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20110621

Escrever romances

Uma das piores coisas que pode acontecer a uma pessoa é que ela resolva, seja lá por que for, escrever um romance. Eu me considero razoavelmente no direito de dizer isso, porque desde que ganhei o meu primeiro computador e, na verdade, mesmo antes, eu escrevo romances, a maioria dos quais, é claro, não passa das primeiras páginas frustrantes, mas alguns alcançando lá algum volume ou até, no caso de pelo menos um deles, chegando a se dar por pronto: é um horror.
Um horror, porque é terrível você usar mais páginas do que o necessário para contar qualquer coisa e acredito que um romance seja exatamente isto: algo com mais páginas do que o absolutamente necessário. Não é possível ou não me parece possível que uma ideia, não importa quão elaborada ou complexa, demande cem, duzentas ou mil páginas para ser transmitida. Se demanda, com todo o respeito, é porque ela não está sendo bem transmitida, mas não creio que seja isso o que ocorre na maioria dos casos; creio que seja uma ambição desmesurada ou a arrogância de achar que as pessoas estarão minimamente interessadas em ler páginas sem fim de recheio (e é isso o que compõe a maior parte dos romances). E, é claro, volta e meia me surgem ideias que demandam suas cinquenta mil palavras, por vezes menos, por vezes mais, e eu me convenço de que a história não será contada ou não será devidamente contada se não tiver páginas e páginas desse maldito miolo, isso é, de algo que dê ligação aos breves momentos que realmente são essenciais no que estou contando (se é que algo é realmente essencial em qualquer coisa que eu conte ou que se conte, inclusive).
Também é verdade que eu me preocupo excessivamente, talvez a ponto de me prejudicar ou boicotar, com o eventual interesse de alguém em cada coisa que eu escrevo, mas não se deixem enganar, que isso não me impede nem motiva nem norteia, é só algo que me ocorre ocasionalmente, algo como O que diabos eu estou acrescentando ao dizer isso? e eu nem sei dizer a que exatamente me refiro ou se o intento é acrescentar ao texto, a mim, a alguém específico, ao mundo etc, mas parece importante haver algum questionamento, ainda mais quando se está embrenhado até o pescoço em uma batalha perdida contra as páginas e páginas de não-progresso, de irrelevância, de recheio etc. (A conclusão, em geral, é a de que sim, acrescento.)
Mas é terrível, de qualquer forma. É terrível controlar o quanto se fala a cada momento, decidir quando se deve acabar uma frase, um parágrafo, um capítulo, quando se deve pular o tempo e adiantar os fatos e, decidido isso, é terrível determinar até que ponto os fatos devem ser adiantados. Conduzir a história não é exatamente difícil, porque a dificuldade pressupõe, me parece, a possibilidade de falha, mas é enfadonho, é desgastante, é até um pouco atormentador. É preciso, de fato, ter fôlego, e eu sou asmático demais e desatento demais e Deus me livre.

20110608

(...)

The first song they played was a composition of their own and lasted two minutes and forty seven seconds. In these two minutes, Laika wouldn’t be able to write an e-mail, pay a bill or drink a pint of beer, but they were enough for a music to make her cry.