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20110627

Frejk de Groot, o homem mais desinteressante do mundo


Frejk de Groot, o sujeito mais desinteressante do mundo, nasceu em Flandres durante a guerra dos cem anos, fato perigosamente interessante a ser incluído nesta biografia não autorizada. Até os dez anos de idade, sua principal atividade era ensinar os cachorros do vilarejo a urinar nas frutas expostas nos mercados ou nos tonéis de cerveja mantidos destampados pelos vizinhos menos cuidadosos, dando o sabor amargo que por muito tempo seria confundido com alguma especificidade do armazenamento de Ale de alta fermentação em barris de madeira.
A partir de então, o relato de sua juventude se complica, visto que alguma incerteza entre os historiadores da época resultou em mais de cento e setenta e cinco relatos de suas mortes nos mais variados locais e nas mais distintas datas. Ele teria sido atingido por uma flecha inglesa (EINEBALD, William, Vinte dias para a vitória, 1358) quinze dias depois de morrer torturado por franceses (HINESTEIN, Friedich, Lista de flamengos mortos entre 1350 e 1450, 1454) e sete meses antes de agonizar em chamas durante o incêndio de Limburgo (GARTIER, Pierre, Como ganhamos Vlaanderen, 1818).
O fato chamou a atenção de Henrique de la Nataña, historiador catalão que desenvolvia um estudo sobre a linhagem francesa dos Tissou, especialmente quando ele notou que a totalidade destas mortes ocorreu antes do ano de 1417, data em que Frejk teria matado Guillaume Tissou às margens do rio Demer.
Aprofundando suas pesquisas, o historiador observou que as versões acerca da morte e da vida de de Groot se baseavam em relatórios semi-oficiais registrados pelo condado em que vivia nos anos entre 1400 e 1437. Tomado por uma feliz epifania, Henrique imediatamente apagou de seus estudos todas as menções ao polimorrente holandês, recitando a desventura aos amigos mais íntimos e concluindo aos risos: Frejk de Groot não passara de um escriba ambicioso e bem humorado, ansioso por ter seu nome escrito (e reescrito) nos anais da História.
Henrique de la Nataña, hoje sabemos, foi o maior difusor de versões incorretas sobre fatos históricos, o que nos enche de otimismo ao lançar-mos-nos à vida e à obra do jovem flamengo.

20101205

história & veneno

em 1955 aos quatorze anos ricardo
rodrigues dos santos
um alemão exilado
sem nome(
e portanto
sem alma)
perdeu
(sempre perde-se)
chance única e prodigiosa de felicidade
(algo que ele como alemão nem mesmo merecia)
:
uma mocinha de quinze
(ou dezesseis)
(ou treze)
anos
que amava.
ninguém
(de importante)
chorou.

"
meu peito é um rombo
de sangue seco
vazio
anticoagulado e vazio
e seco
sem mira e sem tiro
estéril ainda bem.
eu
sou um míssil
v4
oco
falho
sem explosão.
eu sou sem explosão."

um pouco foi escrito sobre ele
(todos sabem):
um pouco discreto
(um por
co secreto)
detonou zyklon ontológico penetrante como a alma de um zumbi
algo-herói algo-épico
(por critérios gregos)
sem espada
rasgante
(pequeno)
grande
, um poeta sim
(naquilo que há)
faltaram-lhe vitaminas
(garoto vitorioso
)perjúrio(perdeu)
fugitivo
(tudo) um déjà vu
sem sangue.