20130327
20130326
20130325
20130322
20130321
notas para um filme futuro (FELICIDADE)
se algum dia fizer um filme (ensaio, documental) sobre a felicidade, não chamarei especialistas para falar sobre o tema.
apenas se fosse um colega. se fosse um amigo.
aí talvez ele pudesse me falar do que acredita, profissionalmente, ser a felicidade,
para em seguida me dizer se e como ele acredita naquilo.
será que ele será sincero em algum momento? ele será sincero em algum momento.
[imagino um especial do globo repórter (algum episódio não é especial?)
especialistas em felicidade?]
apenas se fosse um colega. se fosse um amigo.
aí talvez ele pudesse me falar do que acredita, profissionalmente, ser a felicidade,
para em seguida me dizer se e como ele acredita naquilo.
será que ele será sincero em algum momento? ele será sincero em algum momento.
[nunca as pessoas pelo que elas têm para falar,
mas pelo que elas são e o que parecem ser
e o que suas falas trazem delas]
isto é:
cinema,
documentário,
ensaio,
felicidade direta,
felicidade indireta,
notas,
projeto,
ricardo miyada
20130319
20130317
20130315
televisor phillips
outro dia, um dia de chuva, eu parei meu carro na rua e apanhei um televisor velho da calçada.
eram dois, de modelo e velhice semelhantes, mas eu só peguei um - o que tinha gabinete de madeira e, além de ser mais bonito, estava melhor conservado.
ele ficou no meu porta-malas por mais tempo do que eu gostaria, até que eu decidi testar seu funcionamento. liguei ele na tomada da minha garagem mesmo, um pulo no peito quando senti uma resposta de dentro do tubo à injeção de eletricidade. mas a tela não respondeu ao botão de ligar, nem o alto-falante instalado no painel frontal. naveguei tristonho pelos botões, especialmente empolgado pelo pequeno setor de chaves e chavinhas de ajuste fino na sintonia (que época, meus amigos, que época).
a madeira está se desfazendo e com um pouco de bolor, por isso ainda deixei ele no chão da garagem.
o tubo esverdeado me recebe sempre que eu chego em casa e eu não sei direito o que fazer com a TV. poxa, o cabo de energia estava enrolado de um jeito tão cuidadoso!
quando passei de novo na rua, o outro televisor já tinha sido destruído.
nos meus sonhos as duas tevês estão ligadas e só passam os gols do pelé - uma em preto-e-branco, a outra a cores.
eram dois, de modelo e velhice semelhantes, mas eu só peguei um - o que tinha gabinete de madeira e, além de ser mais bonito, estava melhor conservado.
ele ficou no meu porta-malas por mais tempo do que eu gostaria, até que eu decidi testar seu funcionamento. liguei ele na tomada da minha garagem mesmo, um pulo no peito quando senti uma resposta de dentro do tubo à injeção de eletricidade. mas a tela não respondeu ao botão de ligar, nem o alto-falante instalado no painel frontal. naveguei tristonho pelos botões, especialmente empolgado pelo pequeno setor de chaves e chavinhas de ajuste fino na sintonia (que época, meus amigos, que época).
a madeira está se desfazendo e com um pouco de bolor, por isso ainda deixei ele no chão da garagem.
o tubo esverdeado me recebe sempre que eu chego em casa e eu não sei direito o que fazer com a TV. poxa, o cabo de energia estava enrolado de um jeito tão cuidadoso!
quando passei de novo na rua, o outro televisor já tinha sido destruído.
nos meus sonhos as duas tevês estão ligadas e só passam os gols do pelé - uma em preto-e-branco, a outra a cores.
isto é:
amadorismo,
classificados,
found-object art,
H.Chiurciu,
televisão
Dos documentários que não vingaram
had already been predicted by Guillaume Apollinaire in 1910, in his short story 'Un Beau Film' where a crime is committed solely in order to film it.
.
20130314
20130313
20130312
20130311
Dos filhos que não vingaram (ainda)
Primeiro, saiu o umbigo; depois o pé esquerdo; depois as nádegas; depois a jugular. Mas braço, perna e cabeça que é bom, entalaram todos lá no útero.
isto é:
a rafael nantes,
os tormentos da arte,
parto,
plágio,
Swordfishtrombone,
vingança
20130309
janela - ponderações a respeito de alguém a quem chamarei de P.
eu sei porque vocês apagaram as luzes.
eu sei justamente porque vi quando vocês apagaram as luzes, uma a uma, enquanto olhavam desconfiados pra minha janela. que bosta essas janelas.
eu realmente não me importo, e é provável que eu nem ficasse olhando pra sua janela.
mas e se a minha janela estivesse fechada?
se você não pudesse de fato ver que eu te via?
será que você teria apagado as luzes - uma a uma, gesto muito mais interessante que qualquer outro que possa ter acontecido depois, com aqueles re-enquadramentos audaciosos e quebracabeçantes.
e se não tivesse, você, apagado as luzes, com aqueles olhares e risadas irritadas de me ver assim tão indiscretamente na sua janela, o que eu teria feito?
se eu estivesse, de fato, com minha janela fechada, mas podendo lhe olhar, e você deixasse as luzes acesas. eu teria olhado? teria fugido? teria me embrenhado mais ainda nos meus tiros-laseres de sábado-à-tarde?
eu nunca fechei a minha janela.
malditos arquitetos.
eu sei justamente porque vi quando vocês apagaram as luzes, uma a uma, enquanto olhavam desconfiados pra minha janela. que bosta essas janelas.
eu realmente não me importo, e é provável que eu nem ficasse olhando pra sua janela.
mas e se a minha janela estivesse fechada?
se você não pudesse de fato ver que eu te via?
será que você teria apagado as luzes - uma a uma, gesto muito mais interessante que qualquer outro que possa ter acontecido depois, com aqueles re-enquadramentos audaciosos e quebracabeçantes.
e se não tivesse, você, apagado as luzes, com aqueles olhares e risadas irritadas de me ver assim tão indiscretamente na sua janela, o que eu teria feito?
se eu estivesse, de fato, com minha janela fechada, mas podendo lhe olhar, e você deixasse as luzes acesas. eu teria olhado? teria fugido? teria me embrenhado mais ainda nos meus tiros-laseres de sábado-à-tarde?
eu nunca fechei a minha janela.
malditos arquitetos.
20130308
Ram-Tsa-Ka VI
Um antigo
vidraceiro procurou Ram-Tsa-Ka na Planície dos Oásis, onde ele reformava
estofados, dava conselhos e, mais recentemente, estudava carpintaria.
- Eu quero uma
cadeira.
- Posso fazê-la.
- Quero uma
cadeira que tenha todo o conforto que há no mundo.
- Deverá ser uma
cadeira de balanço.
- Tenho medo de
cair para trás.
- Isso não
acontecerá.
- Muito
obrigado.
Ram-Tsa-Ka fez
uma cadeira que continha todo o conforto do mundo. Onze horas passadas desde o
primeiro encontro, ele mandou que buscassem o vidraceiro.
- Mas já?
O vidraceiro,
por ter pedido uma cadeira tão singular, não esperava reencontrar Ram-Tsa-Ka
tão cedo. Ao chegar, hesitou alguns instantes, observou a obra do carpinteiro
com atenção especial e se acomodou nela com bastante solenidade.
Ele se remexeu,
ajeitou-se e assim permaneceu por uma hora. Então começou a sentir dores na
coluna.
- Fui enganado!
– ele disse, levantando-se de supetão.
Com a ajuda de
um velho conhecido que o acompanhara, o vidraceiro agarrou Ram-Tsa-Ka e
balançou-o com força.
- É isso que
você chama de “todo o conforto”? Salafrário!
Ram-Tsa-Ka foi
largado na areia quente e os visitantes começaram a se afastar.
- Nunca disse
que há tanto conforto assim no mundo – disse ele, recolhendo suas ferramentas.
20130307
DESFERIADO
adj.: 1- atingido por um golpe fatal, sem necessariamente merecê-lo mas com o sentimento de que não poderia ter sido diferente.
2- faminto.
isto é:
de palavras,
desenho,
dicionário,
H.Chiurciu,
ilustração,
racionalismo aleatório
20130304
20130303
Das réplicas que não vingaram
Cara, você nunca pensou que tipo...
de verdade... a morte é tipo... o fim?
.
20130302
20130301
Foi um sonho relativamente longo.
Eu sei que sonhos não são realmente mais longos ou mais curtos, sei que
eles só duram alguns segundos e que, se parecem se estender por horas, é
só porque essa é a impressão que deixam em nosso cérebro, mas, dentro
dessa concepção muito específica de duração, que só se aplica aos
sonhos, aos delírios e à vida, esse foi um sonho relativamente longo. Eu
me lembro do tato, me lembro perfeitamente do som, mas não me lembro de
muitas imagens: apenas do cigarro e do fogo.
Seria melhor se eu estivesse em um gramado sombreado por árvores ou em
um banquinho à margem de algum rio, mas não havia cenário, não havia
companhia, não havia horizonte; apenas o cigarro e o fogo. O cigarro
queimava devagar. Estava na minha mão e eu sentia o papel e a palha
dentro dele (não havia filtro, não era um cigarro fabricado. Também não
havia o fedor de cigarro, mas um cheiro como o de pinhas na lareira.) e
sentia um calor fraco nos dedos. Ele fazia o ruído baixinho e eterno de
uma fogueira pequena --- o crecrec confortável, quente e ameaçador das
coisas que queimam sem pressa ---, mais intenso quando eu tragava e sua
luz aumentava e o papel se incendiava minusculamente entre meus dedos,
mais fraco nos intervalos, quando eu me distraía e ele podia respirar.
Provavelmente, havia algo ao meu redor, algum estímulo visual qualquer,
talvez vozes. Provavelmente, se eu conheço meus sonhos, havia mais
gente, comigo.
Mas eu me lembro do cheiro, do tato e do som e da imagem do cigarro e do fogo, apenas.
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