20120810

Loucura de amor

1.

Aprendi a ler e escrever ainda na pré-escola. Minha primeira história foi pra Tatiana, uma garotinha do colégio. Tínhamos sete ou oito anos. Num reino distante eu era o rei, ela a rainha. Ganhei um beijo na bochecha. Desse dia em diante não parei mais de escrever. Algo dizia que eu me daria bem com a literatura e com as mulheres.

Me enganei nos dois casos.

2.

Depois da aula, Tatiana e eu brincávamos de papai e mamãe no quarto dela. Fazíamos tudo às pressas (comida, limpeza, pagamento de contas) para chegarmos logo ao beijo de boa noite. Era quando as bocas ansiavam pelo toque, os corações disparavam com medo de que alguém entrasse no quarto justo naquele momento. Os lábios se procuravam lentamente, mas quando se encontravam o recuo era tão rápido que às vezes doía o pescoço. Depois a gente se deitava e fingia dormir. Então eu logo dizia: é hora de acordar. E ela: vou dar mamadeira pro bebê.

E tudo recomeçava.

3.

Um dia Tatiana peidou na sala de aula. Todos ouviram. O cheiro se espalhou. Risos gerais. Nossas mesas coladinhas. Ela vermelha que nem pimentão. Levantei a voz e disse com firmeza: fui eu!

Essa foi minha primeira loucura de amor.

3 comentários:

  1. Comigo foi quase assim...
    Tirando que não tinha menina.
    E era sempre eu quem peidava.
    (coincidência?ACHO QUE NÂO)

    ResponderExcluir
  2. um faz loucuras de eros, o outro, de narciso.

    ResponderExcluir