20130911

Projeto pro fim dos tempos: o último filme



o último filme a ser feito no mundo deveria ser uma compilação de todas as citações – feitas em filme, é claro – a respeito da morte do cinema.

acho que, se resolvêssemos matá-lo agora, já teríamos material suficiente para uma coletânea considerável de hipóteses, declarações, preconizações, anúncios, apontamentos, exigências e etc. de como poderia ser feito. mas digamos que alguém decida esperar mais um pouco. daqui a alguns anos ou décadas, quando o cinema se converter realmente em “arte” (de museu). ou melhor: quando não se produzirem mais filmes. não imagens, mas filmes.

quando não parecer mais possível que alguém se declare um realizador cinematográfico – ou mesmo que tenha com o cinema alguma relação que não a de arquivista ou espectador - alguma alma esforçada e nostálgica poderá se debruçar sobre tudo aquilo e começar os trabalhos do derradeiro filme.

e, no entanto, um processo e tanto se iniciaria.

uma vez compiladas todas as mortes anunciadas, este único trabalho do último realizador cinematográfico estaria pronto.
e ele o assistiria do começo ao fim. “está lá!”, diria, e se prepararia para encerrar o cinema de uma vez por todas.
e pode ser que tudo se passasse dessa maneira: pronto, e fim.
mas pode ser que lhe ocorresse: não seria este último trabalho, justamente, um filme sobre a morte do cinema?

e o realizador perceberia que seria necessário acrescentar mais essa obra ao rol de sentenças, na última posição, logo antes dos créditos.

mas, uma vez isso feito, seria preciso repetir a ação de novo. e de novo. e de novo. e de novo. e de novo. e de novo. e de novo. nosso realizador, já arrependido do desejo de botar um ponto final na história do filme, não teria opção: continuaria a inserir seu penúltimo corte final em seu último corte final, sucessivamente.


e daí que nosso filme sobre a morte do cinema seria, no fim das contas, o maior filme do mundo: seria o único filme verdadeiramente interminável.

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