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20130302

procurava ninjas de biquini

encontrei freiras satanistas do futuro.

20121230

Minha grande descoberta religiosa dos últimos dias.

Natal! Natal! Bimbalham os sinos! Bimbalhavam, no caso, mas pouco importa. Talvez contagiado por esse espírito natalino, meu pai – ateu praticante – resolveu contar uma piada com santos. Descobri, com isso, que ele não leu minha última crônica – assim como ele descobriu que meus conhecimentos cristãos não me autorizariam a ser um coroinha, para sua surpresa e decepção. Chegou a me questionar depois: como você, filósofo (sic), não sabe coisas básicas de religião? Tentei me justificar dizendo que certas ignorâncias nos permitem visões sob ângulos inusitados de questões aparentemente batidas.

De qualquer forma, esta minha última descoberta, mais do que aumentar meus conhecimentos religiosos, destruiu minha crença da infância, adolescência, idade adulta...

Antes, um parênteses: ao me sentar para escrever este caso, lembrei de outros dois importantes eventos de minha formação religiosa, que deixei passar no texto anterior. Um deles foi em 2004, quando andei visitando uns museus por aí: foi um festival de mulheres segurando Jesus já morrido de morte matada (presunto, na linguagem dos homens de bem), santos flechados, caindo do cavalo, prestes a cortar a cabeça do filho, e por aí vai. O outro foi por 2010, 2011, quando, intrigado por uma música do Racionais MC'S, fui pesquisar na internet, e descobri que Sodoma e Gomorra, antes de ser título da obra do Proust, era algo ligado à Bíblia. Já me criticaram dizendo que isso era óbvio (não sabiam das minhas proezas no campo do desconhecimento): óbvio pra mim é Em busca do tempo perdido, respondi, quase ofendido.

A piada que meu pai contou, que não reproduzo aqui por não ser bom de contar piadas (dizem que contar tirinhas eu faço relativamente bem), era sobre um homem que ia trabalhar numa loja de artigos religiosos, e ao lhe encomendarem um São Jorge, ele entregou um São Pedro. Meu pai gargalhava, enquanto eu sustentava um sorriso amarelo, até perguntar: O São Jorge, ok, tem um cavalo (e não caiu), mora na lua; mas e o São Pedro, como sabia que era o São Pedro e não, sei lá, Santo Agostinho? Como?, meu pai me olhou perplexo, Ora, por causa da chave! Chave? Sim, a chave do céu. Ah!!! É do céu? Do que você achou que fosse?, interveio minha mãe.

A cidade na qual nasci e passei os dezessete primeiros anos da minha vida, tem como santo padroeiro São Pedro. Em cima da igreja matriz – que até hoje me intriga por sua interessante arquitetura, sem neo-classicismos ou pós-modernismos, em tal fim de mundo – tem o tal santo segurando uma chave, que eu, até este fim de ano, imaginava ser a chave da cidade – afinal, não era o santo padroeiro da dita cidade? Imaginava que se o padroeiro da cidade fosse São Tomás ou qualquer outro santo, seria ele dependurado na frente da igreja, segurando uma chave – a chave da cidade, claro. Achava um gesto bonito, apesar de pouco condizente com a realidade dos locais, oferecer assim, tão gratuita e despreocupadamente, tamanha hospitalidade aos visitantes – sem nada da agressiva “Esta cidade está abençoada por Jesus”, ou coisas do gênero, que se vê em trevos país afora.

Foi-me um tanto decepcionante essa descoberta: de democrático anfitrião a carcereiro do céu. Para um católico deve ser lindo, para mim, ateu não-praticante, soou decadente. Não olharei mais para São Pedro com a simpatia que o vi por trinta anos.

Detalhe do Santo que me enganou por trinta anos. Nesta foto, não dá pra identificar bem que gesto ele faz com a mão direita (mas na esquerda está a chave, que não é da cidade).

20121226

Minhas grandes descobertas religiosas dos últimos anos.


Natal! Natal! Bimbalham os sinos!, já dizia aquela crônica do Rubem Braga. Com um dia de atraso, trago aqui um texto imbuído desse espírito religioso que tomou as ruas, shoppings e tevês do nosso país tão devoto.
*
Apesar de vir de família teoricamente católica, e de ter estudado em escola vicentina da quinta à oitava série, minha educação religiosa não foi exatamente um primor. Não que eu não tenha curiosidade em saber mais sobre JC e sua trupe, mas sempre aparece algo mais interessante (e útil) antes. Mas mesmo sem ir atrás, nos últimos anos tenho tido algumas descobertas importantes acerca dos detalhes bíblicos. Enuncio alguns dos grandes momentos desse meu aprendizado:
2003: Assisti ao filme Monty Python's Life of Bryan (até hoje minha principal fonte de conhecimento do assunto).
2007: Pedi ajuda a uma amiga universitária e entendi, finalmente, a tirinha da Mafalda em que ela questionava se a mãe tinha “Complexo de Pilatos”.
2009: Contava minha descoberta de 2007 e me explicaram quem foi Barrabás (que parece ter sido um cara mais bacana – menos chato, ao menos – que Jesus).
2010: Li Caim, do Saramago, e não devo ter entendido a maior parte do livro.
2011: Descobri, graças ao olhar estarrecido de uma amiga devota de São Francisco, que Maria e Maria Magdalena não foram a mesma pessoa (sempre achava que falavam só Maria pra não ter toda hora que repetir o sobrenome).
2012: Descobri que São Judas não é o Judas famoso (dentro dos meus conhecimentos um tanto limitados, fazia todo sentido canonizar este: afinal, não fosse ele o cristianismo perderia seu grande símbolo: já pensou se, ao invés de crucificado, Jesus morre de, sei lá, um ataque cardíaco fulminante, por conta do excesso de sal que as Marias punham em sua comida? Onde ficaria todo o drama da história? Com o que enfeitaríamos nossos cemitérios, saleiros?)




Weitere Trailer zu Das Leben des Brian

20110628

versículo 1000

aí o bispo disse estupro não existe e segurou uma tampa de caneta e disse pra moça "tenta colocar a caneta aqui dentro" e ficou mexendo a tampa e dizendo "BLUUUUU" fazendo biquinho e disse "viu eu disse" e a moça deu um murro na cara dele e agarrou ele e jogou ele no chão e pisou na cara dele e mijou no cabelo dele e cagou na boca dele e amarrou ele com uma corda e enforcou ele e chutou a cara dele e quebrou ele todo e aí ela enfiou a caneta na tampa e disse "é mesmo"

20100315

O Níquel da Eternidade - Esboço de um Road Movie

As graúnas me comovem. Comovem-me os girassóis. Comovem-me os lírios. Comovem-me as pedras no fluxo do rio. A água do rio. A água é cristalina diante de meus olhos. A água é cristalina diante do cristalino de meus olhos. E assim faz-se a complementaridade homem-natureza.

Direciono meu olhar para uma pedra, uma pedra brilhante à minha esquerda. Abaixo-me para tocá-la, para sentir a incomparável sensação de plenitude. Um susto. Quem é aquele que vejo? Seu rosto está turvo – a água é rápida – mas reconheço seus traços. São familiares. Tantos anos se passaram desde a última vez que vi esta expressão, uma expressão que transmite segurança. Segurança. E, em uma fração de segundo, torno-me inseguro novamente. Pois percebo, assim, que o rosto que vejo, na turva água do rio, é o meu.

Não reconheço as rugas que o cobrem agora. Abaixo-me mais um tanto. Consigo encostar na brilhante pedra, e um arrepio percorre meu corpo – o suave frescor da natureza. E raciocino. As rugas denunciam. Denunciam que, inesperadamente, rolou de meu bolso, perdendo-se para sempre, o Níquel da Eternidade.

O que me trouxe até aqui? Estes pés? Serão os pés, que nos fazem caminhar, os responsáveis pela viagem? E, se assim não forem, serão eles apenas servos de alguma outra faceta física do Eu? Não posso crer nisso. Sim. Os pés me trouxeram até aqui. Assim como me trouxe até aqui meu baço. Assim como me trouxe até aqui a tireóide. Assim como me trouxeram até aqui meus fígados, todos os três que possuo. Não há hierarquização entre os órgãos. Assim quis minha Mãe. Minha Mãe que é por tantos renegada – a Mãe Vida.

Mãe Vida escolheu-me outra Mãe. Uma Mãe de carne e osso. Uma Mãe Humana. E esta, por sua vez, forneceu-me uma Mãe, uma Mãe menor, unicelular. Seu óvulo. Poderia ter sido qualquer outro, mas foi aquele. Foi aquele, aquele se tornaria minha Mãe. Minha Mãe, dentro de minha Mãe, escolhida por minha Mãe Vida.

Pai, não tenho. O que é o pai? Fornecedor do material genético, do Sopro Existencial? Pois meu pai era aquele espermatozóide. E, no momento em que perfurou – (consigo sentir essa dor sofrida até hoje) – a parede de minha Mãe Unicelular, ele se desfez. Seu material genético – Meu material genético – foi espalhado por dentro da Mãe Unicelular. E desfez-se o espermatozóide. O homem que gerou o espermatozóide, diriam os mais biológicos, esse sim é meu pai. Não o espermatozóide. Nego. Ele era apenas um vetor...um vetor que fez minha existência ser possível.


O Vetor chamava-se Pierre Lovieuax. Contam-me que era chinês. Nunca o conheci.
(E será por isso que o vejo apenas como um Vetor?
Assim quis me fazer acreditar
o Psicanalista Primeiro de minha pessoa –
Eu Mesmo.
Não creio que assim seja.
Era um vetor.
Somente um vetor.)
Mamãe unicelular, essa sou eu.
Eu sou a Mãe.
Minha Mãe Maior está em Mim.
Pois do interior de minha Mãe Unicelular, o óvulo, fiz-me.
O ovo duplicou-se.
Dois ovos.
Os dois ovos se duplicaram.
Quatro ovos.
Células.
Núcleo celular?
Seria essa a essência de todos nós? Um Núcleo Celular?
Pois assim fui concebido.

Meu coração dispara. Apalpo meu bolso. Nada. Perdido. O Níquel foi perdido. Durante anos cunhado, durante anos estudado...e agora, perdido.
Resignação?
Derrotado?
Não. Olho novamente a água. É como um filme passando em minha cabeça e, traindo as leis da Natureza – Natureza suprema, pois então como tão facilmente traída? – a água inverte seu curso. Procuro-me no reflexo. As rugas...Permanecem. Percebo que estava de olhos fechados.
(Quais olhos?)
Abro-os. A água segue seu curso regular. As rugas...Permanecem. O Níquel, este se foi. Sinto que minha Metade Menor impulsiona-me para baixo. Olho a grama tão verde, tão verde -- e o Verde, a cor-mor da Mãe Natureza. Ela me seduz.
“Venha, Filho”, ecoa.

20100222

Reflexão-rocambole matinal

O que me interessou nesses três contos do Borges que eu li na vida foi essa alma de seminarista rebelado (meio como se o Scorsese fizesse ensaios cinematográficos). Os histriônicos, no fim das contas, talvez não sejam hereges, já que Deus toma João e Aureliano como, digamos, reflexos no Espelho. A trabalhar-se, esse espelho.

Vou tomar o Я e o R ('ya' e 'rr'), o primeiro sendo o mais simples "Eu" (em russo e, foneticamente, também um 'Sim', em alemão) e o segundo algo talvez ainda mais simples, um rosnado neolítico ou de um cachorro. Se alguém conhecer alguma partícula de alguma língua que seja constituída simplesmente por esse fonema ('rr'), gostaria de saber.

Podemos levarmos em conta que Я está presente em яблоко ('maçã'), a fruta da perdição. Com boa vontade, pode-se perceber que Яблоко é formada por Я [eu] + Ьлок [bloco] (о) [o 'o' final dando à palavra um caráter ao mesmo tempo neutro, de substantivo - sendo portanto a maçã, enquanto substantivo, a materialização do conceito - e adverbial, a modo de...]. A soma é fácil, e o resultado surpreendente: qual é a primeira conseqüência da mordida que Eva dá? A percepção de que ambos estão nus - passam a olhar para si próprios - e envergonham-se.

Não conheço as origens que levaram a formação das letras Я e R, mas seria decepcionante descobri-las apenas um acaso de convergência, como me ensinaram serem os golfinhos em relação aos demais peixes. Também não pensei muito sobre o "rosnado" ('rr'), ou até pensei, mas não me agradou a primeira ideia que vem à cabeça, por me parecer muito simplista e antropocêntrica: em oposição aos "Eus" (que se perceberam como 'Eus' após comerem do 'bloco de Eus', da 'matéria que contém todos os Eus'), os ainda selvagens a la 2001. Oras, mas será que os selvagens a la 2001 não se reconheciam como eles mesmos?

E há também a questão da ordem.
ЯR ou RЯ? Acho que a diferença é significativa demais para passar desapercebida.

20090528

Quando Padre Vieira subiu no palanque,

a expectativa pelo que diria era grande. Cada dia mais gente se perdia na blasfêmia e na heresia e Vieira era um dos religiosos que mais interesse despertava para os céticos por conta de seus raciocínio agudo e argumentação venenosa.
Ele mesmo parecia mais ansioso do que de costume, cochichando com um frei rechonchudo e jogando água na nuca porque era verão em Madri.

Subiu, já disse, no palanque e como um breve instante de silêncio se fez entre todos, aproveitemos a chance para dar-nos algum contexto. Ocorre que certo reboliço se havia criado na Espanha quando um grupo indecoroso começou a espalhar por aí ideias já um tanto antigas de que todos os fenômenos do mundo e mesmo a própria vida podiam existir sem necessidade alguma da influência ou mesmo da existência de Deus.

Não surpreende que a Igreja tenha querido rebater os argumentos com máxima agilidade e tentando impor o máximo de respeitabilidade aos contra-argumentos, de forma que agora, e é a última vez que repito, subia Vieira ao palanque. O padre então limpou a garganta não porque precisasse, mas porque sabia como um discurso tinha que ser feito, e ergueu a mão sinalizando para que cessassem os burburinhos (iniciados logo após o instante de silêncio, talvez enquanto ainda nos contextualizássemos). Depois disse É claro que, sem Ele, ainda se morreria e se nasceria e reações químicas continuariam a ocorrer e células se aglomerariam em mórulas e corações enrijeceriam e chuvas choveriam sem Ele. Nada disso, porém, me tira a convicção de que sem Deus é impossível que haja vida ou morte ou chuva.

Por fim, decidiu-se que uma boa pira vale mais que mil palavras, e o padre incompreendido acabou provando da nova linha de argumentação da Igreja.

20090407

Transferência

Tiago sentado: olha a cidade de cima e de repente eletrocuta-se, um cabo desencapado, algo assim. Seus olhos se abrem hinduisticamente e há bilhões: verossimilhança oportunista, não sei o quê, tudo o que se pode ser em uma coisa só e uma explosão e infelicidade eternas - Carol, aperta minha mão, se beijam, é algum placebo algum paliativo, viajam juntos ao Nepal e lá rezam por todos nós.