20100404

Da hood.

Há uma gorda no prédio vizinho ao meu. Eu moro no primeiro andar e vejo o pátio onde ela, que é uma criança - ou uma pré-adolescente - brinca, talvez umas três vezes por semana.

Ela tem um irmão que também é gordo. Lá está ele no jogo de pingue-pongue com um amigo, que é mais magro. Agora não sei se são eles que estão jogando ou se é o som de uma obra por perto que me confundiu e me fez achar que é a bolinha, mas ele apareceu agorinha com uma raquete.

A voz dele é igual a da irmã, percebi agora que ele riu do amigo que perdeu o ponto. Deve ser hábito, nessa família: o gordo fica dando risada da cara do amigo que erra, mas é só aparecer a irmã mais gorda e mais velha que ele é que apanha.

Mas ela é pior, porque não só ri, gritando, como acaba com o jogo se começa a perder. Já vi não sei quantas vezes ela reclamando que o irmão tinha chutado a bola bem na cara dela, quando é tudo mentira. E aí ela esperneia, esperneia até voltar o ponto. E aí ela dá mais risada.

Minha mãe também odeia essa gorda reclamona. Mas ainda bem que a minha mãe não é que nem a mãe da gorda, que é pior do que só uma gorda reclamona. Ela é a SÍNDICA.
Ela odeia os jardineiros e quase já matou o filho uma madrugada aí (não o filho gordim, um outro cuja voz eu acompanhei mudando nos últimos anos), que ela gritava que ele tava desacordado e não respondia e ela pediu desculpas por todas as brigas que eles tem - também umas três vezes por semana, com "Sai daqui! Já! JÁ! Você quer me matar? Você quer me matar!" - mas, enfim, não fez muito efeito, porque tudo continuou.

Até o carro dela é barulhento, daqueles com madeira decorativa na porta, porque da minha sala eu vejo a saída da garagem deles, e lá estava ela, minha amiga a Gordona, reclamando com o porteiro enquanto o carro PÔU, PÔU, PÔU ali. Pra piorar, minha televisão está velha e desliga sozinha a cada três minutos aleatórios, e eu moro perto de Congonhas. Foi-se o som do "Friends".

Acho que eu só queria dar um abraço neles.

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