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20110628
versículo 1000
aí o bispo disse estupro não existe e segurou uma tampa de caneta e disse pra moça "tenta colocar a caneta aqui dentro" e ficou mexendo a tampa e dizendo "BLUUUUU" fazendo biquinho e disse "viu eu disse" e a moça deu um murro na cara dele e agarrou ele e jogou ele no chão e pisou na cara dele e mijou no cabelo dele e cagou na boca dele e amarrou ele com uma corda e enforcou ele e chutou a cara dele e quebrou ele todo e aí ela enfiou a caneta na tampa e disse "é mesmo"
isto é:
guilherme assis,
imbecil,
morellianas,
notícia,
ready-made,
religião
20110621
Escrever romances
Uma das piores coisas que pode acontecer a uma pessoa é que ela resolva, seja lá por que for, escrever um romance. Eu me considero razoavelmente no direito de dizer isso, porque desde que ganhei o meu primeiro computador e, na verdade, mesmo antes, eu escrevo romances, a maioria dos quais, é claro, não passa das primeiras páginas frustrantes, mas alguns alcançando lá algum volume ou até, no caso de pelo menos um deles, chegando a se dar por pronto: é um horror.
Um horror, porque é terrível você usar mais páginas do que o necessário para contar qualquer coisa e acredito que um romance seja exatamente isto: algo com mais páginas do que o absolutamente necessário. Não é possível ou não me parece possível que uma ideia, não importa quão elaborada ou complexa, demande cem, duzentas ou mil páginas para ser transmitida. Se demanda, com todo o respeito, é porque ela não está sendo bem transmitida, mas não creio que seja isso o que ocorre na maioria dos casos; creio que seja uma ambição desmesurada ou a arrogância de achar que as pessoas estarão minimamente interessadas em ler páginas sem fim de recheio (e é isso o que compõe a maior parte dos romances). E, é claro, volta e meia me surgem ideias que demandam suas cinquenta mil palavras, por vezes menos, por vezes mais, e eu me convenço de que a história não será contada ou não será devidamente contada se não tiver páginas e páginas desse maldito miolo, isso é, de algo que dê ligação aos breves momentos que realmente são essenciais no que estou contando (se é que algo é realmente essencial em qualquer coisa que eu conte ou que se conte, inclusive).
Também é verdade que eu me preocupo excessivamente, talvez a ponto de me prejudicar ou boicotar, com o eventual interesse de alguém em cada coisa que eu escrevo, mas não se deixem enganar, que isso não me impede nem motiva nem norteia, é só algo que me ocorre ocasionalmente, algo como O que diabos eu estou acrescentando ao dizer isso? e eu nem sei dizer a que exatamente me refiro ou se o intento é acrescentar ao texto, a mim, a alguém específico, ao mundo etc, mas parece importante haver algum questionamento, ainda mais quando se está embrenhado até o pescoço em uma batalha perdida contra as páginas e páginas de não-progresso, de irrelevância, de recheio etc. (A conclusão, em geral, é a de que sim, acrescento.)
Mas é terrível, de qualquer forma. É terrível controlar o quanto se fala a cada momento, decidir quando se deve acabar uma frase, um parágrafo, um capítulo, quando se deve pular o tempo e adiantar os fatos e, decidido isso, é terrível determinar até que ponto os fatos devem ser adiantados. Conduzir a história não é exatamente difícil, porque a dificuldade pressupõe, me parece, a possibilidade de falha, mas é enfadonho, é desgastante, é até um pouco atormentador. É preciso, de fato, ter fôlego, e eu sou asmático demais e desatento demais e Deus me livre.
20110518
Motivos para escrever
Uma dúvida comum: como reconhecer o que não tem salvação, como saber o ponto exato em que não se pode mais voltar atrás, apagar uma ou duas frases a cada página, acrescentar alguns detalhes que dêem convencimento etc e assim salvar ao menos parte do esforço empreendido? É uma pergunta recorrente, na verdade, mas, em última instância, vazia.
Que diferença faz, afinal, haver salvação? Se nada será salvo! E ainda que fosse, qual o limite do que eu sou capaz de fabricar? Só se sabe pequeno, ridículo, só se sabe que tudo será raso e incongruente, que tudo será pretensioso, no máximo. Exceto que as pretensões são todas igualmente rasas, já que no fundo eu sei que não há futuro algum, que não há resultados a alcançar.
É essa minha salvação.
É como ler um romance maravilhoso e vir ao computador ainda com lágrimas nos olhos e os dedos cheios de promessas, a cabeça atolada da dupla certeza de que é preciso escrever e de que não se poderá fazer nada comparável ao que já existe, ao que foi lido agora. Se não fossem essas leituras, pra que escreveria? E no entanto, são elas mesmas que me tiram qualquer fé. Na mesma medida, se não fosse o conhecimento prévio da não-publicação, a certeza de que não haveria espaço em meio a tudo quanto há, que tudo o que eu escrevo é totalmente desnecessário ao mundo, se não fosse essa salvaguarda, como eu poderia fazer qualquer coisa? Seria obrigado, então, a reler minhas linhas todas e julgá-las e nenhuma sobreviveria – não porque sejam ruins, mas porque nunca serão boas o bastante.
Quando terminei a Ópera, achei que fora o fato de tê-la começado tão cedo, tão antes de qualquer formação, achei que fora esse o motivo principal do meu relativo fracasso. E no entanto, eu quis contar uma história e a contei e tive prazer nisso e posso até dizer que alguém sem muito critério poderá um dia vir a ter prazer em lê-la. Foi, sob muitos prismas, um sucesso, portanto; e um sucesso que eu mesmo já reconheci ao pintar o segundo olho de um Daruma que já nem devia se lembrar do que aguardava. Já minha segunda tentativa de criar uma história longa, por ser um esforço posterior e muito mais consciente de si, esse se sabe desde já fadado ao fracasso absoluto, ao ponto que nem prazer me dá seu escrever. Faço com alguma resignação, no máximo, com alguma raiva, mas, acima de tudo, faço porque sei que posso – e, se posso, é porque sei que dali não sairá nada e ninguém esperará nada, o que me dá a liberdade de que preciso. É assim que eu me sinto capaz de embarcar em desafios maiores única e exclusivamente por entender que não fará diferença, ao final, quando não os vencer.
No fundo, no fundo, nem me dói. Eu escrevo à toa. Só por isso é bom.
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