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20090605

Atividade_2: Chá

Nice entrou no quarto e atirou a mochila ao chão. Fechou a porta, abriu a janela, tirou a blusa e se deitou, dormindo a tarde inteira sem almoçar. Quando acordou horas mais tarde com frio e com fome, se levantou, fechou a janela, vestiu um moletom e foi para a cozinha. Comeu um resto de risoto de frango, um pote de sagu de vinho e banana-nanica. Tocou o telefone, era Guilherme perguntando se ela ia ao show naquela noite; Nice diz que sim.
(...)
São sete da manhã e Nice ainda dorme. Quando acordar vai perceber que está sem voz. Quando levantar vai perceber que está sem nenhuma roupa por baixo da coberta. Quando colocar os óculos vai perceber que na sua mesinha-de-cabeceira existe uma xícara coberta por um pires. Se ela erguesse o pires, encontraria um chá ainda morno, fumegando de leve à camomila e gengibre, mas não ergue, não cheira, não bebe. Só aos trinta e tantos anos de idade, descasada e malempregada (enquanto mulher) é que Nice vai perceber que xícaras de chá não se fazem sozinhas.

Por enquanto, só lhe resta mostrar seus peitinhos para Mim, do prédio ao lado.

20081223

Lúcia, dos cabelos ruivos

A menina, Lúcia, tão cheirosa, 12 anos, aprendeu com sua mamãe a usar creme hidratante, daqueles que não necessitam de enxágue. "É pra ficar mais bonita", ela disse com os olhinhos brilhantes e com as duas mãos segurando firme o frasco. Seu troféu. Sorrindo destampou, virou de cabeça para baixo e esperou que o creme escorregasse até suas delicadas e lindinhas mãos. O que não aconteceu, deixando a danadinha perplexa.

Com um salto e uma coceira no céu da boca, a menina pôs-se a lutar freneticamente contra o pequeno frasco escuro, no sentido de rolar pelo chão, esmurrar com toda sua forcinha infante e dizer ofensas terríveis como "seu creme bobo" e "nem te quero mais". E a luta continuava: ela batia, torcia, contornava todo o frasco com suas mãos, esfregava, sacudia, dançava, enfim, era um vai-e-vem de mãos apressado, de ritmo colorido.

No final da tarde, lá estavam, Lúcia e seu Everest. Ela, de ruivos cabelos suados; ele, negro e inflexível. E veio no coração da Palavra a dúvida de que talvez Lúcia estivesse usando da abordagem errada. Talvez, é. E foi isso que a lindinha pensou, juntanto suas capacidades numa última tentativa. "Desculpa, eu sei que você só precisava de um pouco de carinho". E então acariciou suavemente o frasco negro, apertando aqui e ali, em quatro idas e voltas pelo objeto.

E não é que deu certo?

Sem que ela esperasse, o cremoso branco espirrou do frasco negro e lhe atingiu o rostinho assustado, porém curioso.