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20121212

hemorróidas por todo o corpo



não aguento mais esse se sentir mal
com o calor com a cadeira com quase tudo
não durmo não penso não
dirijo

consertar o ar do carro
comprar ventilador de teto



20101229

elementos sólidos construídos sob perspectiva euclidiana. o homem atravessava a rua e percebia as faixas de pedestre como paralelas. distraído, um carro de frente o acertou.


na linha do horizonte traçam-se encontros entre todas as outras. as duas surfavam por cima de todas as formas daqueles sólidos geométricos sob perspectiva euclidiana. por trás do grande edifício há outro e outro e uma estrada que se encaminha e árvores, além do céu, e um pedaço de mar. sucediam intercalavam. constantemente afastados, sem bordas de frente ao mar.


pisando na areia todo o mundo se abria em grande angular. as duas mal tinham agora, pra onde correr, mas ensaiavam aproximações. há, abaixo, homens e mulheres de mãos dadas escaldando sobre o sol do meio-dia, em devoção. o que sabiam aqueles homens e mulheres de não traçarem percursos ao se constituírem por meros acasos da vida. a criança tropeça e cai ao correr da onda e o menino ruivo a puxa pela mão, erro de cálculo. há distração.


há também, um porém da desmagnetização da Terra, e a reconstituição do espaço , tão necessária. noutro tempo-lugar, um menino olha o mar, distante. as linhas , forçadas ao retorno reconstituem o mundo e entram pelos dois olhos - há algum encontro interior possível, ou é tudo só imagem? o mundo está pronto e, então, ele perde o interesse.


20101006

Desfeitura

(Retomada de um antigo trabalho, ainda inédito)

Documento de ficção.

A dor da criação, o parto e o aborto das idéias e das matérias. Sonho urbano, captado como se pôde.

20100923

ela

o problema é que ele não estava morto nem nunca estaria, não enquanto ela estivesse viva também, ele só morre quando não existir mais e ainda existe no remorso e prazer dela e nos dedos dela que ele já beijou e nas paredes pelas quais ele já percorreu os dedos tanto tempo atrás e tão pouco tempo atrás, um fantasma em corredores e em televisões e em carros, só quando tudo que ele já tocou e pensou e comeu e amou virar pó e esse pó virar estrela e essa estrela se apagar em escuro ele vai deixar de existir e então vai ter sido ridículo e ineficaz tê-lo matado e é por isso que ela está andando por um corredor e percorrendo sua parede com os seus dedos como quem pensa em porque somos assim e talvez seja nisso que ela está pensando, talvez seja no quanto se arrepende ou talvez não esteja pensando nisso, talvez esteja pensando em não pensar nisso, com toda a força que ela tem, que não é pouca, andando um pouco bêbada e um pouco fora de si mas por isso totalmente si-mesma, mais do que antes, digitando em computadores confissões disfarçadas de imagens, sem nenhuma realidade que não a dela mesma, vendo a si mesma refletida em telas apagadas e acesas, com sons que ela não sabe mais ouvir a não ser a própria voz, ela luta com sua alma, mesmo sem acreditar ter uma, com palavras que não são mais do que eu sou, que são mais do que são, som e sim, ela uma moça bonita de futuro sem futuro, andando por paredes manchadas de velho que não mais, diz-se que não dizendo só uma palavra mas somente todas, coisas que ela já não sabe mais a não ser esquecer, verdade é aquilo que eu já descobri mas não me recordo, ela é pequenas manchas em sólidos não-euclidianos que vagam na velocidade dos sólidos não-euclidianos, mais e menos, ela ama a si mesma tudo o que podemos, ela só um abismo, sem tempo para nada que não nada, sentindo um, ela esquece.

20100901

diálogos (misc)

A: BARULHO barulho BAGULHO (!)
B: where is the love
A: Eu comecei no topo e só decaí desde então.
B: o amor que tu me destes era pouco e se acabou
A: Fui me transformando aos poucos em uma gigantesca lesma sem alma aos seus olhos e então era inevitável que tudo terminasse, para sempre - em um grande teatro.
B: nós não somos mais - totalmente, tragicamente, ternamente.
A: Se você voltar pra mim, eu prometo construir escolas, curar os doentes, libertar os detentos, alimentar os pobres, beijar os bebês.
B: quem é você, diga logo
A: Eu não sei mais, não sei mais não sei agora eu sou só um caminho que não leva a lugar algum, um homem sem irmãos que existe num vazio preto e não branco, sem paz só fim.
B: sussurro surdamente um algoz - nós.
A: Agora eu vou me matar e a culpa vai ser sua.


(um palhaço passa por eles - interlúdio - e entrega uma rosa para a bela moça, sorrindo, ela lhe sorri de volta dentes solares, todo o público engasga o ar pastoso, esperançoso, torcendo pelos seus doppelgangers incompetentes, uma nuvem pesada se retorce parafuso, os pais-sogros sentados já chorando, representação de algo inexprimível - um estampido)

A: Você não se importa nem um pouco e por isso eu não posso fazer nada.
B: vou sendo como posso.
A: Agora não dá mais, caralho, não dá, eu me saio daqui nessinstante e vou pro estrangeiro, sumo, esqueço, escafedo, um dia renasço virgem e feliz. Você, cruel...
B: só... fica.
A: não mais.
B: (beija, acaricia, enlaça) a beleza será convulsiva, ou não será
A:
B:
A:
B:

(um encontro)

B: e sim eu disse sim eu quero Sim.

20100420

ou então:

"rápido, me empresta!"

Mas, porra!: a bicicleta era minha e não dela, e eu sabia que o freio novo e o pneu calibrado e tudo limpinho que demorou o final de semana todinho não ia...

"anda logo!"
"Sobe na garupa, doçura." e ela derretendo seu corpinho na minha ombridade, a gente pedalando, pedalando sem mais ver - fogo, lua, estrada, sangue, minha mão, a sua...

.
Nah, que bobagem.
Não.
Ela foi embora, sim, rebolando aquela saia xadrez linda feito uma máquina de puxa-puxa (que puxa!) em cima do selim, em cima do meu selimmmm...

Arre!, imbecil.

20090906

Eu tinha vinte e sete anos

quando conheci Douglas em uma reunião da minha empresa com alguns clientes. Ele era mais novo e gostava de música clássica e enfiou a mão dentro da minha saia enquanto acariciava minhas coxas no restaurante japonês.
Passamos vinte e dois dias perfeitos naquele julho, e foi num sábado que marcamos um churrasco no térreo do prédio dele. Eu estava falando com umas amigas sobre qualquer coisa, mas fui buscar uma caipirinha e ouvi ele comentar sobre política com uns colegas de trabalho. Foi quando eu descobri que ele votava no Partido Amarelo.
Durante dezenove anos, nós ficamos juntos – eu sempre tentando evitar assuntos relacionados à política quando estava com ele. Uma hora, simplesmente não deu mais.