20121207

Hoje, chamaram todo mundo da equipe. Nos juntaram em uma salinha e sentaram com a gente. Até o Daniel estava lá. Normalmente, o Daniel não vai a essas reuniões, mas hoje ele estava lá.
Nós optamos pelo desligamento da Renata. (said he.)
Desligamento: não demissão, mas desligamento, como uma eutanásia corporativa em que um sofrimento prolongado e pouco produtivo é evitado por meio da interrupção de uma vida que até então se sustentava artificialmente, por meio de aparelhos. À família, que somos nós, resta o conforto de que aquilo foi para o bem e de que será melhor assim, afinal, trata-se de um desligamento, um singelo deslizar para outra realidade: de funcionária para ex-funcionária.
Mais do que isso, é a promessa de que somente os pacientes terminais estão sujeitos a tratamento semelhante --- ou, melhor dizendo, a abandono semelhante de tratamento --- e de que nós, que somos a família, podemos continuar nossas vidas sadias e tranquilas (se bem que não muito, e menos ainda agora, com um a menos a dividir as chagas) sem que nossa produtividade seja afetada pelo ocorrido (inclusive porque a afetação da produtividade é uma doença, e já vemos a que a doença pode levar).
E no entanto, o silêncio pesou sobre todo mundo na sala (até sobre o Daniel); mesmo que todos estivéssemos cientes (não estou sendo irônico) de que a vida é assim e de que, se não podemos evitar abalos na saúde, também não podemos deixar que esse horizonte nos arraste precipidamente para a inação. Porque aparelhos e pessoas podem ser desligados e porque é melhor assim. (said she.)

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