20130116

parte 1: nosso protagonista vai à liberdade


Fui a um restaurante chinês na Liberdade, sozinho, em homenagem aos tempos na Bélgica, onde comia quase todos os dias noodles. Tenho saudades, especialmente, dos nouilles aux huit quelques choses, já me esqueci o nome do prato, mas o gosto ainda está aqui. Noodles fritos, noodles ensopados, que maravilha! É o que mais me faz falta.

Como sempre (aos fins de semana), o restaurante estava cheio, e a atendente me perguntou num sotaque intenso se eu aceitaria me sentar com outras pessoas, afinal, estava sozinho. Era almoço. Disse que sim, e me sentei, tentando passar despercebido. Era uma mesa de jovens (5 deles, mais ou menos da minha idade), o suficiente para encher a mesa redonda, mas não lotá-la. Pareciam haver se sentado havia pouco, apontavam para os cardápios e tentavam adivinhar o que as descrições dos pratos significavam, especialmente as que não tinham tradução ("Será que isso é cachorro?! Hahahaha!").

Peguei também meu menu e o encarei, sabia que queria nouilles sautées au canard, imaginava os patos assados nas vitrines e aquele frio úmido e as bolhas no meu pé e o tabaco enrolado e era isso que eu precisava. Sabia que aquele prato não existia ali, ainda assim o desejava intensamente. Folheei bem, um pouco desanimado, lembrando da tesoura que havia comprado pro meu pai na Ikesaki.

O grupo de minha mesa se cansou de brincar com o nome das coisas e começou a decidir seriamente o que escolheriam. Embora tendessem principalmente para os frutos do mar, o consenso não era fácil. Uma das meninas (só os vi com atenção quando ouvi sua voz, eram 3 homens e 2 mulheres, 3 moços e 2 moças, 3 meninos e 2 meninas) perguntou se alguém queria dividir os pãezinhos ao vapor recheados de lombo de porco.

Ninguém se animou.

Falei para mim mesmo que era bom, que esses pãezinhos eram muito bons. Por coincidência, ela perscrutava seus amigos naquele momento. Eu estava a sua frente, deve ter visto meus lábios se mexendo, talvez até me ouvido, não sei, achei que tinha falado baixinho.

Percebi que ela tinha me percebido e repeti em voz alta que os pãezinhos eram muito bons.

"Tu divide comigo?", perguntou.

4 comentários:

  1. As boas e velhas piadas sobre carne de cachorro nos pratos chineses sem tradução.

    Chi-fu?

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  2. Chi-fu parece um chute legítimo, com a Ikesaki lá ao lado

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  3. Mas eu gosto mais do Banwa, o "sujinho" do lado. De qualquer jeito, gostei do post.

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