Jesus Cristo reencarnou na forma de um triângulo desenhado na areia de uma praia no Guarujá. Era um dia comum de outono. A praia não estava nem cheia nem vazia - havia banhistas o suficiente para que os vendedores habituais julgassem valer a pena trabalhar.
Ainda que Jesus concentre em si uma parte considerável da onipotência característica de seu Molde Primordial, o formato "desenho semi-bidimensional traçado na areia" traz consigo algumas dúzias de limitações, sendo possível logo de cara citar a invisibilidade para quem não olha para o chão, a fragilidade frente as intempéries do mundo e, sejamos francos, uma certa banalidade estética.
(Mesmo Jesus está sujeito à loteria cínica da reencarnação, pode um leitor mais sacana inferir. Não sei, não coloquem palavras na minha boca.)
Jesus é, porém, Jesus, e está carmicamente predisposto a lidar com desafios e situações desavantajosas, portanto, ao notar-se emplastrado na areia, pensou (com seus neurônios de silício): "Poderia ser pior" e pôs-se a fazer funcionar os seus poderes místicos.
De início, a autopreservação - irradiou uma aura que impedia (ou, sendo mais preciso, insistia fortemente) que passantes distraídos o pisoteassem e inadvertidamente obliterassem o salvador instantaneamente. Foi bem sucedido: um garoto correndo de uma ponta a outra da praia (sabe-se lá por quê) desviou seu caminho de maneira bastante antinatural, e Jesus sorriu (imaginariamente) aliviado e contente consigo mesmo. Percebeu, algum tempo depois, porém, que essa magia agia a favor e contra Seus desígnios: se, por um lado, salvava sua vida; por outro impedia que qualquer possível seguidor se aproximasse o suficiente para que pudesse ser influenciado. Jesus percebeu, não sem uma certa amargura, que, mais uma vez, sua eficiência como Homem Sábio estava diretamente ligada à sua capacidade de abnegação e sacrifício.
Levantou, então, seu campo de força, e esperou um pouco. Logo um vendedor de sorvete meio lânguido se aproximou e Jesus imediatamente violou a sua mente: "Irmão. Oi."
O vendedor, como era de se esperar, se assustou. Toda a gama de pensamentos que se associa com esse tipo de situação - tumor, loucura, aliens, FBI, sereias -passou por sua mente. Jesus tentou de novo:
"Irmão. Sou eu, Jesus. Olha pra baixo."
".........!!!!!!1111aaaaaaa"
"Tá vendo esse triângulo? Na areia? Sou eu, Jesus. Pois é, voltei. Daora, né?"
"!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!q"
"Eu. Jesus. Reenacarnei em forma de triângulo. Quero te contar algumas coisas sobre a vida."
"Q kralho q"
(Façamos uma pausa para notar que é extremamente difícil organizar pensamentos de maneira estética e gramaticalmente satisfatória, e que Jesus passara 300 anos estudando e meditando no céu para aprender a fazer isso, enquanto o sorveteiro jamais precisara de tal habilidade.)
"Bom. Vamolá. A regra de amar o próximo continua valendo. Acho que essa a gente nem precisa revisar. Continua bacana."
"+ e c o proxim for assassin/"
"Ele continua merecendo a nossa compreensão e amor pois somos todos filhos de Deus/Eu/Pai"
"mesmo c matah minha filia/?"
"Sim. Enfim. A próxima regra de ouro é:
(e nesse momento, assim como a natureza humana contaminara a divindade de Jesus 2011 anos antes, a natureza triangular começou a exercer sua influência)
o papel padrão pra impressoras tem que começar a ser triangular, e não retangular."
"q/"
"É. O papel triangular é esteticamente muito mais interessante e menos tedioso, e ainda dá pra juntar dois triângulos lado a lado e guardar mais eficientemente as folhas."
"ok"
"Além disso, todo sábado deve ser o dia em que as mulheres--
E então começou a chover e Jesus morreu e o sorveteiro fingiu que aquilo tinha sido só um derrame sem maiores consequências (e talvez tenha sido.)
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20111123
20101202
Mais uma obra do capitolismo cristão

Um menino Jesus traquinas, que subia nos telhados, quebrava os cântaros alheios, brincava com leõezinhos, apaziguava dragões, transformava crianças em carneiros e, vez ou outra, fazia também malvadezas. Zangado, podia amaldiçoar e punir com a morte quem lhe enfrentasse. Outras vezes, para tirar uma história a limpo e provar que não tinha culpa de uma morte casual, ressuscitava mortos para que contassem o que aconteceu, depois os mandava dormir o sono eterno outra vez.
fonte: http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/839763-menino-jesus-era-traquinas-e-ate-fazia-malvadezas-mostra-livro-de-padre.shtml
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quedê a tag do capital?,
Swordfishtrombone
20100509
A jornada do Barãozinho
Ele era um barão tão pequenininho que se chamava Barãozinho - mas sem rir, porque magoar os outros é feio! Andava por aí em um cavalo que era menor que um pônei, quase uma lagartixa, e espetava as empregadas da fortaleza com sua espadazinha gritando "AYÔ SILVER, ÊIA RALÉ", e elas respondiam com palmadas astutas pra educar o pobre nobrezinho. Antes que o malentendido paire sobre todos nós, que fique claro: não era criança, o Barãozinho - já passava dos 30, mas, ainda assim, da mesma maneira que o Anticristo, não parecia crescer - o tempo passava e continuava minúsculo, ainda que um pouco barbudo e suscetível a ereções contínuas.
Certo solstício (pois na terra do Barãozinho, os solstícios eram tão comuns quanto as feiras - e todo mundo sempre dançava um monte, e comia muito doce), nosso pequeno herói fugiu do castelo - passou pelo buraco na grade como um pinto ensebado - e, antes que qualquer uma das babás - bêbadas e já sem calcinhas - percebesse, sumiu na floresta. Floresta essa que... Digamos que era uma floresta normal, pois todas as florestas das quais já ouvimos falar são tenebrosas, encantadas apenas no pior sentido da palavra.
Passados poucos minutos, Barãozinho já estava perdido - o único rastro que poderia seguir para sair da floresta era o de seu ralo esperma, deixado para trás, mas este já tinha sido consumido por pobres passarinhos de apetite duvidoso. Desesperado, o protagonista, pensando já em começar a gritar e xingar, começou a ouvir uma canção lamuriosa, toda em tom menor, de agudos um pouco desafinados e aparentemente acompanhada por uma harpa que, ao mesmo tempo, parecia ser a mesma coisa que a voz. Não entendia-se direito as palavras, só o sentido - água, mergulho, fundo.
O Barãozinho, sem escolha, seguiu os sons mezzo angelicais mezzo cretáceos, agora pela primeira vez andando com ímpeto e objetivo pela mata afiada. Após dezenas de árvores ameaçadoras, com mariposas que pareciam olhos pousadas em seus galhos, chegou a uma lagoa que era quase uma poça, localizada no meio de uma clareira bastante artificial. O enfant terrible (não-literalmente), no entanto, lia pouquíssimo e prestava menos atenção ainda nas histórias que as lavadeiras contavam entre uma novela e outra, e, portanto, não soube perceber armadilha nenhuma naquele fortuito pedaço d'água. Com a música ecoando forte em sua cabecinha, o Barãozinho, espadinha em punho, mergulhou de cabeça na poça - aqui vamos nós!
Aí não se sabe. Alguns dizem que o que conto agora aconteceu, outros dizem que é apenas o delírio do pobre Barãozinho, em coma após a concussão que mergulhar em tão raso lago certamente causaria, mas enfim: le petit chevalier, pois seu reino era de origem franca, assim que tocou a água (anormalmente lisa), deixou para sempre sua terrinha e, instantaneamente, surgiu em outro mundo - um (discutivelmente) bastante mais avançado, sem tempo a perder indulgindo um barãozinho, muito ocupado com uma crise financeira, futebol e orgias a esconder.
Ao se ver em uma rua movimentada, tomada por bestas metálicas gritadoras, o pequeno homem berrou e desmaiou. Ao acordar e perceber as construções imensas que bloqueavam o céu, desmaiou novamente. Mais uma vez acordou e, percebendo que estava sendo pouco efetivo, começou a gritar, apenas - ao que foi ignorado por todos os passantes, menos um, que o chutou, e então continuou passando.
Choroso, o barãozinho cambaleou por aí, passando por becos fedidos, procurando alguma obediência para uma pequena aberração malcriada. Foi quando acariciava seu pipizinho ao lado de uma lata de lixo que conheceu seu salvador - um homem não muito mais velho que o heróizinho (mas de tamanho e aparência normais, até onde se pode chamar um degenerado bexiguento de normal) que, sorte das sortes, adorava pequeninos e estava no show-business.
O barãozinho, então, que, mesmo sendo um pouco débil para sua idade, era muito mais eloquente (para não dizer barulhento) do que as crianças de seu peso e tamanho, além de possuir uma aparência inexplicavelmente inusitada, roupas engraçadinhas e alguma habilidade ao manusear sua ridícula espadinha, se tornou estrela - aparecia todos os dias em apresentações fechadas para homens com gostos esquisitos e reprováveis, que o apertavam com mãos sujas e engorduradas, e executava passos de dança estranhos em cima de uma esteira acelerada para que mulheres com instintos maternais desaguçados pudessem rir. Era tudo estranho, mas prestavam atenção nele, e à noite o barãozinho dormia abraçado com seu empresário-salvador, o que era bom, porque não estava acostumado a dormir sem ter nenhuma servente por perto, e precisava de alguém pra apertar de vez em quando.
Certo solstício (pois na terra do Barãozinho, os solstícios eram tão comuns quanto as feiras - e todo mundo sempre dançava um monte, e comia muito doce), nosso pequeno herói fugiu do castelo - passou pelo buraco na grade como um pinto ensebado - e, antes que qualquer uma das babás - bêbadas e já sem calcinhas - percebesse, sumiu na floresta. Floresta essa que... Digamos que era uma floresta normal, pois todas as florestas das quais já ouvimos falar são tenebrosas, encantadas apenas no pior sentido da palavra.
Passados poucos minutos, Barãozinho já estava perdido - o único rastro que poderia seguir para sair da floresta era o de seu ralo esperma, deixado para trás, mas este já tinha sido consumido por pobres passarinhos de apetite duvidoso. Desesperado, o protagonista, pensando já em começar a gritar e xingar, começou a ouvir uma canção lamuriosa, toda em tom menor, de agudos um pouco desafinados e aparentemente acompanhada por uma harpa que, ao mesmo tempo, parecia ser a mesma coisa que a voz. Não entendia-se direito as palavras, só o sentido - água, mergulho, fundo.
O Barãozinho, sem escolha, seguiu os sons mezzo angelicais mezzo cretáceos, agora pela primeira vez andando com ímpeto e objetivo pela mata afiada. Após dezenas de árvores ameaçadoras, com mariposas que pareciam olhos pousadas em seus galhos, chegou a uma lagoa que era quase uma poça, localizada no meio de uma clareira bastante artificial. O enfant terrible (não-literalmente), no entanto, lia pouquíssimo e prestava menos atenção ainda nas histórias que as lavadeiras contavam entre uma novela e outra, e, portanto, não soube perceber armadilha nenhuma naquele fortuito pedaço d'água. Com a música ecoando forte em sua cabecinha, o Barãozinho, espadinha em punho, mergulhou de cabeça na poça - aqui vamos nós!
Aí não se sabe. Alguns dizem que o que conto agora aconteceu, outros dizem que é apenas o delírio do pobre Barãozinho, em coma após a concussão que mergulhar em tão raso lago certamente causaria, mas enfim: le petit chevalier, pois seu reino era de origem franca, assim que tocou a água (anormalmente lisa), deixou para sempre sua terrinha e, instantaneamente, surgiu em outro mundo - um (discutivelmente) bastante mais avançado, sem tempo a perder indulgindo um barãozinho, muito ocupado com uma crise financeira, futebol e orgias a esconder.
Ao se ver em uma rua movimentada, tomada por bestas metálicas gritadoras, o pequeno homem berrou e desmaiou. Ao acordar e perceber as construções imensas que bloqueavam o céu, desmaiou novamente. Mais uma vez acordou e, percebendo que estava sendo pouco efetivo, começou a gritar, apenas - ao que foi ignorado por todos os passantes, menos um, que o chutou, e então continuou passando.
Choroso, o barãozinho cambaleou por aí, passando por becos fedidos, procurando alguma obediência para uma pequena aberração malcriada. Foi quando acariciava seu pipizinho ao lado de uma lata de lixo que conheceu seu salvador - um homem não muito mais velho que o heróizinho (mas de tamanho e aparência normais, até onde se pode chamar um degenerado bexiguento de normal) que, sorte das sortes, adorava pequeninos e estava no show-business.
O barãozinho, então, que, mesmo sendo um pouco débil para sua idade, era muito mais eloquente (para não dizer barulhento) do que as crianças de seu peso e tamanho, além de possuir uma aparência inexplicavelmente inusitada, roupas engraçadinhas e alguma habilidade ao manusear sua ridícula espadinha, se tornou estrela - aparecia todos os dias em apresentações fechadas para homens com gostos esquisitos e reprováveis, que o apertavam com mãos sujas e engorduradas, e executava passos de dança estranhos em cima de uma esteira acelerada para que mulheres com instintos maternais desaguçados pudessem rir. Era tudo estranho, mas prestavam atenção nele, e à noite o barãozinho dormia abraçado com seu empresário-salvador, o que era bom, porque não estava acostumado a dormir sem ter nenhuma servente por perto, e precisava de alguém pra apertar de vez em quando.
20100324
Resenha: Shadow of the Colossus (ps2, 2005)
O Andarilho saproxima do Colossus com a espada em punho (o brilho a luz indica um ponto no peito da criatura [AZUL-CIANO]) sobre o cavalo Agros e agora é só agora ele pula do cavalo em movimento e se agarra no joelho do monstro arquitetônico
{arre, arre, dói tudo, minhas costas, minha perna, meus braços, mas eu subo - me ergo - com força esforço suor}
e o Andarilho pula do joelho à pélvis se agarra nos pelos e se ergue corajosoinfinito lindo e escala ágil agilíssimo enquanto o Colossus tenta arrancá-lo com uma das mãos {eu sigo, consigo!} e ele pula e se agarra nas costas peludas do ser gigantesco 18 metros e num jogo pendular ÜUUFE se arremessa para os flancos do bicho e com mais um movimento já está no peito dele e o brilho azulciano em seu rosto e a espada em punho e {atenção, esperto, atenção e força e pegada, calma} enfia tudo na pele dele e o Colossus se sacode ferozmente
{se ele continua eu caio, se eu caio é o fim}
incrível fantástico épico Andarilho firme contra os pelos sem moverse um dedo enquanto o Colossus tenta tudo e quase se joga no chão tentando se livrar dele mas ele não se importa e espera {dói demais} e finalmente antes que se visse qualquer coisa a espada erguida novamente e azulciano e um só golpe e as Sombras começam a vazar abundantemente o Andarilho se agarra mais forte e caem ambos no chão na terra a poeira e as Sombras e o gosto amargo na boca e as Sombras voam e sobrevoam e se infiltram de uma só vez no Andarilho que é erguido no céu que sente tudo explodindo por dentro e
{preto}
et la statue est morte
{arre, arre, dói tudo, minhas costas, minha perna, meus braços, mas eu subo - me ergo - com força esforço suor}
e o Andarilho pula do joelho à pélvis se agarra nos pelos e se ergue corajosoinfinito lindo e escala ágil agilíssimo enquanto o Colossus tenta arrancá-lo com uma das mãos {eu sigo, consigo!} e ele pula e se agarra nas costas peludas do ser gigantesco 18 metros e num jogo pendular ÜUUFE se arremessa para os flancos do bicho e com mais um movimento já está no peito dele e o brilho azulciano em seu rosto e a espada em punho e {atenção, esperto, atenção e força e pegada, calma} enfia tudo na pele dele e o Colossus se sacode ferozmente
{se ele continua eu caio, se eu caio é o fim}
incrível fantástico épico Andarilho firme contra os pelos sem moverse um dedo enquanto o Colossus tenta tudo e quase se joga no chão tentando se livrar dele mas ele não se importa e espera {dói demais} e finalmente antes que se visse qualquer coisa a espada erguida novamente e azulciano e um só golpe e as Sombras começam a vazar abundantemente o Andarilho se agarra mais forte e caem ambos no chão na terra a poeira e as Sombras e o gosto amargo na boca e as Sombras voam e sobrevoam e se infiltram de uma só vez no Andarilho que é erguido no céu que sente tudo explodindo por dentro e
{preto}
et la statue est morte
20091217
Como nos contou Torecotawani
"Mas é difícil compreender, senhor", tentou Uiratã, "E eu sinto que não conseguiria compreender por completo como é possível inverter as relações de poder". Mestre Torecotawani pitou mais uma vez, riu afavelmente olhando Uiratã nos olhos, sacou seu Ruibardo de Plasma 3-D da Philips e iniciou a apresentação:
Numa floresta, o Lenhador Preocupado e o Pescador Honesto. Pescador Honesto fora eleito Chefe do Condado na tribuna há dois dias. A Festa da Pêra é sua responsabilidade. A Pereira De Ouro encontra-se duas verstas à frente. Dialogam:
LENHADOR: Tenho quatro maçãs e se quiseres pêras poderia conseguir algumas.
PESCADOR: Gosto de pêras.
LENHADOR: Eu poderia conseguir algumas, mas com quatro maçãs em minhas mãos seria muito difícil carregá-las.
PESCADOR: Gosto de maçãs - dê-me duas que eu as seguro ou mesmo as como enquanto buscas as pêras.
LENHADOR: Mas estas maçãs estão prometidas ao meu amigo Confeiteiro.
PESCADOR: Não tem problema, não as comerei, portanto.
LENHADOR: Mas e se não conseguires resistir à tentação?
PESCADOR: Darei um jeito de repor aquela perdida, pois.
LENHADOR: Se não resistires, a responsabilidade pela falta de uma maçã seria minha também, mas antes seria sua; teria que aplicar-lhe uma punição. Defino que a punição seria não conseguir pêras.
PESCADOR: Justo. Mas garanto não me descontrolar.
LENHADOR: Prometes o que não podes cumprir. Sendo assim, o melhor a fazer é simplesmente não ir atrás das pêras; economiza-se esforço assim e impede-se que uma das maçãs seja devorada. O senhor há de conseguir pêras em outras paragens.
Secretamente, o lenhador havia podado todas as demais árvores além da Pereira de Ouro.
Numa floresta, o Lenhador Preocupado e o Pescador Honesto. Pescador Honesto fora eleito Chefe do Condado na tribuna há dois dias. A Festa da Pêra é sua responsabilidade. A Pereira De Ouro encontra-se duas verstas à frente. Dialogam:
LENHADOR: Tenho quatro maçãs e se quiseres pêras poderia conseguir algumas.
PESCADOR: Gosto de pêras.
LENHADOR: Eu poderia conseguir algumas, mas com quatro maçãs em minhas mãos seria muito difícil carregá-las.
PESCADOR: Gosto de maçãs - dê-me duas que eu as seguro ou mesmo as como enquanto buscas as pêras.
LENHADOR: Mas estas maçãs estão prometidas ao meu amigo Confeiteiro.
PESCADOR: Não tem problema, não as comerei, portanto.
LENHADOR: Mas e se não conseguires resistir à tentação?
PESCADOR: Darei um jeito de repor aquela perdida, pois.
LENHADOR: Se não resistires, a responsabilidade pela falta de uma maçã seria minha também, mas antes seria sua; teria que aplicar-lhe uma punição. Defino que a punição seria não conseguir pêras.
PESCADOR: Justo. Mas garanto não me descontrolar.
LENHADOR: Prometes o que não podes cumprir. Sendo assim, o melhor a fazer é simplesmente não ir atrás das pêras; economiza-se esforço assim e impede-se que uma das maçãs seja devorada. O senhor há de conseguir pêras em outras paragens.
Secretamente, o lenhador havia podado todas as demais árvores além da Pereira de Ouro.
20090706
A Preparação para a Festa da Cornucópia
Felipe era um dragão muito feliz. Mas ele andava cabisbaixo nos dias anteriores à sua Festa da Cornucópia (em que ele ganharia seus chifres definitivos, esmaltados) porque sua barriga roxa-roxa andava meio esverdeada.
- É o cocô, Felipe?
- Não, acho que é mais os gases!
Na fase da vida em que Felipe se encontrava, alterações no corpo eram esperadas, mas não assim com essa velocidade toda. Imaginem! O intestino começando a funcionar direito (e por isso a barriga ficando meio esverdeada durante alguns dias) e a Festa da Cornucópia, tudo na mesma semana. Não era por pouco que Felipe andava atordoado!
Mas na véspera da Festa ele encontrou um sábio tartarugo-enciclopédico que de vez em quando aparecia nas redondezas para estimular todos com seus infinitos conhecimentos. Felipe se aprumou para tentar conseguir algum conselho do tão respeitado visitante, já que há momentos na vida em que tudo o que precisamos é de alguma explicação pelo menos aparentemente racional para tudo que acontece.
- Tartarugo-enciclopédico, tira-me a dúvida! – gritava um gordo,
- Eu vou ser sempre pequeno?! – perguntava o porquinho-da-índia;
- Por que nunca os meus cílios crescem como eu quero? – choramingou a dragonina Odete.
E eis que era um dia estranho para o tartarugo-enciclopédico. Sem dúvida ele apresentara-se ao vilarejo para responder a quantas dúvidas pudessem ser respondidas em um dia, como era de praxe, mas a jornada o havia deixado muito cansado...
- Quedê o tartarugo?
- Está dentro de seu casco!
E não havia ninguém-ninguém que conseguisse tirar o tartarugo-enciclopédico de seu casco. Era um sono daqueles!
Felipe sentiu-se oprimido pelo mundo, com uma sensação muito ruim e vontade de chorar. É assim que nos sentimos quando tudo parece sem sentido e quando quem poderia nos dar a mão na verdade esconde-a atrás de mangas longas demais! O que ele poderia fazer? Perdendo um pouco a sua compostura natural, ele desabou-se sentando no chão, ali mesmo de costas para o casco do tartarugo-enciclopédico. Afinal, ele estava dentro do casco, não ia ver mesmo, não ia achar uma falta de respeito.
O gordo, a dragonita Odete, o porquinho-da-índia, o cigano e o mainá que estavam ali em volta acharam muito estranha a atitude de Felipe e reprovaram-na. Um disse que era coisa de pivete, outra que ele deveria ter vergonha, e só o cigano ficou calado. Felipe não agüentou e começou a chorar. Foi como uma chave girando-se para descarregar todas as aflições dessa semana!
Mas essa chave acabou liberando mais algumas coisas...ali sentado, Felipe fez um pum bem alto e cheiroso na frente do tartarugo-enciclopédico, que acordou reclamando e deu rapidinho dois passos para o lado. Só que o tartarugo sempre foi boa gente e, vendo a tristeza nos olhos de Felipe, logo o perdoou e disse que poderia perguntar o que quisesse.
Felipe se sentiu muito mais leve vendo uma alma boa e, recompondo-se, procurou lembrar o que queria perguntar para o tartarugo-enciclopédico naquela tarde. Mas antes parou para refletir sobre o acontecido e percebeu que foi graças às recentes mudanças de seu corpo que todos puderam novamente desfrutar da companhia do tartarugo-enciclopédico.
Riu-se sozinho, sentiu-se muito melhor e agradeceu o estimado visitante. Mas já não havia mais dúvidas: Felipe estava pronto para tornar-se gente grande.
- É o cocô, Felipe?
- Não, acho que é mais os gases!
Na fase da vida em que Felipe se encontrava, alterações no corpo eram esperadas, mas não assim com essa velocidade toda. Imaginem! O intestino começando a funcionar direito (e por isso a barriga ficando meio esverdeada durante alguns dias) e a Festa da Cornucópia, tudo na mesma semana. Não era por pouco que Felipe andava atordoado!
Mas na véspera da Festa ele encontrou um sábio tartarugo-enciclopédico que de vez em quando aparecia nas redondezas para estimular todos com seus infinitos conhecimentos. Felipe se aprumou para tentar conseguir algum conselho do tão respeitado visitante, já que há momentos na vida em que tudo o que precisamos é de alguma explicação pelo menos aparentemente racional para tudo que acontece.
- Tartarugo-enciclopédico, tira-me a dúvida! – gritava um gordo,
- Eu vou ser sempre pequeno?! – perguntava o porquinho-da-índia;
- Por que nunca os meus cílios crescem como eu quero? – choramingou a dragonina Odete.
E eis que era um dia estranho para o tartarugo-enciclopédico. Sem dúvida ele apresentara-se ao vilarejo para responder a quantas dúvidas pudessem ser respondidas em um dia, como era de praxe, mas a jornada o havia deixado muito cansado...
- Quedê o tartarugo?
- Está dentro de seu casco!
E não havia ninguém-ninguém que conseguisse tirar o tartarugo-enciclopédico de seu casco. Era um sono daqueles!
Felipe sentiu-se oprimido pelo mundo, com uma sensação muito ruim e vontade de chorar. É assim que nos sentimos quando tudo parece sem sentido e quando quem poderia nos dar a mão na verdade esconde-a atrás de mangas longas demais! O que ele poderia fazer? Perdendo um pouco a sua compostura natural, ele desabou-se sentando no chão, ali mesmo de costas para o casco do tartarugo-enciclopédico. Afinal, ele estava dentro do casco, não ia ver mesmo, não ia achar uma falta de respeito.
O gordo, a dragonita Odete, o porquinho-da-índia, o cigano e o mainá que estavam ali em volta acharam muito estranha a atitude de Felipe e reprovaram-na. Um disse que era coisa de pivete, outra que ele deveria ter vergonha, e só o cigano ficou calado. Felipe não agüentou e começou a chorar. Foi como uma chave girando-se para descarregar todas as aflições dessa semana!
Mas essa chave acabou liberando mais algumas coisas...ali sentado, Felipe fez um pum bem alto e cheiroso na frente do tartarugo-enciclopédico, que acordou reclamando e deu rapidinho dois passos para o lado. Só que o tartarugo sempre foi boa gente e, vendo a tristeza nos olhos de Felipe, logo o perdoou e disse que poderia perguntar o que quisesse.
Felipe se sentiu muito mais leve vendo uma alma boa e, recompondo-se, procurou lembrar o que queria perguntar para o tartarugo-enciclopédico naquela tarde. Mas antes parou para refletir sobre o acontecido e percebeu que foi graças às recentes mudanças de seu corpo que todos puderam novamente desfrutar da companhia do tartarugo-enciclopédico.
Riu-se sozinho, sentiu-se muito melhor e agradeceu o estimado visitante. Mas já não havia mais dúvidas: Felipe estava pronto para tornar-se gente grande.
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Swordfishtrombone,
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20090610
O pior eufemismo do mundo
Duas mocinhas conversam: se Jorge é bonito ou não. Os argumentos impressionam, são de rigor acadêmico frustrante e tedioso. Um subcomitê é convocado, o contraste beneficia o "não". Mocinha 1 sorri, vencedora.
As mãos vão ser apertadas para oficializar o fim do embate quando: cabrungum. Troiscentos passam correndo e fumaça. Mocinhas em desespero se escondem-tatus. Tirotirotiro e o sol sumindo esfumaçado; as gentes gritam de canto a canto e não se entende. O grosso do povo lá por perto logo se dissolve (gente gritalhona & inconveniente) e mocinhas sentem-se seguras para dar ao mundo novamente a graça de suas belezas. Vêem um moço capacetado e resolvem inquirir:
- Ô moço, que houve, essa bagunça toda? Que que cês tão fazendo aqui?, pergunta olhos-grandes a mocinha 2.
- Fazendo valer a lei e a ordem, é claro!, responde o rapaz azulado antes de lhe acertar uma bem-dada marretada no crânio.
As mãos vão ser apertadas para oficializar o fim do embate quando: cabrungum. Troiscentos passam correndo e fumaça. Mocinhas em desespero se escondem-tatus. Tirotirotiro e o sol sumindo esfumaçado; as gentes gritam de canto a canto e não se entende. O grosso do povo lá por perto logo se dissolve (gente gritalhona & inconveniente) e mocinhas sentem-se seguras para dar ao mundo novamente a graça de suas belezas. Vêem um moço capacetado e resolvem inquirir:
- Ô moço, que houve, essa bagunça toda? Que que cês tão fazendo aqui?, pergunta olhos-grandes a mocinha 2.
- Fazendo valer a lei e a ordem, é claro!, responde o rapaz azulado antes de lhe acertar uma bem-dada marretada no crânio.
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