20111231
20111228
20111225
20111223
O procedimento é relativamente simples, ao menos no que diz respeito ao seu aspecto, digamos, braçal: adquire-se o equipamento necessário, que pode ser uma agenda telefônica e caneta ou uma área suficientemente grande de areia na praia e um pedaço de pau (no caso, optou-se por um computador), dedica-se uma quantidade suficiente de tempo e procede-se com a técnica repetitiva e mecânica de desenhar letras ou pressionar teclas. É isto o que fazem aqueles que escrevem romances e, ao fazê-lo, Gabriel não poderia ser diferenciado de nenhum de seus grandes heróis da Literatura com L maiúsculo.
No entanto, findas algumas horas e diante da página quase completamente vazia, Gabriel percebeu que a tarefa era muito menos simples do que inicialmente se lhe havia apresentado. Dispondo ainda do tempo que havia reservado em seu cronograma e no intento de atiçar a criatividade, nosso intrépido herói deu uma rápida olhada ao redor, à procura de qualquer objeto que lhe servisse de inspiração.
Ao seu lado, encostado à parede e coberto de poeira, estava o antigo violão. Um violão é um instrumento musical e, portanto, artístico; a música e a literatura são espécies diferentes de um mesmo gênero e, portanto, o empenho a uma certamente renderia seus frutos à outra. Dotado de tal convicção, Gabriel tomou o violão em suas mãos e pôs-se a dedilhar uma das raras melodias que subsistiam em sua memória. Os dedos correram sozinhos pelas cordas, engasgando-se, às vezes, mas demonstrando-se razoavelmente corretos.
Produziram um som odioso.
Gabriel percebeu-se, então, diante de um novo problema: não sabia como afinar o instrumento. Dirigiu os olhos tentados à tela do computador, em cujo canto superior esquerdo reluzia o ícone do navegador Firefox, deixado ali a postos. Um dilema moral nasceu dessa observação: havia imposto a si mesmo a restrição de não desperdiçar seu tempo de escrita na internet, vício dos vícios. No entanto, tocar o violão era, de certa forma, parte do processo de escrita, e aprender como afiná-lo era parte do processo de tocar o violão. Após alguma reflexão, consentiu em liberar-se de sua restrição, desde que fosse exclusivamente com este bom intento.
Após alguma pesquisa, porém, observou outra dificuldade: não lhe bastava simplesmente mimetizar os sons que alguns sites ofereciam, para saber que o violão estava afinado. Era preciso ir a fundo, refletir sobre a natureza das escalas musicais, sobre a razão de ser das variações microtonais etc. Não o fazer seria reduzir seu empenho musical a uma tarefa isenta de raciocínio crítico, o que obviamente contrariava as demandas mais básicas da escrita literária — e afinal, era isso o que ele estava fazendo: escrevendo.
Imergiu-se, assim, no estudo de teoria musical. Evidentemente, um dia não lhe bastou, então os dias se passaram e ele lia com olhos vidrados tudo o que podia encontrar sobre o assunto. Após quatro anos, julgou-se apto a, enfim, afinar o violão, o que de fato fez.
Terminado este primeiro passo, Gabriel pôs-se a tocar, agora com muito mais clareza e convicção e até mesmo a compor. Sempre que lhe ocorria voltar os olhos á página em branco e talvez pressionar uma ou outra tecla, percebia que ainda não estava pronto, de forma que voltava a correr os dedos pelas cordas.
Até que, é claro, aquilo já não lhe bastava. No oitavo ano, saiu de casa apressado e comprou um contrabaixo. Depois, seguiram-lhe um sax, um piano de cauda, uma flauta doce, uma cuíca, uma gaita diatônica etc. No décimo quinto ano, após breve vislumbre do cursor que piscava impaciente na página vazia do Word, Gabriel decidiu que era hora de investir mais seriamente na literatura, motivo pelo qual comprou os mais avançados equipamentos de gravação e edição de som e sintetizou, em seu quarto, mesmo, seu primeiro álbum musical.
O sucesso desse primeiro disco fez com que um segundo fosse lançado, em obra que contou com a feliz participação da Berliner Philharmoniker.
Notando que nem a aclamação popular, nem os inúmeros prêmios, nem os milhões de dólares adicionados à sua conta bancária lhe eram suficientes para a escrita, Gabriel então percebeu que estava se desviando demasiadamente de seu caminho. No vigésimo oitavo ano de produção do romance, ele decidiu que era necessária uma completa reviravolta em sua vida, de forma que foi imediatamente a uma loja próxima e adquiriu acetona, carvão, tinta a óleo e telas. Repetiu os procedimentos de estudo e prática e, no trigésimo terceiro ano, foi destaque tanto no Moma quanto no Tate.
O que, evidentemente, não se deu sem seus contratempos: teve que recusar o convite para participar em uma campanha publicitária de televisores Sony, porque, conforme afirmou em japonês irrepreensível (aprendido como forma de inspiração e ampliação de horizontes linguísticos) ao exasperado representante de marketing da empresa, isso atrasaria o término de seu livro, que, afinal, era seu principal propósito.
Após similares incursões ao teatro, cinema, arquitetura e escultura, Gabriel chegou mesmo a inventar novas modalidades artísticas, utilizando-se de meios e linguagens nunca antes concebidas. Aos oitenta e oito anos, teve um enorme monumento em sua homenagem erguido na plataforma espacial Tiangong e celebrações foram realizadas pelo mundo nas ocasiões de seus aniversários de noventa, noventa e cinco e cem anos.
Quando faleceu, aos cento e quatro anos, uma editora alemã conseguiu os direitos de publicação de seu romance, consistindo em uma capa em que figurava apenas seu nome e três folhas quase completamente em branco, com duas ou três palavras espalhadas de forma aparentemente aleatória em cada uma. Os jornais do mundo todo noticiaram com tristeza a ocorrência e ressaltaram o afinco de seus estudos, seus contínuos esforços nos mais variados campos do saber e, acima de tudo, o empenho irrestrito à literatura.
20111221
Manon dizia
se você vê assim, então é assim que você vê, não é?
mais uma vodka?
hoje sou a retórica.
mais uma vodka!
não gosto, não.
parece sem nenhuma contorção.
isso é um quadrado –– e ria.
seu bocó.
eu leio cartas, não mãos.
Na varandinha Manon espiava sem se esconder;
Manon era artista, embalada em baladas,
quase caía sem saber –– manonmanon.
.
você ouviu?
estou te vendo daqui.
você ouviu?
fica assim, você está uma belezinha.
você não ouviu.
ouvi, mas estou te olhando.
.
20111218
20111217
i de ironia, david foster wallace (serrote no. 6)
A ironia da arte e da cultura do pós-guerra começou da mesma maneira que a rebelião jovem. Era algo difícil, doloroso, mas produtivo – o soturno diagnóstico de uma doença longamente negada. As premissas por trás daquela primeira ironia pós-moderna, por outro lado, ainda eram francamente idealistas: supunha-se que a etiologia e o diagnóstico apontaseem para a cura, que a exposição do cativeiro conduziria à liberdade.
Então como foi que a ironia, a irreverência e a rebeldia se tornaram debilitantes, em vez de libertadoras, na cultura sobre a qual a vanguarda de hoje tenta escrever? Uma pista pode ser encontrada no fato de que a ironia ainda está aí, maior do que nunca, depois de 30 anos como modo dominante de expressão dos artistas antenados. Não é um recurso retórico que envelheça bem. Como diz Hyde (de quem eu obviamente gosto), "a ironia tem uso apenas emergencial. Estendida no tempo, é a voz do prisioneiro que passou a gostar de sua cela." Isso se deve ao fato de que a ironia, embora prazerosa, tem uma função quase exclusivamente negativa. É crítica e destrutiva, boa para limpar o terreno. Com certeza era assim que nossos pais pós-modernos a viam. Mas é particularmente inútil quando se trata de construir alguma coisa para pôr no lugar das hipocrisias que expõe. Eis por que Hyde parece acertar ao dizer que a ironia renitente é cansativa. Eu acho perversamente divertido ouvir o discurso de ironistas talentosos em festinhas, mas sempre saio dali com a sensação de ter sido submetico a várias intervenções cirúrgicas radicais. Sem falar em atravessar o país de carro ao lado de um ironista talentoso, ou ler um romance de 300 páginas e que não há nada além de sarcasmo espertindo, experiências que nos deixam não apenas vazios, mas, de alguma forma, oprimidos.
Pense, por um momento, nos rebeldes do Terceiro Mundo e seus golpes de Estado. Rebeldes do Terceiro Mundo são ótimos na tarefa de denunciar e pôr abaixo regimes hipócritas e corruptos, mas parecem consideravelmente piores no trabalho mundano e não negativo de estabelecer em seguida uma alternativa superior de governo. Rebeldes vitoriosos, na verdade, parecem se sair melhor quando usam seus talentos de força e cinismo para evitar que outros se rebelem contra eles – em outras palavras, tornam-se apenas tiranos mais competentes.
E não resta dúvida: a ironia nos tiraniza. Nossa difusa ironia cultural é, ao mesmo tempo, tão poderosa e tão frustrante porque é impossível saber com clareza o que quer um ironista. Toda a ironia americana se baseia num argumento implícito: "Na verdade, eu não quero dizer o que estou dizendo". Mas então o que a ironia como norma cultural ˆquerˆdizer? Que é impossível querer dizer o que se diz? Que talvez seja mesmo uma pena ser impossível, mas acorde para a vida e pare de sonhar? Acredito que, no fim das contas, a ironia de hoje está provavelmente dizendo o seguinte: "Que coisa absolutamente banal você me perguntar o que eu quero dizer". Qualquer um que tenha a petulância herética de perguntar a um ironista o que ele na verdade defende acaba por parecer histérico ou careta. Eis o caráter opressivo da ironia institucionalizada, do rebelde bem-sucedido demais: a capacidade de interditar a questão sem se reportar a seu conteúdo é, quando exercida, tirania. Trata-se da nova junta de governo, usando a própria arma que devastou seu inimigo para se encastelar.
20111215
20111213
Da poesia que vingou
Ossip Mandelstam
20111212
20111209
Análise crítica e reflexão sobre o vídeo "Escolinha do Pedagogo Alquiminto"
A arte política não é apenas panfleto - essa é uma acusação feita pelos seus detratores, e é uma acusação de tanta carga político-ideológica quanto a arte atacada. Fazer arte política não é musicar uma propaganda partidária nem dançar enquanto se recitam as teses de Marx - ao menos não só; a arte política é aquela que reflete e pensa criticamente o seu próprio tempo e produz conteúdo de valor estético-formal que remeta à "realidade" e tome posições diante dela.
Isso posto, deixo claro logo de início que considero louvável a produção de vídeos que se proponham a refletir sobre tudo que tem ocorrido na USP: é necessário que criemos contrapontos à Versão Oficial dos fatos, que expressemos nossos olhares sobre o que aconteceu e nossas exigências. Levando em conta a minha visão (acima expressada) acerca de arte política, considero necessidade básica que os vídeos produzidos não se valham apenas pelo "conteúdo" (se é que isso existe): se vamos criar "objetos artísticos de protesto", é óbvio que a estética segundo a qual eles existem seja tão pensada quanto "o que eles dizem" - ainda mais se tratando de uma peça ficcional, e não uma reportagem ou um ensaio.
Nesse sentido, considero o vídeo problemático em diversos aspectos.
A suposta "paródia" dos programas de tv do tipo "Escolinha do Professor Raimundo" e similares não é, em si só, um problema - a paródia é reconhecida como arma efetiva de crítica e ridicularização de idéias há tempos. A questão aqui é: o que estamos parodiando? Programas como "Escolinha" se baseiam em uma situação supostamente ordeira (aula) que se revela proto-anárquica, com a presença de diversos "tipos" engraçados e a falta de controle do professor sobre os alunos - é, basicamente, humor de personagem e de situação. A paródia realizada não parece compreender isso muito bem, apenas absorvendo o cenário - escola - e o título, sem emular verdadeiramente o "espírito" do programa. Constrói-se uma situação onde o único personagem verdadeiro é o professor (paródia de Geraldo Alckmin? é impossível saber: afora o nome ("Alquiminto"), não há nenhum tipo de estabelecimento de paralelos com o governador, nem com suas idéias, nem mesmo com o seu físico. tudo que vemos é um professor gritalhão e desagradável.), onde os alunos são rostos apagados, máscaras* ou corporificação de idéias básicas. Paradoxalmente, dessa maneira, dá-se muito mais "poder" ao professor do que nos programas parodiados - como só ele fala e tem personalidade definida, é apenas a sua presença que domina o vídeo.
(* abro aqui um parêntese para comentar as máscaras: o que elas significam? colocar os "rostos" de "inimigos" dentro de uma classe apática e aparentemente não alinhada ao professor totalitário não faz muito sentido - teoricamente, datena, rodas e quetais estariam totalmente aliados ao governador e não necessitariam de "aulas de democracia" para se colocarem ao seu lado. além disso, acredito que o rosto de reinaldo azevedo seja bem pouco conhecido e a sua presença lá acaba se tornando uma espécie de "piada interna" pouco interessante - ainda que eu o despreze etc.)
O problema principal que vejo no vídeo é, no entanto, um só: indecisão. Sendo grosseiro, existem duas modalidades possíveis de arte política: radical-revolucionária e reformista-controlada. As duas são válidas e cada uma tem prioridades diferentes: o primeiro modelo pressupõe-se mais objeto artístico do que necessariamente objeto de conscientização - há uma certa "integridade" por trás da obra proposta que não será violada nem "diluída" na tentativa de torná-la mais acessível/palatável a mais gente. Não há absolutamente nada de errado quanto a isso: existem exemplos históricos de arte radical bastante louvável, desde diversas bandas punks que não pretendem buscar consenso até os filmes do casal Straub-Huillet, de teor marxista-materialista inveterado que não se rende a concessões "clássicas" sobre narrativa ou espetáculo. É importante notar, no entanto, que essas obras pautam-se pelo encontro de um conteúdo radical aliado a uma estética tão extrema quanto - uma noção que vem fortalecida desde a arte revolucionária soviética. Cria-se um objeto que não só "diz" revolução mas também "é" revolução.
O segundo modelo, de "conciliação", teria uma preocupação maior com um suposto contato com o público-alvo e a transmissão de idéias de maneira talvez "homeopática" - evita-se a violência das verdades gritadas e procura-se o caminho do convencimento gradual. Nesse caso, adotam-se modelos formais já convencionais e reconhecíveis, numa tentativa de acesso ao público por uma via que ele já conheça - é o caso, por exemplo, de reportagens que emulem os formatos da grande mídia, de documentários como "Uma Verdade Inconveniente", etc. Procuramos mostrar "o nosso lado" de uma maneira que evoque as fabulações já propostas pelo "outro lado".
O que o vídeo analisado parece fazer, para mim, é bambear entre essas duas propostas sem ter certeza do que pretende. No sentido de "conciliação", adota um formato pretensamente reconhecível - a paródia de um programa televisivo familiar a grande parte da sociedade brasileira. No sentido "radical", a retórica adotada é extremamente violenta e cheia de gritos. No sentido de "conciliação", há um momento extremamente didático de explanação de porque certas atitudes seriam anti-democráticas. No sentido "radical", há a reprodução de imagens bastante violentas e perturbadoras (tortura, insinuação sexual forçada, etc). O resultado final acaba sendo esquizofrênico - um vídeo que, do nosso lado, só traz os gritos e o ódio, mas cujo formato é uma emulação precária do pior que o formalismo-conservador tem a oferecer.
Eu não seria contrário a um vídeo que fosse puro ódio - ainda que não saiba exatamente a que "propósito" se prestaria, que não seja o da arte extremamente individualista e pessoal -, caso ele se inspirasse em formas verdadeiramente diferentes e radicais e novas. Eu não seria contrário, também, a um vídeo "proselitista" que emulasse formatos "batidos" na tentativa de comunicar uma idéia que precisa urgentemente ser comunicada. O que me incomoda nesse caso é que o vídeo realizado parece não ter "função" alguma.
Como objeto-artístico-em-si-só, é de realização precária e confusa - a decupagem alterna entre o utilitarismo do plano geral-plano detalhe sem se propôr nem à paródia bem realizada da estética dos programas televisivos (que têm suas especificades), nem a uma tentativa de outra estética nova ou pensada, que fuja um pouco do básico-lavado imposto ao mundo pelas câmeras digitais de alta-definição. Há momentos de pura confusão estética: o interlúdio "bossa-nova", o trecho regado a música erudita (e o aparente regojizo frente às imagens de violência), o final "quebrando a quarta parede" que parece desconexo do resto do filme, etc. As piadas parecem evocar apenas o mais pueril e vulgar e simplista da programação de comédia da tv aberta, numa operação que acaba associando essa vulgaridade às "idéias" que tentamos propagar - quando, no fim, faz-se a piada com "dedo no cu", não estamos sendo quebradores de paradigma nem revolucionários: estamos apenas perpetuando um discurso vulgar, simplista e reacionário quanto a sexo e corpo, agora associado aos "nossos ideais".
Como objeto-político-de-conscientização, é um produto extremamente confuso: assisti o vídeo algumas vezes e ainda tenho dificuldade em compreender o que ele "quer dizer", afora talvez "Não gostamos de Geraldo Alckmin.". Não há nenhum momento real de discussão ou refutação de idéias, de reflexão sobre os acontecimentos ou mesmo de esclarecimento real sobre "qual é a questão": o instante mais "sério", a pergunta do personagem "Pedrinho", perde a maior parte da sua força por ser direcionada a um interlocutor tão obviamente estúpido (a ponto de não representar absolutamente nada) e por ser executada de maneira ultra-didática-professoral que destoa agressivamente do resto do vídeo. A impressão passada pelo conteúdo do vídeo é que nós, alunos da USP, odiamos alguma visão distorcida de Geraldo Alckmin (embora nem saibamos direito o que ele acha ou pensa) e não temos nada a propor ou falar sobre isso. Esse procedimento, aliás, de ridicularizar o interlocutor e atribuir a ele idéias estúpidas para mais fácil refutá-las tem um nome, "Falácia do Espantalho", e é uma das estratégias mais comuns da chamada "mídia golpista" que tentamos criticar (é só pensar na palavra de ordem "Ah, mas que vergonha/achar que a greve é por causa da maconha", que só existe para refutar esse tipo de simplificação sobre o nosso movimento).
Não escrevo isso com o intuito de ridicularizar nem de destruir: proponho apenas uma reflexão sobre o vídeo, suas características e seus objetivos: no meu contato com a obra, a impressão que ficou foi de algo de teor extremamente vulgar, pouco pensado, sem objetivo claro e cujo "efeito" final, caso tenha algum contato com o "público", seria apenas o de associar a nós uma imagem raivosa, pouco construtiva, nada aberta ao diálogo e incapaz de criar um discurso coerente e atrativo.
Gostaria que pensássemos: o que queremos obter com a nossa "produção de greve"? Gostaria que refletíssemos no intuito de criarmos obras que sejam reflexo do que pensamos: que explorem novos formatos, que explorem novas idéias e que procurem, verdadeiramente, um diálogo e uma maneira de expormos O Que Vemos E Pensamos Aqui Na Usp. Não quero uma arte "coxinha" nem "pelega": não acho que devemos apenas emular formatos jornalisticos e nos portarmos como "bons meninos" - isso não seria justo nem interessante. Acredito que seja possível, no entanto, praticarmos uma arte que seja "nossa", genuinamente, e que seja baseada nas nossas preocupações estéticas e políticas sem se render ao ódio fácil e "espontâneo" e pouco pensado.
Guilherme Assis, 09/12/2011
Aluno do Curso Superior do Audiovisual - ECA - USP.
20111208
20111207
Dos anúncios que não vingaram
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20111205
20111202
O gato amarelo
–– Será fome?
–– Acho que ele tá com medo de pular, subiu e não consegue mais descer, dizendo sob o leve riso da piedade.
–– Ele tá aí no telhado faz tempo, fico ouvindo ele miar até de madrugada. Quando ele anda pelo telhado parece uma sirene que vai e volta. Acho que deve ter perdido o filhote.
–– Tem escada aí?
–– Tem.
–– Chama o seu Giovani pra subir lá e tirar o coitado de lá.
O seu Giovani que era velho, mas homem, precisou carregar a escada até o muro oposto do quintal que era alto a ponto de tornar o miado uma assombração. A escada, no último momento, era curta demais, e seu Giovani que não gostava de se esforçar à toa tentou puxar a mangueira dágua pra espantar o gato amarelo –– pois tinha certo preconceito de gatos, pois pareciam estar sempre mentindo –– mas as senhoras o impediram com um leve farfalhar de broncas que levavam em conta o estereótipo do homem selvagem.
Pois não podendo fazer nada além de rezar, as senhoras se comoveram tanto com o fato que durante a semana não conseguiam parar de pensar no gato amarelo –– vamos ter que adotar ele –– a ponto da casa virar uma espécie de Meca da especulação onde se bebia suco de uva e às vezes caipirinhas dependendo do dia da semana e da combinação dos remédios.
Na virada da manhã para a tarde, quando todas as senhoras estavam desprevenidas diante dos noticiários digestivos o gato amarelo foi embora. Quando foram digerir no quintal uma delas resolveu começar alguma coisa, que tarde gostosa, tranquila. A palavra tranquila desencadeou uma espécie de mordida na torrada proustiana e uma delas apenas verbalizou o que todas sentiam simultaneamente, o gato foi embora. A comida revirou nos estômagos na cadeira de maneira que o mesmo pensamento, assim como o mesmo almoço, era absorvido em seus sentidos. Que gato ingrato, todas pensaram com um certo rancor que lhes parecia completamente justificável.
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carta aberta a inimigos
que você quer semear?
areia jogada no asfalto?
seus dedos
já são calejados?
já morreram, viraram papiro?
seus olhos
já vitrificaram?
já aprenderam a ser telescópios?
sua boca
já apodreceu?
já arrombou-se a ponto de avesso?
seus pés
já são uma escada?
já alcançaram seu mau paraíso?
sua testa
já enobreceu?
já tornou-se um trono de piche?
seu corpo
já se vendeu?
já dilui-se em feira pagã?
o abismo da própria dureza
a jaula cavada no escuro
tristeza das mentiras desditas
espreitando sem crer sem futuro.
você
já nem existe.
você
tateia com unhas.
você
é uma abstração.
você
grasna sozinho.
você
não possui a palavra.
você
procura seus chinelos.
você
abdica de tudo.
você
vai sumir.
20111201
20111130
ÚLTIMA CHAMADA
20111128
20111127
Das piadas de nicho que não vingaram
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ode aos colunistas da folha ilustrada
ser um dos colunistas do caderno "Ilustrada" da Folha!
oh!, os heróis modernos
que se escondem na última página do caderno "Ilustrada" da Folha!
quando estou triste e quero me alegrar
leio os pensadores do caderno "Ilustrada" da Folha!
joão pereira coutinho, mestre da ironia
pena afiada
sangue português dos bons!
embeleza o caderno "Ilustrada" da Folha!
luiz felipe pondé, filósofo do contemporâneo!
homem que sabe pôr a mulher em seu lugar!
que sabe reconhecer os falsos intelectuais!
revigora o caderno "Ilustrada" da Folha!
(quando meu pai morreu
todos vieram ao enterro
e me abraçaram.
isso precisa ser dito!)
álvaro pereira júnior, messias dos jovens!
guia do futuro! líder infalível e apolítico! senhor do bom gosto e do bom tom!
enobrece o caderno "Ilustrada" da Folha!
ferreira gullar, poeta do porvir!
garrote das palavras! ancião da seriedade! homem renascido e bom!
amadurece o caderno "Ilustrada" da Folha!
marcelo coelho, analista do cotidiano!
rei do pormenor! embaixador da ciência belíssima!
obedece ao caderno "Ilustrada" da Folha!
contardo calligaris, psicólogo do absurdo!
mestre dos sonhos! senhor das acácias!
psicanalisa o caderno "Ilustrada" da Folha!
drauzio varela, doutor dos venenos!
conde da miséria! humanitário do destino!
cura o caderno "Ilustrada" da Folha!
chega o fim
desse poema
e desse engodo:
era um cavalo de tróia.
ó Deuses do cotidiano terrível
deixem-me dizer:
Eu vos perdôo!
sei que o que escrevem é trabalho
e que todos já fizemos coisas terríveis
pelo pão.
perdôo de pondé o machismo
e a vigarice
e a baixaria.
perdôo de joão a deselegância
a desonestidade
o desbunde.
perdôo de contardo o genérico
o enfadonho
o cansativo.
perdôo de coelho o desinteresse
os achismos
a mediocridade.
perdôo de varela os exageros
e a chatice
ainda que bem intencionada (??).
perdôo de álvaro a burrice
a velhice
o atraso.
perdôo de gullar a traição
o horror terrível de cada uma de suas rugas senis.
mas a verdade
é que não perdôo nenhum
e o mundo será melhor sem vocês.
20111123
Showbiz
Um homem conseguiu de algum jeito entrar na minha frente. Era um sujeito tão devagar e barbudo que eu fiquei pensando em como era possível que logo ele tivesse conseguido se meter ali, mas para mim, francamente, não fazia diferença nenhuma, porque tudo era tão absurdo que esse tanto a mais ou a menos, oras, nem merecia crédito. Você tem toda a razão, ele disse com aquela voz devagar e barbuda, eu penso exatamente como você e ele batia no meu ombro (bater, não, que senão os truculentos o tirariam dali, mas ele punha as mãos dele, devagares e barbudas, no meu ombro e repetia mil vezes que eu estava certo e que era aquilo mesmo), meu Deus, que horror, me devolvam os adolescentes, se preciso for.
Me esquivei com um sorriso, porque as pessoas estão sempre dispostas a aceitar um sorriso como resposta, ainda mais quando se está tão absolutamente certo quanto eu supostamente estava, e segui sorrindo, já, pra facilitar o trabalho dos flashes e do sujeitinho de terno e cigarro que me esperava à porta e que, no dia seguinte, teria que fazer mil ligações para todos os jornais caso eu não sorrisse e dizer algo como Não era mal-humor, claro que não, era apenas um verdinho no dente que queria esconder, uma couve que sobreviveu às salivadas de duas horas e treze minutos de uma mpbzinha sem vergonha e, é claro, dizem, muita razão. Também não é, vejam bem, que eu realmente me importasse com quão facilitada seria a vida do sujeito, ainda mais que ele certamente não facilitava a minha em nada, mas àquela altura (foram duas horas de mpb da pior espécie e muita razão) já eu me sentia um barbudo vagaroso que sorri para todo mundo e diz Vocês, meus senhores, têm toda a razão, a maior razão do mundo; e não há quem possa questionar isso, pois A diz que B está certo e B defende cegamente as opiniões de A e quando C olha mais de perto, vê-C logo que porra nenhuma foi dita e que foda-se tudo isso.
Então segui sorrindo enquanto todo mundo aplaudia, faziam um verdadeiro espetáculo (aqui, autorizo expressamente que o leitor atribua à palavra qualquer sentido cabível ou incabível, inclusive aqueles não listados sob o verbete nos dicionários e já pra facilitar a vida daqueles menos imaginativos, cito: cavalo, revista, estrela (são palavras escolhidas em processo semi-dadaísta, porque sujeito a revisão em que excluí nomes próprios)), um horror, um horror, e me pareceu incrível que ninguém, nem a mais mísera puta alma tenha percebido que por mais maravilhosas e cheias de razão que tivessem sido aquelas duas horas, aquelas vinte horas, aqueles vinte anos de mpb, por mais cheias de razão, dizia, eu agora estava era descendo as escadas, quase caindo, ainda por cima e teria sido melhor, quiçá, se tivesse caído, mesmo, me acabado no chão e sido retirado de lá em uma maca, porque aí pelo menos ficaria livre dos gritos agudos e dos tapas barbudos, por Deus. Mas ninguém ligava, acho que era isso: não falta de atenção, mas falta de interesse, mesmo, e de... contato. CO-MU-NI-CA-ÇA-~O. Seja como for, todos preferiam crer na ilusão dos concertos futuros, ainda maiores, mais cheios de adolescentes e de vagarosidade barbuda, mais cheios de, com o perdão do palavrão, razão.
O que me tranquilizou.
Tanto fazia, afinal, que eu estivesse lá ou, sei lá, em um catamarã, palavra mais linda da língua portuguesa, da tamil e de todas as outras, palavra mais linda do mundo inteiro e de mil concertos de neo-mpb e de um catamarã.
O homenzinho me apressava. Eu disse que tudo bem, que ele fosse indo e que eu pegaria um ônibus, o que o fez rir honestamente e me chamar de uma figura e me conduzir discretamente (a mão direita dele se insinuando levissimamente no meu braço esquerdo) para o banco de trás da BMW, cuja porta um outro sujeito, ou talvez fosse o mesmo, já segurava aberta como seu sorriso e (eu percebi então) como o meu.
um dia na praia com jesus
Ainda que Jesus concentre em si uma parte considerável da onipotência característica de seu Molde Primordial, o formato "desenho semi-bidimensional traçado na areia" traz consigo algumas dúzias de limitações, sendo possível logo de cara citar a invisibilidade para quem não olha para o chão, a fragilidade frente as intempéries do mundo e, sejamos francos, uma certa banalidade estética.
(Mesmo Jesus está sujeito à loteria cínica da reencarnação, pode um leitor mais sacana inferir. Não sei, não coloquem palavras na minha boca.)
Jesus é, porém, Jesus, e está carmicamente predisposto a lidar com desafios e situações desavantajosas, portanto, ao notar-se emplastrado na areia, pensou (com seus neurônios de silício): "Poderia ser pior" e pôs-se a fazer funcionar os seus poderes místicos.
De início, a autopreservação - irradiou uma aura que impedia (ou, sendo mais preciso, insistia fortemente) que passantes distraídos o pisoteassem e inadvertidamente obliterassem o salvador instantaneamente. Foi bem sucedido: um garoto correndo de uma ponta a outra da praia (sabe-se lá por quê) desviou seu caminho de maneira bastante antinatural, e Jesus sorriu (imaginariamente) aliviado e contente consigo mesmo. Percebeu, algum tempo depois, porém, que essa magia agia a favor e contra Seus desígnios: se, por um lado, salvava sua vida; por outro impedia que qualquer possível seguidor se aproximasse o suficiente para que pudesse ser influenciado. Jesus percebeu, não sem uma certa amargura, que, mais uma vez, sua eficiência como Homem Sábio estava diretamente ligada à sua capacidade de abnegação e sacrifício.
Levantou, então, seu campo de força, e esperou um pouco. Logo um vendedor de sorvete meio lânguido se aproximou e Jesus imediatamente violou a sua mente: "Irmão. Oi."
O vendedor, como era de se esperar, se assustou. Toda a gama de pensamentos que se associa com esse tipo de situação - tumor, loucura, aliens, FBI, sereias -passou por sua mente. Jesus tentou de novo:
"Irmão. Sou eu, Jesus. Olha pra baixo."
".........!!!!!!1111aaaaaaa"
"Tá vendo esse triângulo? Na areia? Sou eu, Jesus. Pois é, voltei. Daora, né?"
"!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!q"
"Eu. Jesus. Reenacarnei em forma de triângulo. Quero te contar algumas coisas sobre a vida."
"Q kralho q"
(Façamos uma pausa para notar que é extremamente difícil organizar pensamentos de maneira estética e gramaticalmente satisfatória, e que Jesus passara 300 anos estudando e meditando no céu para aprender a fazer isso, enquanto o sorveteiro jamais precisara de tal habilidade.)
"Bom. Vamolá. A regra de amar o próximo continua valendo. Acho que essa a gente nem precisa revisar. Continua bacana."
"+ e c o proxim for assassin/"
"Ele continua merecendo a nossa compreensão e amor pois somos todos filhos de Deus/Eu/Pai"
"mesmo c matah minha filia/?"
"Sim. Enfim. A próxima regra de ouro é:
(e nesse momento, assim como a natureza humana contaminara a divindade de Jesus 2011 anos antes, a natureza triangular começou a exercer sua influência)
o papel padrão pra impressoras tem que começar a ser triangular, e não retangular."
"q/"
"É. O papel triangular é esteticamente muito mais interessante e menos tedioso, e ainda dá pra juntar dois triângulos lado a lado e guardar mais eficientemente as folhas."
"ok"
"Além disso, todo sábado deve ser o dia em que as mulheres--
E então começou a chover e Jesus morreu e o sorveteiro fingiu que aquilo tinha sido só um derrame sem maiores consequências (e talvez tenha sido.)
20111120
Desmorona a internet. Nada de página inicial, leituras pendentes, e-mail, blog dos amigos, blog dos inimigos, notícias, pornografia, jogos, acaso. Ligou na casa do assinante. Oferecemos o conserto por apenas... Concerto? Sim, conserto e o upgrade para a velocidade jultrix. Não obrigado. Agradeço. Dois meses... duas semanas! não, dois dias! sem a internet e algo parece flutuar como um porco.
Leve dúvida se era narcótico ou não, um transe físico lhe acometeu lá pelas últimas horas. Também perdera o celular, o que quase se tornara um combo sem onomatopeias.
Sua vida dupla e sombria já chegava à solidão, quando voltou.
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20111119
Li por aí o seguinte, em três línguas que não falo bem:
Film Socialisme has marked for me the end of the death of cinema
Film Socialisme marque pour moi la fin de «la mort du cinéma»
Film Socialisme ha marcado para mí el final de «la muerte del cine»
Não é curioso? No inglês não há nada, nem aspas, nem itálico; no espanhol há uma ênfase de enfartar. Evidente que isso pouco importa, mas é curioso. Aos angleses a morte já incorporou o texto plebeu, perdendo toda a nobreza? Certamente são estágios diferentes, de língua pra língua, vide a Grécia.
Bem, já faz um tempo que não escrevo abertamente, não sei bem o que dizer. Vocês estão bem? Oi. Seria muito bom se se pudesse expressar o tipo de riso ou careta que esse tipo de post suscita. Talvez seja a imagem de um vaso se esparramando no chão. Algo entre o receio da dona e o prazer dos estilhaços.
Uma boa noite (e isto será eterno, mas nem sempre sincero).
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20111118
20111117
20111116
20111113
20111112
20111111
20111109
20111108
mamãe eu quero ser
Açougueiro, Adestrador de animais, Alfaiate, Alfaiate que revende artigos ligados à sua atividade, Alinhador de pneus, Amolador de artigos de cutelaria (facas, canivetes, tesouras, alicates etc.), Animador de festas, Artesão em borracha, Artesão em cerâmica, Artesão em cortiça, bambu e afins, Artesão em couro, Artesão em gesso, Artesão em madeira, Artesão em mármore, Artesão em materiais diversos, Artesão em metais, Artesão em metais preciosos, Artesão em papel, Artesão em plástico, Artesão em tecido, Artesão em vidro, Astrólogo, Azulejista, Baby siter, Balanceador de pneus, Banhista de animais domésticos, Bar (dono de), Barbeiro, Barqueiro, Barraqueiro, Bike boy (ciclista mensageiro), Bombeiro hidráulico, Boneleiro (fabricante de bonés), Bordadeira sob encomenda, Bordadeira sob encomenda e/ou que vende artigos de sua produção, Borracheiro, Borracheiro que revende artigos ligados à sua atividade, Cabeleireiro, Cabeleireiro que revende artigos ligados à sua atividade, Calafetador, Caminhoneiro, Capoteiro, Carpinteiro sob encomenda, Carpinteiro sob encomenda e/ou que vende artigos de sua produção, Carregador de malas, Carregador (veículos de transportes terrestres), Carroceiro, Cartazeiro Dedetizador, Depiladora, Digitador, Doceira, Eletricista, Encanador, Engraxate, Esteticista, Esteticista de animais domésticos, Estofador, Fabricante de produtos de limpeza, Fabricante de velas artesanais, Ferreiro/forjador, Ferramenteiro, Filmador, Fotocopiador, Fotógrafo, Fosseiro (limpador de fossa), Funileiro / lanterneiro, Galvanizador, Gesseiro, Guincheiro (reboque de veículos), Instrutor de artes cênicas, Instrutor de música, Instrutor de arte e cultura em geral, Instrutor de idiomas, Instrutor de informática, Jardineiro, Jornaleiro, Lapidador, Lavadeira de roupas, Lavador de carro, Lavador de estofado e sofá, Mágico, Manicure, Maquiador, Marceneiro sob encomenda, Marceneiro sob encomenda e/ou que vende artigos de sua produção, Marmiteiro, Mecânico de veículos, Merceeiro, Mergulhador (escafandrista), Motoboy, Mototaxista, Moveleiro, Oleiro, Ourives sob encomenda, Ourives sob encomenda e/ou que vende artigos de sua produção, Quitandeiro, Redeiro, Relojoeiro, Reparador de instrumentos musicais, Rendeira, Restaurador de livros, Restaurador de obras de arte, Salgadeira, Sapateiro sob encomenda, Sapateiro sob encomenda e/ou que vende artigos de sua produção, Seleiro, Serigrafista, Serralheiro, Sintequeiro, Tapeceiro, Tatuador, Taxista, Tecelão, Telhador, Torneiro mecânico, Tosador de animais domésticos, Tosquiador, Transportador de escolares, Tricoteira sob encomenda, Tricoteira sob encomenda e/ou que vende artigos de sua produção, Vassoureiro, Vendedor de laticínios, Vendedor de bijuterias e artesanatos, Vendedor de cosméticos e artigos de perfumaria, Vendeiro (secos e molhados), Verdureiro, Vidraceiro, Vinagreiro. |
20111107
fração cotidiana #1
20111103
20111101
... in the hopes of creating an artist cooperative. The plan never came to fruition, and the artist found himself lonely and isolated —a situation exacerbated by his inability to speak the challenging local Provençal dialect.
... in the hopes of creating an artist cooperative. The pain never came to fruition, and the artist found himself lonely and isolated —a situation exacerbated by his inability to speak the challenging local Provençal dialect.
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20111031
homenagem ao dia
20111030
20111028
20111027
Anita, que riu quarenta e oito horas sem parar
Anita riu por quarenta e oito horas sem parar, sua barriga valvulou-se com uma irmandade de ar que lhe ofegava, e as vezes engasgava, mal lembra já o porque do formigante eflúvio, Anita rechonchuda e vermelhosa, por horas é um grunhido de hiena, um halito de gagueira, e ela não sabe como parar, quem há de ouvir no seu riso um espectro de choro desesperado? Alguém há de.
Anita riu por quarenta e oito horas sem parar, disse o relatório, disse o repórter microfonado, micro-hipnótico, falacioso. No boletim constavam 48 horas e 2 minutos, mas resolveram abreviar, em prol da pouca paciência do promotor.
Ela pensou, que havia um grande órgão por debaixo da calça dele, conseguiu visualizar as veias, e o pulso. Anita ficou vermelha e gargalhou. Gar-ga-lhou, como um gar-ga-re-jo pra fora, através da gar-gan-ta. Anita pensou em coelhinhos cagados. O prédio era austero e cinza, esverdeado, e a TV pequena e chiada, o sofá era verde, musgo, chuvoso, o prédio tinha só cinco andares, o sindico era um velho cliché, do qual já se formava um ciborgue de cadeira estofada e botão de abrir o portão. Já faziam parte do seu corpo algo como “bom dia” e “seu cachorro fez barulho”, seguido de “boa noite”, Anita achava que coelhos eram criaturas bizarras, tinha um, mas quando estava longe dele imaginava que era rosa, e quanto voltava: decepção: branco.
Anita riu por quarenta e oito horas, foi encontrada pálida, com os músculos faciais tesos, e as mãos entre as pernas, acharam melhor não escrever “entre as pernas” na primeira pagina do jornal, e ocultaram deliberadamente tal conjectura amostral do ocorrido, disseram que o elemento: riu por quarenta e oito horas sem parar (e dois minutos).
“É um desrespeito contra a propriedade corporal, se viciar em gargalhar e se mostrar assim, incapaz de se controlar, eis pois um caso de súbito desvario, causado por alguma glândula, penso eu, localizada na parte do cérebro que interpreta o que é engraçado e o que não é”
Dr. Roberto ousou afirmar que as causas era meramente sociais.
O Falo, grande, mas como ele é jovem! Pensou Anita, eu já sou obesa e com certa idade, rosto de nenê, mas sou velha, nada mais desproporcional do que eu com um jovem de falo avantajado. Risos. “boa noite, aqui é o síndico, reclamaram de barulhos no seu apartamento, algo como risadas, isso procede ? HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAhuhuhuhuhuhuhuHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA.
“eu liguei e tentei avisar, tentei dizer, pra ela parar” disse o síndico ao relatório.
Imagine só, tamanho órgão me atiçando os poros, não sei imaginar, árco-iris, praça cheia, florezinhas, lençóis, cama-mesa-e-banho, de banho tomado, colônia masculina, pombas, o Falo, risos, os pelos no peito sobre um pulmão ofegante de tanto trabalhar, os gregos esculpiam homens nus, a estátua de Davi é o exemplo dos genes em profunda harmonia. O homem é a espécie racional por excelência, é também uma das únicas espécies que fazem sexo por prazer, sexo, coisa sem nexo, como um texto sem fluxo, eu mais nem sei se degenero ou se me decaio, flácida. Minha barriga dói, não há como parar, já diziam os espirituosos que rir é o melhor remédio pra alma. Mas dói. Eu sou só o riso, sou a silaba, o som, assim me torno outra coisa, onda sonora, depois de tanto me ouvir sou só movimento, só contração, corpo desencontrado, corpo desencontrado, ele tem a cabeça vermelha e o corpo rijo e comprido. A enguia engravidou a aurora, que nasceu borrada como um gozo via-láctico de esperma, e surgiu o mundo.
Anita foi encontrada com os músculos paralisados, depois de rir 48 horas sem parar, as causas do riso são desconhecidas, a polícia investiga o caso.
20111026
Durante sua infância, Júlio notou um fenômeno metereológico até o momento inexplicado pela ciência mas que o perseguiu desde então: todos os seus bons desempenhos em avaliações eram precedidos por pequenas catástrofes climáticas, que envolveram ventanias mais ou menos controláveis e tempestades de verão, chegando ao Furacão Catarina, na data de divulgação de sua última nota antes da formatura em uma faculdade particular de Santa Catarina e culminando nas enchentes de 2008, ano em que concluiu seu mestrado em Comunicações. No campo profissional, sua sorte não era muito melhor e Júlio, já treinado para observar essas coincidências, rapidamente reparou que todas as bonificações, promoções e aumentos recebidos em seus dias como redator de uma revista de entretenimento corresponderam à morte de um grande ídolo ou de algum familiar — o que, em parte, explica sua atual atuação como free-lancer, bem como a ausência de um duplex, um labrador e um aquário em sua vida.
Sua maior sina, no entanto, são os assuntos do coração. Cada uma das mulheres que Júlio amou conseguiram, de alguma forma, machucar-lhe de uma forma que o fazia sentir-se destruído, torturado, assassinado.
Nada disso, porém, o desanima. "Vá lá que para cada passo à frente, dou também um para trás", diz. "Mas nunca parei de dançar".
20111025
20111023
20111018
20111015
20111012
urgência - uma série de merda em nove capítulos
e vou te levar ao teu Destino."