20140131
Especialização
20130309
janela - ponderações a respeito de alguém a quem chamarei de P.
eu sei justamente porque vi quando vocês apagaram as luzes, uma a uma, enquanto olhavam desconfiados pra minha janela. que bosta essas janelas.
eu realmente não me importo, e é provável que eu nem ficasse olhando pra sua janela.
mas e se a minha janela estivesse fechada?
se você não pudesse de fato ver que eu te via?
será que você teria apagado as luzes - uma a uma, gesto muito mais interessante que qualquer outro que possa ter acontecido depois, com aqueles re-enquadramentos audaciosos e quebracabeçantes.
e se não tivesse, você, apagado as luzes, com aqueles olhares e risadas irritadas de me ver assim tão indiscretamente na sua janela, o que eu teria feito?
se eu estivesse, de fato, com minha janela fechada, mas podendo lhe olhar, e você deixasse as luzes acesas. eu teria olhado? teria fugido? teria me embrenhado mais ainda nos meus tiros-laseres de sábado-à-tarde?
eu nunca fechei a minha janela.
malditos arquitetos.
20121126
Ao longo de uma música
20110314
Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu
O trono só estava um pouco sujo, um pouco mais sujo do que o mínimo que eu achava que era necessário para que alguém pudesse ver alguma poeira da distância a que ficavam em geral.... mas não deu outra, e justamente por isso eu fui levantado pelos cabelos:
- A troco de quê você sujou o trono, Ram-Tsa-Ka?!
- Mas eu não sujei, de modo algum, não!...
Me jogaram para fora do palácio, junto com minha bolsa e uns outros pertences espalhados, mas bem nessa hora o faraó estava voltando da guerra. Fui envolvido na felicidade geral e abraçado tão forte, mas tão forte pelo próprio filho do faraó que acabei ficando ali mesmo. No meio do caminho eu dancei, enfim, na verdade todos nós dançamos muito, eu só dancei porque todos dançavam e justamente a filha do faraó também começou a me puxar uns passos, sorrindo. Puxa, que sorriso charmoso ela tem! Me senti querido, bem querido!
- Viva!
- Viva!
- Viva!
Fiquei tão feliz que fui obrigado a quebrar o coro e confidenciei a ela:
- E eu, que na hora exata da festa estava sendo atirado para fora do palácio...
Ela me sorriu ainda mais desenfreada, dando uns pulinhos ritmados. Fiquei com a impressão de que não me ouvira e acabei repetindo, também eu sacudindo um pouco mais:
- E eu, que na hora exata da festa estava sendo atirado para fora do palácio!
Não só o sorriso continuou como seus olhos viraram para mim com uma doçura que nunca pensei que experimentaria, vindo de onde venho! E sacolejamos, dançamos e fomos seguindo, diria que até cada vez mais próximos...que beleza!
Mas como sempre acontece, meu outro lado do espírito começou a levantar suspeitas. Havia algo de emboscada nisso tudo, algo nos salamaleques que a impediam de naquele momento exato agir, mas o que me garantiria a vida e o emprego, quando terminasse a festança? Assaltaram-me dúvidas atrozes sobre tudo à minha volta, uma infelicidade que foi só crescendo conforme avançávamos palácio adentro na batucada.
Puxa, como eu fui infeliz nas horas e nos dias seguintes... Eu berrava, eu me esgoelava enquanto os banquetes e mais banquetes continuavam, enfim, “Eu estava sendo atirado para fora do palácio!”, “Viu?! Para fora!”, eu agarra qualquer um pelas mangas, e não importava, todo mundo ali pulava e eu logo ficava feliz de novo por uns instantes. E quem diria, também a filha do faraó continuava sorrindo e com os olhos ali para mim, dançando, dançando...ai, ai...até eu mesmo botei meu pé em cima do trono e sacolejei, rebolei, o escambau, deixei uma pegada e ninguém se importou! O medo, o medo!
E aconteceu que a festa não terminou mesmo. Enquanto duramos eu, a filha, o faraó e mais as figuras importantes do governo, ficamos ali pulando e acho que até fizemos sexo. Pois é, acho que até me diverti.
20100913
Lívia sentiu nojo, lógico. Ela ficou brava e quando ele chegava, ela fingia que estava ouvindo o ipod ou lendo um artigo muito longo e difícil, alguma coisa sobre farmacologia, com palavras grandes e então ela não o cumprimentava nem olhava para o lado que era para não mirar o nariz naquele cheiro todo de pinto, pau, de coisa suja.
Mas não adiantava muito (não adiantava nada), porque ela ainda tinha que passar o dia inteiro lá e aquele cheiro vinha que nem um miasma sufocante, uma fumaça contagiante, uma coisa degradante, mesmo. Porra. Cheiro de sovaco, de suor, de cu, tudo isso ela já tinha agüentado e agüentava, mas cheiro de pau era demais e ela tinha que ficar lá, afogada naquilo, como se respirando a pica dele, tomando banho de pica dele.
E é claro que o tempo todo que ela ficava lá, ela não conseguia pensar em nada que não fosse o pau dele. Durante cada segundo do expediente, ela mantinha plena consciência de que o pau dele estava lá, ao alcance do braço, da mão, do que mais fosse. Era que nem, sei lá, ser lembrada o tempo todo de que ele era bicho macho, de que ele tinha o que era preciso para o sexo ali, pertinho, tão pertinho que saía dele, mesmo, e já penetrava nela mesmo que pelas narinas. Pelos poros.
Foi uma semana, só, de asco e depois virou obsessão. Ou melhor era ser claro e dizer: tesão. Não chegava e nem podia
Chegar a ser paixão. Mas era algo perto, que é a perda da razão. Hormônios, talvez, feromônios ou seja lá como chamam essas coisas que se vendem na internet e que de repente podiam ser substituídas por um cheiro forte não de pinto, mas de hombridade, de masculinidade. Nada a ver, também, com sexismo, mas com algo muito anterior e mais inocente do que isso.
Ele chegava e, junto com o cheiro, vinham a ela as imagens que ela imaginava do pau dele, sempre grande e suado, sempre pós-coito, os fluidos dele e dela (sim, dela) escorridos all along, os cheiros agora misturados.
Um dia, quando não dava mais, ela esperou ele levantar, ir até o banheiro e foi também, ligando pouco para alguém que estivesse vendo. Fechou a cabine e os dois ali, ele meio assustado, mas não disse nada enquanto ela tirou sua camisa (a dela) e sua calça (a dele) e agarrou aquela cueca de cheiro forte, que ela esperava suada.
E aí, aquele tamanho médio, aquela limpeza toda, a decepção de uma foda normal, ainda com o desconforto e o aperto da cabine do banheiro.
20100825
Na Câmara Federal, uma longa discussão
20100510
20100421
Matemática
20100313
Маленкие Боги
20100226
Humor branco
20100221
Spring
"Vamos, coragem."
Abriu os olhos e voltou-se para trás: um senhor examinava-o, interessado. Mantinha-se longe, mas aproximava-se, lenta e senoidicamente. Sem entender a intenção daquela pessoa (e sem querer entendê-la), o rapaz cerrou os olhos novamente e voltou a esquecer-se no pôr-do-sol; custara muito a conseguir aquela fuga para deixar-se perturbar tão facilmente.
"Você consegue."
Olhou para trás novamente: o senhor parara. Perto dele, porém, começavam a juntar-se algumas pessoas. O senhor demonstrava grande interesse pelo rapaz; as pessoas, naturalmente curiosas, assistiam à cena.
"Vai lá!"
As pessoas assistiam a cena. O interesse espalhara-se; todos queriam estimular o rapaz – a quê, ele não sabia. Perplexo com toda aquela situação, voltou a olhar a paisagem. Mas era impossível ignorar o que acontecia atrás dele. A multidão crescia e aproximava-se; mais e mais pessoas encorajavam-no a fazer aquilo que esperavam que ele fizesse.
"Não me decepcione!"
Decepcionar? Em quê‽ O que querem que eu faça? Isso começava a assustá-lo. O rapaz girou o corpo, a fim de descer do parapeito. As pessoas, já bem próximas, mostraram um quê de irritação.
"Não vamos deixar que você desista!"
Estavam interessadas demais no rapaz, no que ele faria ou deixaria de fazer. O que significava aquilo, afinal? Aprende-se desde pequeno que não se deve mostrar interesse por estranhos – deve-se cuspir, esbarrar e desprezar. E, claro, desculpar-se depois, sorrindo. Mas devo estar fazendo algo muito certo para merecer isso: motivavam-no, aplaudiam-no, admiravam-no, apaixonadas.
"Nada disso, meu filho."
Mesmo entre toda aquela gente, o senhor realmente se destacava: tinha no rapaz um interesse especial, que não conseguia se definir entre carinho e compaixão, mas que chegava a ser até inspirador; olhava para ele como se olha para um namorado, ou para um doente terminal.
"Filho, sabemos como você se sente, como você teve de abrir mão de tudo, deixar tudo para trás para vir até aqui. Sabemos que você estava desesperado, e que não tinha escolha. Compartilhamos seu sentimento, e, se não estamos com você, é por covardia e não sabedoria. Mas não é por esse motivo que vamos deixar que você desista de fazer o que está aqui para fazer. Tudo de que você precisa é uma pequena força."
Agora, isso sim era um alívio. Não sei o que eles querem, e eles compartilham meu sentimento! O rapaz resolveu que era melhor tentar voltar-se para o que restava de pôr-do-sol e recuperar sua pequena escapada. Mas era impossível: apesar de seus esforços para ignorá-lo, o quê solidificara-se, estabelecera-se, ganhara força. As pessoas estavam determinadas a encorajar o rapaz até o fim, até que ele fizesse o que elas estavam ali para vê-lo fazer. Ao ver que ele talvez não o fizesse, elas enraiveceram-se. O senhor estava particularmente desapontado – tinha grande esperança no rapaz.
O rapaz estava, sem qualquer brilho de dúvida, condenado: ou fazia de vez o que queriam que ele fizesse, ou fazia de vez o que queriam que ele fizesse. Mas era improvável que ele descobrisse o que queriam dele; logo, seria forçado a fazê-lo. E nada jamais apagaria de sua memória a expectativarrevoltadecepção estampada no rosto daquelas pessoas.
Insinuo-me então no mirante, por entre a multidão, chego mais perto que o senhor, que começara o que ali acontecia; empurro o rapaz pelas costas, dou a ele a força de que precisava, e o livro de sua vergonha.
Aplausos.
20091220
Ум титуло
лолшут.
20091217
Como nos contou Torecotawani
Numa floresta, o Lenhador Preocupado e o Pescador Honesto. Pescador Honesto fora eleito Chefe do Condado na tribuna há dois dias. A Festa da Pêra é sua responsabilidade. A Pereira De Ouro encontra-se duas verstas à frente. Dialogam:
LENHADOR: Tenho quatro maçãs e se quiseres pêras poderia conseguir algumas.
PESCADOR: Gosto de pêras.
LENHADOR: Eu poderia conseguir algumas, mas com quatro maçãs em minhas mãos seria muito difícil carregá-las.
PESCADOR: Gosto de maçãs - dê-me duas que eu as seguro ou mesmo as como enquanto buscas as pêras.
LENHADOR: Mas estas maçãs estão prometidas ao meu amigo Confeiteiro.
PESCADOR: Não tem problema, não as comerei, portanto.
LENHADOR: Mas e se não conseguires resistir à tentação?
PESCADOR: Darei um jeito de repor aquela perdida, pois.
LENHADOR: Se não resistires, a responsabilidade pela falta de uma maçã seria minha também, mas antes seria sua; teria que aplicar-lhe uma punição. Defino que a punição seria não conseguir pêras.
PESCADOR: Justo. Mas garanto não me descontrolar.
LENHADOR: Prometes o que não podes cumprir. Sendo assim, o melhor a fazer é simplesmente não ir atrás das pêras; economiza-se esforço assim e impede-se que uma das maçãs seja devorada. O senhor há de conseguir pêras em outras paragens.
Secretamente, o lenhador havia podado todas as demais árvores além da Pereira de Ouro.
20091113
Nu pogodi, caipira manquitola! (ou algo como um dia foi "krighabandolo", só que ao contrário.)
Vida familiar : )
Realmente funciona...o papel aluminio nao faísca, não tem perigo...meu marido não queria deixar eu tentar, mas depois resolvemos ver no que dava...
Valeu pela dica!!!
20090906
Eu tinha vinte e sete anos
Passamos vinte e dois dias perfeitos naquele julho, e foi num sábado que marcamos um churrasco no térreo do prédio dele. Eu estava falando com umas amigas sobre qualquer coisa, mas fui buscar uma caipirinha e ouvi ele comentar sobre política com uns colegas de trabalho. Foi quando eu descobri que ele votava no Partido Amarelo.
Durante dezenove anos, nós ficamos juntos – eu sempre tentando evitar assuntos relacionados à política quando estava com ele. Uma hora, simplesmente não deu mais.