20130201

estudo para exposição de uma conspiração

Os ricos são atrocidade. Ninguém duvida disso - a relação é metonímica, simbiótica, evidente. Mas às vezes - vezes raras e preciosas como uma bactéria pedra de roseta sob um microscópio - são mais do que metafóricos, são sólidos inconsoláveis à mercê de olhos: e aqui vemos uma dessas vezes.

As praias são religiosas - isso é indiscutível, inegável. O barro claro onde vemos copular onda e areia é e sempre foi lugar de prece, de respeito - ainda que de respeito oposto ao que se prega um tanto. Por isso, tanto melhor dessacralizá-las: aniquilá-las.

Os ricos, sempre tão necessitados de sacrifício para manter, justificar, amplificar e abençoar sua(s) fortuna(s), há mais de mil anos assassinam praias. É normal. É tradição. É do nosso sangue. Pode ser com barcos, com óleo, com lixo, com cercas. O que importa é matar. Desaparecer.

A (nossa) questão é: nem sempre é suficiente o assassinato terceirizado. Nem sempre delegar tarefas é adequado. É um mérito óbvio comandar um navio que tomba melado de óleo negro na costa onde trepam alegremente tartarugas satisfeitas, mas não é o bastante. Às vezes precisamos agir pessoalmente: tudo é mais forte quando envolve mãos, pés, pernas, cabeças, ar respirado lentamente por coxas que fogem inconscientemente da areia.


Para cumprir a cota de sangue bombeante, alguns dos nossos ricos - nossos melhores, mais heróicos - sacrificam-se. Um dia após o outro. Rotineira e burocraticamente, para não desagradar ninguém (nem às suas mentes quadriculadas). O que fazem é:

De manhã, de manhãzinha, se levantam boquiabertos e perfeituosos, e vão até a praia. Não importa como - a maioria com motoristas, alguns que moram colados a pé. Vão até lá enquanto o sol ainda vomita no mar e, encarando-o desafiadores, o imitam como podem. Arriam as calças e imponentes apenas como alguém que efetivamente domina o mundo (metonimicamente), cagam no mar. Cagam o quanto podem, o máximo que podem. Merda dura, seca, negra, raivosa, ou merda amolecida e quase riachueira, aquosa, com seu ritmo próprio e misterioso. Cagam agachados, relaxando, ou cagam de pé, impávidos. Cagam sonhando com cobrir o mar inteiro de merda - com o dia em que a sua (pessoal, intransferível, orgulhosa) bosta estratégica dominará a vista de todos que ainda têm olhos. Cagam sentindo a merda escorrer pelas pernas, quente e arrogante, e depois se lavam no mar como crianças. Cagam sabendo que viverão até depois do fim do mundo. Cagam tudo que guardaram, denso e imenso e sinfônico, até se sentirem vazios e quase fracos, e então vão embora sem olhar para trás, sabendo que são quem são.

E assim continuam vivendo os ricos, certos do que são donos.


PS: uma pequena & sintética lista daqueles que cagam na baía de guanabara, RJ:

- Eike Batista
- Luciano Huck
- Donald Trump
- Eduardo Paes
& grande elenco.

3 comentários:

  1. Eles querem aterrar de merda toda a Praia Grande, depois Mongaguá, talvez até Peruíbe. A gente nunca sabe pra que: uns arriscam especulação imobiliária, outros apontam uma forma de dominação do intestino de toda pessoa humana por meio de coliformes fecais de intestinos superiores, metonimicamente, como apontado acima.

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  2. Narcisa Tamborindeguy agacha no mar e caga firme, prescinde de probiótico. Minha ideia de ídolo.

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