20121129
20121128
lóbulos tímidos
Gritaram comigo com tanta força e com uma vontade tão violenta que os lóbulos das minhas orelhas se enrolaram e, sozinhos, taparam meus ouvidos.
- Mais forte -, eu pedi.
Dessa vez, os olhinhos se espremeram tanto no rosto dela que eu achei engraçado e rompi no riso. E meu riso ressoou mais que o grito.
- É injusto!
Cada narina inchou bastante. No urro seguinte, só consegui prestar atenção nelas.
Mais um e senti que a garganta começava a rachar. Coisas ruins poderiam acontecer.
No que veio depois, meus lóbulos, sozinhos, escorregaram para fora dos ouvidos e ficaram pendurados como de costume, e eu senti uma dor. Mais um, e dor ainda mais aguda.
Os olhinhos meus dessa vez, dolorida, devem ter sido tão engraçados que desenrolaram nela uma risadona que foi mais forte do que qualquer grito e eu, apesar da dor, quis rir também.
- Desculpe, terei que rir...
- Tudo bem.
E então fomos embora, gargalhando.
isto é:
acontecimento,
besteira,
brincadeira,
diálogo,
dor,
gritos de guerra,
orelha,
ruim,
Swordfishtrombone
20121126
Ao longo de uma música
-->
É
quando me bate a saudade das coisas que eu deixei de ser pelo
caminho. Quando me pego sentado com a postura errada, olhando para a
tela do computador sem realmente enxergar as palavras e ouvindo no
fone o Gilberto Gil cantando sua versão do Bob Marley e eu me
lembro, é claro, daqueles dias na praia (quinze anos, salvo engano)
e daqueles meninos mais velhos (adultos, portanto) com o violão.
Eram
os únicos momentos em que eu conseguia ficar quieto (nesse sentido,
não mudei nada: sempre imensamente afetado pela hostilidade de um
ambiente e igualmente por sua receptividade), olhando a rebentação
e as meninas perto da fogueira, algumas de biquíni, ainda. Havíamos
passado a noite inteira zanzando pelo Centrinho, tomando sorvete e
mudando ocasionalmente de lugar para ver as meninas passando. Era
mais ou menos a isso que se resumiam minhas férias, imaginem só. E
eu diria que valeu a pena se pelo menos conseguisse me lembrar de
qualquer uma delas. Enfim. De qualquer forma, só as via passando,
mesmo, e então comíamos qualquer coisa e nossas amigas (que também
víamos só de passagem) nos chamavam para mais perto do mar.
Um
dia, choveu muito e a água passou sem tomar conhecimento do teto de
um dos quartos, molhando completamente alguns dos colchões. Os
adultos evidentemente não perderiam suas camas, então seríamos
forçados a espalhar os colchões restantes no chão e dormirmos
todos juntos. Éramos três meninos e duas meninas, ambas um pouco
mais novas e absolutamente maravilhosas. Isso foi logo na hora do
almoço, então nós três passamos o dia inteiro sem conseguir
pensar em qualquer outra coisa. A todo momento, discutíamos como
seria estarmos tão perto das meninas; os assuntos que
inevitavelmente surgiriam; as vontades que elas certamente já
sentiam e reprimiam, mas que, no ambiente propício, floresceriam; e,
principalmente, quem de nós seria o desafortunado que ficaria de
lado, sozinho, perdido. Ensaiamos movimentos, frases, formas de
sussurrar. Não posso dizer quanto aos outros, mas pessoalmente, me
apavorava pensar na possibilidade de chutar alguém, roncar ou peidar
durante o sono.
À
noite, repetimos o teatro de sempre: o Centrinho, as mudanças de
mesa --- mas já nem ligávamos para quem passava, exceção feita ao
tempo.
Eventualmente,
as duas vieram e nos chamaram para ir à praia e, conforme havíamos
deliberado previamente, acatamos e as seguimos, tendo sido vetada,
por ser considerada suspeita, a ideia de negarmos o luau, propondo em
seu lugar um jogo de baralho que antecipasse nosso grande momento de
trunfo e glória.
Assim
foi que sentamos na areia como se aquele fosse um dia absolutamente
comum e olhamos a rebentação e ouvimos a música, enquanto nos
perguntávamos aos cochichos se já não era tarde, se já não
podíamos organizar a volta à casa. E estávamos nessa quando vimos
dois rapazes deitarem o violão e sentarem do lado das meninas e
conversarem com elas. Como se a gente não estivesse ali!
Eventualmente,
acabamos desistindo de olhar pra escuridão fingindo indiferença e
voltamos pra casa. Jogamos nós o baralho e esperamos até cairmos de
sono sozinhos nos tais colchões.
Quando
acordamos, elas estavam lá, com a gente. Mas aí já não adiantava
mais.
Será
que eu suportaria aquilo, hoje? Aquela conversa, aquelas piadas sobre
a homossexualidade alheia e sobre a genitália própria? Certamente
ainda gosto da areia e do mar, ainda pego caranguejos, quando posso,
mas ouvir Natiruts mal interpretado à meia noite no litoral norte...
É bem
provável que eu esteja melhor com a postura torta e as palavras no
monitor. Mas...
Mas
era uma possibilidade, não era? Mesmo agora, se eu repassar tudo o
que aconteceu desde então, acho que nem consigo identificar
exatamente quando foi que aquilo virou um absurdo. E também não dá
pra dizer que não sejam absurdos este agora, esta camisa, estes
sapatos.
Quando
vim trabalhar no banco, lembrei imediatamente de dois ex-colegas de
faculdade que eu sabia (ou suspeitava) que trabalhavam aqui. Já nas
entrevistas, perguntei ao meu (então potencial) futuro chefe se os
conhecia, mas ele nunca havia ouvido falar em nenhum dos dois. Dei de
ombros, que o banco é grande, cheio de pessoas e departamentos e
tudo o mais. Nenhum motivo para me admirar, evidentemente.
Mas
num outro dia, já contratado, flagrei-lhes os nomes sendo
mencionados numa conversa. Investiguei um pouco e matei a charada: os
dois eram empregados, sim, mas não do banco em si, e sim de outra
pessoa jurídica do mesmo grupo econômico: trabalhavam para um outro
banco, focado em investimentos de grandes pessoas jurídicas, que foi
adquirido pelo conglomerado mas manteve seus funcionários, incluindo
o corpo jurídico.
Cavando
um pouco mais, descobri o e-mail dos dois, e mandei minhas saudações.
Eles responderam, me parabenizando pela contratação e desejando
sorte, mas depois disso nunca mais nos falamos.
Passados
sete meses, o funcionamento do banco começou a fazer mais sentido
para mim, assim como se evidenciaram as relações entre
departamentos, as disputas por orçamento e as rixas internas. Embora
não houvesse hierarquia formal entre as diretorias, comecei a
perceber que determinadas áreas gozavam de certos privilégios,
sempre proporcionais aos lucros que elas rendiam para nossos
acionistas.
O
setor com o pessoal que geria os fundos tinha a melhor vista do
prédio. Os gerentes dos clientes milionários tinha, nos e-mails,
uma assinatura mais personalizada e, na copa, bolachas Calipso, ao
invés das de água-e-sal. Meus colegas que lidam com clientes
internacionais receberam computadores novos. Mas ninguém dava tanto
dinheiro para o banco quanto as grandes pessoas jurídicas e suas
emissões de debêntures, seus IPOs, seus M'n'As, suas operações de
câmbio gerando milhões no float.
Então,
nem os gestores de fundos, nem o pessoal que lidava com socialites,
nem o pessoal do internacional, com suas conference-calls em línguas
sortidas --- nenhum deles se comparava à equipe dos meus dois
amigos. Eram eles que nos exigiam os prazos mais curtos e que mais
nos condenavam por perdê-los. Eram eles que determinavam, com voto
de Minerva, as datas e horários das reuniões. O banco de
investimento era o panteão dentro do conglomerado, e lá só havia
deuses.
Ah,
como eu fui inocente, mandando aquele primeiro e-mail! Eu imagino a
cara deles, ao recebê-lo. O ex-coleguinha de classe que arrumou uma
vaga na cozinha e vem se gabar aos passageiros do cruzeiro. Eu
imagino na cara deles o misto de divertimento e pena com que viram a
animação com que eu relatava minha contratação e os imagino
lançando um para o outro um olhar cúmplice.
Será
que daqui a alguns anos, também vou me lembrar e... Bom, pior seria
não lembrar. De todo modo, é o próprio Gil quem me conforta e diz
que tudo-tudo-tudo vai dar pé.
20121125
oi, du
fico pensando que você poderia ter medo do escuro - não como uma criança nem nada do tipo, não é medo de um escuro sobrenatural. mas se alguém cortou a eletricidade, por exemplo; terroristas, sequestradores, assassinos psicopatas, milícias no meio do mato, índios, caiporas-lagarto que se alimentam de tripa. todo tipo de xaropice passa pela sua cabeça
fico pensando.
fico pensando.
isto é:
filme noir,
H.Chiurciu,
queimafilme,
só uma idéia
20121123
20121122
11.
PROJETO
Fazer um cartão de visitas em forma de embalagem de camisinha. Evidentemente, ele deve conter um preservativo.
PROJETO
Sempre que aceitar um trabalho, perguntar insistentemente qual será o cachê. Quando obtiver uma resposta, oferecer seu trabalho gratuitamente.
PROJETO
Tornar a escrita parte do sistema de vida, i.e. parte do cotidiano. Escovar os dentes 3 vezes por dia, escrever por 2 horas.
A transgressão é permitida, desde que consciente.
isto é:
caderno despedida,
dinheiro,
projeto,
ricardo miyada
20121121
I-
REJETO
durante todo mês de dezembro,
não pisar em nenhum estabelecimento
que tenha decoração natalina.
isto é:
H.Chiurciu,
natal,
paródia,
PLÁGIO DO PLÁGIO
10.
PROJETO
Conhecer uma pessoa por dia.
Escrever relatório detalhado de cada encontro. Propor um segundo encontro exatamente após um mês da primeira vez.
PROJETO
Retomar o projeto mais antigo que você tenha abandonado e ainda se lembre.
PROJETO
Fazer um mapa dos pontos de sua cidade em que é possível sentir frio na barriga dirigindo rápido o suficiente. Anotar a velocidade mínima para o truque e a velocidade máxima legal. Caso a velocidade mínima seja maior que a máxima, anotar o número em vermelho.
isto é:
caderno despedida,
carro,
futurismo,
projeto,
ricardo miyada,
velocidade
20121119
20121118
20121117
Intergalático
Eu ouço um tic tic atrás de mim. É o som de alguém mexendo em um iPhone
O som das teclas de um iPhone. Mas aos meus ouvidos, esse som forma uma música. Ou então, não é meu ouvido, é uma música,mesmo,sei lá. Uma música ruim. Também tem outro som --- esse, sim, uma música. 8675309... 8675309... Olho ao redor, que coisa, há quanto tempo não ouço... É Police? Uma mocinha bonita senta do meu lado mas evita minha mão fingidamente distraída. Quanto tempo ainda falta? As ruas e tudo. A cerveja está baixando...
O som das teclas de um iPhone. Mas aos meus ouvidos, esse som forma uma música. Ou então, não é meu ouvido, é uma música,mesmo,sei lá. Uma música ruim. Também tem outro som --- esse, sim, uma música. 8675309... 8675309... Olho ao redor, que coisa, há quanto tempo não ouço... É Police? Uma mocinha bonita senta do meu lado mas evita minha mão fingidamente distraída. Quanto tempo ainda falta? As ruas e tudo. A cerveja está baixando...
8.
PROJETO
Dormir apenas 3 horas por dia, seguindo regime escalonado. Com o tempo adquirido, criar uma boa proposta de projeto.
PROJETO
Acabar com todas as canetas de sua casa, sem agressividade, apenas escrevendo.
Deve restar papel ao fim.
PROJETO
Realizar um filme em um sítio com os amigos.
Nada de especial.
isto é:
caderno despedida,
projeto,
ricardo miyada,
tinta
20121116
7.
PROJETO
Apresentar-se sempre com um nome diferente. Se confrontado frontalmente sobre a incoerência, pedir desculpas e explicar que você está seguindo um projeto. Pedir para a pessoa chamá-lo pelo nome com que você se apresentou. É importante que seu nome se mantenha o mesmo para cada pessoa. Caso seja necessário, manter um caderno com os dados anotados.
PROJETO
Catalogar todas as fotos em que você aparece pela data provável, quantidade de pessoas retratadas, seu humor etc.
Criar gráficos a partir dessas informações.
Analisar sua trajetória a partir desses gráficos.
isto é:
caderno despedida,
projeto,
ricardo miyada
20121115
hoje eu acordei com vontade de contar uma coisa pra vocês.
eu sonhei que jogava bichinhos de bexiga pela janela do meu quarto, e de vez em quando eles pulavam/voavam de volta pra minha mão e eu jogava de novo, até que eu acertei um deles (três bexigas amarradas que formavam quase uma ave) em cima do telhado do meu quintal.
daí ele virou um corvo morto.
enquanto em olhava outras coisas no quintal, três gralhas começaram a comer o corvo morto no telhado do meu quintal. elas arrancavam as penas e abriam buracos na carne do corvo morto e eu me sentia muito satisfeito, devolvendo o corvo morto pra natureza e fazendo com que ele cumprisse seu papel no mundo. e continuei olhando por aí.
as gralhas tinham relógios e blusões de marca, às vezes.
dado certo momento, as gralhas furaram o saco de vísceras do corvo morto, e as vísceras do corvo morto começaram a se esparramar pelo telhado do meu quintal. eu, mais que ligeiro, comecei a fechar a janela do meu quarto, porque aquilo ia começar a feder muito.
lembro de ter pensado 'puta merda, essas gralhas não vão comer todas as vísceras do corvo morto, e eu vou ter que recolher víscera de corvo do meu quintal e isso vai feder pra caralho'.
aí enquanto eu fechava a janela uma mosca muito gorda bateu no meu pescoço.
e eu acordei.
daí ele virou um corvo morto.
enquanto em olhava outras coisas no quintal, três gralhas começaram a comer o corvo morto no telhado do meu quintal. elas arrancavam as penas e abriam buracos na carne do corvo morto e eu me sentia muito satisfeito, devolvendo o corvo morto pra natureza e fazendo com que ele cumprisse seu papel no mundo. e continuei olhando por aí.
as gralhas tinham relógios e blusões de marca, às vezes.
dado certo momento, as gralhas furaram o saco de vísceras do corvo morto, e as vísceras do corvo morto começaram a se esparramar pelo telhado do meu quintal. eu, mais que ligeiro, comecei a fechar a janela do meu quarto, porque aquilo ia começar a feder muito.
lembro de ter pensado 'puta merda, essas gralhas não vão comer todas as vísceras do corvo morto, e eu vou ter que recolher víscera de corvo do meu quintal e isso vai feder pra caralho'.
aí enquanto eu fechava a janela uma mosca muito gorda bateu no meu pescoço.
e eu acordei.
isto é:
beijo de boa-noite,
corvo morto,
gralhas,
H.Chiurciu,
ler nas tripas,
sonho
6. – 1 mês –
PROJETO
Substituir todas as conjunções de sua fala por gestos manuais.
PROJETO
Recusar absolutamente tudo que lhe oferecem.
PROJETO
Manter contato visual com quem fala consigo, mas nunca quando é você quem fala.
PROJETO
Sempre que fizer uma pergunta, repeti-la uma vez após a primeira resposta.
isto é:
caderno despedida,
projeto,
ricardo miyada
20121114
5. — 1 mês —
PROJETO
Evitar todas as ruas, avenidas, praças e construções com nomes de generais militares.
PROJETO
Esquecer todos os sobrenomes. Substituí-los pelo bairro em que as pessoas vivem.
PROJETO
Dividir suas roupas por humores. Cada peça deve ser associada a, ao menos, um humor específico.
Ao acordar, analisar seu humor.
Vestir-se com o oposto do que você sente.
Feliz <-> Triste; Doce <-> Amargo; Cansado <-> Vigoroso->->->
20121113
4.
PROJETO PARA AEROPORTO
Segurar uma placa com seu próprio nome na saída do desembarque internacional. Esperar.
PROJETO PARA AEROPORTO
Ao voltar de alguma viagem, procurar as placas dos que esperam. Escolher a que se aproxima mais de você. Tentar levar o jogo adiante.
PROJETO PARA AEROPORTO
Confeccionar uma faixa de recepção para alguém que morreu. Esperar no terminal de desembarque.
isto é:
caderno despedida,
chegada,
morte,
projeto,
ricardo miyada,
saudade
20121112
3.
Sorrio para os atendentes.
Olho-os nos olhos e sorrio
Tento fazê-lo como se toda minha família tivesse morrido
Como se tivesse uma dívida milionária
Certo de que morrerei amanhã.
Tento colocar tudo isso em meus olhos
Os lábios, fracos, mal se movem
Só significam sorriso; não o são.
Nas entrelinhas, digo:
'Vou mal, muito mal,
Mas não fique mal por mim'
Você me entrega o café e diz
'Que sono! Isso vai te ajudar'
Fracasso.
Olho-os nos olhos e sorrio
Tento fazê-lo como se toda minha família tivesse morrido
Como se tivesse uma dívida milionária
Certo de que morrerei amanhã.
Tento colocar tudo isso em meus olhos
Os lábios, fracos, mal se movem
Só significam sorriso; não o são.
Nas entrelinhas, digo:
'Vou mal, muito mal,
Mas não fique mal por mim'
Você me entrega o café e diz
'Que sono! Isso vai te ajudar'
Fracasso.
isto é:
caderno despedida,
cotidiano,
ricardo miyada
20121111
Paulinha,
pensamos e falamos de você, hoje,
do seu corpinho de pugilista
e do toldo de metal do seu pai
(chuva percussiva aqui no meu quarto);
não se encabule, que você é muito legal,
mesmo com seu pai que empina pipas,
mesmo sem seu corpinho de pugilista.
Te desejamos a melhor das sortes!
do seu corpinho de pugilista
e do toldo de metal do seu pai
(chuva percussiva aqui no meu quarto);
não se encabule, que você é muito legal,
mesmo com seu pai que empina pipas,
mesmo sem seu corpinho de pugilista.
Te desejamos a melhor das sortes!
2.
'I'm going to die right now', she said, 'I mean, literally!', and so she died. Everyone was shocked by that, except me. I knew it already. She'd told me. I just couldn't take it seriously, though, 'cause we aren't used to taking words seriously.
'I can't stand it, people are so stupid', and I literally threw up over my cat. Normally she enjoyed it, so Agatha the cat was delighted. She bathed herself for hours. I love her tiny whiskers...
I'm gonna miss every and each one of you, guys. Life's death.
'I can't stand it, people are so stupid', and I literally threw up over my cat. Normally she enjoyed it, so Agatha the cat was delighted. She bathed herself for hours. I love her tiny whiskers...
I'm gonna miss every and each one of you, guys. Life's death.
Cheers,
Ralph
isto é:
caderno despedida,
carta aberta,
cartas,
despedida,
morte,
ricardo miyada
Tic tic tic tic uiiiinnnnn
Eu já fui como vocês, meros mortais.
Frágil, vivendo na imundice.
Daí me transformei em um guindaste.
Olhem para mim agora.
20121110
20121109
dupla
Hélio e Niltão existem nos concertos de música
erudita contemporânea em São Paulo.
Niltão sempre é visto antes, pois é
grande e se veste com jaqueta militar, coturnos, boina, barba espessa, óculos,
palito de dente (ou talvez um cotonete sem algodão) e bengala com símbolo
maçônico.
Hélio é
pequeno, careca, calado, sorridente e carrega uma pasta de couro.
Hélio e Niltão referendam o concerto: se ambos
comparecem, pode-se considerá-lo um marco na agenda cultural; se apenas um
marca presença, trata-se de um evento underground.
Mas
eles estarão lá, inevitavelmente, antes e depois do concerto, em um canto
qualquer.
Não
é todo mundo que se aproxima para conversar com Hélio ou Niltão, mas o freqüentador mais ou menos
assíduo certamente já se permitiu uma aproximação maior.
Niltão é quem puxa papo, iniciando a
conversa como quem conversa com um velho conhecido. Ele fala em voz baixa e
obriga o interlocutor a se aproximar para ouvi-lo por entre a barba.
Hélio apenas sorri e cumprimenta com a
cabeça.
E
se o interlocutor já conversou ao menos duas vezes com Niltão, há grandes chances de que saiba
algum detalhe de sua vida pessoal: sua mãe judia; sua experiência no exército;
sua iniciação maçônica; seu aperto financeiro.
Hélio ouve as histórias repetidas
vezes, calado, sorrindo.
Mas
basta uma conversa para que o interlocutor ouça Niltão reclamar sobre a precariedade do
cenário erudito brasileiro: as orquestras tocam apenas velharias, sempre
velharias; onde estão as novidades? E se algo interessante aporta por aqui, o
preço é uma barbaridade, seja de vinte a duzentos reais. E Niltão
dará ao menos dez
exemplos de eventos promissores que o decepcionaram por completo.
Hélio – “o carequinha”, como o chama Niltão
- concordará, talvez
com algumas palavras. E depois sorrirá.
Onde
eles moram? Como moram? Como vivem?
Acho que eles não são de mentira.
20121108
20121106
Crítica da Estética da Mercadoria
"[...] o que denominamos tecnocracia da sensualidade significa bem mais que isso. Significa o domínio sobre as pessoas exercido em virtude de sua fascinação pelas aparências artificiais tecnicamente produzidas"
"Naturalmente a diferença fundamental em relação à produção de aparências no capitalismo é que nele se trata, antes de mais nada, de funções de valorização que utilizam, transformam e aperfeiçoam as técnicas estéticas. O resultado não se restringe mais a determinados lugares sagrados ou representativos de algum poder, mas forma uma totalidade do mundo sensível no qual em breve nenhum momento terá deixado de passar pelo processo de valorização capitalista e de ser marcado por suas funções"
"Os indivíduos moldados pelo capital [...] têm um destino instintivo comum, ao menos formalmente: a sua imediaticidade sensual deve ser quebrada e tornar-se completamente dominável"
"A abstração estética da mercadoria liberta a sensualidade e o sentido da coisa portadora do valor de troca, tornando-as separadamente disponíveis."
"Depois que a sua superfície se liberta [...] ela se desprende completamente, descorporifica-se e corre pelo mundo inteiro como o espírito colorido da mercadoria, circulando sem amarras em todas as casas e abrindo caminho para a verdadeira circulação das mercadorias"
"Como é que alguém constantemente assediado por uma coleção de imagens de desejos já previamente desvendadas, se comporta e, sobretudo, se modifica? Como é que alguém, que sempre obtém o que deseja - mas somente enquanto aparência - se modifica?"
"O sexual como mercadoria ocorre também historicamente, nas mais diversas fases de desenvolvimento e nas épocas mais distintas. A prostituição nivela-se à simples produção de mercadorias, ou seja à prestação de serviços; a cafetinagem nivela-se ao capitalismo de intermediação; do bordel à manufatura - todas essas formas do sexual como mercadoria têm algo em comum: o valor de uso realiza-se ainda no contato sensório-corporal imediato. No capitalismo industrial valoriza-se a sensação sexual apenas sob a forma de valorização estética - excetuando-se todos os tipos de adereços. Pode-se registrar e reproduzir em série uma mera imagem ou um mero ruído, ou uma combinação de ambos numa tiragem tecnicamente ilimitada - limitada na prática apenas pelo mercado. No estado de repressão sexual geral, ou então de isolamento, o valor de uso da mera aparência reside talvez na satisfação pelo voyeurismo.
Essa satisfação como um valor de uso cuja natureza específica é ser aparência pode ser denominada satisfação aparente. A satisfação com a aparência sexual caracteriza-se por produzir e fixar obrigatoriamente a procura de maneira simultânea à própria satisfação. Quando os sentimentos de culpa e o medo causados por eles dificultam o caminho em direção ao objeto sexual, surge então a mercadoria sexualidade enquanto aparência, intermediando a excitação e uma certa satisfação, muito difíceis de serem desenvolvidas pelo contato sensório-corporal. Esse tipo de satisfação aparente e sem resistência ameaça amputar completamente a possibilidade de prazer direto.
Nesse caso, a única forma do valor de uso adequada para a valorização em massa reage sobre a estrutura das necessidades. Desse modo, um voyeurismo geral fortalece-se e torna-se habitual e, por conseguinte, as pessoas em sua estrutura instintiva ficam atreladas a ele."
"A repressão do instinto simultânea à satisfação aparente deste leva a uma sexualidade generalizada.
As mercadorias respondem a isso refletindo imagens sexuais por todos os lados. Nesse caso, não é o objeto sexual que toma a forma de mercadoria, mas a totalidade dos objetos de uso com forma de mercadoria assume tendencialmente de alguma maneira a forma sexual, e desespecificam-se a necessidade sexual e a sua respectiva oferta de satisfação"
"Há nisso um estranho retorno ao ponto de partida histórico-social. Como as mercadorias retiraram a sua linguagem sedutora dos seres humanos, elas lhes devolvem agora uma linguagem que, através da roupa, reveste os estímulos sexuais"
"Enquanto mera estética da mercadoria, ela lhes satisfaz apenas com aparências e mais desperta a fome do que sacia. Enquanto falsa solução da contradição, ela a reproduz numa outra forma talvez bem mais ampla"
isto é:
amor,
brochada,
desejo,
mais sexo,
satisfação,
sensualidade,
sexo
20121102
20121101
Ela é uma puta paga
E mal paga, por sinal
Pois pra comer-lhe a bunda
Pago apenas um real
E mais: por menos ainda
Ela chupa o meu pau
E se a chamo pra jantar
Ou pr'um programa legal
Ela diz que quer é dar
C'um sorriso sem igual
E ao vê-la tão safada
Tão sedenta por meu pau
Como posso recusá-la?
E espantá-la tal e qual
Um moleque que me irrite
Ou cachorro capiau?
Não, eu a quero então
E a quer também meu pau
Quero sentir-lhe o cheiro
Que me lembra o bacalhau
Quero sentir os seus beijos
De ternura angelical
E, bem mais, quero sentir
Sua vulva. Em meu pau.
E mal paga, por sinal
Pois pra comer-lhe a bunda
Pago apenas um real
E mais: por menos ainda
Ela chupa o meu pau
E se a chamo pra jantar
Ou pr'um programa legal
Ela diz que quer é dar
C'um sorriso sem igual
E ao vê-la tão safada
Tão sedenta por meu pau
Como posso recusá-la?
E espantá-la tal e qual
Um moleque que me irrite
Ou cachorro capiau?
Não, eu a quero então
E a quer também meu pau
Quero sentir-lhe o cheiro
Que me lembra o bacalhau
Quero sentir os seus beijos
De ternura angelical
E, bem mais, quero sentir
Sua vulva. Em meu pau.
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