Mostrando postagens com marcador diálogo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador diálogo. Mostrar todas as postagens

20121128

lóbulos tímidos


   Gritaram comigo com tanta força e com uma vontade tão violenta que os lóbulos das minhas orelhas se enrolaram e, sozinhos, taparam meus ouvidos.
   - Mais forte -, eu pedi.
    Dessa vez, os olhinhos se espremeram tanto no rosto dela que eu achei engraçado e rompi no riso. E meu riso ressoou mais que o grito.
   - É injusto!
   Cada narina inchou bastante. No urro seguinte, só consegui prestar atenção nelas.
   Mais um e senti que a garganta começava a rachar. Coisas ruins poderiam acontecer.
  No que veio depois, meus lóbulos, sozinhos, escorregaram para fora dos ouvidos e ficaram pendurados como de costume, e eu senti uma dor. Mais um, e dor ainda mais aguda.
   Os olhinhos meus dessa vez, dolorida, devem ter sido tão engraçados que desenrolaram nela uma risadona que foi mais forte do que qualquer grito e eu, apesar da dor, quis rir também.
   - Desculpe, terei que rir...
   - Tudo bem.
   E então fomos embora, gargalhando.
   



20120630

ESCALETA EM DIÁLOGO 
para vídeo de cinema


Julian Assange: Sim, no ocidente. É uma guerra que vencemos, em grande parte, em cada navegador, mas que agora, talvez, nem se menciona e que foi desencaminhada. É a ideia de que não podemos confiar em que o Governo implemente as políticas que prometeu. E que, por isso, temos de usar como uma espécie de arma as ferramentas ocultas, criptográficas, que controlamos, para que, se os ‘cripto’ [orig. os cyphers] são bons, o Governo não se possa intrometer em nossas mensagens, por mais que tente. O risco é que ponham microfones ocultos nas casas...

Jacob Appelbaum: A força da autoridade deriva da violência. Mas as pessoas têm de entender de criptografia. A violência não vai resolver o problema matemático.

Julian Assange: Exato.

Jacob Appelbaum: E isso é chave. Não significa que não possam torturar você ou por um microfone na sua casa, ou marcar a sua casa. Significa que, se encontram uma mensagem criptografada, não importa quanta força ou quanta autoridade tenham para fazer seja o que for, nunca poderão resolver um problema matemático nem pela força nem pela autoridade. As coisas são assim, mas isso é incompreensível para quem nada tenha a ver com a tecnologia. Por isso é preciso explicar tudo mais detidamente.
Se pudéssemos resolver todos os problemas matemáticos, a história seria outra e, claro, se qualquer um pudesse resolver os problemas matemáticos, o governo também poderia resolvê-los. A diferença está aí. Isso é o que muda tudo.

Julian Assange: Mas há fatos. Assim como se podem construir bombas atômicas, o fato de que se podem gerar problemas globais é real. E é real também que os estados mais fortes poderão tentar resolver os problemas de forma direta. Acho que isso foi muito divulgado e ganhou grande popularidade entre os populistas fundamentalistas [orig. libertarians] da Califórnia e outros que acreditam nesse tipo de “democracia carregada e engatilhada”. E aqui temos um modo intelectualizado, inteligente, de fazê-lo, de um par de indivíduos que, com a criptografia, enfrentam o poder absoluto das superpotências mundiais, e continuamos fazendo, pelo menos um pouco.
Mas acho que o resultado possível de tudo isso é que... são forças econômicas e políticas realmente tremendas, como o Jeremie dizia, e a eficiência real de suas tecnologias, em comparação com os seres humanos, levará a que, pouco a pouco, acabemos numa sociedade que viverá sob vigilância totalitária. Com a palavra “totalitária” quero dizer “vigilância total”. Talvez as últimas pessoas livres que restarão serão as que saibam usar a criptografia, para lutar contra esse controle global. Não é essa a direção rumo à qual estamos andando?


.


1. Desde já um problema: como mostrar a criptografia de maneira que não seja apenas um truque de montagem, mas sim um truque matemático?

2. É evidente que se trata de uma garota, criptografada, desde o início, no mundo onde as suspeitas recaem apenas nos homens, detentores da Lógica.


.

20111221


você ouviu?
estou te vendo daqui.
você ouviu?
fica assim, você está uma belezinha.
você não ouviu.
ouvi, mas estou te olhando.



.

20111111

Dos diálogos que não vingaram

.

I guess I'll always see you again.

.

20100923

Onacho: chama PIXEL PURGEL e é incrível!!!!!

slayer of the shoot king
kill kill fume king
scrotum blast at last

Nessas horas, eu me sinto em casa. Quase de cueca, sozinho. Pois é, estou com isso na cabeça. Melhor que cinema. Felizmente eu não conheço o suficiente de cinema para ficar com isso na cabeça, apesar de ter sido a Bruna que me mostrou, e falou, "Puta que pariu, que raiva de cinema!". Aí tirei sarro, perguntei, "Heh, e você conhece cinema, é?". Ah, mas não dá, não dá.

Minha conta vai vencer. Ah, porra, caralho, filhos-da-puta não vão me deixar chegar!...morri. Não, não..estava indo tão bem! Estava divertido.

20100901

diálogos (misc)

A: BARULHO barulho BAGULHO (!)
B: where is the love
A: Eu comecei no topo e só decaí desde então.
B: o amor que tu me destes era pouco e se acabou
A: Fui me transformando aos poucos em uma gigantesca lesma sem alma aos seus olhos e então era inevitável que tudo terminasse, para sempre - em um grande teatro.
B: nós não somos mais - totalmente, tragicamente, ternamente.
A: Se você voltar pra mim, eu prometo construir escolas, curar os doentes, libertar os detentos, alimentar os pobres, beijar os bebês.
B: quem é você, diga logo
A: Eu não sei mais, não sei mais não sei agora eu sou só um caminho que não leva a lugar algum, um homem sem irmãos que existe num vazio preto e não branco, sem paz só fim.
B: sussurro surdamente um algoz - nós.
A: Agora eu vou me matar e a culpa vai ser sua.


(um palhaço passa por eles - interlúdio - e entrega uma rosa para a bela moça, sorrindo, ela lhe sorri de volta dentes solares, todo o público engasga o ar pastoso, esperançoso, torcendo pelos seus doppelgangers incompetentes, uma nuvem pesada se retorce parafuso, os pais-sogros sentados já chorando, representação de algo inexprimível - um estampido)

A: Você não se importa nem um pouco e por isso eu não posso fazer nada.
B: vou sendo como posso.
A: Agora não dá mais, caralho, não dá, eu me saio daqui nessinstante e vou pro estrangeiro, sumo, esqueço, escafedo, um dia renasço virgem e feliz. Você, cruel...
B: só... fica.
A: não mais.
B: (beija, acaricia, enlaça) a beleza será convulsiva, ou não será
A:
B:
A:
B:

(um encontro)

B: e sim eu disse sim eu quero Sim.

20100826

diálogos (masc)

eu não te amo mais disse ele com um esgar de pânico
eu não te amo mais disse ele enquanto o meteoro se espatifava
eu não te amo mais disse ele mentindo descaradamente
eu não te amo mais disse ele enquanto gozava
eu não te amo mais disse ele alexandre o grande percebendo-se viado
eu não te amo mais disse ele uma duas três mil vezes diante do espelho
eu não te amo mais disse ele fade to black palmas
eu não te amo mais disse ele para o povo que o havia carregado ao poder
eu não te amo mais disse ele o homem mais bonito do mundo
eu não te amo mais disse ele como quem pergunta que horas são
eu não te amo mais disse ele todos os dias do ano como um ritual
eu não te amo mais disse ele ela concordou
eu não te amo mais disse ele eu nunca te amei na verdade
eu não te amo mais disse ele passa a mão pelo cabelo indeciso
eu não te amo mais disse ele sem saber se era verdade
eu não te amo mais disse ele sem dizer.

20100825

diálogos (fem)

a decisão inadiável de uma mãe
- conjura um ensopado -
:
revelar ou não a seu filho
sua natureza
não-ortodoxa
de demônio.

jovens somos todos jovens
(pré-discurso ensaiado)
com nossa cota de erros
cada um com sua caixinha
uma festa, uma noite, um drinque
o romance
de uma moça de penteados.
a cama com dossel
devastada
pelo primo de um colega
e turbilhão.

ele sorri
não esfinge mas
político de cera
elaflita
aguarda
- vou pro inferno!
- cuspo fogo!
- me mato agora!
- me batizo!
- sem ritual!
e ele só
abraça
perdoa
tem alma
que bom
graçazadeus.

20091217

Carta Aberta

- Digo-lhe acintosamente, Renato, que o mundo não é como vês: é em formato de tetraedro, ideologicamente, e foi lambido para fora por um tamanduá. Pode rir o quanto quiser, mas a arma está na minha mão - e o jabuti também. Não sei como fala tanto, jesus! Ou tenta falar, não sei. Queria dizer de quando não não pare com isso assim só vai morder a língua e infeccionar e vai deixar um cheiro horrível de laranja podre com azeite, de quando fui para a mata passar três noites e encontrei só mesmo deus, piquititico e careca, pedindo penico - pisei, mas ele furou minha sola com uma tachinha e se escafedeu prum abacateiro, desisti de correr atrás - tenho um reumatismo terrível, meu ciático é quase excalibur, mas com o punho cheio de rubis. Fiz só é deitar na grama molhada e olhar as aranhas deslizando nos galhos e sou um só finalmente, uma terapia tão forte que me mijei todo, o orvalho sou eu. Agora veja que não foram três noites de verdade, umas vinte no mínimo, mas só lembro disso, logo logo eu já em Salvador dançando feito louco com os olhos transformados em pipas vendo o cocoruto tão lindo de uma moça de shortinho, me enfiei em uma lanhouse e encomendei um avião pra fora já! Eu sei, a parede já foi mais bonita, mas o poema que deixaram, ainda que rude, me faz acordar mais depressa, e sacumé, preciso acordar logo antes de morrer, e então quero lhe dizer que voltei de lá muito menos mais, um enormezíssimo avanção, e consegui dizer pra Helena que queria abrir as perninhas dela com os dentes e trepar de ponta cabeça, todo o amorzinho refunçado exprimido em porra, ela disse que já preferia, agora, já mais digna, o Carlos Eduardo, cônsul, e pegou um helicóptero cor-de-rosa pra Tailândia - você imagina a minha cara no chão, mandíbula esticada, e o puta chute que eu dei no poste - vibrou uma sinfonia na hora, dor de cabeça uma semana. Então o que eu quero dizer é aos meus amigos, e você guarda bem e diz depois, que eu pedi pra todo mundo ficar de olho na Helena e putaquepariu, bandefilhodaputa, vão todos pro caralho!, não sabem nem segurar uma moça em casa até o pródigo? Quero que se explodam, ok?, e eu fico aqui com os meus livros, vão todos à casa do cometa que eu nem considero olhar na cara de nenhum, viu?, nenhum deles, se foder!, diz tudo, senão eu como o seu cachorro.

20091022

Diálogo-de-cabeceira

Deitados juntinhos, ela no peito estreito dele, ele com as mãos debaixo da cabeça como se fosse um lenhador feliz. Sorriem, ou fazem-que.

ELA
Você é mau...

ELE
Eu sou horrível.

ELA
Não. Você é só mau.

20090702

Um dia em prelúdio

'... nenhum, mesmo, claro que não' coçando a ponta esquerda do bigode mal aparada, pela porta do fundo do ginásio se vêem tênis zarpando, suados. 'Nem na Espanha nem na Irlanda.'
'Você que pensa. Sério. Dinheiro não é tudo.'
'I---há!'
'Calaboca, a gente tá conversando, é sério.'
'Não acredito que cê vai discutir com ele...'
'Calaboca!-- mesmo, tem aquele cara lá, Igor sei lá, acho que ele...'
'Você não viu quando ele caiu do cavalo? Ridículo, patético, agressivamente vergonhoso - tente de novo.'
'Porra.' Há pedaços de pele inchando mucosamente na palma da mão enquanto ele gesticula militarmente, sua voz subindo um tom a cada três sílabas 'Isso foi uma vez, e parece que ele tava doente! E nem é esse o ponto, só acho arrogante'
'Não é arrogância,' de ponta cabeça 'é só que eu realmente não acho que' escuro 'nenhum deles seja melhor. E não é dinheiro. Não exclusivamente.'
'Cabou a força?' Um timbre levemente diferente (sobrenatural) indicando um resquício de temor infantil escapando da autoconfiança, som asqueroso de remexer em colchões ásperos.
'Tá com medinho? E eu só quis dizer que você não é tão bom assim.'
'Sou sim. E isso será confirmado de maneira praticamente científica - acredito que todos concordemos que o acaso é razoavelmente desprezível numa competição de nível internacional - ano que vem.'
'Vamo sair daqui?'
'Meu pai só chega daqui uns 15 minutos.'
'Não quer esperar lá fora?' O ar escapa rápido demais.
'Não.'