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20090309

Ele talvez seja

um romântico às antigas, um milionário generoso, um deus na cama, um idiota com um celular. Ele é o cara mais sortudo do mundo. Ela é ela, linda e apaixonada e ele não importa. (Mário de Andrade já diria. Diria, nada! Na verdade, disse, mas não foi assim; não foi bonito.)
E eles vão até o aeroporto no meio do dia e tudo está assim normal, as pessoas turistas, executivas etc. Exceto que ela chega na esteira rolante e se agacha e lança um sorriso alegre-envergonhado e ele filmando tudo. Ela fala alguma coisa e talvez tenha dúvidas quanto ao que está fazendo, mas ela não pode parar agora porque isso é muito mais importante do que ela ou ele ou eles.
Ela tira a camisa e depois a saia e a esteira continua e as pessoas que passam! e ela corre até outra esteira quando a primeira acaba e ele corre atrás e ela tira o resto e se esconde com um braço, mas qual o sentido de se esconder?, então ela se abre e se expõe e ela não se despiu somente das roupas naquela tarde em Kyushu.

O vídeo não poderia não ter ido parar na internet e talvez ela saiba ou consinta, mas também isso não importa.

20090217

Um Céu Sem Lua (ou tudo de ruim que eu deixei para o Mundo)

        Toquei a caixinha do seu “cereal-radical”. Quando digo tocar, não pense em João Gilberto, mas sim em algo mais como Neil Peart ou Keith Moon, porque só pode ser bateria – e só pode ser estranjeira, é claro. Não lhe dei nada de minha prestidigitação Thelonieska e não sorria como Art Tatum faria. Surdo e prato e bumbo e caixa, comigo não tinha nada além de gritos e não eram nem de perto gemidos ou grunhidos ou qualquer coisa que te dê prazer, eu não era isso. Um paranóide, OK? Gritava e era como uma gaivota, a minha gaivotinha de areia!

        Isso já tem tempo, de qualquer jeito, uns dez ou quinze anos, sim. Tinha que ser, hoje em dia ia ficar estranho pra mim tocar uma coisa já tão construída, concluída, porque meu som era puro, cru, rotten pra xuxu! Puro.

        Hoje quando eu paro e penso, tudo não passa de um borrão... Os dentes, deles eu lembro. Esgarçados numa coisa horrível de se ver, mas que era lindo na minha mão. Eu sei que no fundo de tudo tinha um sorriso, mesmo que fosse só o meu nos dentinhos brilhantes.

       Contando isso hoje eu não quero perdão antes da cova nem nada assim, que perdão é só pra santo e santo é um saco. Eu só quero mesmo é te lembrar de todo aquele tempo em que vivemos na mesma casa feito uma família bonita e feliz. Juntinhos, vocês e eu.