20130530
20130528
Mulheres, quem entende? – As jogadoras e as direto ao ponto
Comecemos
por uma distinção básica no comportamento feminino: as raparigas
que jogam, as gurias que vão direto ao ponto, sem enrolação.
Para
alguém com a elegância e desenvoltura de um Mr. Bean e uma retidão
lógica teuto-lusitana, uma jogadora é o colapso das referências,
me deixa mais perdido do que em meio a ideogramas japoneses. Grosso
modo, mulher jogadora seria aquela que diz que quer, mas chega na
hora e dá todos os sinais que não quer (vale o inverso, diz que não
quer, e fica provocando). Claro, se eu não levasse tão a sério o
que as mulheres dizem, tudo ficaria mais simples – mas lembrem-se
de minha retidão lógica, para não falar da minha auto-confiança
na arte da sedução. Seguidamente acho que elas fingem que querem
que o homem entrem no seu jogo, quando na verdade estão em busca do
macho-alfa, que faça justo o contrário, por mais que se achem
agressivas sexualmente. Como nunca me dei bem em grego, termino em
ômega... O duro é quando a jogadora é tão hardcore que se
contradiz em menos de dez minutos. Primeiro diz, logo que o clima
começa a esquentar, que não quer transar aquela noite para, dez
minutos depois, soltar um “pode fazer o que quiser comigo”. Nada
contra sutis contradições, acho elas encantadoras, fascinantes, mas
diante de tamanha contradição, a brochada é inevitável – na
hora vem os Segundo analíticos à
mente. Parece que às jogadoras a irritação e a frustração
são sentimentos inevitáveis quando estão diante de um pega-ninguém
– mas não mudam seu jeito de ser.
As
que vão direto ao ponto dão a impressão de simplificar a vida –
ao custo de perda de um pouco de poesia e um certo jogo
lúdico-erótico das jogadoras. Algumas tentam contornar esse papo
reto com algumas estratégias para enrolar um pouco e fingir algum
caminho menos “é isso”. A transa certeira e desejada por ambos
ocorrerá assim que o homem preencher as três guias do formulário,
ela carimbar no lugar especificado e você adicionar, ao final do
processo, uma carta de intenções. É só fazer que dá certo, não
tem fila, só uma demora habitual de carregar a papelada pra lá e
pra cá. Mas fica com um certo gosto burocrático em tudo – se ela
quiser combinar as posições autorizadas de antemão, então...
As
legítimas direto ao ponto, essas nada de perder tempo com joguinhos,
acordos, contratos, formulários, o que for – elas dizem logo qual
a opção pro momento. Se for o caso, é tirar a roupa e mandar ver;
se ela não tiver a fim, não rola; e se ela mudar de opinião,
cumpra o que ela quer – ou, como escutei uma vez de uma garota
desse tipo: “esquentou tem que comer”. Convenhamos, essa frase
não soa exatamente poética. Me senti com a mulher-microondas,
lembrei das lasanhas congeladas com o mesmo gosto, independente do
sabor, ou mesmo das simples torradas feita no aparelho, que têm que
comer logo, se não ficam intragáveis. Poupei a guria da minha
comparação, mesmo assim chegamos à conclusão que havia alguma
incompatibilidade entre nós.
isto é:
dalmoro,
MULHERES,
pega-ninguém,
sexo
20130527
20130526
Gostaria de mostrar-lhes a letra desta música, facilmente rastreável, que tenho grande apreço. Penso que é uma escaleta avançada de um filme dramático, ou seja, de uma coisa ultrapassada.
You were...
Modern girls always have to go
(Right on time)
Old-fashioned men always want a mistress
(You were right)
Modern girls always get their way
(I was wrong)
Modern men dream of what they can't say
(That's alright) Right? Right? Right? Right? Right?
I don't belong (I don't belong)
Why you gotta say it if you know it's something wrong?
(Why're you sitting over there?)
Says that he'll apologize and it won't take too long
Well you don't wanna trust nobody else
(Always thinking 'bout yourself)
(Time)
There's a few things that are gonna have to change
(I'm your son)
Everyone has the same opinion
(Won't you please?)
Your time is almost over
(Don't be mean)
We won't get the chance to do this over
(That's alright) Right? Right? Right? Right? Right?
I don't belong (I don't belong)
I don't want the imprint of your key upon my nose
(Why're you sitting over there?)
You don't have to tell no one 'cause no one wants to know
That you don't have no happiness at all
(Always thinking 'bout yourself)
Oh yes, we're falling down (Oh yes, we're falling down)
Oh yes, we're falling down (Oh yes, we're falling down)
Oh yes, we're falling down (Oh yes, we're falling down)
Oh yes, we're falling down (Oh yes, we're falling down)
Oh yes, we're falling down (Oh yes, we're falling down)
Oh yes, we're falling down (Oh yes, we're falling down)
Oh yes, we're falling down (Oh yes, we're falling down)
So fucking help me up
Always thinking 'bout yourself
(You don't love me)
Always thinking 'bout yourself
(I am an animal)
Always thinking 'bout yourself
(I am not practical)
Was I?
.
You were...
Modern girls always have to go
(Right on time)
Old-fashioned men always want a mistress
(You were right)
Modern girls always get their way
(I was wrong)
Modern men dream of what they can't say
(That's alright) Right? Right? Right? Right? Right?
I don't belong (I don't belong)
Why you gotta say it if you know it's something wrong?
(Why're you sitting over there?)
Says that he'll apologize and it won't take too long
Well you don't wanna trust nobody else
(Always thinking 'bout yourself)
(Time)
There's a few things that are gonna have to change
(I'm your son)
Everyone has the same opinion
(Won't you please?)
Your time is almost over
(Don't be mean)
We won't get the chance to do this over
(That's alright) Right? Right? Right? Right? Right?
I don't belong (I don't belong)
I don't want the imprint of your key upon my nose
(Why're you sitting over there?)
You don't have to tell no one 'cause no one wants to know
That you don't have no happiness at all
(Always thinking 'bout yourself)
Oh yes, we're falling down (Oh yes, we're falling down)
Oh yes, we're falling down (Oh yes, we're falling down)
Oh yes, we're falling down (Oh yes, we're falling down)
Oh yes, we're falling down (Oh yes, we're falling down)
Oh yes, we're falling down (Oh yes, we're falling down)
Oh yes, we're falling down (Oh yes, we're falling down)
Oh yes, we're falling down (Oh yes, we're falling down)
So fucking help me up
Always thinking 'bout yourself
(You don't love me)
Always thinking 'bout yourself
(I am an animal)
Always thinking 'bout yourself
(I am not practical)
Was I?
.
20130524
20130523
20130522
20130521
Mulheres, quem entende? – Uma introdução.
Com
um histórico de conquistas de causar inveja no máximo a um padre
honesto e que segue fielmente seu voto de castidade, e sem ser gay
para saber dos meandros do submundo da fofoca feminina (meu complexo
de amigo-gay (gfc, em inglês) não me abre tamanhas
intimidades), talvez eu não seja a melhor referências para
discorrer sobre mulheres. Mesmo assim, insisto aqui em compartilhar
as anotações que há anos faço – de experiências minhas e
alheias – sobre esses seres tão fáceis e lineares, que conseguem
fazer com que eu seja um cara simples, simplório. São notas que
tomei para evitar cometer o mesmo erro duas vezes – no caso em que
as experiências foram minhas –, ou de cometer erros grosseiros
comentados por outras pessoas, e se acaso serviram para esse
propósito, serviram também para descobrir que sempre dá pra
cometer um erro novo, uma cagada pior do que a última, que já
parecia grande o suficiente – e te custou um sonho de verão logo
na primeira chuva de fim de tarde. Sim, malditos dez centímetros ou
uma banal pedra no rim podem te custar um relacionamento. Enfim, não
é um pega-ninguém dando dicas de sedução, antes alertas de
dessedução, avisos de perigos para quem se embrenha nesse labirinto
indecifrável. A inspiração, deixo aqui claro, se é que precisava, é do mestre Xico
Sá – apesar d'eu não ter nem um décimo da sua verve e um centésimo
da sua experiência. Pelas próximas terças, na República dos Cabaços, "Mulheres, quem entende?".
isto é:
dalmoro,
MULHERES,
pega-ninguém,
sexo
20130520
Decididamente III
III. A pretensão humana em desesperar-se com os aluguéis futuros
é uma traição aos deuses. Nada garante que chegaremos lá.
20130517
ata da reunião de sexta
comprei uma casa numa cidade pequena chamada Pequeno Pedaço do Céu no Rio Grande do Norte. Nada de especial no Rio Grande do Norte, na verdade o terreno estava barato e pronto. Vou me mudar pra lá.
A casa veio com 3 cachorros de diferentes cores, também com muitas formas diferentes de latir. Cachorros. Nenhum gato. Até hoje, ainda não consegui decidir se sou uma dog person ou cat person. Desconfio que, no fim das contas, há algo de arbitrário nessa divisão. Como você pode dizer que alguém é estritamente mais afeito aos gatos do que aos cachorros, ou vice'versa? Impossível.
IMPOSSíVEL, bradava um dos cães. Esse cão em específico latia em português. PORTUGUÊS, mas lusitano, vindo da terrinha. Não entendo nada do que ele late, apenas algumas palavras. Sotaque infernal. Entendo que a curiosidade natural seja saber como os outros cachorros latem, mas não quero falar sobre isso.
Interessante, para mim, é a forma como a mobília veio organizada. Separada por cores, e não por funcionalidade. Um quarto, por exemplo, tem todos os objetos de madeira escura, um ao lado do outro, e empilhados.
O cômodo mais parecido com uma cozinha é a sala dos móveis claros, quase brancos. Lá, consigo usar a geladeira, cujo cabo foi pintado de branco, o tanque de lavar roupa e o maravilhoso sofá de couro branco que fica sob os eletrodomésticos. O cachorro lusitano, de pelo muito muito escuro, sempre entra com muito relutar naquele cômodo, mas eu insisto.
O plano é reformar tudo e acabar com essa soberania tola das cores. Já contratei gente para fazer isso por mim. Eu mesmo não suporto esse tipo de trabalho, por isso fiz questão de comprar uma casa assim, já pronta e mobiliada. Quebrei a cara. Mas não tanto quanto o dono anterior, que morreu de infecção urinária.
Frequentava o prostíbulo da cidade, com muito amor e dedicação. Parece que era conhecido como Dom, o Cavalheiro. O nome dele era Domingo, tinha a voz fina e praticava arco-e-flecha sempre que podia. Caçava capivaras, comia-as cruas. Existe um grande quadro na entrada da casa com a imagem dele. Muito barrigudo e magricela, com todos os dentes de cima e nenhum dos de baixo. Espécie de Senhor do Pequeno Pedaço do Céu.
Um dos cães - agora me parece interessante falar nele - fica parado encarando a imagem o dia inteiro. Recebi visitas de São Paulo, elas o elogiaram e disseram "que bonitinho, está esperando o dono que nunca mais voltou!". Conversei com um dos criados sobre o assunto, ele disse, e eu reproduzo:
"Ah! Esse cachorro... Esse cachorro fui eu mesmo que treinei, foi duro porque ele é burro, mas também foi fácil porisso... Quando o convenci, ele nem percebe mais que fica aí o dia inteiro encarando o quadro."
Mas como eu faço essa besta fazer alguma outra coisa, se alimentar, não sei, eu perguntei pra ele.... Respondeu: "Não faz nada, ele come os saguis escondido à noite. É uma besta, mas caça saguis como ninguém".
Surpreendente. A vida é, verdadeiramente, cheia de surpresas.
20130516
como eu acho que é o começo de uma coisa gostosa
A Mariângela não era menina que se invejasse pela beleza ou pelos dotes, mas era singularíssima em sua capacidade de contar histórias. Uma vez contou uma história pra sua mãe. "É pra quando eu tiver uma irmãzinha, e ela me perguntar como eu acho que é o começo de uma coisa gostosa". Sua mãe ficou surpresa, porque a pequena não tinha pai e nem sabia de onde vinham as crianças. Mas o que deveria ter surpreendido a mãe de Mariângela era o fato de ela se perguntar como era o começo de alguma coisa gostosa. A pequena, coitadinha, tinha apenas seis aninhos! o que sabia ela sobre a vida? E ela prosseguiu: "Quando está muito, muito frio, a gente entra toda debaixo das cobertas pro rosto não congelar, e fica lá, naquela quase escuridão dos pouquinhos raios da lâmpada acesa que passam vermelhos e azuis pelo cobertor da vó. Depois a gente dorme, porque como estivesse quentinho e escurinho, e lá fora estivesse tão gelado e claridão, não houvesse outro jeito de continuar a não ser dormindo. Quando a gente abre os olhos, o rosto está quentinho, mas está fora do cobertor, e também está tudo completamente escuro, e a gente fica com medo". Quem ficou com medo foi a mãe de Mariângela, coitadinha, que desatou a chorar. Na noite anterior tinha trancado a filha sozinha em casa por acidente e quando entrou ficou aliviada de ter visto a menina dormindo sozinha no quarto.
20130515
20130514
mitologia de botequim.
fiz câmera uma vez para um pequeno documentário pouco ambicioso sobre bailes de tango em são paulo. à época, eu era muito cru e muita coisa ficou ruim. problemas técnico-estéticos, certo constrangimento. mas me serviu para cunhar uma anedota mítica sobre minha relação com os retratos, sobre o ato de retratar, sobre estar atrás de uma câmera. era um evento grande em um salão estranho, e descobrimos (eu, meu irmão e henrique) quase na hora do evento que precisaríamos de roupas sociais para lá entrar. improvisamos. eu não tinha bom terno, nem bons sapatos, nem nada adequado - fui muito mal vestido, todos estávamos um pouco mal, um pouco ridículos, com uma câmera muito ruim, com um microfone pior ainda, um tripé péssimo. sabia que as coisas estavam indo mal, mas não havia muito mais a fazer além do trabalho. costuma ser assim: saber que está errado não é suficiente para fazer diferente.
(é uma digressão que pretende se tornar progressão em breve)
sentamos alguns dos personagens mapeados e filmamos entrevista com eles. não sei o que eles falavam, não conseguia escutar nada com o barulho. meu irmão perguntava, henrique precisava estar invasivamente perto dos entrevistados com o microfone duro, de mão, o mais próximo possivo. pra mim, uma bola prateada entrando em quadro. para ele, provavelmente, dor pela posição forçada. por algum motivo, queríamos o corpo dele fora de quadro (hoje eu faria diferente). isto é: meu irmão precisava colocar no jogo, henrique precisava se colocar em jogo, mas eu, apenas eu, estava duplamente protegido. distante. escondido atrás da câmera, olhando pelo visor eletrônico. sinceramente, não lembro quase nada, quem entrevistamos... tinha a juliana, professora de tango na fau, amiga de meu irmão, e
havia uma dupla curiosa, um pai que dançava tango e começou a levar a filha aos bailes, e ela também começou a dançar tango com o pai e com as duplas que começaram a aparecer. foi uma entrevista um pouco esquisita, havia uma dinâmica de constrangimento visível, no modo como alternavam a fala. pelo que me lembro, ela falou pouco, pode ser que minha memória tenha pouca relação com o que de fato aconteceu. sei que, nesse incômodo presumidamente compartilhado (meu irmão como entrevistador, henrique captando um som que provavelmente sairia muito ruim, pai e filha colocados em cena, eu suando no meu terno e cansado de ficar de pé num sapato ruim), aconteceu algo que me marcou e provavelmente mudou algo em mim.
a filha, provavelmente pelo incômodo da situação, não sustentava as regras do jogo. ela encarou algumas vezes a câmera, a minha lente, a minha câmera, a mim. evidentemente, ela não me encarava, mas, para mim, a insistência de seu olhar atravessava a câmera que antes me protegia. percebi naquele momento que retratar alguém, mesmo em uma entrevista ingênua para um filme ingênuo, não era uma atividade isenta, que eu também estava em contato com aquelas pessoas, que havia comunicação ou má comunicação em meu ato.
não sei como o filme ficou. ele nunca terminou direito.
20130513
rapas|rapoza
ela é a Raposa, você não
ela vai embora
ela te sorri sorrateira no assoalho
você, não.
a Raposa te mordeu? te tirou algum sangue?
um ninho nas tripas, um ninho nas tripas
e ela nunca vai sair de você, rapaz.
20130507
Desvantagens anacrônicas VII
.
(dois três dias-)
Fechou a frase perfeita,
comemorou.
Um dia depois relera,
e percebera a vírgula desacelerada.
Seu coração destroçou.
Fechou a frase perfeita,
comemorou.
Dois dias depois relera,
e percebera a vírgula desacelerada.
Seu coração destroçou.
Fechou a frase perfeita,
comemorou.
Três dias depois relera,
e percebera que estava mesmo
perfeita.
perfeita.
Seu coração corou,
mas no momento em que pensaraque cada um pesa como quer
a frase que lhes vier...
Seu coração destroçou.
.
20130504
Desvantagens anacrônicas VI
Francisco Orlandi
(2013- )
(2013- )
Por algum motivo um dos últimos resultados para "Chico Orlandi" no Youtube é esse vídeo abaixo. A guerra é horrorosa, paralisa até mesmo o mais bravo dos cavalos. Como a televisão não nos ensinou nada, agora resta à internet a educação de nossas crianças. Mas confesso que acho esse teatro de marmanjos uma lição frouxa, pois na guerra não há arquibancada apesar de nosso desejo secreto, e ela também não perdoa aqueles que não pensam somente na batalha. Think only about your art. Nunca se vangloriar com bandeiras, há sempre alguém que atira por trás.
.
Portanto a homenagem a meu querido amigo, acaba por ser uma crítica ao sistema de busca, que parece ter sido inventado apenas para localizar terroristas. Talvez eu esteja arriscando sua vida, meu caro, perdoe-me por isso.
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