20150921

mais mais do mesmo

a poesia morreu
vi hoje no jornal
confesso que não a conhecia muito
mas admirava seu trabalho

a poesia morreu
atropelada pelos arroubos juvenis
instrumentalizada por gente
sem nem diploma técnico
em versos....

ou então:
a poesia morreu
afogada pela estabilidade velha
elevada ao inalcançável por gente
de conhecimento e habilidade
inversos.....

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*8*

tive um instrutor de trânsito que me ensinou tudo sobre estética, eu dirigia e ele às vezes exclamava "OLHA A GOSTOSA" e eu nunca tinha percebido gostosa nenhuma então eu ficava procurando o que ele tava apontando e era uma mulher às vezes gostosa mesmo mas na época eu não reparava em ninguém na rua

ele me ensinou a reparar nas pessoas quando estou dirigindo e meu cérebro grita OLHA A GOSTOSA e acho que é dessa forma que olho pros retrovisores e presto atenção no trânsito e paro para os pedestres na faixa pois fui treinado pra procurar gostosas na rua

um dia o instrutor não gritou uma única vez OLHA A GOSTOSA e isso foi depois que eu já havia reprovado no exame uma vez e fui fazer uma aula extra e isso me tocou muito havia algo de errado com ele provavelmente algum problema pessoal ele estava fora de si

cogitei falar um OLHA A GOSTOSA pra ele pra tentar animá-lo mas não consegui invocar a intimidade necessária para isso

tenho certeza que havia muita dor naquele homem pois pela primeira vez me identifiquei com ele de certa forma ele também me ensinou um pouco sobre empatia mas principalmente sobre procurar gente bonita na rua mesmo

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É preciso estar atento ao futuro e à evolução das coisas, é preciso anotar como nos sentimos para que saibamos como as coisas de fato mudaram. Não tanto como História, contexto cultural-social-econômico, mas tenho achado mais e mais importante o exercício de reflexão diária de como eu mesmo me sinto para quem sabe ter uma ideia mais precisa, no futuro, do que passou comigo. Para evitar o saudosismo burro ou talvez para olhar pra trás e pensar: como não pude perceber que eu estava assim, como podia acreditar que estava assado; e terei resquícios materiais para trabalhar. O problema, como sempre, é a autossabotagem: é preciso evitar que o meu eu-presente plante falsas pistas para meu eu-futuro. Será possível?

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há coisas que não devem ser tornadas públicas, nunca.