20090528

Quando Padre Vieira subiu no palanque,

a expectativa pelo que diria era grande. Cada dia mais gente se perdia na blasfêmia e na heresia e Vieira era um dos religiosos que mais interesse despertava para os céticos por conta de seus raciocínio agudo e argumentação venenosa.
Ele mesmo parecia mais ansioso do que de costume, cochichando com um frei rechonchudo e jogando água na nuca porque era verão em Madri.

Subiu, já disse, no palanque e como um breve instante de silêncio se fez entre todos, aproveitemos a chance para dar-nos algum contexto. Ocorre que certo reboliço se havia criado na Espanha quando um grupo indecoroso começou a espalhar por aí ideias já um tanto antigas de que todos os fenômenos do mundo e mesmo a própria vida podiam existir sem necessidade alguma da influência ou mesmo da existência de Deus.

Não surpreende que a Igreja tenha querido rebater os argumentos com máxima agilidade e tentando impor o máximo de respeitabilidade aos contra-argumentos, de forma que agora, e é a última vez que repito, subia Vieira ao palanque. O padre então limpou a garganta não porque precisasse, mas porque sabia como um discurso tinha que ser feito, e ergueu a mão sinalizando para que cessassem os burburinhos (iniciados logo após o instante de silêncio, talvez enquanto ainda nos contextualizássemos). Depois disse É claro que, sem Ele, ainda se morreria e se nasceria e reações químicas continuariam a ocorrer e células se aglomerariam em mórulas e corações enrijeceriam e chuvas choveriam sem Ele. Nada disso, porém, me tira a convicção de que sem Deus é impossível que haja vida ou morte ou chuva.

Por fim, decidiu-se que uma boa pira vale mais que mil palavras, e o padre incompreendido acabou provando da nova linha de argumentação da Igreja.

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