mais ou menos pontual;
nessa época Sultão ganhava um volume
considerável: pelagem típica.
parecia gordo, mas não passava de casaco
e quando se sentava
tomava a forma de um alaúde.

Como é que começou? Como é que entrou nisso? Como escolheu esse trabalho? Como chegou a cogitar em assumir esse emprego? Você não é como os outros. Eu vi alguns; eu sei. Quando eu falo, você olha para mim. Ontem à noite, quando eu disse uma coisa sobre a lua, você olhou para a lua. Os outros nunca fariam isso. Os outros continuariam andando e me deixariam falando sozinha. Ou me ameaçariam. Ninguém tem mais tempo para ninguém. Você é um dos poucos que me toleram. É por isso que eu acho tão estranho você ser bombeiro. É que, de algum modo, não combina com você.
A bailarina russa vinha se arrastando por todos aqueles anos, em busca sabe deus do quê.
Encontrei-a no meu guarda-roupa um dia. Ela tremia. Só podia ser fome, porque na Rússia se passa muito frio e fora dela se passa muita fome, disso eu sabia desde menino pequeno. Com isso na cabeça eu fui buscar leite e pão, que era só o que eu tenho nessa vida. Quando cheguei ela já estava esparrimada no colchão cheio de panos, num sono pesado feito o pão preto da sua terra gloriosa. De bonita que era, eu deixei o que eu tinha no criado-mudo e fui pra varanda pitar o meu pito e ver a cidade morrer.
De noitinha eu ia voltar e não ia mais ter leite nem pão nem russa no quarto. A bailarina foi-se embora, sem deixar nem o cheiro das russidades que enroscou no meu lençol com a maior cara-de-pau. Foi aí que eu larguei meu pito e comprei uma garrafita de vodka pra ficar debaixo da cama, esperando visita.