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20110407

Ram-Tsa-Ka em Nantes

Frente ao personagem, ops, ao tsunami:
- Benfazeja! Muita água!
Ele abriu a bocarra e, por ser um guerreiro lendário, sua sede era tanta que deu pro gasto.

20100831

Parte VIII - Sou eu, disse a Sereia tirando a peruca

E absolutamente ninguém naquele cabaré foi feliz para sempre.

20100829

Parte VII - Sob o rufar de tambores

O homem parou de falar, mas sustentou um sorriso de expectativa no rosto.
Todas as mesas do bar ficaram em silêncio.
A Sereia terminou sua bebida.
Em algum canto do jardim do cabaré, os sempre bem alimentados vermes sabiam que todas as mazelas humanas decorrem do infinito suspense que criamos em torno das menores pequenezas e das mais infundadas apreensões e que as almas de todas as pessoas são uma só, ligadas pela inevitabilidade do nascimento e da dor e da certeza única da vida que é garantir que eles, os vermes, estejam sempre bem alimentados.
O mundo inteiro esperou.

20100828

Parte VI - O incrível destino da Corja dos Malamados

Tudo corria bem no cabaré e a maior parte do sangue já havia sido limpada, àquela altura. Uma banda tocava em um canto do salão e a Sereia havia dado uma dose grátis de limoncello para as pessoas que haviam se sujado no incidente, então todos estavam mais ou menos bem humorados quando a porta se escancarou.
A Corja dos Malamados entrou em silêncio, deixando o Potro amarrado no estábulo do cabaré. Após alguns instantes de aflição, o líder se dirigiu a todos os presentes, com as seguintes palavras:
“A todos os presentes, dirijo-me com as seguintes palavras: Durante doze meses, nós navegamos em busca do Potro e dAquilo que daria sentido às nossas vidas vazias. Muitos dos nossos morreram pelo caminho, mas nós não desistimos. Nós seguimos adiante.
Nas noites de inverno, as águas do rio lançaram o frio e o sereno para dentro da carne e nossos ossos trincaram e se partiram, nossos corações pararam de bater e encolheram até ficarem do tamanho de nozes. Nas noites de verão, o ar era tão úmido e abafado que nossas narinas se transformaram em guelras e nossos olhos se liquifizeram, mas nós não desistimos. Nós seguimos adiante.
Como vocês podem ver, nosso esforço deu resultado e hoje temos o Potro em nosso domínio. Mas não foi só isso. Durante os doze meses de buscas, nós seguimos também o rastro de um homem que nos traiu e nos abandonou, um homem que tínhamos como nosso irmão e mestre, que nos ensinou tudo o que sabemos e que nos liderou quando pensávamos estar perdidos, mas que saltou de nosso convés um dia e nunca mais voltou.
Na perseguição, fomos levados aos quatro cantos do mundo, nossa canoa enfrentando redemoinhos e quedas d’água cuja mera lembrança ainda nos aterroriza mesmo após tanto tempo. Mas nós conhecíamos os caminhos do rio e o canto das águas. Seguimos na busca por longos anos, até que chegamos a um ponto em que nenhum homem jamais havia pisado, e podíamos ter certeza disso porque o sentíamos em nossos corações. E foi nesse local que três pássaros vieram até nós e nos disseram com seus cantos líricos que havíamos encontrado mais que o Potro e que podíamos nos redimir de nossos pecados e de nossos crimes e trazer alegria aos povos e paz aos espíritos. Eles nos mostraram o caminho para o reino do Outro Lado e nos deram tanto ouro quanto pudemos carregar, e explicaram que tudo o que precisávamos para cumprir nosso Destino era encontrar aquele que havia se separado de nós e perdoá-lo de tudo. Nós soubemos que ele havia vindo para cá e agora demandamos que esse homem se revele para que possamos celebrar."

20100827

Parte V - Diálogo

Sem dizer nada, Sereia sacou seu facão e furou a garganta do sujeito.

20100826

Parte IV – Por que você está sozinho aqui?, perguntou Sereia para o desconhecido, sentando-se em frente a ele e sinalizando para que um atendente lhe trouxesse licor


“É uma história longa, se você quiser ouvir. Eu saí de casa quando meu pai desapareceu, anos atrás (eu não conheci minha mãe, porque ela morreu uma semana antes de eu nascer). Foi o verão mais quente de que eu consigo me lembrar e toda a plantação secou e minha irmã estava chorando muito, porque ela tinha uma doença grave. Então eu deixei ela na frente da igreja da minha vila, juntei algumas coisas e peguei a estrada.
Eu andei durante cento e oitenta e sete dias e cinco noites, sem parar para comer e sem água para beber, até que três pássaros me apareceram em um sonho e disseram que eu encontraria meu Destino no topo da colina das três árvores, desde que chegasse lá em menos de quarenta e oito horas.
Com a velocidade que eu adquiri por ter sido criado por uma manada de gnus, eu venci os três mil quilômetros da subida dentro do prazo e, arfando, descobri lá em cima o esconderijo da temível Corja dos Malamados. Cansado e surpreso, eu fui facilmente rendido pelos malfeitores que, armados até os dentes, me jogaram em uma catacumba escura. A julgar pelo crescimento de minha barba, eu fiquei preso por três dias, quando, enfim, um deles apareceu e me fez uma proposta: ou eu me juntaria a eles na busca pelo Potro ou eles me matariam ali mesmo, a mordidas.
Sem alternativa, ajudei-os a construir um barco com gravetos recolhidos do bosque aos pés da colina. A construção levou três semanas e ao fim desse tempo, despedimo-nos de nossas esposas e partimos.
O Potro, como você sabe, é animal arisco que detesta água. Assim, por mais que navegássemos, não o conseguimos encontrar. Cogitamos a hipótese de atracar às margens do rio e continuarmos a busca em terra firme, mas isso nos pareceu um terrível desperdício de todo o esforço despendido na construção da embarcação, de forma que seguimos navegando. A fome e o escorbuto já haviam dizimado boa parte de nossa tripulação quando eu, em um momento de insônia, saí para o cais sob o sol forte do meio dia e vi uma figura humana desenhada em meio à névoa.
A figura se virou em minha direção e disse em tom pesado: I am thy father's spirit. Doom'd for a certain term to walk the night. Eu, que não entendo inglês, devo ter sido enfeitiçado por aquelas palavras e, ainda sem saber o que fazia, me atirei do convés. Eu podia ouvir os Malamados gritando juras de que me encontrariam para cobrar minha dívida de sangue, mas corri para as margens do rio e adentrei a escuridão.
Desde então, vivo entre dois mundos, aquele das coisas táteis e o dos espíritos. Neste, meu pai me visita com frequência, me oferece a mão e guia-me pela escuridão em direção a lugares ainda mais horríveis do que os em que eu antes estava e então me abandona à minha própria sorte; naquele, é a Corja quem vem e me decepa membros com suas lâminas afiadas e me força a correr para salvar-me. Minha redenção, porém, ocorre todas as noites, quando, cansado e assombrado pelo medo e a solidão, eu me deparo com a entrada desta vila e com a visão do cabaré como um lugar em que eu posso entrar, demorar e pedir uma cerveja.”

20100825

Parte III - A História de Sirena

Ele entrou cambaleante e sentou. Levou cinco minutos para pedir uma cerveja e depois deu uma olhada em volta, checando o ambiente. Todos os dias, sempre havia muita gente entrando no bar e fazendo aquilo, mas o caso dele era diferente, porque ele fazia aquilo todos os dias. Se ele fosse da cidade, isso nem seria tão estranho, mas a verdade é que ninguém nunca via ele por ali, exceto quando anoitecia e ele entrava no bar para demorar, pedir uma cerveja e olhar em volta. Um dia, Sereia não aguentou e foi falar com ele.
Sereia era um exemplo de ascensão social. Ela começou a trabalhar no cabaré aos doze anos, cantando no salão enquanto sua irmã tocava. Conforme seu corpo cresceu, aumentaram as pressões para que ela mudasse o ramo de atuação, especialmente quando um homem a puxou pelo braço, jogou no chão e posicionou ajoelhada de frente para seu pau. Ele enfiou aquele pedaço de carne na boca dela, puxou-a pelos cabelos e berrou de dor enquanto ela limpava o sangue dos lábios.
Naquela noite, as pessoas quebraram cadeiras e bateram nas outras mulheres e Sereia apanhou com a chibata até desmaiar. Quando acordou, ela ficou imóvel de dor, mas não parou de pensar um segundo.
Depois, Sereia sumiu por um ano. Algumas pessoas que passavam pela estrada diziam que a haviam visto e comido em troca de centavos, mas ninguém discutiu esse assunto quando ela voltou um dia em um vestido vermelho, mais linda que o mundo.
Ela entrou no cabaré, pediu uma cerveja e um queijo e, quando este chegou, ela cortou dois pedaços com o mesmo facão que depois usou para matar o antigo gigolô. Foi uma cena horrível porque a faca não era muito afiada e alguns pedaços caíram dentro da cerveja dos clientes, mas ninguém se opôs a que ela tomasse conta do lugar dali em diante. Depois disso, os preços não aumentaram e a comida ficou muito melhor, de forma que o estabelecimento não se abalou com a perda do antigo proprietário.
E Sereia sempre ficava ali, apoiada no balcão e parecendo apenas mais uma das garotas do local, com a diferença que ela era mais linda que o mundo e que ninguém chegava perto para perguntar o preço com exceção de estrangeiros desavisados que voltavam para suas terras com as mãos nas bolas e um sorriso menos exuberante. Mas naquele dia ela não aguentou e foi falar com ele.

20100824

Parte I – O Canto da Travessia do Rio Velho

Quando erguemos os remos e sentimos o rio
Em nossos braços que ardem e rostos sem cor
E ousamos deixar a luz em nosso olho arredio
É que nos lembramos de vossos cantos de amor
Que afastam a traiçoeira bruma que esconde as moças
A ocultar em suas vozes tão doces o horror
Das profundezas cinzentas do lodo e das poças
E das pedras que impõem ao casco bravo sua dor
Mas ergamos nossos remos e braços ao ar!
E nas trevas umbrosas divisei uma flor
Então nós seguimos remando de par em par
Acompanhando o Rio Velho vá ele onde for.

20100516

BEOTIBARRECO GUDUA

(canção épica, c. séc. XVI)

Mila urte y garota
Ure vere videan.
Guipuzcoarroc sartu dira
Gasteluco etchean;
Nafarrokin hartu dira
Beotibarre pelean, etc.