Entraram no banheiro sorrateiramente, a respiração curta pelo tesão
potencializado pelo perigo de serem pegos. No quarto, o irmão usava
o computador. Na sala, os pais e familiares. Dentre eles, tia Regina,
fiscal da moral e dos bons costumes, que não cansava de pregar que
sexo só depois do casamento (mas não explicava o porquê abortara
quando ainda solteira: teria sido fecundada pelo divino espírito
santo ou usara um sanitário infectado no shopping?), e era capaz de
vomitar de nojo caso soubesse que estavam transando sob o mesmo teto
que ela.
Ela ligou a água para disfarçar. Meu pai me mata se pegar a gente
aqui. Ele sequer chegou a tirar toda a roupa. Em menos de cinco
minutos estavam satisfeitos relaxados contentes. Ele girou
delicadamente a chave e baixou a maçaneta: a porta não abriu.
Preferiu nem comentar nada: se ela descobrisse que ele esquecera a
porta destrancada, quase teriam uma briga ali mesmo. Novamente, girou
a chave delicadamente e baixou a maçaneta: a porta não abriu. Girou
a chave já um pouco menos cuidadoso: seguia trancada. O que houve? –
ela estranhou a demora dele para sair. Não sei, parece que quebrou.
O que quebrou? Ela foi até a porta e girou a chave várias vezes: a
mesma coisa. Puta merda! O que a gente faz? Sei lá, tenta aí. Ele
seguiu girando a chave, com algum cuidado. Ela se desesperou: sai! –
o empurrou e começou a forçar a chave, agora sem qualquer
precaução, forçou a porta, a maçaneta: nada. E agora? Agora
fudeu, vou ter que chamar pra virem abrir pra gente. Meu pai já
havia avisado que a chave andava perigando quebrar.
Tia Regina não vomitou de asco, e ainda cerrou fileiras com mais
afinco nas visitas seguintes.
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