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20130909

Diário de uma sniper: o que disseram na tevê


A sniper se sabe ontologicamente sozinha. Isso sempre foi assim. Mas essa sniper agora se vê diante de novas circunstâncias: para além da solidão habitual, ela se tornou uma espécie em extinção. É claro, a proliferação de snipers é e sempre foi sazonal - é preciso que haja um conflito em curso -, mas essa sniper permaneceu na ativa mesmo já terminada a guerra. 

E mais: transformado seu ambiente, transformados seus alvos, seus métodos permaneceram os mesmos. Ela é, no fim das contas, uma conservadora orgulhosa, preservando um ofício e nutrindo uma vaidade tremenda que nem sempre justifica suas decisões práticas.

Vejam: ela sempre busca a colina ou escombro ou prédio no estado o mais deplorável possível. Lá esteve ela ora ensangüentada entre cadáveres, ora enlameada nas urtigas, ora sendo banhada pelo esgoto - e tanto melhor! Dizem que há arte onde quer que se queira, e encontrar um ponto-de-vantagem imbatível nas piores circunstâncias imagináveis sempre há de arrancar aplausos de um lado ou outro.

Mas ela sabe que as vaias ou aplausos só virão no momento em que estiver na situação limite, à beira de sua exposição pública e conseqüente derrota no sítio em questão. E isso não pode ser bom, de maneira alguma.

Por isso mesmo, ela anda se contentando com seus próprios auto-elogios.

20100901

diálogos (misc)

A: BARULHO barulho BAGULHO (!)
B: where is the love
A: Eu comecei no topo e só decaí desde então.
B: o amor que tu me destes era pouco e se acabou
A: Fui me transformando aos poucos em uma gigantesca lesma sem alma aos seus olhos e então era inevitável que tudo terminasse, para sempre - em um grande teatro.
B: nós não somos mais - totalmente, tragicamente, ternamente.
A: Se você voltar pra mim, eu prometo construir escolas, curar os doentes, libertar os detentos, alimentar os pobres, beijar os bebês.
B: quem é você, diga logo
A: Eu não sei mais, não sei mais não sei agora eu sou só um caminho que não leva a lugar algum, um homem sem irmãos que existe num vazio preto e não branco, sem paz só fim.
B: sussurro surdamente um algoz - nós.
A: Agora eu vou me matar e a culpa vai ser sua.


(um palhaço passa por eles - interlúdio - e entrega uma rosa para a bela moça, sorrindo, ela lhe sorri de volta dentes solares, todo o público engasga o ar pastoso, esperançoso, torcendo pelos seus doppelgangers incompetentes, uma nuvem pesada se retorce parafuso, os pais-sogros sentados já chorando, representação de algo inexprimível - um estampido)

A: Você não se importa nem um pouco e por isso eu não posso fazer nada.
B: vou sendo como posso.
A: Agora não dá mais, caralho, não dá, eu me saio daqui nessinstante e vou pro estrangeiro, sumo, esqueço, escafedo, um dia renasço virgem e feliz. Você, cruel...
B: só... fica.
A: não mais.
B: (beija, acaricia, enlaça) a beleza será convulsiva, ou não será
A:
B:
A:
B:

(um encontro)

B: e sim eu disse sim eu quero Sim.

20091025

Querido diário

Ontem fui com ex-colegas de trabalho a um bar que chama Tubaína, na Haddok Lobo. É um lugar bacaninha e tem tubaína e mandiopã. Aí ficamos lá até umas 3h e saímos e távamos com fome, então fomos numa pizzaria na Augusta.

Agora, imaginem uma pizzaria na Augusta que fica aberta às 3h... tinha vários casais gays; na mesa de trás da nossa um grupo de 4 minas e 2 caras ficaram brincando de passar um gelo de um pro outro, usando só a boca e, o pior de tudo, um dos meus ex-colegas, que é carioca pôs ketchup na pizza.

Bem, nós saímos da pizzaria umas 4h, e eu tava a pé e o metrô tava fechado, então eu subi pra Paulista pra pegar um ônibus. Aí fiquei no ponto de ônibus lá, esperando.

Agora, avaliem:

No banco atrás de mim tinha um casal se pegando fortemente. Depois chegou uma mina com um cara que parecia tar totalmente drogado, caía no chão, falava um monte de merda e tal... e não parecia bêbado, parecia lóki de dorgas, mesmo. Mas a mina ficava cuidando dele. E do meu lado tinha duas minas, tb, e eu não tava vendo, mas dava pra ouvir elas se beijando.

No fim, eu fiquei uma hora lá esperando o cacete do ônibus e não passou nenhum. Nem ônibus certo nem ônibus errado, nada. Aí abriu o metrô e eu vim pra casa

Mas foi foda, porque os gays se beijavam, os héteros se beijavam, as lésbicas se beijavam e até o cara drogado tava com a mina lá cuidando dele.

E só eu sozinho.

20090623

Atividade_7: O trabalho acadêmico mais elegante já feito e entregue na história da Escola de Comunicação e Artes.


Em Adivinhadores de Água, Eduardo Escorel traça uma importantíssima retrospectiva do cinema nacional durante o que poderia ser chamado de seu ciclo mais recente – do Cinema Novo até o fim da Embrafilme e, posteriormente, a Retomada dos anos 90, realizando um interessante percurso de uma ressaca a outra (Vera Cruz – Embrafilme).



[bem centralizado na página, com perfume de almíscar levemente borrifado por cima]

20090407

Transferência

Deitado na cama, chorou até dormir - sem dar as mãos.