20130910

burrice fundamental

tenho criado novas senhas ultimamente, senhas para um novo tempo e para novos cadastros; tento me organizar mentalmente com elas, esquecer totalmente as senhas antigas e adotar um padrão claro e lógico que me permita variá-las de acordo com as necessidades de cada website sem nunca me esquecer delas.

algo como matar e exilar todos os titãs, reforma total no panteão.

mas é inútil.
a todo momento, as senhas adolescentes surgem como num refluxo cripto-mental, "ah! esse site é muito besta, vou colocar o nome deste ou daquele pokémon e pronto".
de tempos em tempos isso me leva a um infernal caminhar para trás tentando todas as minhas senhas de vida, desde as mais recentes, passando pelas intermediárias (frutos da mesma aleatoriedade de minha juventude) e chafurdando em memórias de senhas ainda mais primitivas. em vão.

nos últimos dias, realizei uma imensa variedade de protocolos de recuperação de senhas - que na maior parte dos casos gerava uma senha totalmente desconhecida e inapreensível, que eu fatalmente esqueceria de trocar e me levaria a reviver toda minha retrospectiva-críptica mais uma vez dali a tantos dias. os hexadecimais, me diriam mais tarde, eram o segredo para essas tais senhas automatizadas, mas eu nunca os entendi.

fato é que nunca fui bom com números. acredito que meu problema com a matemática seja antes de mais nada um problema de vocação linguística - é como decorar uns tantos caracteres de árabe e dali ter que tatear por todo um alcorão de fórmulas. talvez seja minha falha em seguir um tal "pensamento matemático" que tanto me diziam no colégio.

lembro-me que, no primário, na hora de realizar operações mais extensas (na verdade grandes seqüências de operações simples), o único jeito que eu conseguia manter minha atenção focada naquela miríade de números era construindo personagens simplórios e encaixando-os no avançar do exercício (o 2 era irmão da 3, ambos primos do 4 que competia com o 6 pelo coração da 5, e assim por diante); os cálculos eram uma mediação quase esotérica de como cada história iria terminar, a tela da calculadora em nada diferia de uma bola de cristal esfumaçada.

minha vida adulta não corrigiu essa falha. sempre que passo os olhos por uma frase ou que alguém começa a me contar algo com qualquer tipo de número no meio da informação ("tantas pessoas", ou "daqui a tantos dias", "precisamos de tantos centímetros de algo") meu primeiro instinto é ignorar totalmente o numeral e me concentrar na informação dada pelas letras. quando vejo que aquele detalhe era importante, volto os olhos ou pergunto novamente - por repetidas vezes, em certas ocasiões. também me considero incapaz de fazer contas de divisão com números de mais de um algarismo.

não digo que seja exclusivamente por isso, mas não posso deixar de negar que minha aversão à fotografia profissional sempre esteve ligada à minha incapacidade de lidar com números.

algo que se pode chamar de minha burrice fundamental.



4 comentários:

  1. Tô muito chocada, eu também achava que o 4, 5 e 6 eram um triângulo amoroso!

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  2. mas nessa foto aí, de burrice, só se for a do câmera, dado o olhar do nosso herói.

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  3. Não, o triângulo amoroso era composto pelo 3, o 4 e o 5. Era um triângulo retângulo.

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