dirigia pra casa numa madrugada qualquer quando me botei a pensar (eu tinha assistido recentemente a um filme que falava de freud e coisas do tipo, e estava um pouco confuso) me botei a pensar que a gente, ou pelo menos eu, raramente sinto que eu posso algo; o sentimento só existe quando eu não posso fazer alguma coisa - por incapacidade física, ou força das circunstâncias.
tenho a mais absoluta certeza que isso é um fato já conhecido e exaustivamente estudado por uma miríade de senhores e senhoras muito mais competentes do que eu, de forma que não quero aqui me colocar como um grande sábio nem nada do tipo...
mas passei a pensar, por exemplo, a respeito do modo como eu dirijo: completamente repreensível, ainda mais de madrugada, ainda mais quando sob força de pressões das mais variadas formas (o tempo, um compromisso, o sono, etc. etc.) e em como eu quase nunca sou parado nas ruas. eu, rapaz de figura quase decente, acima de tudo branco e guiando aquele carro japonês. me ocorreu então o óbvio, que eu posso mais do que outras pessoas, em outras circunstâncias (e, evidentemente, não posso tanto quanto outras, em circunstâncias ainda diferentes das duas primeiras).
isso me pareceu errado, absurdamente errado.
a minha formação de caráter (caractere, character, charque) se dá, acima de tudo, por um constante tatear de limites, do espaço estreito entre poder e não poder.
essa desigualdade [social, que se reflete] no campo das escolhas e das possibilidades gera inúmeras aberrações de personalidade (caráter) na sociedade; tanto o excesso de poderes quanto o excesso de não poderes deforma o cidadão.
e isso é (também) violência.
violência pra caralho, quando você para pra pensar.
.
.
.
então eu decidi abandonar minha vida, queimar meus pertences e rumar sem nome.
a partir de hoje, vou me dedicar a caçar todas as Aberrações que eu encontrar pela frente.
porque nenhum homiciodiozinho pode ser comparável a tamanha violência...
né?
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20110919
renascença cristã no burburinho
Duas pessoas sentadas são essencialmente um conluio, conspiração - ainda que não saibam. Adicionando-se álcool, os acordos & planos se tornam ainda mais confusos & ainda mais ambiciosos (em toda a acepção dessa palavra) & de repente toda palavra (toda sílaba!) tem dezesseis degraus de significação, cada fonema saindo da minha boca tem uma nuance secreta que flutua como nota musical mecânica que abre cofres hi-tech. Toda palavra é um abre-te-sésamo, podemos dizer, mas as portas estão todas invisíveis & são iguais & não se sabe para onde levam.
Aí eu levanto e vou ao banheiro e deixo ela sentada esperando porque sinceramente eu não faço mais idéia do que tou dizendo e no banheiro lambuzado de espelhos eu me olho totalmente vestido e penso em me masturbar mas lembro da minha regra - masturbação em banheiros, só na escola, só quando tiver pelo menos outra pessoa na cabine ao lado (e aqui nem tem cabine ao lado) então desisto e só vomito no chão todo e saio.
(é bom lembrar que contrariando a opinião popular o álcool não muda quem você é & sim quem os outros são & por isso existem pessoas que ficam muito melhores depois da cachaça & existem pessoas que ficam piores & existem pessoas que ficam outras mas ainda assim.)
Quando eu chego a conta já foi paga e alguém levou a outra cadeira embora, nada na mesa, só um copo tombado, meio triste, mas é a vida, o bar totalmente lotado e pulsante e irritante e barulhento e vivo (isso é negativo) tremendo em um ponto só que nem um beija-flor balançante ou um átomo vibrante e televisões por todos os lados silenciosas como se estivessem mortas, e aí você vira e passa pela primeira pessoa que vê (uma mulher falando no telefone na porta do bar, na verdade escutando alguém falar) e simplesmente agarra, com as mãos e a boca, e o gosto de cigarro mais do que a língua (mas a língua vem) é a experiência (muito mais agradável do que se imaginaria, caso você não fosse fumante), desisto em uns 15s e a mulher me olha meio feio, saio de lá por uma fresta.
E então não há resposta nenhuma, claro, não se deve esperar respostas nem narrativa, frustração garantida, só alguns passos ruabaixo ou acima, no horizonte alguns robôs dançam lenta e languidamente algum tango desfiado. Não é nem mesmo possível imaginar uma casa agora.
Aí eu levanto e vou ao banheiro e deixo ela sentada esperando porque sinceramente eu não faço mais idéia do que tou dizendo e no banheiro lambuzado de espelhos eu me olho totalmente vestido e penso em me masturbar mas lembro da minha regra - masturbação em banheiros, só na escola, só quando tiver pelo menos outra pessoa na cabine ao lado (e aqui nem tem cabine ao lado) então desisto e só vomito no chão todo e saio.
(é bom lembrar que contrariando a opinião popular o álcool não muda quem você é & sim quem os outros são & por isso existem pessoas que ficam muito melhores depois da cachaça & existem pessoas que ficam piores & existem pessoas que ficam outras mas ainda assim.)
Quando eu chego a conta já foi paga e alguém levou a outra cadeira embora, nada na mesa, só um copo tombado, meio triste, mas é a vida, o bar totalmente lotado e pulsante e irritante e barulhento e vivo (isso é negativo) tremendo em um ponto só que nem um beija-flor balançante ou um átomo vibrante e televisões por todos os lados silenciosas como se estivessem mortas, e aí você vira e passa pela primeira pessoa que vê (uma mulher falando no telefone na porta do bar, na verdade escutando alguém falar) e simplesmente agarra, com as mãos e a boca, e o gosto de cigarro mais do que a língua (mas a língua vem) é a experiência (muito mais agradável do que se imaginaria, caso você não fosse fumante), desisto em uns 15s e a mulher me olha meio feio, saio de lá por uma fresta.
E então não há resposta nenhuma, claro, não se deve esperar respostas nem narrativa, frustração garantida, só alguns passos ruabaixo ou acima, no horizonte alguns robôs dançam lenta e languidamente algum tango desfiado. Não é nem mesmo possível imaginar uma casa agora.
20100118
Un homme n'âge à: la chanson, les cigarrettes et la sexualité humaine.
Uma linda menina assiste televisão e aprende coisas sobre cigarro, amor, masculinidade e cordas vocais.
isto é:
canção,
classe média,
H.Chiurciu,
mudança,
MULHERES,
sexo,
vauldeville,
vídeo
20090525
DELÍRIOS DA CLASSE PODRE - feminismos de butick e piadas de descarga
O cinema nacional tem uma característica muito clara: ele é como que baseado no social, seja pelo lado bom ou pelo lado ruim. O lado bom da base social do nosso, digamos, "cinema nacional" (não acredito nessa 'unidade', que acho necessária para um país se constituir como uma nação que pode, talvez, definir um cinema próprio dela mesma e acho que o brasil não tem) é que ele espõe mazelas - os podres, por assim dizer - que os anos e anos de escravidão - voltando muito no tempo, mas o que me parece preciso nesses instantes - e exploração do povo trouxe, e geralmente, a tela do cinema vem como que um CARIMBO pra autenticar que essa mazela existe e deve ser sarada.
O lado ruim acho que está explícito: vende pelo mundo afora que somos um país subdesenvolvido, de terceiro mundo sub-saariano, uma republiqueta de bananas corrupta em que só os negrinhos do morro tem poder. Um erro grave, ao meu modo do ver. Nósso país não é isso, está longe de ser só isso, São Paulo é uma metrópole de fazer inveja às européias (em Paris, quando estive lá, vi que todos os restaurantes fecham às onze horas - situação impossível na capital paulista, coração econômico). Esse é o lado que não é mostrado no geral.
Com muita satisfação o público recebe então um filme como "Divã", ad priori. Como que uma forma de de-sufocar o 'cinema nacional' (que com raras excesções, como essa e talvez a linha Renato Aragão, Xuxa, etc. e o fenômeno Se Eu Fosse Você) tirando do universo da favela-morro, a trama que concatena as cenas; é uma forma de trazer para as telas a classe média, média-alta.
Lília Cabral é uma mulher de meia idade, classe média, meio feliz, meio triste, cujo casamento vai bem nas aparências e no consciente dela mesma, mas que esconde, no subconsciente, uma grande insatisfação.
Temas-tabus, chocantes, são abordados de um modo muito saudável que parece querer deixar tudo em pratos limpos também no mundo do público-alvo (justamente as mulheres de meia idade). Masturbação é discutida, ela fala sem grandes constrangimentos, e transforma em piada o desconforto que isso causa em certas mulheres e em outras. Lília Cabral se masturba pensando em Mel Gibson (índice de nossa dependência imperialista: por que não colocar que a personagem se masturba pensando em Herson Capri, em Marcos Palmeira?) , e sua amiga que estranha um pouco as liberdades da amiga, ao final, morre. Mas não é uma morte punitiva, é uma morte bonita, mais uma forma de aceitar as coisas da vida. Tudo isso acompanhado da figura-chave: o analista.
O analista-espectador (e é aqui que está o pulo do gato: somos nós os analistas, que assistimos á vida da protagonista, pelo olhar filtrado, é claro, mas nós que analisamos e pensamos sobre ela), que sabiamente não aparece em quadro (apenas em uma brincadeirinha final) faz com que Lília Cabral se modifique aos poucos, libertando-se das amarras de sua condição de boa-esposa-classe média. Ela fuma maconha, em ato não-condenado, ela tem um caso -enquanto é casada - com um rapaz mais jovem (o sempre galã Reynaldo Gianechinni), não tem medo de ser vaidoza.
Tudo seria uma amostra de avanços na mentalidade cinematográfica do cineasta brasileiro: sem pretensões de crítica social, mostra uma mulher realmente moderna, e sem que seja criticada por isos, e sim feliz, uma "diva (~)". Mas e qual o sentido verdadeiro do filme?
O público das salas não ri das piadas que são realmente engraçadas. O que chama a atenção e o que faz o público-alvo gargalhar é Lília Cabral fingindo estar corcunda na balada, ela pulando gritando "Tô na vibe!" ou parecendo estar se masturbando (novamente) na cabine do banheiro.
Será que o público então não percebe os verdadeiros avanços e ri das piadas de descarga? Será que todo o progressivismo do filme passará por um simples desfile de roupas classe-média de boutick barata? Temo ser esse o destino deste filme de nossa cinematografia. Se assim for...qual o sentido?
O lado ruim acho que está explícito: vende pelo mundo afora que somos um país subdesenvolvido, de terceiro mundo sub-saariano, uma republiqueta de bananas corrupta em que só os negrinhos do morro tem poder. Um erro grave, ao meu modo do ver. Nósso país não é isso, está longe de ser só isso, São Paulo é uma metrópole de fazer inveja às européias (em Paris, quando estive lá, vi que todos os restaurantes fecham às onze horas - situação impossível na capital paulista, coração econômico). Esse é o lado que não é mostrado no geral.
Com muita satisfação o público recebe então um filme como "Divã", ad priori. Como que uma forma de de-sufocar o 'cinema nacional' (que com raras excesções, como essa e talvez a linha Renato Aragão, Xuxa, etc. e o fenômeno Se Eu Fosse Você) tirando do universo da favela-morro, a trama que concatena as cenas; é uma forma de trazer para as telas a classe média, média-alta.
Lília Cabral é uma mulher de meia idade, classe média, meio feliz, meio triste, cujo casamento vai bem nas aparências e no consciente dela mesma, mas que esconde, no subconsciente, uma grande insatisfação.
Temas-tabus, chocantes, são abordados de um modo muito saudável que parece querer deixar tudo em pratos limpos também no mundo do público-alvo (justamente as mulheres de meia idade). Masturbação é discutida, ela fala sem grandes constrangimentos, e transforma em piada o desconforto que isso causa em certas mulheres e em outras. Lília Cabral se masturba pensando em Mel Gibson (índice de nossa dependência imperialista: por que não colocar que a personagem se masturba pensando em Herson Capri, em Marcos Palmeira?) , e sua amiga que estranha um pouco as liberdades da amiga, ao final, morre. Mas não é uma morte punitiva, é uma morte bonita, mais uma forma de aceitar as coisas da vida. Tudo isso acompanhado da figura-chave: o analista.
O analista-espectador (e é aqui que está o pulo do gato: somos nós os analistas, que assistimos á vida da protagonista, pelo olhar filtrado, é claro, mas nós que analisamos e pensamos sobre ela), que sabiamente não aparece em quadro (apenas em uma brincadeirinha final) faz com que Lília Cabral se modifique aos poucos, libertando-se das amarras de sua condição de boa-esposa-classe média. Ela fuma maconha, em ato não-condenado, ela tem um caso -enquanto é casada - com um rapaz mais jovem (o sempre galã Reynaldo Gianechinni), não tem medo de ser vaidoza.
Tudo seria uma amostra de avanços na mentalidade cinematográfica do cineasta brasileiro: sem pretensões de crítica social, mostra uma mulher realmente moderna, e sem que seja criticada por isos, e sim feliz, uma "diva (~)". Mas e qual o sentido verdadeiro do filme?
O público das salas não ri das piadas que são realmente engraçadas. O que chama a atenção e o que faz o público-alvo gargalhar é Lília Cabral fingindo estar corcunda na balada, ela pulando gritando "Tô na vibe!" ou parecendo estar se masturbando (novamente) na cabine do banheiro.
Será que o público então não percebe os verdadeiros avanços e ri das piadas de descarga? Será que todo o progressivismo do filme passará por um simples desfile de roupas classe-média de boutick barata? Temo ser esse o destino deste filme de nossa cinematografia. Se assim for...qual o sentido?
isto é:
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