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20130301

Foi um sonho relativamente longo.

Eu sei que sonhos não são realmente mais longos ou mais curtos, sei que eles só duram alguns segundos e que, se parecem se estender por horas, é só porque essa é a impressão que deixam em nosso cérebro, mas, dentro dessa concepção muito específica de duração, que só se aplica aos sonhos, aos delírios e à vida, esse foi um sonho relativamente longo. Eu me lembro do tato, me lembro perfeitamente do som, mas não me lembro de muitas imagens: apenas do cigarro e do fogo.
Seria melhor se eu estivesse em um gramado sombreado por árvores ou em um banquinho à margem de algum rio, mas não havia cenário, não havia companhia, não havia horizonte; apenas o cigarro e o fogo. O cigarro queimava devagar. Estava na minha mão e eu sentia o papel e a palha dentro dele (não havia filtro, não era um cigarro fabricado. Também não havia o fedor de cigarro, mas um cheiro como o de pinhas na lareira.) e sentia um calor fraco nos dedos. Ele fazia o ruído baixinho e eterno de uma fogueira pequena --- o crecrec confortável, quente e ameaçador das coisas que queimam sem pressa ---, mais intenso quando eu tragava e sua luz aumentava e o papel se incendiava minusculamente entre meus dedos, mais fraco nos intervalos, quando eu me distraía e ele podia respirar.
Provavelmente, havia algo ao meu redor, algum estímulo visual qualquer, talvez vozes. Provavelmente, se eu conheço meus sonhos, havia mais gente, comigo.
Mas eu me lembro do cheiro, do tato e do som e da imagem do cigarro e do fogo, apenas.

20100505

"Phud" ausente

"Beterrabas novamente?"
"Só plantadas, mas são poucas."
"B'oh." [com os lábios]
"Deveriam ser mais, mas..."
"...não trabalhamos."
"Até que sim, mas..."
"...não trabalhamos."
"Ara que eu estava..."
"...não trabalhando."
"...arando..."
"...não o trabalho."
"...tabaco..."
"...só a diversão."

20100502

Agee - "O que poderia ter dado na telha"

Dois meeiros: vestem macacões surrados e camisas de algodão branco. Ambos têm menos de quarenta anos:

Old McKernel: 32, chapéu largo.
Buddy Horace: 36, bigode juvenil.

Eles dividem um quarto de uma casa.

A casa fica em uma cidade.

Na verdade, deixaram de ser meeiros, mas mantém o costume.

Tradicionalmente se vestem assim.

Não plantam nada: recebem dinheiro para compras em supermercados quase diariamente.

Dinheiro é entregue pelo correio.

Com eles vive um homem de cinqüenta anos.

Ele trabalha em uma tabacaria.

Especialista em charutos.

Old McKernel sabe plantar folhas de tabaco como ninguém, mas o solo do quintal mostra-se progressivamente mais infrutífero.

Buddy Horace pratica pandeiro.

Quem cozinha para os dois é “Phud”, o tabaqueiro.

Ele é o dono da casa. Suas roupas são mais modernas do que se esperaria de um homem de cinqüenta anos.

Que trabalha em uma tabacaria.

Sua filha, Georgette, mudou-se para Buenos Aires há pouco tempo: não conheceu ainda os meeiros.

Na verdade, quem mais interage com os dois é o irmão de “Phud”, Don, de 65 anos. Ele é professor de artes.

Uma questão atormenta Buddy Horace profundamente: ele não gosta de Old McKernel, que teria desvirginado sua esposa uma semana antes do casamento.

O casamento foi anulado, e Buddy Horace ficou muito triste.

Buddy Horace empurra Old McKernel para o meio da rua num dia desses.

McKernel, obviamente, não morre nem nada: um carro vinha mas desviou.

Quem mais se emputece é o motorista.

20090826

para se filmar com uma modelo escandinava

Joana triste, olha para baixo.
Uma mão masculina lhe oferece um cigarro. Joana olha(brava/birrenta) para o dono da mão e então abocanha a ponta do cigarro com seus dentes; olha novamente para seu dono antes de fechar os lábios em volta do filtro. A mão masculina risca um fósforo na cara de Joana e acende o cigarro. Joana dá um trago e arrota a fumaça em direção ao seu dono, que ri fora do quadro. Joana desvia seu olhar (tristonho) para o lado oposto, deixando a fumaça fina recobrir seu rosto.