20110331

fragmento azul

José sempre soube que ver as coisas era questão de escolha; obviamente pode-se desviar o olhar mecanicamente, com torções do pescoço ou movimentos de corpo inteiro e até mesmo fechares de pálpebras, mas esquece-se às vezes que a visão é um processo cognitivo e, portanto, passa necessariamente por uma etapa de reconhecimento semântico - a imagem "bruta" absorvida é submetida a uma transformação em significado. Esse processo é, sabia José, totalmente voluntário e controlável.

Foi assim que José não viu a morte - com a combinação ágil de piscadelas de ginasta e uma espécie de autismo fabricado, desfez o que se fazia à sua frente: um corpo de mulher desabando como tijolo em nada, já sem sentido. Dizer que continuou andando daria um tom maior à dramaticidade, mas é mentira: nem mesmo estava em movimento quando aconteceu, os pés plantados no chão como quem vê a lua com telescópio, um suíngue lentíssimo balançando-lhe os quadris enquanto admirava o que quer que fosse que caía. E então -- nada.

Gabriel lhe perguntou desesperado, bêbado talvez, afinal o que acontecia ou acontecera - mais cinco ou seis ao redor, círculo do telefone-fogueira, queriam saber, aflitos. José não o via, não é preciso falar, e a voz de Gabriel era quase um slogan alienígena surgindo metálica. Disse apenas que não sabia, que não tinha como saber, e desligou.

Viu-se no espelho de relance, distraído, e reconheceu sangue nos seus sapatos, antes que pudesse evitar. Fechou os olhos mas não foi suficiente

[apenas um adendo de qualidade duvidosa
e veneno histórico:
josé era o filho do neto do longínquo descendente
de um famoso bandeirante cujo nome já se perdeu
homem de grande bravura
de grande corpo
de longa espada.
desgraçado pelo sexo
(de uma nativa)
atocaiou-se em minas gerais
em uma gruta
em uma cachoeira
tornou-se bruxo
renascido Hermes
e viveu de cogumelos
até se tornar constelação]

pois o que estava visto estava visto, sem negociação. Naquele bar, quase gentrificado a ponto de se tornar uma padaria familiar, não havia ninguém que se importaria, creu ele. Comprou um café, uma cachaça, uma cerveja e uma coca-cola e bebeu-os nessa ordem, o mais rápido possível. Ao fim, tão enebriado quanto sóbrio, dirigiu-se ao banheiro e lá se trancou.

José também sabia outra coisa que esquecemos: morrer. Morreu, então.

dentro de uma estrela que na verdade é fria como todas as estrelas porque estão no espaço dentro de uma sala mobiliada como uma mesa de bilhar dentro de um armário de madeira de lei composto por mozart está josé de olhos abertos vendo ela dançar sobre desenhos de giz que talvez sejam o retrato de um ex-general sem nome e a dança é incrivelmente bonita e lhe faltam palavras

No dia de Santo Agostinho eu entrei em um café e pedi café. Você, por outro lado, decidiu que seria “diferente”, “emocionante” me desafiar num duelo de vida ou morte à beira do cais e então eu fui e eu te matei, mas não queria te matar. Porque eu te amava mais do que os urubus jamais te amariam – mas que importa? Você era deles agora.

Chances






Em uma sala existem 19 pessoas, 12 delas são sociopatas e 7 delas não são sociopatas. Entre as que são sociopatas, 41% é homeopata. Entre as que não são sociopatas, 4 não são homeopatas. Escolhendo um homeopata ao acaso, qual é a probabilidade dessa pessoa ser sociopata?

20110327

soneto do sei lá.

Sei lá
sei lá
sei lá
Sei lá


Sei lá
Sei lá
sei lá
sei lá


Sei lá
sei lá
sei lá


sei lá
Sei lá
Sei lá

20110323




Escopeta é uma ótima palavra. Já soa estourando.

.

quotediana: azoto

20110318

Acho um desserviço

Foi o Hiro, acho, quem falou de como o livro é idolatrado no Brasil (não querendo dizer, me parece, que seja assim só aqui, mas é assim, aqui). Parece uma burrice enorme, afinal, Brasil, ninguém lê etc, mas olha: leia alguma coisa no ônibus - o bom é que pode ser qualquer coisa, porque ninguém vai diferenciar o Saramago d'O Diário d'um Mago, mesmo, então tanto faz - e preste atenção.
As pessoas não encostam muito, algumas olham meio de assim. Um livro! Logo aqui, do meu lado nesse ônibus, foi aparecer um destes! E mais: com uma pessoa lendo! É meio isso, uma deferência, assim.
Bom, vá lá que ler um livro (quero dizer, num ônibus, com nosso asfalto sofrido) seja mais difícil que enfiar dois plugues nas orelhas, mas de verdade, mesmo, por que um cara lendo seria "melhor" que o outro ouvindo música em mp3 no celular? Ou até (pra fugir das artes) que aquele cara ali, olhando pela janela, vendo a cidade, as pessoas, talvez até (loucura!) pensando? Eu posto aqui e sei que vocês, assim, não vão cair fácil, mas pergunte isso por aí, vejam só quantos absurdos ouvimos em nome da cultura, da educação, da (pasmem!) literatura.
Fora as campanhas de incentivo à leitura. Sempre a lenga-lenga do quanto se aprende, como se ler fosse intrinsicamente bom, como se pegar em qualquer livro já desse assim um choque de conhecimentos emocionantes. Não é à toa que ninguém leia! É como nas propagandas de internet - a sorte desta é que não precisa delas pra se vender, porque se dependesse da perspectiva de fazer lições de casa maravilhosas, que vazio seria o msn. Aguardem só, logo chegaremos ao ponto de ter que colocar um livro com cuidado nas mãos das crianças e repetir em tom tranquilizador: calma, é só papel, viu? Você escreve o que quiser nele.

20110317

pornografia = ponto de vista

Coisinha que nunca deveria ir a público e que justamente por isso está aqui.

engraçado que não tenha pensado em te procurar antes
meu duplo diário em que posso fingir que não me exercito
faz tempo que não finjo que não me exercito
verdade

essa consciência constante de mim, medo de tudo que tem a ver comigo, receio de importar alguma coisa para alguém quando para mim mesmo sou um pedaço de laje e só – só um pedaço, não a laje toda! – como se poderia desejar um pedaço de laje? fica a reflexão hehehehehehehehehehe

escrever  sem público, publicar sem escrita
fazer as palavríneas se aforagem no texto na lama do incógnito
mas nunca escrever e colocar na gaveta ou jogar fora porque aí é perigosamente impessoal
poder ter alguém que leia
querer alguém que leia
comunicar é quente

se sentir sozinho sem estar sozinho e saber sempre que está sendo um pouco injusto consigo mesmo e os outros, especialmente os outros.
sem rigor nenhum, sem morte nenhuma
sentir os limites com os dedos
sentir os limites com os dedos

cotidiano lutando contra o cotidiano lutando contra mim

não era essa a história que eu queria contar mas não tenho mais história pra contar pra ser sincero acabou o papel e a constipação e tudo mais

um elefante de ouro ainda é um elegante?

ELE, GALANTE, ELEFANTE ELEGANTE, GARANTE:

Go-ggg-go-g-gooo-gggoooorgonzola!
E-e-e-eu ggggggg--go-gg-goosto de gorgonzola.


ELA, DONZELA D'ONZE, ELA, DISSE ELA:

Mmm---mmmmortadela?


VOCÊ, FERA, VOCIFERA – VOZ DE FERA:

NNN----N---não-Nã--nã-nnão seeeeeeei!!!


MAS ELE, MAS ELA, MAS TURBANTE (REFERENTE ELEFANTE ELEGANTE DE TURBANTE), MAS NÓS COM REMELA, NÓS QUE DANSAMOS (ANSIAMOS, ANSIÕES) E AMAMOS E IMPORTAMOS QUEIJO DO BOM, SOMOS SÓ SORRISOS E FELICIDADE.

Co-ccc-co-c-cooo-cccoooomamber?

20110316

a EVOLUÇÃO é uma ARTE

Uma metáfora interessante


Anexo 1

aewaew, ele me diz.
oe, eu respondo.
œ, é ele.
:o, sou eu.
:œ, ele.
ok, eu.
œk, e a conversa não anda.

...

Tá, chega, ele diz enfim. Tudo bom?
Eu: tudo certo, e consigo?
Ele, fazendo aquilo que ele já definiu como sendo tão previsível que não se pode corrigir pela previsibilidade porque seria de fato necessário: consegue o quê?

...

Além do mais, eu digo, antes eu era novo, mas agora eu sou velho.
Ele estranha (acho). Antes quando?, pergunta. Quantos anos você tem, mesmo?
Antes, eu respondo, até o fim de 2009. Quando eu ainda não tinha me formado. Tenho 23, faço 24 em maio. Ano que vem eu já deveria me matar, segundo o Bowie.
Ricardo se esforça, tenta solidarizar: Bem, se eu fosse seguir minha promessa, já tinha morrido
Em vão! Você tem todo o futuro pela frente, digo eu, resignado. Mas meu tempo já passou.
Ele é insistente. Eu to bebendo uísque às 2 da manhã de uma quartafeira, diz. Mas até nisso trai nossa diferença.
Terça, digo eu.
Hoje já é quarta, diz ele.
Pra mim é terça, sempre vai ser terça. Entenda, eu digo, na minha idade, é importante adiar a passagem dos dias.
Ricardo, então, arruina tudo: E eu sou a pessoa mais loser do mundo por 

"blablabla" [exercício de estilo?]

Verme inaudito, circunda-me como abutre. Criatura pestilenta e vil, eis o que és!

No calor desta falseta andaluz, traz as doenças mais temidas num único beijo. Um beijo perdido, que vaga no espaço lúgubre entre o dia, a vida, e a morte - a noite.

Ou então!

Seria, pois, um singelo mensageiro dos infernos, que nos traz, a tiracolo, nossas vidas - a noite... E a morte, o dia??


[original de 01/12/08]

o poeta se revolta contra a tarifa de ônibus abusiva

algum lugar pra rabiscar
uma canção chamada sono, febre
ódio sem razão de
um pássaro

Ram-Tsa-Ka pega a estrada

- Me contaram um causo uma vez, de uns velhos que eram bem chatos e não pareciam querer ser jovens de novo...especialmente porque o efeito de um velho falando que “O p’blema tod’ são é quando hãm-mmnnhf-p’t’t- no cu” é bem diferente de um jovem dizendo isso aí. Todo mundo fica meio enternecido com o cu do velho, aplaudem, dão risada, acham engraçado, e não ficariam assim se ele fosse jovem, sei lá. E isso valia pra tudo. Aí não queriam voltar a ser meninos. Será?

- Não queriam mesmo, ainda bem. Eu acho. Talvez a graça seja justamente o velho falar do cu pra todo mundo rir.

- Veja.... mas, oras, lá vem Ram-Tsa-Ka!

Ram-Tsa-Ka já estava com 73 anos, ainda muito cabreiro e impressionantemente magro, porque havia, afinal, feito sexo com a filha do faraó, com o próprio e os ministros e ministras por cinqüenta anos.

- Ram-Tsa-Ka, diga lá: tu queria voltar a ser jovem?

- ....

- Ei, Ram-Tsa-Ka, volte aqui! Não nos deixe falando sozinhos!

Só que ele tinha finalmente sido expulso do palácio do faraó e não queria muito saber de papo naquela hora do dia. Mas os três acabaram andando juntos até uns quilômetros à frente.

- Ram-Tsa-Ka, você viveu bem aí? Acha que ainda é tão gracioso quanto quando era jovem? É mais gracioso agora?

- Como é crescer, Ram-Tsa-Ka? Como foi ficar cada vez mais adulto, até que você deixa de ser adulto e vira tipo um velho?

- Espera, espera, com calma... Sendo honesto consigo mesmo, Ram-Tsa-Ka, você sabe que só agora está realmente crescendo, porque, oras!, você viveu num limbo maracatútico de uns cinqüenta anos, festejando, pulando e fornicando até ser finalmente expulso do palácio por um delito que cometeu no que teria sido chamado de “auge da sua juventude”, não é?

- Compreende que é como se o que seria um apêndice da sua vida agora deveria conter todo um resto de, não sei, o que seria normalmente meio século? Enfim, e o que você vai fazer? Vai dar para ser assistente do faraó?, eu acredito que não, vai ter que encontrar outra coisa pra fazer, não é? Responde a perguntinha, é rapidinho, Ram-Tsa-Ka!

- Vão se foder, babacas.

Mano, todo mundo rachou o bico, menos eu =(

20110315

"Não é que não haja nada no Direito que me agrade. É a atividade profissional o que me aborrece."
"A prática do Direito, você diz?"
"Oh, não, não, qualquer atividade profissional."



Crescer: que palavra!

Eu falei assim mesmo (na verdade, usei uma vírgula ao invés dos dois pontos) depois do conselho dela: que crescesse. Crescer é, me pareceu, não ir ao Arqui rever professores, não falar com alguma saudade do prédio em que cresci (ora!) etc. Fazer essas coisas é, supostamente, coisa de bebezão (foi o termo que ela usou, numa escolha fantástica), muito embora, por óbvio, eu não pudesse revisitar professores ou ter saudades de qualquer coisa se não os tivesse abandonado há muito.
Mas crescer, que porra é isso? Eu achei que já tinha respondido isso, pelo menos pra mim mesmo, mas é claro que crescer não é só uma coisa interna (ou pelo menos ficou claro quando eu fui chamado de bebezão, assim, na lata). É provável que crescer não seja apenas não rever professores ou não falar no prédio, mas também ganhar dinheiro ou tentar ganhar dinheiro ou perder dinheiro ou simplesmente passar na prova do Rio Branco e é engraçado, porque nenhuma dessas coisas significa um crescimento de verdade (de nenhuma natureza), mas são coisas satisfatórias, no sentido de que satisfazem a exigência de crescimento, ou pelo menos parte dela.
A explicação mais provável é que essas sejam boas respostas porque elas simbolizam coisas que nós, no fundo, não queremos fazer. Todo mundo quer ter dinheiro, mas quem, de fato, quer ganhá-lo? Todo mundo (é mentira, claro) quer um cargo de diplomata, mas quem quer de fato perder anos estudando quando se poderia estar jogando Braid ou assistindo a Suzumiya Haruhi ou escrevendo uma Obra (e o mais legal disso tudo é que, dada a oportunidade, nós (outra mentira) não jogamos Braid, não escrevemos uma Obra) e mesmo passada a prova, ninguém quer ser um diplomata, porque isso é chato, isso dá trabalho, isso tira a mítica.
Eu tenho um interesse quase infinito por todos os campos do conhecimento e esse interesse só não é infinito de fato porque ele termina no ponto em que eu começo a me dedicar a adquiri-los. Porque este é o ponto em que os outros campos do conhecimento se tornam muito mais fantásticos e maravilhosos, porque, afinal, o legal na vida, o emocionante, é o potencial, são as coisas que nós poderíamos fazer e não aquelas que fazemos e que se nos revelam em todas as suas falhas, rotinas, em todos os seus aborrecimentos.
Então, crescer é isso: lutar contra o desejo do possível e se ater ao factível (nunca havia pensado em contrastar as duas palavras assim, olhem só que lindo). É filtrar o mundo de tudo o que é lindo e colorido e deixar passar somente o horrível e o bege e o cinza e é, também, saber admirar essas coisas, saber se satisfazer com os pequenos nadas de luz que escapam das redes que formamos, que driblam isso tudo de que venho falando (seja lá o que for) e se lançam para o horizonte desafiadoras, nos rodeiam por um segundo e de repente formam um arco-íris.

Quotediana: espinafre

20110314

Re: Gatinho.



Quando ela fugiu, fui atrás. mas no caminho, desisti.

Desisti porque sou só um gatinho.

E derramei muitas lágrimas, lágrimas do gatinho.

Gatinho.

Quem sou eu?

Não sou um nerd muito menos badboy. Estou um nível acima disso.

Gosto de física mas gosto mais é de contato físico. Nossos olhos se cruzando,nossos corpos se tocando, nossos lábios se enconstando gerando uma atração devido a força eletromagnética vencendo toda a repulsão coulombiana e as forças negativas contrárias existentes no meio que nos impedem de unir nossos corpos fazendo uma experimentação física através do atrito entre nossos corpos gerando uma polarização e o calor gerado de nossos corpos devido ao atrito e a reação físico-química entre nossos corpos e lhe mostrarei o verdadeiro significado da potência através da mecânica de nossos corpos que se aprende na escola através da força e velocidade de como te pego e beijo fazendo amor aquecendo nossos corpos no frio da madrugada até a manhã seguinte e ir para a escola de manhã.

Quero usar você para uma experiência e vamos formular juntos matematicamente uma equação de nossos sentimentos e emoções inconstantes, e da mecânica dos corpos rígidos e da troca de fluidos, e as reações físico-químicas de nossos corpos, mesmo que seja infinito e imprevisível o resultado deste cálculo em nome da ciência sentindo o verdadeiro prazer de ser uma mulher submissa através da física experimental fundindo nossos corpos através da fusão nuclear resultando numa reação em cadeia infinita e lhe mostrarei a luz e o significado da energia gerada em MegaWatts do calor de nosso amor gerado pelos nossos corpos em milhares de graus Célsius.(Cº)

Depois vamos fazer um histograma juntos equacionando todas nossas experiências e vamos vamos reduzir tudo para um resultado só, que é o amor e provar matematicamente o sentimento que ninguém jamais provou que apenas um físico pode proporcionar. Vamos sentir o prazer da física experimental, sentindo todos os prazeres da mecânica dos corpos e dos fluidos na banheira grande de hidromassagem, da hidrodinâmica, do eletromagnetísmo e da físico-química e termodinâmica debaixo do cobertor em cima da cama redonda e mostrar a virilidade através da definição da potência.(W) enquanto nos distraímos nossos 5 sentidos através da ilusão de ótica gerada através dos espelhos colados no teto e da luz, as ondas eletromagnéticas entrando em nossa retina purificando nossa visão, as ondas sonoras devido ao efeito doppler e a refração das paredes do quarto, dos gemidos gerados de nosso amor purificando a nossa audição, as ondas construtivas e destrutivas gerados através de nossos gemidos que se refratam, e a somatoria dos efeitos das ondas construtivas e destrutivas e os efeitos de reflexao/refração do som ocupando nossos ouvidos, sentindo o calor de nossos corpos ardentes atritando entre si através da mecânica purificando nosso tato através do atrito e o calor gerado através da termodinâmica e da potência através da força e velocidade, purificando o paladar através de nossa saliva resultando numa reação de eletrólise de nossa saliva devido ao atrito de nossas linguas na boca ao beijarmos ardentemente, nosso olfato purificado através do cheiro exalado pelo calor do nossos corpos devido a mecânica forte e viril de nossos corpos se atritando entre si aumentando cada vez mais o coeficiente de dilatação superficial com a pressão e o atrito do movimento alargando cada vez mais numa frequência constante, e o atrito gerado de fluidos que exala de nossos corpos suados e o movimento harmônico simples dos nossos corpos colidindo entre si, numa colisão perfeitamente inelástica e macia do seu corpo amortecendo todo o impacto dos nossos corpos devido ao momento linear e ao impulso animal e selvagem dilatando cada vez mais e mais resultando numa função senoidal de vai e vém segurando firmemente suas mãos até preenchê-la de fluidos jorrados numa velocidade altíssima, numa vazão medidas em centímetros cúbicos por segundo(cm³/s)assim por fim purificando todos nossos 5 sentidos através do amor

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Celular: não tenho.

Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu

O trono só estava um pouco sujo, um pouco mais sujo do que o mínimo que eu achava que era necessário para que alguém pudesse ver alguma poeira da distância a que ficavam em geral.... mas não deu outra, e justamente por isso eu fui levantado pelos cabelos:

- A troco de quê você sujou o trono, Ram-Tsa-Ka?!

- Mas eu não sujei, de modo algum, não!...

Me jogaram para fora do palácio, junto com minha bolsa e uns outros pertences espalhados, mas bem nessa hora o faraó estava voltando da guerra. Fui envolvido na felicidade geral e abraçado tão forte, mas tão forte pelo próprio filho do faraó que acabei ficando ali mesmo. No meio do caminho eu dancei, enfim, na verdade todos nós dançamos muito, eu só dancei porque todos dançavam e justamente a filha do faraó também começou a me puxar uns passos, sorrindo. Puxa, que sorriso charmoso ela tem! Me senti querido, bem querido!

- Viva!

- Viva!

- Viva!

Fiquei tão feliz que fui obrigado a quebrar o coro e confidenciei a ela:

- E eu, que na hora exata da festa estava sendo atirado para fora do palácio...

Ela me sorriu ainda mais desenfreada, dando uns pulinhos ritmados. Fiquei com a impressão de que não me ouvira e acabei repetindo, também eu sacudindo um pouco mais:

- E eu, que na hora exata da festa estava sendo atirado para fora do palácio!

Não só o sorriso continuou como seus olhos viraram para mim com uma doçura que nunca pensei que experimentaria, vindo de onde venho! E sacolejamos, dançamos e fomos seguindo, diria que até cada vez mais próximos...que beleza!

Mas como sempre acontece, meu outro lado do espírito começou a levantar suspeitas. Havia algo de emboscada nisso tudo, algo nos salamaleques que a impediam de naquele momento exato agir, mas o que me garantiria a vida e o emprego, quando terminasse a festança? Assaltaram-me dúvidas atrozes sobre tudo à minha volta, uma infelicidade que foi só crescendo conforme avançávamos palácio adentro na batucada.

Puxa, como eu fui infeliz nas horas e nos dias seguintes... Eu berrava, eu me esgoelava enquanto os banquetes e mais banquetes continuavam, enfim, “Eu estava sendo atirado para fora do palácio!”, “Viu?! Para fora!”, eu agarra qualquer um pelas mangas, e não importava, todo mundo ali pulava e eu logo ficava feliz de novo por uns instantes. E quem diria, também a filha do faraó continuava sorrindo e com os olhos ali para mim, dançando, dançando...ai, ai...até eu mesmo botei meu pé em cima do trono e sacolejei, rebolei, o escambau, deixei uma pegada e ninguém se importou! O medo, o medo!

E aconteceu que a festa não terminou mesmo. Enquanto duramos eu, a filha, o faraó e mais as figuras importantes do governo, ficamos ali pulando e acho que até fizemos sexo. Pois é, acho que até me diverti.

20110312

número 22: agonia

um bravo herói luta contra suas agonias no gramado e na Chuva.

"A fish with teeth tastes the same as fish without."
Afghan Proverb

20110311

20110305




Não quero lhe pedir autorização para gravar seus olhos em meus olhos.

.
Encontro dos ateus:

Bem pessoal estamos aqui para nos assegurarmos de que o cara lá de cima NÃO existe. Alguem discorda?

platéia: Não! Deus não existe mesmo, aquele maldito! morte a jesus!

"palmas"

Pessoal, se há alguem aqui que ainda crê em alguma divindade, você que está crendo ainda mas quer perder sua fé, levante sua mão e suba aqui! Venha, não tenha medo!

"alguem levanta a mão"

-Eureka! Eureka! Qual é o seu nome irmão

-Josefino!

-E você está pronto para aceitar o ateísmo em nome de darwin, ceticismo e richard dawkins?

-Sim!

-Eureka irmão! Mais um para o rebanho! Que assim seja

--

-Irmãos ateístas, esses dias estava reunido num jantar de família quando surgiu o assunto religião. Quando ouvi o começo da palavra, re... já fiquei preocupado. Quando falaram ligi... já fiquei com a cara toda vermelha de ouvir essa palavra maldita em pleno séc. XXI. Quando falou ...ão! Já fiquei todo nervoso e não conseguia me conter, já estava me remexendo na cadeira todo agitado, até soltei um peido da comida irmãos! Porque É UM ABSURDO AINDA EXISTIREM ESSAS BARBARIDADES EM PLENO ANO 2011! Nós vamos destruir Deus! Não deixei barato!

-Aí não pode, irmão! Você vai para uma noite agradável num jantar e é perturbado com esses espectros macabros da crença irracional EM PLENO SÉCULO XXI??! Conte irmão ateísta o que aconteceu!

-Não deixei barato! Soltei um peido e falei: Olha aqui a criação fétida do seu Deus! Sintam meu peido de Deus! Essa é a força de Deus, o fedor de Deus? Deveriam todos estudar Darwin, em PLENO SÉCULO XXI, falando em religião pessoal? Morreucabô! Morreucabô! Estamos todos indo em direção à sepultura, nos decompondo, em direção a sepultura e depois disso, só seremos comida de vermes e ACABOU! MORREUCABÔ! MORREUCABÔ! Irmãos infelizmente não teve uma boa repercussão e todos começaram a me olhar feio! Maldita crença mística em pleno*séc. xxi!

Minha mãe ficou envergonhadíssima, não sei porque, de ter um filho que desvendou as crenças irracionais que ainda assolam a humanidade! Mas tenho fé em nietzsche (não sei muito bem o que ele quis dizer! mas falou que Deus está morto etão eu concordo! Só errou em uma coisa, ele nunca esteve vivo!). Aí minha mãe, envergonhada, falou "Ele é muito inteligente! Mas anda lendo uns livros esquisitos que está tirando-o do caminho de Deus!" Ah, não, irmãos! Quando ela falou isso eu disse: CHEGA! E dei um soco na mesa, abalando a todos. CHEGA DE PRECONCEITO CONTRA OS ATEUS!!

Texto do escritor e livre-pensador Paolo Cardoso Lebre

20110304

Mezzo a mezzo (a hora do chá)

Olha, você sabe que eu me surpreendi com isso tudo? Com o quanto não é diferente? Ela se virou sem saber se entendia ou não e tornando necessária a complementação: sabe? As salas, o banheiro, tudo é... direito. Eu achava, assim, que seria meio velho, sujo, sei lá. Boa surpresa com a FFLCH.

Embora seja um hábito talvez de fraqueza ou limitação imaginativa, trazer elementos do cotidiano para um texto é a melhor forma de evidenciar a relação dúbia entre vida e literatura: usa-se aquela como instrumento desta e esta como instrumento daquela.

Ela me chamou de besta e fomos embora; estava fazendo frio e chovendo, mas a proximidade aquecia, fazia bem. Não é muito, claro, dividir um guarda-chuva, oferecer um doce, compartilhar um segredo, mas quando se está lá, fingindo que o que se quer é fugir da chuva ou ser legal ou desabafar, nessas horas é que se percebe o quanto pesam essas coisas todas.

É difícil, às vezes, usar a primeira pessoa, mas é nessas horas que ela é mais bem-vinda. Pode parecer bobagem, não sei se parece, acho que sim, mas esse tipo de escolha me soa sempre muito mais relevante do que uma questão de concordância. A primeira pessoa sou eu e ela é importante, às vezes, pra mostrar que sou sempre eu, embora nunca seja – se eu não consigo explicar, é melhor ainda.

Andando tão perto, talvez seja natural sincronizar os passos, mas eu não posso deixar de pensar nisso como algo importante. A dança para pular as poças de água e evitar as partes mais acidentadas do calçadão é tão bela quanto qualquer outra e a gente tendo que ficar perto assim, pra aproveitar o guarda-chuva – algum dia eu vou lembrar disso como nosso primeiro tango?

Eu escrevo, portanto, na primeira pessoa, e isso significa o mundo para mim, porque me força a acreditar em tudo. Mas o leitor também receberá o texto assim, em primeira pessoa, e também ele será forçado a acreditar. Não é apenas uma ligação autor-obra-público, mas um compromisso mais importante: eu sou o narrador e o leitor também o é. Nós dois contamos a história e somos a mesma pessoa.

As escadas e as risadas, todas acabam e nós ficamos aqui, entre a calçada e a rua, entre um ponto de ônibus e meu carro estacionado no bolsão. Nós paramos sabendo que ali era a hora de ruptura, de separação e eu achei que ela também não queria aquilo. Seria idiota sugerir uma carona. Seria? Você vai pra lá, não?, ela disse. Não, não. Hoje eu estou de ônibus, menti.

E no entanto, não é a mesma história, não é a mesma pessoa. Se fosse, talvez eu não precisasse estar aqui, me justificando, me esforçando tanto pra que você acredite sem, no entanto, acreditar. Se fosse, talvez eu nem precisasse mentir que minto.

Metade de mim ficou meia hora esperando no ponto com mais cem ou mil outras pessoas, torcendo para o ônibus dela chegar antes pra eu poder ir correndo pro estacionamento, ao invés de ter que entrar num ônibus, pagar os três reais do Kassab e descer logo pra voltar andando no escuro da USP até meu carro. A outra metade estava sozinha com ela e torcia para seu ônibus não chegar nunca, para aquilo demorar pra sempre.

A banalidade das nossas ações cotidianas é o campo mais fértil e perigoso da ficção e é por isso que não serve completamente aos meus propósitos. Algum dia, as outras pessoas verão que os livros de memória não merecem maior crédito do que os de fantasia medieval. Acho que entendo onde a ideia de metaverdade falha: ela sugere que a ficção seja entendida como algo que verse sobre a verdade (ainda que o faça com verdades) ou como algo que à verdade remeta. Não é assim; é verdade, só, como qualquer outra. Antes de assassinar tudo o que eu fiz até aqui (em prol da verdade!), lanço um último alento para que o plot twist não seja visto como uma surpresa planejada ou uma fuga da tal banalidade ou como algo de que deveria emergir uma reflexão moral qualquer. É só verdade.

Meu ônibus chegou primeiro. O tiau foi um beijo na bochecha morno e minha cabeça se enchendo de dúvidas e de serás. No fim, fui de ônibus o caminho todo e só desci quase já em casa. O carro que se danasse e o motorista me poupou os três reais porque meninas bonitas devem descer sempre pela frente.

20110301

Ficção

E como ela é?
Ah, sei lá, ué? Como assim?
É, como ela é?
Ela é... Ela é loira, não muito alta... Usa óculos escuros.
Ela é bonita?
Ah, que coisa!
Vai, fala!
É, é bonita. E tem sardas.
Tá vendo? É sempre assim!
Assim como? Com sardas?
Bonita!
Ah, ué, o que tem de errado?
Errado, nada, mas é sempre assim.
Não era pra ser?
Não sei, você me diga.
É melhor que seja bonita, não é?
Bem, pode ser, mas continua, sei lá, estranho.
O que tem de estranho em ela ser bonita?
Ah, eu só disse que ela foi simpática, que falou com ele quando ele tava triste, que pôs a mão no ombro dele... E voilá, você já imagina ela bonita!
Bom, porque as meninas que confortam sempre são bonitas.
Que meninas que confortam?
As dos filmes, dos livros.
Dos livros?
É, eu imagino elas bonitas.
Tá vendo?
Mas isso te incomoda por quê?
Porque aí o que sobra pra mim? Pras meninas que não são bonitas?
E você não é?
Não. Acho que não.
Pois eu acho que é, sim.
É? E como eu sou?
Ah. Sei lá.
Loira?
Sim.
Que mais?
Com sardas.