20100228

Every now and then

eu ouço a história de uma menina que viajou para Paris, gostou da cidade e não voltou mais. Quero dizer, nem para buscar mais roupas, para dar uns beijos de tchau, para cancelar matrículas ou coisa do tipo. Não voltou mais. Ou então a história de um cara que foi para o sertão sem lenço nem documento, indo de vilarejo para vilarejo até morrer de sede numa salina.
Tudo ficção, claro. Sempre, pra mim.
É que nem quando de bicicleta subindo alguma rua, me cansando por não ter marchas (nem freio, aliás), eu penso e se eu fosse mais pra lá, o que me impede, se eu pedalasse mais, mais, talvez pra Foz ou pro Uruguai, talvez pra sempre. As pessoas que chorariam já estariam longe, até eu mesmo quando chorasse já estaria longe, eu podia viver com, sei lá, uns reais, escrevendo e dormindo por aí e afinal, eu sou formado, sou crescido, podia bem me virar, acho, podia conhecer gente pra esquecer depois, freeridear algum trem (se houvesse!), subir de ônibus um penhasco na Bolívia só pra ver o vento e sentir as lágrimas gelando minha cara lá em cima e aí eu faria um poema mais lindo do mundo e o mandaria para um jornal sensacionalista castelhano onde ele seria tão ignorado quanto aqui.
Aí eu descanso em alguma esquina, tomo um coco se tiver sorte e volto pra casa, porque é tudo ficção.

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