20130909

Diário de uma sniper: o que disseram na tevê


A sniper se sabe ontologicamente sozinha. Isso sempre foi assim. Mas essa sniper agora se vê diante de novas circunstâncias: para além da solidão habitual, ela se tornou uma espécie em extinção. É claro, a proliferação de snipers é e sempre foi sazonal - é preciso que haja um conflito em curso -, mas essa sniper permaneceu na ativa mesmo já terminada a guerra. 

E mais: transformado seu ambiente, transformados seus alvos, seus métodos permaneceram os mesmos. Ela é, no fim das contas, uma conservadora orgulhosa, preservando um ofício e nutrindo uma vaidade tremenda que nem sempre justifica suas decisões práticas.

Vejam: ela sempre busca a colina ou escombro ou prédio no estado o mais deplorável possível. Lá esteve ela ora ensangüentada entre cadáveres, ora enlameada nas urtigas, ora sendo banhada pelo esgoto - e tanto melhor! Dizem que há arte onde quer que se queira, e encontrar um ponto-de-vantagem imbatível nas piores circunstâncias imagináveis sempre há de arrancar aplausos de um lado ou outro.

Mas ela sabe que as vaias ou aplausos só virão no momento em que estiver na situação limite, à beira de sua exposição pública e conseqüente derrota no sítio em questão. E isso não pode ser bom, de maneira alguma.

Por isso mesmo, ela anda se contentando com seus próprios auto-elogios.

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