] palavras)
c'est une catastrophe.

U M C E G O M E V E R A A R O T A .

M E U M
A R
E V
O C E
G
A R O T A

20090217

Termômetro Inaceitável

Um termômetro
inaceitável,
agora hirsuto e opaco,
suspirou moribundo no frigobar

Leila socou a porta e o pobre termômetro inaceitável
[relembrou sovacos
- e por quê não dizer? nunca de Leila -
em que antes fora acolhido.

Lembrou-se também das
obturações de Alfeu, e com ironia
pensou em quando fingira ser
sushiman: o ceifador

Pablo, o Molar, doirado das redondezas,
não vira a lâmina nem os olhos que
denotariam a ocupação;
Pobre termômetro! conseguiu apenas deslocar o
pedacinho de algo-do-mar que vira
e, "Heh, heh, heh!" de todos os molares e principalmente de
Stu "Carne" Borges, esburacado e jogado aos germes - ele mesmo
[suspirando moribundo e olhando em volta com pensamentos de ironia -
o termômetro continuou seu trabalho e excitou-se sem querer tocar a
língua do dotô

"Bons tempos", pensou ele, relembrando
fragâncias anais, distantes, agora que não
ultrapassava - apenas raramente, entre dezembro
e março - os 32ºC.

Balança e vai e volta, aí parou
e foi Otávio que retornou para um gole
de alguma coisa, já curado
E depois de pegar, eis que
Rolou e rolou e o móvel embaixo aumentou a
altura e portanto a fratura e
num orgasmo safado e empelotado
morreu o termômetro inaceitável

Um Céu Sem Lua (ou tudo de ruim que eu deixei para o Mundo)

        Toquei a caixinha do seu “cereal-radical”. Quando digo tocar, não pense em João Gilberto, mas sim em algo mais como Neil Peart ou Keith Moon, porque só pode ser bateria – e só pode ser estranjeira, é claro. Não lhe dei nada de minha prestidigitação Thelonieska e não sorria como Art Tatum faria. Surdo e prato e bumbo e caixa, comigo não tinha nada além de gritos e não eram nem de perto gemidos ou grunhidos ou qualquer coisa que te dê prazer, eu não era isso. Um paranóide, OK? Gritava e era como uma gaivota, a minha gaivotinha de areia!

        Isso já tem tempo, de qualquer jeito, uns dez ou quinze anos, sim. Tinha que ser, hoje em dia ia ficar estranho pra mim tocar uma coisa já tão construída, concluída, porque meu som era puro, cru, rotten pra xuxu! Puro.

        Hoje quando eu paro e penso, tudo não passa de um borrão... Os dentes, deles eu lembro. Esgarçados numa coisa horrível de se ver, mas que era lindo na minha mão. Eu sei que no fundo de tudo tinha um sorriso, mesmo que fosse só o meu nos dentinhos brilhantes.

       Contando isso hoje eu não quero perdão antes da cova nem nada assim, que perdão é só pra santo e santo é um saco. Eu só quero mesmo é te lembrar de todo aquele tempo em que vivemos na mesma casa feito uma família bonita e feliz. Juntinhos, vocês e eu.

L O Q U E P A S Ó P A S Ó .

Ah, ah!
(Woohooo...)
Dale mambo!
(Entre tú y yo!)
Ah, dale mambo!
Daddy!
(Yeah...)
Cosas que pasan en el Barrio Fino...

Esa noche contigo la pase bien...
(Woohooo...)
Pero ya me entere...
Que te debes a alguien...
(Yeah...)
Y tú fallaste...
Pero ya es tarde...
Y tú fallaste...
Pero ya es tarde...

Lo que pasó, pasó
Entre tú y yo
Lo que pasó, pasó
Entre tú y yo
Lo que pasó, pasó
Entre tú y yo
Lo que pasó, pasó
Entre tú y yo

Es una asesina
Ella conlleva la medicina
Engañadora que te envuelve
Y te domina
Una abusadora
Ella como sabe te devora
Y si no tienes experiencia
Te enamora
Una especialista
A la que te ponga ella la vista
Balas hechiceras
Un hombre en su lista
Que si es maliciosa
Yo que la trate como una diosa
Me engaño y ahora me llamas
Como loca, ah

Presea, dale, presea
Si ya no estamos juntos
Otra mujer me gardea, mami
Presea, dale, presea
Que poco son los indios
Y muchas indias en la aldea, sabes
Presea, dale, presea
No dejes pa' mañana lo de hoy
Que te lo llevan, ma'
Presea, dale, presea
Ahora estas celosa por que
Otra me desea, aja

Esa noche contigo la pase bien...
(Woohooo...)
Pero ya me entere...
Que te debes a alguien...
(Yeah...)
Y tú fallaste...
Pero ya es tarde...
Y tú fallaste...
Pero ya es tarde...

Lo que pasó, pasó
Entre tú y yo
Lo que pasó, pasó
Entre tú y yo
Lo que pasó, pasó
Entre tú y yo
Lo que pasó, pasó
Entre tú y yo

Presea, dale, presea
Si ya no estamos juntos
Otra mujer me gardea, mami
Presea, dale, presea
Que poco son los indios
Y muchas indias en la aldea, sabes
Presea, dale, presea
No dejes pa' mañana lo de hoy
Que te lo llevan, ma'
Presea, dale, presea
Ahora estas celosa por que
Otra me desea, aja

(Dile!)
Yo soy soltero mai, y tu preseas...
Yo saco a otra a bailar, y tu preseas...
Tu comes en to's lao's y me preseas...
Si tienes dueño, ma', por que preseas...
(Vamos a dejar esto claro ya, ¿okay?)

Lo que pasó, pasó
Entre tú y yo
Lo que pasó, pasó
Entre tú y yo
Lo que pasó, pasó
Entre tú y yo
Lo que pasó, pasó
Entre tú y yo

Ah, ah!
Dale mambo! Ah!
Dale mambo!
Luny Tunes!
Son cosas que pasan...
...en el Barrio Fino!
Daddy!
Eliel!
Siqui, da, da!
(Ohh!)
Siqui, da, da!
Daddy Yankee! Yo!
Come on!
(Ohh!)

20090215

Instruções para jogar robato (versão espanhola, com 67 cartas)

Bom mesmo é jogar robato. O ponto-cruz mais forte geralmente é o de paus, mas isso não é regra; talvez seja regra cósmica, porque o que define o mais forte é o desenrolar das trenentinas do jogo e, se em grande parte das vezes, elas indicam o naipe dos brotinhos, o crupiê não deve ser culpado.

No entanto, um mal embaralhador inevitavelmente esbarra na intrincada questão dos valetes vermelhos. Se for de copas, pode condenar todo o jogo à ruína, mesmo antes do começo. É só ele aparecer entre quaisquer números ímpares que tudo com certeza travará, mais cedo ou mais tarde – e aí não há ponto-cruz de paus que salve.

“É complicado”, ouvi um crupiê dizer uma vez, “Requer muito de seus dedões.” É muito mais mecânico do que qualquer outra coisa. A sorte conta, claro, mas está longe de ser o principal fator determinante.

Imaginando uma situação: jogador 1 escolhe que a primeira trenentina será a “perenne”. Logo, a segunda deverá ser “ronã-lima”. A terceira, “nunimar”, e assim por diante até a nona, “ulapa”. Como a ordem não muda, somente os números (se o jogador 1 tivesse escolhido que a primeira seria “ronã-lima”, a segunda seria “nunimar”, etc., etc.), o crupiê está nas mãos do primeiro a jogar. Quanto mais próximo da nona limpa, ou seja, a nona trenentina original – estabelecida em 1887 por Henry J. Robato, divulgador e suposto criador do jogo – mais difícil para quem dá as cartas, porque dadas as multiplicações possíveis das cartas em jogo pela diferença de trenentinas entre a original e a escolhida pelo jogador, isto é, total x (T. original – T. escolhida), as chances de números ímpares tornam-se cada vez menores quanto mais próximas forem T. original e T. escolhida.

Apesar da aparente complexidade, a prática de robato sempre me caiu muito bem, em especial quando acompanhada de petiscos. Os petiscos, por sua vez, podem também exercer alguma influência: dê bolinhas-de-amendoim gordurosas ao crupiê e veja qualquer habilidade nos dedões escapar como mágica.

Resta então a última dica para os futuros robatingos: nunca desconfiar e sempre ajudar seus adversários. O ponto-cruz beneficia a todos, não importando as circunstâncias do jogo(Diz-se, aliás, que a nomenclatura escolhida foi amplamente influenciada pela fervorosa pregação pentecostal de Henry J. Robato. “Jesus and us, no need for fuss”“ era seu lema.) Dessa forma, a ajuda pode ser prejudicial a seus adversários, sendo essencial mostrar-se altruísta sempre que possível. Como as ajudas não podem ser impedidas – a menos que se tenha um coringa – um ponto-cruz formado mutuamente pode virar completamente o jogo e dar a vitória àquele que não chegara nem perto da primeira trenentina.

Regras na cabeça, cartas na mão, resta-nos o caramanchão.

Mictório (deutsch)

A Escritora brasileira Thalita Rebouças bateu nos 200 000 Volumes com nove TÍTulos devotados aos Relacionamentos das Meninas com Pais, Amigas e Professores - suas Obras de maior Sucesso são Fala Sério, Mãe! e Fala Sério, Amiga!, publicadas pela Rocco Jovem.

20090211

Competição de contos

Alunos de uma sala de colegial receberam a tarefa de escrever um conto. Eles deveriam, usando a menor quantidade de palavras possível, abordar os seguintes temas: Sexualidade, Mistério e Tecnologia.
O único trabalho que recebeu 10 foi:

"Porra, cadê meu iPod?"

Ímã de geladeira

A fim de provar sua insignificância e desimportância no mundo, Pedro converteu-se em um imã de geladeira. Supérflua seria sua vida a partir de então, e se mesmo assim o estoque de salgadinhos em seu armário continuasse se renovando, estaria provado que sua existência era completamente desnecessária.
A loja de conversão assemelhava-se a um estúdio de tatuagens, mas o atendente, em vez de robusto, careca e possivelmente diabético, era um homem magricela (descontada uma pequena pança), com traços armênios e léxico abrangente.
Tudo foi feito rapidamente: Pedro despediu-se de seu primo que o acompanhara, cantou “Mestre Jonas” uma última vez e enfrentou seu destino auto-traçado; o atendente massageou as coxas do rapaz, pediu-lhe que assoasse o nariz (‘Para que não haja acúmulo de fluidos durante a metamorfose!’), deitou-o e, enquanto urrava e estapeava o rosto de Pedro – que já ganhava traços de arrependimento – parecia extasiado; três minutos depois, a percepção de mundo do rapaz já se alterara significativamente: o que antes era roxo, agora era cor de repolho; o púrpura, magenta; lápis-lazúli, preto; todo o trâmite da transformação durou dezoito minutos, o suficiente para que Renato, primo de Pedro, se arrependesse de tê-lo acompanhado, mas o que estava feito, estava feito, e seu primo tornaria-se um imã de geladeira; o último detalhe acertado foi o formato; o atendente apresentou uma cartela com treze modelos diferentes, nenhum dos quais agradou Pedro, que resolveu confiar nos dotes artísticos do atendente, pedindo-lhe que moldasse a forma-futura diretamente em seu corpo, para que pudesse sentir mais diretamente suas entranhas remoendo-se, na metamorfose em massa, sob a pressão dos cotovelos (‘Com eles é mais fácil fazer reentrâncias’, diria depois o atendente) e unhas do magricela; retiradas as partes desnecessárias, restando apenas o equivalente ao tronco desfalcado de Pedro – sem mais pernas, braços, falo, orelhas (mas o aparelho auditivo interno lá permaneceria), mamilos -, ele já se mostrava significativamente menor. Faltava ainda reduzir proporcionalmente sua escala. O atendente pediu que ele recitasse versos quaisquer ininterruptamente, para que o processo fosse menos doloroso. “Moloch moloch moloch moloch moloch moloch moloch moloch moloch moloch moloch moloch moloch moloch moloch moloch blabla moloch moloch blabla moloch moloch moloch moloch blablablabla moloch moloch” foi tudo que veio à cabeça do cotoco, enquanto o atendente cuspia vigorosamente sobre todas suas extremidades, ao mesmo tempo que espremia – como uma espinha – os lados de PósPedro, que ficava menor e menor a cada instante. O procedimento aconteceu entre os minutos treze e quinze da transformação. Os três que se seguiram foram ocupados com a modelagem em si. Por odiar o rococó e os “ismos”, o atendente decidiu fazer de Cotoco um exemplo de op art. Suas mãos e cotovelos deslizavam com facilidade dado o suor gotejante e salgadinho que escorria do corpo retalhado de Pedro, e ao adentrar o penúltimo minuto da metamorfose já era possível perceber linhas e traços perpendiculares cobrindo o peitoral do semímã, que começava a empalidecer e ganhar uma intrincada conotação de zebra. Os dedos rugosos sendo repetidamente encostados nas órbitas fizeram as pupilas se planificarem e caírem, rodando a seu bel prazer nos olhos, podendo-se girá-lo (o cotoco suadouro) graus a fio sem que a imagem percebida se alterasse significativamente (uma montanha-russa visual e estável, hurra!’, Pedro-ímã pensava), e pra quê tamanha bocarra? Só um orificiozinho de comer e descomer e pelo qual fosse possível dizer ‘Renova-se!’ (em relação ao estoque de comidas nos armários de Pedro), para logo depois prosseguir-se com o aniquilamento do íma, só isso seria suficiente. A textura gelatinosa dos lábios enternecia o atendente que, para guardá-las, colou-as com cuspe nas bochechas do cotoco-quase-bolota. Desnecessário dizer que as gelatininhas adquiriram tons de cinza. Para finalizar o trabalho, o artesão deu um tapa final e estava feito o ímã.

20090209

ensolarado (a bondade do mundo)

Giravam. Bailavam as gaivotas, como eles. crianças, desenhavam formas improváveis no céu, adivinhando nuvens. Da pedra, pés fincados, desta vez como espectador. Um dia de sol como aquele.

Surgia o rosto, impreciso, mas constante: a boca pequena mas bem marcada por covinhas dos dois lados, os olhos claros, aqueles que pregados nos cantos lhe davam um ar mais misterioso, e um cabelo loiro-castanho-quase-liso, normalmente despenteado. A menina girava. Na imagem, porém, com o sol de frente, suas feições quase se apagavam. Não só isso, o movimento a distorcia, como se ela passasse, e, de repente, não estivesse mais. O que ficava fixo? Ficava o sorriso, presente em todos os momentos em que abriu os olhos e venceu o medo dela soltar a mão. Sorriso-borrão-branco, mas constante, sempre, ainda agora, com as gaivotas, alegria da brincadeira de menina, liberdade longínqua.

Se lembrava como correndo, faceira, lhe escondeu os olhos, e levou-lhe até um canto escuro, nas escadas de serviço. Ali, tirou as mãos, o beijou e saiu correndo. Ele, atordoado, deu voltas atrás a procurando, mas não a achou, se perdendo por ela. Desde então, nenhuma lembrança intacta (porta-retratos).

Saia rodada, a menina rodava. Se lembrava que era um domingo, que fora puxado por ela, e, mesmo rejeitando, se deixou levar até os giros no pátio que terminaram com ela tonta, caindo sobre ele, beijando-o (rapidamente), deixando-se ficar olhando o céu, até esquecer a tonteira e sair correndo para outro canto. Entendeu: Ela, congelada-em-movimento, não era exatamente o que ele pretendia, não podia ser. Não eram os borrões do sol que a marcavam, mas a lembrança. Ela era idéia: a memória pinta a vida em tons pastéis, impressionistas.

Sua cabeça rodava: Surgia o questionamento,: o que era, afinal, aquela menina? Fração de alguma bondade perdida? A menina girava,girava dentro de sua cabeça, com o mesmo sorriso repetido, sempre no mesmo lugar, e naquele lugar onde ela estivera um segundo antes ele procurava o vazio que lhe faltava. Afinal, a menina, sorriso no rosto, escapava a si, girando a toa pela alegria do mundo? Ou, extinguindo o nada, marcava seu papel buscando significados pouco convencionais? Estático, a hipótese se abriu, e a liberdade pareceu atravessar sem ser vista, mas ele olhava de canto de olho.

A gaivota que viu naquele momento, asas de cristal, deu um giro, e bailou entre o mar e o céu, sonsa do que era o que. Talvez não fosse culpa dela, mas das cores que se confundiam, inexistindo o horizonte a sua volta. Já ele não, ele consciente, preso na pedra, vendo á sua frente os seres brincarem na amplitude.

Já em si, viu as gaivotas se aproximarem mais da onde estava. Seria algum cardume de peixes que passava por ali, provavelmente? Não, Era hora de se lançar a frente, e desta vez por espontânea vontade. Enquanto os giros, a imagem da menina ia se desfigurando: Se desfizeram olhos, suas formas infantis: mudava, quanto mais rápido. E a mesma imagem, a menina estampada em luz, o sorriso. Ela, girando. Ele sequer sentia seus pés, e nem tinha medo de soltar as mãos, já de olhos abertos. Á sua frente, o fundo azul, o tempo que passava borrado e o mesmo sorriso. Entendia: estava solto, ela a seu lado, amor,, o baile, mãos na cintura, nada em volta. mais rápido, e o pátio e o rosto: um borrão, ensolarado. as mãos não tão firmes, o sorriso convertido em luz, jogados na amplitude, giravam como as gaivotas: decresceu: bondade do mundo não existir.

O tubarão avisa quando vai atacar

___/\______\o/__

20090206

A Brincadeira de Emília (ou "a coisa cor-de-rosa")

Põe gorro macio que toca-lhe o chão
E escorre-se num rio para todo o sempre,
Emília, Emília...

É agora ou nunca!
Melhor de outro jeito...
Você perde a cabeça brincando
Sua brincadeira sem maionese.
Olhem Emília brincando!

~~*~~

20090204

contato

tava lavando e elentrô, sapateando pé e boca, ô dona moça cê vai tê quiajudá, abre uma porta aí queu sumo já, rápidão, ela de vestido velho e ele sorrindo, a janelaberta, botô no quarto de tralha e não perguntô, ele nem respirava, logo forembora, brigadão, e ela já tinha sonho pra próxima semana inteira, lindo, e ele sumiu na janela e ela continuô lavando

20090201

influenza

desde ontem sua voz me transformou gripado, outro, mas não fujo

Definição:

Another BAD creation: 1. Duas semanas e dois dias de trabalho. 2. Adesivo.