20120131
20120128
20120127
Lagarto
Me dá
um, não sei, um asco, não: uma pena deles todos e de suas... Suas
certezas, sabe? Suas opiniões sobre tudo --- espero que não seja
isso, envelhecer: ter opiniões, sempre, e... respostas. Por exemplo:
uma vez eu estava num clube de campo (eu era pequeno e a gente fazia
essas viagens, sabe?, por a gente eu quero dizer eu e meus pais e
depois eu e meu pai, só) então a gente estava nesse clube de campo
e de repente vimos correndo --- devia ser a uns dez metros de
distância daonde a gente estava --- vimos correndo esse lagarto,
sabe? Um daqueles grandões, acinzentados e sem nada de
impressionante além do fato de serem grandes e selvagens e
naturalmente distantes da nossa realidade cotidiana. Eu tenho um
grande apreço por animais de grande porte e em especial por aqueles
que não são mamíferos. Então, veja (eu não sei se um lagarto
pode ser chamado de animal de grande porte, com exceção dos dragões
de cômodo, que eu também não sei se são lagartos), nós estávamos
lá, tomando sol ou pegando frutas ou fazendo qualquer outra coisa
dessa natureza, está bem?, e passa de repente esse lagarto de vinte
e poucos centímetros --- acho que podemos concordar que se trata de
um réptil de grande porte, descontados os dragões, os dinossauros
e, é claro, os crocodilos, jacarés e aligátores (você saberia
apontar as diferenças entre eles? E não e lindo não sabermos?) ---
vinte e poucos centímetros, portanto, grande porte com exceção
daqueles, e ele estava a mil (poderiam ser mil) quilômetros por
hora, acho, porque em um segundo ou talvez nem isso ele havia passado
e encontrado um buraco qualquer e então havia sumido. Um segundo foi
todo o tempo de que dispusemos para ver aquela intrusão de vida
selvagem num clube de campo até então perfeitamente civilizado e de
repente um dos amigos do meu pai levantou a lata de cerveja pensativo
com um dos olhos meio fechados e disparou, com o tom de quem profere
grandes verdades (era EX-AT-AM-EN-TE o que ele estava fazendo) e
disse:
ERA
FÊMEA.
Jesus,
Laura, você entende agora o quanto isso diz sobre ele, sobre nós,
sobre todo mundo? Uma fêmea, por Deus, ele no mínimo deve ter
reparado nas genitálias de lagarto daquele lagarto durante os cem,
se tanto, centésimos de segundo em que ele (ou ela, afinal!) passou
por nós. E em tudo é assim, as pessoas estão o tempo todo tão
seguras de que as coisas fazem sentido e se sustentam que elas têm
liberdade para determinar o gênero de um lagarto que passa correndo
por um instante.
E não
me olhe desse jeito, como se estivesse prestes a dizer alguma coisa e
me fazer oposição; prestes a me chamar de injusto, porque eu sei
muito bem que existem diversas maneiras de reconhecer o sexo de
diversas espécies animais sem o exame das genitálias, mas eu não
acho (acho, Laura, acho) que seja o caso desses lagartos tão comuns
que não têm absolutamente nada de especial, nem cores nem nada. E
também, não há a menor importância, Laura, é apenas um exemplo,
está bem?
Mas,
na verdade, todo mundo é assim, todo mundo menos eu. Imagine que as
pessoas são seguras o bastante para saírem por aí e se declararem
dentistasarquitetosengenheirosdelegadosprofessores, PROFESSORES,
Laura! PR-OF-ES-SO-RE-S, e de fato lecionam, constroem etc. E eu?
Minha resistência ao CREA, Laura é meu pilar de sustentação, a
última tábua a que posso me agarrar e eu me agarro, mas é um
maremoto, não uma maré. Todas essas pessoas são, portanto,
confidentes umas das outras, isso é, suportam a certeza de unidade e
coerência que carregam. Mesmo quando discordam, a seriedade de suas
devoções ao Argumento fomenta a opinião contrária, não é mesmo?
São, portanto, parte de um mesmo grupo. Nesse sentido, no limite,
são todos meus inimigos. Detestam-me, e com razão.
Mesmo
o Bruno, reparou em como ele sempre sabe das coisas e sustenta sempre
posições contrárias à de quem quer que seja? O prazer da
discussão só pode vir da certeza absoluta. Na fé, se pudermos e
podemos dizer assim. Quanta confiança você precisa ter para falar o
exato oposto daquilo em que acredita?
Por
João Pessoa, Laura, mesmo você: certa de minha embriaguez, certa de
estar mais consciente que eu e certa --- não tente esconder, foi o
Bruno quem me disse e ele percebe tudo --- de que pode me consertar,
não é?
E a
verdade é que... oxalá você consiga. Que me importa, afinal, se o
lagarto é macho ou se é fêmea, podia ser qualquer coisa não é
isso o que importa, entende, então eu também poderei fazer cara de
quem sabe o que diz e talvez nem veja de verdade o lagarto, mas
direi:
É FÊ
não,
ainda não posso, você precisa me consertar antes, não é? Ah, por
Deus, Laura, por João Pessoa, juro que nunca mais bebo --- por
favor, me lembre de não beber, que não quero nunca mais chorar
assim na sua frente, você me desculpe. Mas não, são só algumas
gotas, não importa, isso, pode deixar, já estou melhor.
É
toda essa certeza, toda essa convicção. Me dá, não sei, não é
asco, é, talvez, inveja, uma inveja de morrer.
20120119
20120115
cotidiano duro cozido
Eu estava esperando que ela tinha alguns registros, mas ela não.
Então eu sintonizado em alguma rádio de jazz clássico e jogou-me no Sopha.
'sabe, eu vou te dar um par de registros qualquer um desses dias
"para quê?" disse ela antes de entrar dentro do banheiro: "o rádio serve-me bem o suficiente, além disso, i não tem sequer um toca-discos."
Bem, ela tinha um ponto, eu pensei comigo mesmo (e ficava pensando o tempo todo ela estava usando o vaso sanitário).
', mas desta forma você não pode escolher o que você está indo ouvir' i finalmente saiu comque ela tomou um sentar ao meu lado.
"E se eu pudesse? que divertimento eu teria deixado?"
eu não poderia pensar em qualquer resposta para isso. felizmente, logo ela me beijou e deuum fim a isso.
mas o todo, enquanto nós mantivemo-nos ocupados no sofá, eu não pude deixar de pensarcomo poderia uma pessoa viver sem um jogador único registro em sua casa - e ainda pior:como eu poderia confiar em alguém assim?
Então eu sintonizado em alguma rádio de jazz clássico e jogou-me no Sopha.
'sabe, eu vou te dar um par de registros qualquer um desses dias
"para quê?" disse ela antes de entrar dentro do banheiro: "o rádio serve-me bem o suficiente, além disso, i não tem sequer um toca-discos."
Bem, ela tinha um ponto, eu pensei comigo mesmo (e ficava pensando o tempo todo ela estava usando o vaso sanitário).
', mas desta forma você não pode escolher o que você está indo ouvir' i finalmente saiu comque ela tomou um sentar ao meu lado.
"E se eu pudesse? que divertimento eu teria deixado?"
eu não poderia pensar em qualquer resposta para isso. felizmente, logo ela me beijou e deuum fim a isso.
mas o todo, enquanto nós mantivemo-nos ocupados no sofá, eu não pude deixar de pensarcomo poderia uma pessoa viver sem um jogador único registro em sua casa - e ainda pior:como eu poderia confiar em alguém assim?
20120113
20120110
REI THOR goes book
RELEASE: Nesta edição rara (e também importada!) REI THOR continua sua busca por redenção estética perante a comunidade acadêmica, mas algo que ele não esperava, nas entranhas do sistema, tentará impedi-lo...
.
CAVALO, 2010.
isto é:
cavalo,
cinema,
H.Chiurciu,
luta,
luta contra o status quo,
pinhole,
ricardo miyada,
vídeo
20120109
20120107
poema para falar a verdade
as minhas palavras
não dizem
o que eu digo
elas dizem o que elas dizem
e eu apenas silêncio.
a minha voz não é abraços
não é beijos
não é amor
minha voz é só.
não sei mais entender
nem pensar
quero apenas um outro
qualquer
agora.
na rua do lado tem um castelo
- bonito e medieval e fantástico -
dentro dele tem uma pista de dança
- dinâmica e estroboscópica e venal -
nela tem uma moça
que nunca vai me perdoar
- e eu não sei a categoria do meu pecado.
juro ser bom
juro ser puro
juro ser santo
mas meu vício é pensar
em labirintos
e em torres
e então não sei mais.
tento sussurrar amor
meus punhos tateiam paz
sonho futuros
de hortelã
bêbado em uma poça de nada.
e então vomito idiotices sobre minhas intenções mal realizadas
buscando uma redenção dos covardes preguiçosos
e finjo dormir bem
porque senão
senão.
eu durmo na cruz porque a cama está longe.
não dizem
o que eu digo
elas dizem o que elas dizem
e eu apenas silêncio.
a minha voz não é abraços
não é beijos
não é amor
minha voz é só.
não sei mais entender
nem pensar
quero apenas um outro
qualquer
agora.
na rua do lado tem um castelo
- bonito e medieval e fantástico -
dentro dele tem uma pista de dança
- dinâmica e estroboscópica e venal -
nela tem uma moça
que nunca vai me perdoar
- e eu não sei a categoria do meu pecado.
juro ser bom
juro ser puro
juro ser santo
mas meu vício é pensar
em labirintos
e em torres
e então não sei mais.
tento sussurrar amor
meus punhos tateiam paz
sonho futuros
de hortelã
bêbado em uma poça de nada.
e então vomito idiotices sobre minhas intenções mal realizadas
buscando uma redenção dos covardes preguiçosos
e finjo dormir bem
porque senão
senão.
eu durmo na cruz porque a cama está longe.
isto é:
arte política,
guilherme assis,
horror,
poesia,
sinceridade
Curso de férias
.
A primeira aula de nosso curso se concentrará na concentração de vocês. Desde já espero que notem que nossa estrutura curricular se baseará no trocadilho. Vocês irão se concentrar em ver e ouvir o que se passa nestes dois filmes, agora vídeos. Quero também que reparem no que estão reparando. É curvo? Preto? Ruidoso? Uma parede? Um salto? Um movimento? Ora, pois tudo nos interessará após o intervalo.
Agora que vimos estas duas coisas –– seja linearmente ou mesmo simultaneamente –– a primeira pergunta que lhes farei, tanto agora em nossa primeira aula quanto outra vez na prova final: que diabos é isso que viram?
.
A primeira aula de nosso curso se concentrará na concentração de vocês. Desde já espero que notem que nossa estrutura curricular se baseará no trocadilho. Vocês irão se concentrar em ver e ouvir o que se passa nestes dois filmes, agora vídeos. Quero também que reparem no que estão reparando. É curvo? Preto? Ruidoso? Uma parede? Um salto? Um movimento? Ora, pois tudo nos interessará após o intervalo.
Agora que vimos estas duas coisas –– seja linearmente ou mesmo simultaneamente –– a primeira pergunta que lhes farei, tanto agora em nossa primeira aula quanto outra vez na prova final: que diabos é isso que viram?
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20120106
20120104
20120103
arquivos do baú: um rascunho no fundo de uma gaveta
Ricardo pegou uns planos que a gente tinha filmado de dentro do carro dele e desacelerado até os frames durarem muito tempo e parecerem quadros fixos. Em cima da imagem ele fez uma animação, frame como cenário. A idéia era fazer uma animação bem louca, com regras aleatórias dos eventos cotidianos retratados.
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