20121231
20121230
Minha grande descoberta religiosa dos últimos dias.
Natal!
Natal! Bimbalham os sinos! Bimbalhavam, no caso, mas pouco importa.
Talvez contagiado por esse espírito natalino, meu pai – ateu
praticante – resolveu contar uma piada com santos. Descobri, com
isso, que ele não leu minha última crônica – assim como ele
descobriu que meus conhecimentos cristãos não me autorizariam a ser
um coroinha, para sua surpresa e decepção. Chegou a me questionar
depois: como você, filósofo (sic), não sabe coisas básicas de
religião? Tentei me justificar dizendo que certas ignorâncias nos
permitem visões sob ângulos inusitados de questões aparentemente
batidas.
De
qualquer forma, esta minha última descoberta, mais do que aumentar
meus conhecimentos religiosos, destruiu minha crença da infância,
adolescência, idade adulta...
Antes,
um parênteses: ao me sentar para escrever este caso, lembrei de
outros dois importantes eventos de minha formação religiosa, que
deixei passar no texto anterior. Um deles foi em 2004, quando andei
visitando uns museus por aí: foi um festival de mulheres segurando
Jesus já morrido de morte matada (presunto, na linguagem dos
homens de bem), santos flechados, caindo do cavalo, prestes a cortar
a cabeça do filho, e por aí vai. O outro foi por 2010, 2011,
quando, intrigado por uma música do Racionais MC'S, fui pesquisar na
internet, e descobri que Sodoma e Gomorra,
antes de ser título da obra do Proust, era algo ligado à Bíblia.
Já me criticaram dizendo que isso era óbvio (não sabiam das minhas
proezas no campo do desconhecimento): óbvio pra mim é Em
busca do tempo perdido,
respondi, quase ofendido.
A piada que meu pai contou, que não reproduzo aqui por não ser bom
de contar piadas (dizem que contar tirinhas eu faço relativamente
bem), era sobre um homem que ia trabalhar numa loja de artigos
religiosos, e ao lhe encomendarem um São Jorge, ele entregou um São
Pedro. Meu pai gargalhava, enquanto eu sustentava um sorriso amarelo,
até perguntar: O São Jorge, ok, tem um cavalo (e não caiu), mora
na lua; mas e o São Pedro, como sabia que era o São Pedro e não,
sei lá, Santo Agostinho? Como?, meu pai me olhou perplexo, Ora, por
causa da chave! Chave? Sim, a chave do céu. Ah!!! É do céu? Do que
você achou que fosse?, interveio minha mãe.
A
cidade na qual nasci e passei os dezessete primeiros anos da minha
vida, tem como santo padroeiro São Pedro. Em cima da igreja matriz – que até hoje me intriga por sua interessante arquitetura, sem neo-classicismos ou pós-modernismos, em tal fim de mundo – tem o tal santo segurando uma
chave, que eu, até este fim de ano, imaginava ser a chave da cidade
– afinal, não era o santo padroeiro da dita cidade? Imaginava que
se o padroeiro da cidade fosse São Tomás ou qualquer outro santo,
seria ele dependurado na frente da igreja, segurando uma chave – a
chave da cidade, claro. Achava um gesto bonito, apesar de pouco
condizente com a realidade dos locais, oferecer assim, tão gratuita
e despreocupadamente, tamanha hospitalidade aos visitantes – sem
nada da agressiva “Esta cidade está abençoada por Jesus”, ou
coisas do gênero, que se vê em trevos país afora.
Foi-me um tanto decepcionante essa descoberta: de democrático
anfitrião a carcereiro do céu. Para um católico deve ser lindo,
para mim, ateu não-praticante, soou decadente. Não olharei mais
para São Pedro com a simpatia que o vi por trinta anos.
Detalhe do Santo que me enganou por trinta anos. Nesta foto, não dá pra identificar bem que gesto ele faz com a mão direita (mas na esquerda está a chave, que não é da cidade). |
isto é:
cristianismo,
dalmoro,
religião
20121228
20121227
A verdade é que todos os males são crônicos
todas as doenças são hereditárias
todos os filhos são culpa dos pais
(mas os pais também são filhos)
e todo indivíduo é um problema social.
A bem da verdade,
dizer que não há culpados
é dizer que ninguém é inocente
e que ninguém pode apontar o dedo
e fechar os olhos.
Se quisermos ser realistas
então sejamos realistas
e encaremos a ausência de cura
(a ausência de esperança de cura)
e durmamos com isso!
Sejamos realistas e aceitemos
que todo esforço é um esforço vão
que toda luta é uma derrota anunciada
e que uma vida --- ainda que longa
ou ainda que breve --- é apenas uma vida.
Aceitemos isto, porque isto é tudo o que há
e tudo o que podemos alcançar neste mundo ---
só é digno de nota aquele que luta
sem nenhuma esperança de vencer
e que segue vivendo à revelia da morte
A verdade é que estamos no mesmo barco
e é um barco desgovernado
num rio grande demais.
Mas remamos, os que têm remos
em qualquer direção que contrarie a corrente.
todas as doenças são hereditárias
todos os filhos são culpa dos pais
(mas os pais também são filhos)
e todo indivíduo é um problema social.
A bem da verdade,
dizer que não há culpados
é dizer que ninguém é inocente
e que ninguém pode apontar o dedo
e fechar os olhos.
Se quisermos ser realistas
então sejamos realistas
e encaremos a ausência de cura
(a ausência de esperança de cura)
e durmamos com isso!
Sejamos realistas e aceitemos
que todo esforço é um esforço vão
que toda luta é uma derrota anunciada
e que uma vida --- ainda que longa
ou ainda que breve --- é apenas uma vida.
Aceitemos isto, porque isto é tudo o que há
e tudo o que podemos alcançar neste mundo ---
só é digno de nota aquele que luta
sem nenhuma esperança de vencer
e que segue vivendo à revelia da morte
A verdade é que estamos no mesmo barco
e é um barco desgovernado
num rio grande demais.
Mas remamos, os que têm remos
em qualquer direção que contrarie a corrente.
20121226
Minhas grandes descobertas religiosas dos últimos anos.
Natal! Natal! Bimbalham os sinos!, já dizia aquela crônica do Rubem Braga. Com um dia de atraso, trago aqui um texto imbuído desse espírito religioso que tomou as ruas, shoppings e tevês do nosso país tão devoto.
*
Apesar
de vir de família teoricamente católica, e de ter estudado em escola
vicentina da quinta à oitava série, minha educação religiosa não
foi exatamente um primor. Não que eu não tenha curiosidade em saber
mais sobre JC e sua trupe, mas sempre aparece algo mais interessante
(e útil) antes. Mas mesmo sem ir atrás, nos últimos anos tenho tido
algumas descobertas importantes acerca dos detalhes bíblicos. Enuncio
alguns dos grandes momentos desse meu aprendizado:
2003:
Assisti ao filme Monty Python's Life of Bryan (até
hoje minha principal fonte de conhecimento do assunto).
2007:
Pedi ajuda a uma amiga universitária e entendi, finalmente, a
tirinha da Mafalda em que ela questionava se a mãe tinha “Complexo
de Pilatos”.
2009:
Contava minha descoberta de 2007 e me explicaram quem foi Barrabás
(que parece ter sido um cara mais bacana – menos chato, ao menos – que Jesus).
2010:
Li Caim, do Saramago, e não devo ter entendido a maior parte
do livro.
2011:
Descobri, graças ao olhar estarrecido de uma amiga devota de São
Francisco, que Maria e Maria Magdalena não foram a mesma pessoa
(sempre achava que falavam só Maria pra não ter toda hora que
repetir o sobrenome).
2012:
Descobri que São Judas não é o Judas famoso (dentro dos meus
conhecimentos um tanto limitados, fazia todo sentido canonizar este:
afinal, não fosse ele o cristianismo perderia seu grande símbolo:
já pensou se, ao invés de crucificado, Jesus morre de, sei lá, um
ataque cardíaco fulminante, por conta do excesso de sal que as Marias punham em
sua comida? Onde ficaria todo o drama da história? Com o que
enfeitaríamos nossos cemitérios, saleiros?)
Weitere Trailer zu Das Leben des Brian
isto é:
cristianismo,
dalmoro,
religião
OFERTA DE EMPREGO
oi gente preciso urgente de uma pessoa aqui pra ficar esperando por mim, não necessariamente "por mim" como se esperando eu chegar, se bem que isso pode ser também, mas o que eu quero é alguém que sente no meu lugar e espere por uma ligação ou uma notícia ou alguma coisa terminar de baixar no computador ou o fim da musiquinha do auto-atendimento ou o fotógrafo terminar de montar a luz e fechar o quadro e afinar o trilho e polir a gelatina e aí é só me chamar que eu venho, correndo, pra fazer o que quer que seja, essa pessoa precisa ser bonita paciente e levar flertes numa boa, juro que vai ser tudo numa boa mesmo.
se você se sentir sozinho pode até me ligar, mas eu não vou querer atender, mas pode esperar que eu ligo de volta ou apareço ou dedico uma onda pra você, se for época de surfe, daí o pagamento a gente combina, beijos!
se você se sentir sozinho pode até me ligar, mas eu não vou querer atender, mas pode esperar que eu ligo de volta ou apareço ou dedico uma onda pra você, se for época de surfe, daí o pagamento a gente combina, beijos!
isto é:
café,
classificados,
direitos trabalhistas,
H.Chiurciu,
morte,
sala de espera
20121225
20121224
20121223
nunca mais meu pai falou
é verdade que os tempos passam e as cores mudam, a hoje em dia a gente fica cada vez mais preso nesses relampejos azuis da modernidade.
e ainda há quem chore por isso!!
certamente não minha pequena Little Nell, que canta (e dança [nua]) a um dedo de mim.
queria, meus amigos, com todo o poder que os tempos de hoje me investem, ser capaz de atirar toda essa velocidade aos céus, em um único jorro de transformutação, e ver todos vocês felizes antes do fim.
e daí morrer na praia, feito um siri à milanesa.
20121222
20121221
outra daquelas atividades de fim de ano
mais um ano está pra terminar, e o que aconteceu dessa vez?
quais as dores e as delicias do seu 2012?
faça uma canção a respeito, e nos mostre aqui! =)
quais as dores e as delicias do seu 2012?
faça uma canção a respeito, e nos mostre aqui! =)
20121220
20121219
20121214
20121212
hemorróidas por todo o corpo
não aguento mais esse se sentir mal
com o calor com a cadeira com quase tudo
não durmo não penso não
dirijo
consertar o ar do carro
comprar ventilador de teto
20121207
Hoje, chamaram todo mundo da equipe. Nos juntaram em uma salinha e sentaram com a gente. Até o Daniel estava lá. Normalmente, o Daniel não vai a essas reuniões, mas hoje ele estava lá.
Nós optamos pelo desligamento da Renata. (said he.)
Desligamento: não demissão, mas desligamento, como uma eutanásia corporativa em que um sofrimento prolongado e pouco produtivo é evitado por meio da interrupção de uma vida que até então se sustentava artificialmente, por meio de aparelhos. À família, que somos nós, resta o conforto de que aquilo foi para o bem e de que será melhor assim, afinal, trata-se de um desligamento, um singelo deslizar para outra realidade: de funcionária para ex-funcionária.
Mais do que isso, é a promessa de que somente os pacientes terminais estão sujeitos a tratamento semelhante --- ou, melhor dizendo, a abandono semelhante de tratamento --- e de que nós, que somos a família, podemos continuar nossas vidas sadias e tranquilas (se bem que não muito, e menos ainda agora, com um a menos a dividir as chagas) sem que nossa produtividade seja afetada pelo ocorrido (inclusive porque a afetação da produtividade é uma doença, e já vemos a que a doença pode levar).
E no entanto, o silêncio pesou sobre todo mundo na sala (até sobre o Daniel); mesmo que todos estivéssemos cientes (não estou sendo irônico) de que a vida é assim e de que, se não podemos evitar abalos na saúde, também não podemos deixar que esse horizonte nos arraste precipidamente para a inação. Porque aparelhos e pessoas podem ser desligados e porque é melhor assim. (said she.)
Nós optamos pelo desligamento da Renata. (said he.)
Desligamento: não demissão, mas desligamento, como uma eutanásia corporativa em que um sofrimento prolongado e pouco produtivo é evitado por meio da interrupção de uma vida que até então se sustentava artificialmente, por meio de aparelhos. À família, que somos nós, resta o conforto de que aquilo foi para o bem e de que será melhor assim, afinal, trata-se de um desligamento, um singelo deslizar para outra realidade: de funcionária para ex-funcionária.
Mais do que isso, é a promessa de que somente os pacientes terminais estão sujeitos a tratamento semelhante --- ou, melhor dizendo, a abandono semelhante de tratamento --- e de que nós, que somos a família, podemos continuar nossas vidas sadias e tranquilas (se bem que não muito, e menos ainda agora, com um a menos a dividir as chagas) sem que nossa produtividade seja afetada pelo ocorrido (inclusive porque a afetação da produtividade é uma doença, e já vemos a que a doença pode levar).
E no entanto, o silêncio pesou sobre todo mundo na sala (até sobre o Daniel); mesmo que todos estivéssemos cientes (não estou sendo irônico) de que a vida é assim e de que, se não podemos evitar abalos na saúde, também não podemos deixar que esse horizonte nos arraste precipidamente para a inação. Porque aparelhos e pessoas podem ser desligados e porque é melhor assim. (said she.)
20121203
perseu, trágico.
Conforme a profecia, Perseu acabou assassinando o avô durante uma
competição esportiva, em que participava da prova de arremesso de
discos. Fazendo um lançamento desastroso, acertou acidentalmente seu avô
sem saber que ele estava ali[10]. Assim, cumpriu-se a profecia que Acrísio mais temia.
Relatório de atividades desenvolvidas
Fomos a Bruxelas com o objetivo de realizar um documentário
curta-metragem, em parceria com Sint Lukas e INSAS, sobre a cidade de Bruxelas.
Já havíamos recebido em São Paulo as duas estudantes belgas, e agora cumprimos
nossa contrapartida do acordo, realizando o filme na Bélgica.
Durante o período da viagem (13 de setembro a 24 de
outubro), realizamos diversas atividades: conhecemos ambas as universidades,
incluindo corpo docente e discente; discutimos sobre nossos projetos e
reservamos equipamentos; participamos de aula ministrada por Rob Rombout
vinculada ao projeto; realizamos as filmagens dos documentários (totalizando cerca
de 8 horas de material), participamos de uma série de reuniões com o professor
Rob Rombout e outros participantes do projeto (belgas e chineses), discutindo
nossas propostas de roteiros para os documentários; participamos, credenciados
como estudantes visitantes de Sint Lukas, do Festival Internacional de Gent;
fomos à Bienal Manifesta, em Genk; assistimos a exibições e discussões de
filmes estudantis, na tentativa de criar uma rede entre os alunos de nossa
instituição e das deles.
Acredito que conseguimos realizar bem nosso objetivo
principal, voltando com um material bruto muito rico para a edição de nossos
documentários. Além disso, creio que conseguimos criar uma relação muito
próxima com os membros do corpo discente das instituições parceiras, em
especial Sint Lukas, compreendendo o modo como funcionam aquelas instituições e
criando paralelos com nossa realidade. Também pudemos experimentar diversos
outros modelos de produção de cultura e arte, como no espaço cultural
Recyclart.
As experiências vividas lá fortaleceram meu aprendizado como
diretor e fotógrafo, complementando meu estudo no Departamento de Cinema, Rádio
e TV da Universidade de São Paulo: o aprendizado prático, lidando com as
situações que surgiam durante a filmagem, uniu-se também ao aprendizado prático-teórico
com Rob Rombout, experiente documentarista que orientou nossos projetos, e à
vivência de outras formas de “produção” de cultura, o que é, em essência, o
objetivo de nosso curso
20121201
conselho de 1821 aos destemidos companheiros cabaços
Conselho
Creia: se nas revistas moscas e mosquitos
Voarem em torno
de ti em revoada,
Não raciocine,
não gaste termos bonitos,
Não responda aos
guinchos da voz desaforada:
Nem a lógica,
nem o gosto, meu querido
Nem nada contém
esse tipo zombeteiro.
Fúria é pecado –
mas erga-se destemido
E esmague-os com
um epigrama ligeiro.
A. S. Púchkin
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