20130208

"prendam-me, por favor! já não posso mais!!"

dirigia pra casa numa madrugada qualquer quando me botei a pensar (eu tinha assistido recentemente a um filme que falava de freud e coisas do tipo, e estava um pouco confuso) me botei a pensar que a gente, ou pelo menos eu, raramente sinto que eu posso algo; o sentimento só existe quando eu não posso fazer alguma coisa - por incapacidade física, ou força das circunstâncias.

tenho a mais absoluta certeza que isso é um fato já conhecido e exaustivamente estudado por uma miríade de senhores e senhoras muito mais competentes do que eu, de forma que não quero aqui me colocar como um grande sábio nem nada do tipo...

mas passei a pensar, por exemplo, a respeito do modo como eu dirijo: completamente repreensível, ainda mais de madrugada, ainda mais quando sob força de pressões das mais variadas formas (o tempo, um compromisso, o sono, etc. etc.) e em como eu quase nunca sou parado nas ruas. eu, rapaz de figura quase decente, acima de tudo branco e guiando aquele carro japonês. me ocorreu então o óbvio, que eu posso mais do que outras pessoas, em outras circunstâncias (e, evidentemente, não posso tanto quanto outras, em circunstâncias ainda diferentes das duas primeiras).

isso me pareceu errado, absurdamente errado.
a minha formação de caráter (caractere, character, charque) se dá, acima de tudo, por um constante tatear de limites, do espaço estreito entre poder e não poder.

essa desigualdade [social, que se reflete] no campo das escolhas e das possibilidades gera inúmeras aberrações de personalidade (caráter) na sociedade; tanto o excesso de poderes quanto o excesso de não poderes deforma o cidadão.

e isso é (também) violência.
violência pra caralho, quando você para pra pensar.

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então eu decidi abandonar minha vida, queimar meus pertences e rumar sem nome.
a partir de hoje, vou me dedicar a caçar todas as Aberrações que eu encontrar pela frente.

porque nenhum homiciodiozinho pode ser comparável a tamanha violência...
né?

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