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20081226

Tutte le strade portano a Roma

Três viandantes embocam-se na calçada que, ladrilhada em orla pelo deserto campestre Crono, finda na outra face de sua largura, infinitamente, por um corrimão vermelho e uma vista do mar. Não há relatos geográficos sobre tal transição, tampouco históricos (pois estes sempre chegam por último), mas ali estão os transeuntes, marchando em uma desproporcionalidade que insulta o caminho.

A paisagem em questão é de uma beleza crepuscular. Dois ambientes distintos, separados em bastarda calçada, como se o Sol e a Lua fossem apartados por algum planeta ousado, de menor importância; como o veneno de Romeu e Julieta ou ainda como o chumbo certeiro de John Lennon. E são dispersos.

Um garoto, uma mulher e um homem. Apresentam no olhar e andar um tom de quem está perdido – é possível perder-se numa estrada de mão única?, e não parecem conhecidos. O garoto, maravilhado com a visagem, põe-se a caçar lagartas no deserto campestre, aquela imensidão verde, e se arrasta pelo mato, sem dar importância às outras duas pessoas. A mulher, como é de se esperar, apóia as duas mãos sobre o corrimão e olha o mar azul como se não houvesse nada mais interessante para fazer. O homem segue em frente.

A mulher pergunta ao homem onde estamos?, e o homem volta-se para ela, olha de cima a baixo, e responde não sei, mas eu acho que deve ser coisa do destino. Ela sorri e encurva a cabeça brilhante, roçando o solo com um dos pés. O menino continua se arrastando pelo campo.

O homem olha para o campo e pergunta ao garoto o que faz aí?, e o garoto grita sem olhar para quem caçando lagartixas!, e não interrompe seus fazeres. O homem sorri, mas não sabe bem como proceder – continua em frente pela calçada ou não? A mulher volta a olhar o mar.

O menino levanta-se com algo na mão, olha para os dois lados e, no momento em que o homem decide seguir em frente, atira, vivo, um pequeno réptil nos cabelos da mulher, que se rebate em berros a procura de seu invasor. Socorro, socorro e o homem pula em cima dela e começa a ajudar, e é ele que consegue divorciar a mulher da lagartixa sapeca, e arremessa-la ao mar. O menino ri, a mulher se conserta e o homem volta-se para ela.

Você está bem?, estou, vem que eu te levanto, pronto, aqui, obrigada. O menino pára de rir e começa a caçar algo maior. A mulher tem novamente as duas mãos apoiadas sobre o corrimão, o homem diz sim oh, sim, e ela concorda. Os dois se apaixonam, amor à primeira vista, ela diz eu te amo, ele só ri, e os eles decidem criar e educar o garoto, porque isso tudo é coisa do destino ou de alguém maior que eles, com dez dedos e unhas sujas. Eles são supostos a fazer isso. Viver. Está decidido, eles vão se amar, os três, e estão todos felizes com isso.

Mas uma pergunta ainda existe.

20081224

Uma náu neologista

Na domingueira que antecede a semana santa, e me perdoem as minúsculas, a gravidez das palavras descrevia um círculo miúdo tornado oblíquo em minhas pernas cafuzas. A catinga que emanava da sala quadrada, dessas cubículas, bem branquinhas, bem branquinhas, cantava em fedores mornos e se fundia ao calor numa perfeita imitação da valsa um-dois-três.


Minhas pernas abertas, ainda em valsa, permitiam à lubrificosa melhor visão do mundo, pois assim ele me disse para ficar. Arreganhada, então, deitada, sentia as pulsadas da coisa que se avolumava dentro de mim; dentro para fora, dentro para fora. A dor mudou o nome da lubrificosa, e ela sangrava como o vinho das taças ricas de minha sinhá.


O movimento contínuo, os olhos daquele que segurava minha mão apertativa, e os gritos e gemidos de uma pobre mulher que não soube amar como devia, tudo isso naquela noite quente de domingueira, que mudaria minha vida para sempre.

- Mais forte, respirava.
- Mais força, respirei.
- quase lá, quase lá.

E mais forte a pulsada me carregava a dores senhoras, e mais forte e alto gemia minha alma. E minha ossada se avermelhou e cantava em coro, e um grande boi me apareceu nas vistas. O chifrudo fumava um charuto bem grosso, e grossa era a coisa que relutava em me deixar pazigüada, arrebatando jorradas de meu sangue.


Com desavenças, tapas aqui e tapas lá, motorei o tato, espremi a barriga e contorci o cangote, em busca de algo que me levasse embora dali. Lambuzadas de sangue, minhas pernas pintavam abstratas os lençóis desalinhados daquele colchonete. A dor não cessava. Pensei na minha mãe, e em tudo que ela havia me ensinado sobre os homens. A velha mulher me dava as lições mais valorosas já ignoradas por alguém, e ainda lavava a louça como ninguém. E ninguém e alguém, neste contexto, são a mesma pessoa. Ou a mesma não-pessoa. Pensei em toda a minha vida, mas nada me arrebatava aquela sensação que tomava forma dentro de mim, e me machucava as entradas.

O choro me subiu aos ouvidos, e eu deitei de lado, exausta. Quase sorrindo.

- é menino.

20081222

ROSA
ARROZ ROSA
ARROZ ROZA
AROROZA DELA PINICA O MINTO