20130517

ata da reunião de sexta


comprei uma casa numa cidade pequena chamada Pequeno Pedaço do Céu no Rio Grande do Norte. Nada de especial no Rio Grande do Norte, na verdade o terreno estava barato e pronto. Vou me mudar pra lá.

A casa veio com 3 cachorros de diferentes cores, também com muitas formas diferentes de latir. Cachorros. Nenhum gato. Até hoje, ainda não consegui decidir se sou uma dog person ou cat person. Desconfio que, no fim das contas, há algo de arbitrário nessa divisão. Como você pode dizer que alguém é estritamente mais afeito aos gatos do que aos cachorros, ou vice'versa? Impossível.

IMPOSSíVEL, bradava um dos cães. Esse cão em específico latia em português. PORTUGUÊS, mas lusitano, vindo da terrinha. Não entendo nada do que ele late, apenas algumas palavras. Sotaque infernal. Entendo que a curiosidade natural seja saber como os outros cachorros latem, mas não quero falar sobre isso.

Interessante, para mim, é a forma como a mobília veio organizada. Separada por cores, e não por funcionalidade. Um quarto, por exemplo, tem todos os objetos de madeira escura, um ao lado do outro, e empilhados.

O cômodo mais parecido com uma cozinha é a sala dos móveis claros, quase brancos. Lá, consigo usar a geladeira, cujo cabo foi pintado de branco, o tanque de lavar roupa e o maravilhoso sofá de couro branco que fica sob os eletrodomésticos. O cachorro lusitano, de pelo muito muito escuro, sempre entra com muito relutar naquele cômodo, mas eu insisto.

O plano é reformar tudo e acabar com essa soberania tola das cores. Já contratei gente para fazer isso por mim. Eu mesmo não suporto esse tipo de trabalho, por isso fiz questão de comprar uma casa assim, já pronta e mobiliada. Quebrei a cara. Mas não tanto quanto o dono anterior, que morreu de infecção urinária.

Frequentava o prostíbulo da cidade, com muito amor e dedicação. Parece que era conhecido como Dom, o Cavalheiro. O nome dele era Domingo, tinha a voz fina e praticava arco-e-flecha sempre que podia. Caçava capivaras, comia-as cruas. Existe um grande quadro na entrada da casa com a imagem dele. Muito barrigudo e magricela, com todos os dentes de cima e nenhum dos de baixo. Espécie de Senhor do Pequeno Pedaço do Céu.

Um dos cães - agora me parece interessante falar nele - fica parado encarando a imagem o dia inteiro. Recebi visitas de São Paulo, elas o elogiaram e disseram "que bonitinho, está esperando o dono que nunca mais voltou!". Conversei com um dos criados sobre o assunto, ele disse, e eu reproduzo:

"Ah! Esse cachorro... Esse cachorro fui eu mesmo que treinei, foi duro porque ele é burro, mas também foi fácil porisso... Quando o convenci, ele nem percebe mais que fica aí o dia inteiro encarando o quadro."

Mas como eu faço essa besta fazer alguma outra coisa, se alimentar, não sei, eu perguntei pra ele.... Respondeu: "Não faz nada, ele come os saguis escondido à noite. É uma besta, mas caça saguis como ninguém".

Surpreendente. A vida é, verdadeiramente, cheia de surpresas.

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